terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Comentários sobre livros #2

Já que não vai ter resenha essa semana, hoje vou dar pitacos sobre livros infantis — ou não — de novo. Li esses faz um tempão, mas só consegui postar agora porque acabo dando prioridade para outros posts…

1- O príncipe sem sonhos, Márcio Vassallo. Ilustrações de Mariana Massarani

O príncipe sem sonhos Para ser sincera, eu me lembro de ter esse livro, mas não de lê-lo na minha infância. Bom, eu gostei bastante da narrativa do autor, simples e bonita, e adoro as ilustrações da Mariana Massarani. Mas não sei se entendi bem a moral da história, ops. Avaliação: 4/5

2- A velhinha que dava nome às coisas, Cynthia Rylant. Ilustrações de Kathryn Brown

A velhinha que dava nome às coisas Tenho um fraco por histórias de velhos solitários e sempre fico muito triste com elas. Esse livro é infantil e tem um final feliz, mas me deixou melancólica mesmo assim. É uma história linda sobre uma velhinha que dava nome às coisas que durariam mais que ela, porque seus amigos morreram e ela sentia falta de chamar alguém pelo nome. Um dia, um cachorro a visita e ela o expulsa e não quer nomeá-lo, pois ele tem chances de morrer antes dela. Mas o cachorro a contraria e daí surge uma bela amizade. As ilustrações também são muito boas. Li o livro porque separei para doação, mas decidi que vou continuar com ele. Avaliação: 5/5

3- O pequeno Nicolau, Goscinny. Ilustrações de Sempé

O pequeno Nicolau Adorava a série de livros do Pequeno Nicolau quando eu era menor e decidi reler. O livro conta a história de Nicolau, uma criança francesa. Basicamente, Nicolau e seus amigos fazem muita bagunça e brigam para caramba, divertindo-se de montão no processo. Adoro ver a inocência e a animação de Nicolau narrando. Em alguns momentos o livro fica repetitivo demais, porque em cada capítulo temos a descrição dos mesmos personagens, quase como um epíteto enorme. Entendo esse recurso porque ele facilita que a gente se lembre de quem é quem, mas quando li vários capítulos em seguida, ficou um pouco irritante. Aliás, várias histórias são parecidas entre si no conteúdo também, então eu recomendaria que o livro fosse lido com calma, não tudo em seguida. Não sei como as crianças de hoje reagem ao Pequeno Nicolau, mas eu continuo o adorando. Avaliação: 4/5

4- Sandman: prelúdios e noturnos 1, Neil Gaiman

SandmanAdoro o Neil Gaiman, mas nunca tinha lido o trabalho dele nos quadrinhos. Foi também a minha primeira HQ adulta sobrenatural. Não sei se esse negócio de quadrinhos é para mim, porque são muitos volumes e só de pensar em ter que arranjar um modo de ler todos me dá uma preguiça… Sandman é interessante, bem trabalhado e cheio de referências que não peguei (se alguém por acaso ainda acha que HQ é simples e coisa só de criança, essa pessoa está completamente enganada). Falta maturidade minha como leitora de quadrinhos para entender melhor o livro, e não sei se faço questão de ir buscá-la. Avaliação: 3,5/5 

5- Raul Taburin, Sempé

Raul Taburin  Amo como o Sempé consegue transformar histórias simples em livros tão bonitos. Não sei explicar por que gostei tanto de Raul Taburin, mas o livro me fez ficar sorrindo que nem boba enquanto eu lia. Acho que a descrição apropriada é de “coração quentinho”. Fico triste ao ver que os livros do autor não são tão conhecidos aqui, talvez por não terem tanta cara de infantil mas ao mesmo tempo muito mais cara de infantil do que de adulto. De qualquer jeito, acho que é uma leitura para todas as idades, então comprem quando estiver na promoção (porque preço inteiro da Cosac Naify ninguém merece) para incentivar que a editora lance mais livros do autor. Avaliação: 4,5/5

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Projeto: TBR jar em 2015

Chega o final do ano e já fico animada pensando nos projetos e desafios de que quero participar no ano seguinte. Como já criei alguns bem antes, achei que não ia me animar com mais coisa. Mas aí me lembrei da minha TBR jar, só usada uma vez, e desenvolvi um novo projeto.

Não tem nada mirabolante no projeto, a ideia é simplesmente ler 12 livros sorteados da caixinha em 2015. Se eu só usasse o sorteio quando desse vontade, acho que acabaria usando-o muito pouco, então decidi pegar 12 livros de uma vez, de forma que posso escolher melhor quando vou ler o livro. Isso foi bom no final de contas, porque pretendo participar de um desafio literário e posso encaixar melhor minhas leituras assim.

014Essa é minha TBR jar (ou box, para ser mais específica). Separei meus livros em nove categorias, cada uma com uma cor diferente. Para o sorteio, decidi pegar um de cada categoria e mais três aleatórios. Os livros sorteados foram:

Da categoria de contos, Wunderkind, da Carson McCullers. Tive sorte nesse, porque é um livro curtinho e nessa categoria tem uns livros enormes que quero ler bem devagar.

Da categorias de séries, Os Pequeninos Borrowers, da Mary Norton. É um livro de oitocentas páginas reunindo todos os volumes da série. Pretendo ler aos poucos.

Da categoria de clássicos, peguei Luz em agosto, do Faulkner. Acabei fazendo uma burrice e botando alguns clássicos em outra categoria, mas pelo menos sorteei um livro que quero ler faz tempo.

Peguei As aventuras de Pi, de Yann Martel, entre os livros emprestados. Minha tia me empresta um monte de livros e nem faz questão de tê-los de volta, então eu acabo não lendo esses livros rapidamente e posso me dar ao luxo de criar uma categoria para eles.

The complete Peanuts (1953-1954) foi o sorteado na categoria de histórias em quadrinhos. Esse vou ler aos poucos também.

Por que o mundo existe?, do Jim Holt, é o livro de não-ficção que vou ler. Essa categoria só tem outro livro além desse… Preciso de muito incentivo para ler não-ficção.

Charlotte Sometimes, do Fábio Fernandes, foi o sorteado na categoria de e-books. Criei essa categoria porque fico baixando um monte de livro de graça na Amazon e nunca leio. Tive sorte também, porque esse é curtíssimo.

A penúltima categoria é a de livros que já li antes, mas não depois de ter comprado. Aquele livro que eu amava, mas li pela biblioteca e comprei recentemente para reler. São poucos livros nessa categoria, e o sorteado foi O espetáculo carnívoro, do Lemony Snicket. Eu tinha os primeiros e últimos volumes de Desventuras em série e nesse ano comprei o resto para completar a coleção e poder reler. Já comecei a releitura, mas parei no terceiro. Então ano que vem vou ter que ler pelo menos até o nono.  

A última categoria é a de outros: livros únicos contemporâneos de papel que nunca li, etc. É a categoria que tem mais livros, e os três livros bônus que sorteei acabaram sendo dela. Então fiquei com quatros livros: Rani e o sino da divisão, A lista negra, Como falar com um viúvo e Odd e os gigantes de gelo.

Pretendo ler os livros no meu ritmo, e não vou me sentir pressionada se não conseguir ler todos. A ideia do projeto é incentivar a leitura do que tenho em casa, mas se eu acabar lendo outros em vez desses, tudo bem também.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Um homem de sorte, Nicholas Sparks

Um Homem de Sorte

Logan parou e olhou para o céu a ver a pipa voando acima deles, e, quando aplaudiu Ben demonstrando uma alegria óbvia, Beth percebeu uma verdade bem simples: às vezes as coisas mais ordinárias podem transformar-se em extraordinárias, simplesmente se realizadas pelas pessoas certas.

O que dizer do Nicholas Sparks? Fora minha tia, que me emprestou esse livro, não conheço ninguém que goste mesmo do autor. Na internet, vejo todo mundo zoando de seus livros previsíveis ou reclamando do seu sucesso. Posso fingir que detesto o autor e engrossar o coro, mas a verdade é que eu até gostei dos livros dele que li até agora.

Um homem de sorte conta a história de Logan Thibault, ex-fuzileiro naval que lutou na guerra do Iraque. Lá, ele encontra a foto de uma mulher e a guarda consigo. A fotografia continua com ele por anos, e o melhor amigo de Thibault considera que ela seja um amuleto, pois ela sempre os protegeu. Sem saber o que fazer após voltar aos Estados Unidos, Thibault parte em busca da mulher da fotografia. E o que acontece depois, óbvio, é completamente previsível.

Em defesa do Nicholas Sparks em Um homem de sorte, o livro não é tão meloso quanto as pessoas podem achar que seja. Na verdade, acho até que muito romance adolescente é mais meloso que esse livro. Quer dizer, o texto não é explicitamente meloso na maior parte do tempo, mas as entrelinhas são muito bregas. Ou seja, é só ignorar a mensagem do livro e seguir em frente com a leitura que está tudo certo.

Surpreendentemente, Sparks usa até um pouco de humor nesse livro. Temos o antagonista da história, Clayton, e as partes narradas pelo seu ponto de vista são engraçadas de tão sem noção.

Além do antagonista sem noção, temos em Um homem de sorte o mocinho sem sal, a mocinha sem sal, o filho fofo da mocinha sem sal e a avó carismática da mocinha sem sal. Se parar para pensar, são personagens irreais e tal, mas toda a questão de ler Nicholas Sparks é: para que parar para pensar? A leitura me envolveu e eu preferi seguir lendo sem racionalizar muito — ok, parando uma hora ou outra para zoar das opiniões que Sparks, como homem religioso e patriota, coloca na história.

Imagino que ler vários livros do autor em seguida seja uma experiência ruim, e entendo por que tanta gente não gosta dele, mas os livros do Nicholas Sparks continuam servindo quando quero ler algo que prenda a atenção. É só não levar tão a sério que consigo para aproveitar a leitura.

Avaliação final: 2,5/5

É com esse livro que me despeço do Desafio Literário do Tigre. Consegui seguir todos os temas e aproveitei bem as leituras. Agradeço a Tati, que criou o desafio com temas ótimos e deixou tudo super organizado.

sábado, 20 de dezembro de 2014

De volta à vida, Nadine Gordimer

De volta à vida

Radiante.

Literalmente radiante. Mas não emitindo luz como os santos mostrados com uma auréola. Ele irradia o perigo, invisível para os outros, de uma substância destrutiva que serviu para contra-atacar o que o estava destruindo. Câncer da glândula tireóide. No hospital, foi mantido em isolamento. (…) Ele permanece, e ainda continuará, sem controle sobre si, expondo pessoas e objetos ao que ele emana, tudo e todos que ele tocar.

Fiquei com vontade de ler algo da Nadine Gordimer porque ela é a única escritora sul-africana que eu eu conheço. Já li um livro do Coetzee, mas acho importante dar uma variada e ler mais mulheres.

De volta à vida conta a história de Paul, um ecologista que fica radiante por causa do tratamento de um câncer. Ele se isola na casa dos pais para não afetar sua esposa ou seu filho. Nesse período de isolamento, ele e seus familiares refletem sobre suas vidas.

A sinopse ficou bem porca, mas é mais ou menos isso mesmo. O livro tem menos de duzentas páginas e vai mostrando o ponto de vista de cada personagem, de forma que sabemos um pouco do seu passado e de como está a situação no momento.

Mesmo o livro sendo curto, demorei mais do que o normal para terminá-lo. Em parte, isso aconteceu porque a leitura foi no final de semestre e eu tinha várias coisas para fazer para a faculdade. Mas não foi só isso. O começo do livro não me pegou, e embora eu tenha me impressionado com a escrita da Nadine Gordimer desde o início, era difícil ter vontade de ler por bastante tempo.

Felizmente, a segunda metade do livro me agradou mais. Algumas coisas ainda me incomodaram — por exemplo, não liguei muito para a parte do trabalho do Paul e suas conversas profissionais —, mas fiquei satisfeita por ter lido De volta à vida. Algum dia pretendo ler mais da Nadine Gordimer.

Avaliação final: 3,5/5

domingo, 14 de dezembro de 2014

Sobre guilty pleasures

Sei que é estranho fazer posts de discussões confusos, que falam, falam e não chegam a lugar nenhum, mas não sou uma pessoa de opiniões firmes e prefiro problematizar as coisas a resolvê-las. O próprio fato de eu estar falando isso é um pouco contraditório, porque talvez mais tarde eu pareça ter convicções e ideias bem formadas. Enfim, desse jeito parece até que vou falar sobre um assunto sério e importante para o mundo inteiro, mas não. Só queria dizer o que penso sobre guilty pleasures. Minha opinião não é a que eu mais vejo por aí nesse universo cuidadosamente selecionado que é a internet, onde acompanho apenas quem me apetece de algum modo, e acho que por isso senti necessidade de falar sobre o assunto.

A maior parte das pessoas que conheço defende que guilty pleasure é um termo que não deveria ser usado, que gente bem resolvida não sente culpa nenhuma, etc. E eu entendo por que elas dizem isso, mas a minha visão é de que não é o fim do mundo ter guilty pleasures, especialmente com uma definição mais branda do termo.

Eu não defendo a visão de que guilty pleasure, como a definição padrão diz, é algo do qual você gosta e o resto do mundo acha duvidoso. Acho que não tem problema nenhum gostar de algo supostamente ruim e defender isso; aliás, acho isso louvável. Eu gostaria de ligar menos para o que os outros pensam, mas ao mesmo tempo não é um fator que interfira muito na minha vida. Meus amigos e minha família mais próxima sabem do que eu gosto, e o resto não precisa saber. Posso ficar com um pouco de vergonha quando alugo um livro YA na biblioteca, ou quando minhas compras no supermercado são só coisas nada saudáveis, mas isso não me impede de fazer essas coisas. Até porque, como sou tímida, tenho vergonha de pegar qualquer livro na biblioteca ou comprar qualquer coisa.

Basicamente, entendo que as outras pessoas queiram que todo mundo pare de julgar os outros pelos seus gostos (não sei se isso aumentou com a internet ou se antes eu não percebia, mas por que todos têm que ter opinião formada sobre tudo? Ou você ama Crepúsculo ou você odeia, ou você acha a Taylor Swift o melhor exemplo de pessoa na face da terra ou você a odeia, ou você fala biscoito ou fala bolacha — achando que o seu lado, claro, é o certo . Não existem outras possibilidades? Sei que é exagero meu e que faço isso às vezes, mas esse tipo de coisa realmente me incomoda). Não acho horrível eu mesma sentir culpa em algumas coisas, no entanto. Não preciso ter orgulho de tudo o que faço. Se a culpa que eu sinto por gostar de algo não é enorme e não me impede de fazer alguma coisa, está tudo certo.

Eu divido meus guilty pleasures em três categorias. A primeira é de coisas que me fazem mal de alguma forma, hábitos ruins: comer muito doce em seguida, arrancar esmalte da unha, tirar casquinha de machucado ou mesmo comprar livros compulsivamente… Coisas que são legais de fazer na hora, mas que depois eu me arrependo. Tenho a impressão de que esses são os guilty pleasures mais comuns e que quase todo mundo tem.

O segundo tipo é de coisas problemáticas — racistas, machistas, homofóbicas, etc. Gosto de The big bang theory, por exemplo, que é cheio de piadas preconceituosas. De vez em quando vejo Esquadrão da moda ou outros reality shows de makeover, mas eles são muito opressores e humilhantes. Gosto bastante dos filmes do Woody Allen, que é um figura super problemática. A culpa no caso vem de apoiar algo que vai contra seus ideais. Tem formas de diminuir esse apoio, usando a pirataria, por exemplo, mas nem sempre penso nisso. Normalmente, não chego a me sentir muito mal por esse tipo de coisa porque se a gente for se sentir culpada por qualquer coisa minimamente problemática, não vai gostar de nada.

O último tipo de guilty pleasure é o que mais parece com a definição tradicional: o de coisas que considero ruins. Acho ruim e gosto mesmo assim. Alguns exemplos: reality shows da MTV, filmes do Disney Channel, leituras bem fúteis (daquelas que você fica em dúvida de que nota vai dar, porque pelo entretenimento seria uma nota alta mas pela qualidade seria baixa). Acho que a culpa daqui vem dessa ideia de que temos que ser produtivos até no nosso tempo livre e que nesse período poderia estar lendo ou vendo algo melhor — e nesse caso significa apenas algo que eu ache melhor, um livro da minha estante, um filme que quero ver há séculos… Gostaria de não sentir tanta pressão no meu entretenimento, mas isso é algo que não envolve só guilty pleasures.

Enfim, para resumir, eu tenho guilty pleasures, mas na maior parte do tempo lido bem com eles. Minha vida não gira ao redor disso, mas daquilo que gosto muito e defendo até o fim, não importa o quão vergonhoso seja. E você? Tem guilty pleasures? Acha isso uma bobagem? Acha que a gente tem que esconder nossos gostos supostamente ridículos? Adoraria saber sua opinião nos comentários.  

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

An enemy of the people, Henrik Ibsen

An enemy of the people

Dr. Stockmann: Well, but is it not the duty of a citizen to let the public share in any new ideas he may have?

Peter Stockmann: Oh, the public doesn’t require any new ideas. The public is best served by the good, old established ideas it already has.

Não era meu plano resenhar An enemy of the people. Foi uma leitura para faculdade, e é uma peça de teatro não muito comprida. Mas aí eu percebi que o Ibsen é norueguês, e portanto o livro se encaixa na Volta ao mundo em 80 livros. Portanto, aqui estou eu, comentando em forma de resenha muito depois de ter lido a peça.

An enemy of the people mostra os acontecimentos de uma pequena cidade, que vive do seu balneário. O dr. Stockmann, no entanto, descobre que a água do balneário está contaminada, e vai fazer de tudo para expor a verdade a todos, confrontando seu irmão, que é o prefeito da cidade. Vemos vários discussões com os personagens mais influentes da cidade e observamos como a mídia, inicialmente a favor de contar a verdade, logo muda de opinião ao ver que isso vai contra seus interesses financeiros.

A peça foi lançada em 1882, e é quase difícil de acreditar nisso, porque o tema é extremamente atual. O que dizer das mudanças climáticas, da contaminação do solo e de tantos assuntos científicos que são deixados para trás por causa de interesses financeiros?

Porém, a peça não chega a culpar alguém. Afinal de contas, todos somos humanos e cometemos erros. Dr. Stockmann também exagera bastante na sua posição e em como ele lida com o resto das pessoas — isso na minha intepretação, é claro.

Gostei bastante da crítica social do livro, porém acho difícil me acostumar com a forma teatral. Acho interessante ler peças, mas em geral elas não costumam me empolgar, porque não consigo criar empatia com os personagens ou me envolver de verdade na história. Mas sempre dá vontade de ver a peça nos palcos.

Avaliação final: 3/5

domingo, 7 de dezembro de 2014

Os últimos filmes que eu vi #9

1- A garota de rosa-shocking (Howard Deutch, 1986)

A garota de rosa-shockingUm monte de gente ama o John Hughes, e isso me deu vontade de ver os filmes dele. Gostei bastante de Clube dos cinco, mas não vi nada de especial em A garota de rosa-shocking — é um filme legalzinho, mas não entendo por que tanta gente gosta dele. Quer dizer, entendo que pessoas mais velhas gostem do filme pela identificação, mas não sei porque as pessoas da minha idade são loucas por ele. Na verdade, a questão é que eu não gosto da estética dos anos 80 — o vestido de baile da Andie é muito feio, gente — e acho que a história e o desenvolvimento romântico nesse filme são meio sem graça. Avaliação: 3/5

2- Um time show de bola (Juan José Campanella, 2013)

Um time show de bolaNão sou das maiores fãs de futebol, mas gosto de jogar pebolim, então fiquei curiosa para saber como o enredo de Um time show de bola trataria o assunto. O filme parece bastante Toy story em alguns momentos, porque os bonecos de pebolim se metem em enrascadas e isso cria várias cenas de ação. É interessante ver peculiaridades e cenários argentinos em um filme cujo visual lembra as animações hollywoodianas, e acho que o filme tem potencial de agradar adultos e crianças, mas a história viajou demais e muita coisa poderia ter sido cortada do roteiro para ter um resultado final mais limpo. Avaliação: 3,5/5

3- Temporário 12 (Destin Daniel Cretton, 2013)

Temporário 12Vi várias pessoas elogiando esse filme, então fiquei com vontade de ver — quando digo esse tipo de coisa, significa que eu fui atrás do filme e que ele me interessou, e que são pessoas que tem gosto parecido com o meu que gostaram, não que sou totalmente influenciável e vou atrás de qualquer coisa elogiada, como pode dar a entender. Ou talvez eu seja influenciável mesmo. Enfim, o filme é sobre um casal que trabalha em um lar temporário para jovens abandonados ou com problemas. Gosto de filmes com esse tipo de cenário porque assim podem ser exploradas questões de vários personagens diferentes, embora algumas crianças tenham aparecido menos do que eu gostaria. Achei o filme bem envolvente, não queria que ele acabasse, e por isso minha nota foi tão alta. Sendo racional, tiraria 0,5 estrela da minha avaliação, e acho que o filme não sobreviveria tão bem se eu o visse de novo, mas decidi priorizar as minhas sensações durante a primeira vez que eu o assisti. Avaliação: 4,5/5

4- Rugas (Ignacio Ferreras, 2011)

Rugas Estava olhando a programação da HBO e me deparei com essa animação espanhola. Como eu já disse aqui várias vezes, amo animações, então não perdi a oportunidade de ver uma pouco conhecida. É um filme sobre um senhor que começa a morar num asilo. Lá ele conhece vários idosos, como a que guarda comida para o neto que raramente a visita, o que só sabe repetir frases de outras pessoas, o que se aproveita dos mais senis… O assunto é bem triste, e o filme tem cenas de cortar o coração, mas também tem várias partes engraçadas e leves. Acho que no fundo tudo depende de como você vê as coisas e encara a velhice. A animação é simples e combina com a história. Recomendo muito o filme — para adultos, não é infantil —, só não sei se é fácil de achar… Avaliação: 4/5

5- A malvada (Joseph L. Mankiewicz, 1950)

A malvada Foi o primeiro filme do meu projeto de 1001 filmes para ver antes de morrer. Não tenho muito o que falar sobre o filme — acho difícil falar sobre clássicos… Os atores estão muito bem, a história prende a atenção, e o filme com certeza merece seu lugar na lista de 1001 filmes. Avaliação: 4/5

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Carrie, a estranha, Stephen King

Carrie, a estranha

Ninguém achou nada de mais quando isso aconteceu (…). Aparentemente, todas as meninas nos chuveiros ficaram chocadas, empolgadas, envergonhadas ou apenas contentes que aquela nojenta da White tivesse levado na cabeça de novo. (…)

O que nenhuma delas sabia, claro, era que Carrie White tinha o dom da telecinesia.

Fazia muito tempo que eu queria ler algo do Stephen King, mas sempre ficava adiando. Os livros dele que eu mais queria ler nunca entravam em promoção, ou sempre estavam pegos na biblioteca. Mas finalmente o momento chegou e pude ler Carrie, a estranha.

Infelizmente, vi o final do filme — o remake, de 2013, naquele clima de “não tem nada melhor para ver na TV, comecei a ver um pedaço por curiosidade e não parei mais” — antes de ler o livro, e isso acabou prejudicando a leitura. Mas vamos começar pelo começo…

O livro é formado pela narrativa, que é em terceira pessoa mas cada vez foca em um personagem diferente, e por trechos de livros, relatórios ou simplesmente evidências sobre o caso da Carrie. Desde o começo, o narrador já vai nos dando dados sobre o que vai acontecer depois. Mas isso não tira exatamente o suspense da leitura, pois acaba criando um nervosismo, a gente começa a sofrer por antecipação, quer chegar logo na parte em que as coisas realmente acontecem. O início, a apresentação de Carrie e de toda a situação, foi a parte que eu mais gostei do livro.

Eu tinha visto o filme a partir da cena do baile, e foi aí, no livro, que a leitura perdeu a força para mim. Provavelmente porque eu já sabia o que ia acontecer, fiquei um pouco desinteressada em Carrie; a leitura se tornou uma descrição após descrição dos acontecimentos, que na verdade são mais emocionantes quando bem visualizados e, bom, não sou uma pessoa muito imaginativa.

Mesmo assim, a história como um todo não perde o seu brilho. Gosto muito da ideia do Stephen King, da forma que o livro traz à tona discussões sobre humilhação, fanatismo religioso, vivência escolar… É bom também ver como a maior parte dos personagens não é tratada de modo maniqueísta. Não podemos responder até que ponto Carrie é uma vilã. O livro é de certa forma uma tragédia: já sabemos como as coisas vão terminar, e ficamos em agonia lendo e querendo que desse para modificar tudo de forma que milagrosamente o final fosse feliz. E, claro, saímos contentes que é apenas ficção, embora ao mesmo tempo melancólicos porque existem muitas Carries por aí.

Enfim, recomendo Carrie, principalmente se você ainda não viu algum dos filmes. Não é um livro que dê medo, então é um bom começo para quem quer entrar no mundo do Stephen King mas não quer um terror pesado.

Avaliação final: 3,5/5

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Meus 15 anos, Luiza Trigo

Meus 15 anos

Ninguém sabe o tema do aniversário. Na verdade, não sabem de nada! É segredo e continuará assim até o dia da festa. Exceto o local, é claro! Tenho certeza de que vou surpreender a TODOS. Escondi o tema até das minhas amigas (e madrinhas) que vão participar da dança surpresa. Os ensaios da coreografia começam esta semana de qualquer jeito. Falta pouco mais de um mês, e temos que correr atrás para conseguir decorar a música inteira a tempo! Só de pensar meu estômago revira. Queria tanto que a festa fosse no próximo fim de semana…

Eu disse no meu comentário de As valentinas que não pretendia ler Meus 15 anos, mas a verdade é que eu continuava muito curiosa para lê-lo. Não compraria o livro, mas o leria com prazer se ele caísse nas minhas mãos. E, por uma questão de sorte, ele acabou caindo. Minha irmã ganhou um sorteio e escolheu esse livro. Como eu queria uma leitura leve e rápida depois de passar dias com Grande sertão: veredas, o livro da Luiza Trigo acabou sendo a minha escolha.

O livro é sobre a festa de quinze anos de Bia. Acompanhamos os preparativos, a própria festa e o que acontece depois pelos olhos de várias pessoas: da Bia, de dois de seus amigos, do garoto do qual ela está a fim e da rival dela. Tudo naquela lógica escolar de filme americano, com a panelinha de nerds, que é a da Bia, as garotas malvadas, os populares… Seria interessante se na narração dos personagens eles quebrassem um pouco os estereótipos, mas não é o que acontece, o que os deixa rasos, previsíveis e clichês. Por exemplo, Thiago, o garoto popular de quem Bia gosta, é um cara que só sabe falar em pegar meninas e em futebol, e Jéssica, a rival da protagonista, nem tem motivos para odiar a Bia. Ela simplesmente odeia, porque precisa haver uma antagonista na história.

Esses estereótipos acabam criando um clima maniqueísta, em que Bia e seus amigos são do bem e os outros não. Isso aparece, por exemplo, quando Bia é gentil com pessoas de classe mais baixa que ela (o porteiro, o inspetor da escola, o motorista), enquanto Jéssica os ignora ou diz que não gosta deles. Não acho que tenha sido intenção da autora ter deixado o clima tão separado assim e sei que eu superinterpretei esse aspecto, mas eu acabei reparando nessas pequenas dicotomias, como se Bia representasse o que é certo e Thiago e Jéssica o que é errado.

Quanto à linguagem, que costuma me incomodar nos livros brasileiros para jovens, devo dizer que Meus 15 anos melhorou em relação a As valentinas. Provavelmente por ser um livro de papel, não usou a linguagem digital de hashtags que tinha me incomodado no e-book. Ainda não é uma linguagem que soa natural para mim, mas vou dar um desconto porque não sou uma adolescente carioca e não sei que gírias estão na moda.

A escrita, no geral, também não é uma obra-prima. Alguns trechos pareciam coisas que eu escreveria em uma história, e isso está longe de ser um elogio. Notei também algumas confusões de tempo verbal, uma narração um pouco indecisa se é presente, passado ou futuro, mas não sei se estava errado mesmo ou se eu que não prestei atenção direito.

Mas o fato é que não adianta falar muito mal de Meus 15 anos, porque depois que comecei a ler o livro, não queria mais parar. É bobo, ingênuo, clichê? É. Mas é muito gostoso de ler ao mesmo tempo. Uma pena que eu tenha lido esse mês e não em dezembro, porque o livro se encaixaria plenamente na minha definição de guilty pleasure: eu consigo ver um monte de defeitos, mas a leitura flui tão bem que eu acabo gostando.

Avaliação final: 2,5/5

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Grande sertão: veredas, João Guimarães Rosa

Grande sertão veredas

Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torrar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. (…) O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães… O sertão está em toda a parte.

                                                                                           (Grande sertão: veredas, p. 9)

Meu plano inicial não era resenhar Grande sertão: veredas para o Desafio do Tigre, porque eu queria ler um livro brasileiro atual. Mas fazer faculdade de Letras é isso, você tem leituras obrigatórias e tem que se virar. De qualquer jeito, acabei lendo um livro brasileiro atual depois, então terei duas resenhas para o desafio nesse mês.

É muito complicado falar sobre um clássico desse tamanho, um dos maiores romances brasileiros. É mais difícil ainda quando não se gostou tanto assim do livro, mesmo entendendo os motivos da importância dele. Enfim, essa resenha não vai apresentar o livro em si, só vai ter as minhas impressões de leitura. Não estou na melhor fase de escrever resenhas, acabo escrevendo muito depois de ler o livro e por isso esqueço algumas coisas, então peço desculpas por isso.

O começo de Grande sertão: veredas foi bem difícil. O livro já inicia no meio da história e você tem que se acostumar aos poucos com o modo que o Riobaldo narra. Confesso que me perdi várias vezes na história, e mesmo quando ela passou a ser cronológica, eu nem sempre entendia o que estava acontecendo. Parte da minha confusão se deve ao fato de que eu li muito rápido, porque tinha terminar de ler antes da aula sobre o final do livro. Basicamente li cinquenta páginas por dia, não importando se estava com vontade ou não, e se eu estava entendendo ou não, porque não dava tempo de voltar atrás e reler. Mas não duvido que, mesmo que eu lesse só quando estivesse com vontade, continuaria meio perdida.

O final do livro me deixou meio decepcionada e frustrada no primeiro momento. A verdade é que eu não consigo lidar com plot twists — e que nunca consigo prevê-los… Entendo os motivos de Guimarães Rosa por ter feito o que fez, mas eu preferia o livro sem isso. Talvez eu mude de ideia se ler o livro de novo, pois assim teria uma interpretação diferente sabendo desde o início a revelação.

Felizmente, a leitura teve também partes muito boas. O encontro de Riobaldo e de Diadorim é um trecho que eu acho incrível, uma daquelas coisas que me lembra dos motivos de eu gostar tanto de literatura, e também gosto bastante das reflexões do Riobaldo que aparecem no meio da narração, especialmente as partes metalinguísticas. Como eu já disse antes, reconheço a grandiosidade e a genialidade de Grande sertão: veredas. É certamente um livro que cresce a cada releitura e que nunca se esgota. A questão é saber se algum dia eu vou ter paciência para relê-lo.

Avaliação final: 3,5/5

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Um barril de risadas, um vale de lágrimas, Jules Feiffer

Um barril de risadas, um vale de lágrimas

Está chovendo. Não só está chovendo como está caindo neve e granizo ao mesmo tempo. As pedras de granizo, soando aos ouvidos como se fossem tiros disparados, ricocheteiam contra os muros do palácio. Que pensam vocês que Roger diz a si mesmo ao olhar para fora da janela? Diz “Uau! Vou ficar encharcado até os ossos em dois segundos se sair com esse temporal. Mal posso esperar!”.

                                                            (Um barril de risadas, um vale de lágrimas, p. 16)

Um barril de risadas, uma vale de lágrimas é um desses livros que eu queria ler há um tempão, mas por algum motivo não tinha lido até agora. O livro conta a história de Roger, um príncipe que faz todo mundo morrer de rir sem motivo nenhum. Para acabar com esse efeito indesejado, o J. Imago Mago sugere que Roger vá numa busca. Então Roger parte, sem saber exatamente o que vai encontrar no caminho, e passa por uma série de aventuras. Ele entra na Floresta Para Sempre, no Vale da Vingança, na Divisa Perversa, e aprende a se virar, sem ter mais as regalias de um príncipe.

O enredo básico é típico de contos de fadas e mitos, mas Jules Feiffer subverte a maioria dos clichês ou os desenvolve de maneira bem humorada. É legal também como o narrador se mete na história e conta o que vai acontecer depois, ou os processos por trás de narrar uma história, conversando com o leitor. O estilo de Jules Feiffer nesse livro me lembrou um pouco de Desventuras em série, inclusive pelos nomes de lugares e pequenos jogos de palavras.

Bom, não tenho muito mais o que falar do livro. É uma leitura rápida e divertida, que me deixou com um sorriso no rosto. Não foi um livro excepcionalmente marcante, mas não me importo muito com isso. Eu leio para me entreter, e Um barril de risadas, um vale de lágrimas cumpriu bem a função.

Avaliação final: 4/5 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

TAG: One lovely blog

Minha irmã me indicou essa tag, então resolvi fazê-la.

1. Por que decidiu criar um blog e quando começou?
Criei o blog para ter um espaço para falar sobre o que eu quiser. Comecei a participar do Desafio Literário e aí comecei a postar resenhas regularmente. No começo, era para ser um blog mais livre, mas só agora estou escrevendo sobre temas mais variados.

2. Quais benefícios o blog te traz?
Eu conheci algumas pessoas legais por aqui e gosto de compartilhar opiniões sobre livros e tal para os outros. O blog também é um jeito de eu escrever com frequência (mesmo que eu não ache que tenha melhorado muito na parte escrita) e de pensar criticamente sobre o que eu leio/assisto. É um bom modo de refletir sobre as coisas e colocá-las no papel, acho que é isso.

3. Qual é o post mais acessado?
É a minha resenha de As sabichonas e Escola de mulheres, do Molière. Suponho que seja porque pouca gente leu e resenhou esse livro na internet. É um pouco decepcionante que as visitas não tenham nada a ver com a qualidade dos meus posts, porque essa resenha não tem nada de especial e provavelmente quem caiu nela sem querer não quis continuar lendo o blog.

4. Você usa as redes sociais?
Uso, mas não para o blog. Tenho um pouco de vergonha de sair divulgando meus posts por aí e a minha irmã é a única pessoa da minha vida não virtual que conhece o blog.

5. Como o blog tem evoluído?
Ele começou com as resenhas dos desafios literários e ficou nisso um bom tempo. Só a partir do ano passado deste ano que o blog está um pouco mais sério, com resenhas de quase tudo que eu leio e posts mais variados e frequentes.

6. Já viveu algum fato importante por causa do blog?
Não exatamente... Mas fico feliz quando recebo um comentário e vejo que minha opinião importa para alguém.

7. De onde nasce a inspiração para escrever e continuar o blog?
Das coisas por aí; do que eu leio, vejo, penso. Outros blogs também são boas inspirações.

8. O que você tem aprendido em nível pessoal e profissional este ano?
Ai, agora a coisa complica... Em nível pessoal, não sei? Talvez que eu devia parar de se importar com coisas tão pequenas. E que sim, algum momento você vai se ferrar se deixar tudo para a última hora. Em nível profissional, que se você ficar acomodada, não vai arranjar um emprego (não que eu não imaginasse que fosse assim, né, mas a realidade é triste).

9. Qual sua frase favorita?
Não tenho isso de frase favorita. Não gosto de frases e acho muito difícil escolher coisas favoritas, então...

10. Qual conselho você daria para quem está começando agora no mundo dos blogs?
Vá devagar, não se preocupando com fama a qualquer custo. Descubra sobre o que você gosta de escrever e escreva sobre isso. E seja honesto e tenha o seu estilo próprio, porque blogs genéricos acabam se perdendo na multidão. Mas o mais importante é: não ligue para dicas alheias, especialmente as desta blogueira aqui. Afinal de contas, quem é ela para dar dicas sobre blogs? Você tem que decidir o que você quer e o que te deixa feliz, e ponto. 

11. O que os blogs que você vai indicar têm em comum?
Eu vou indicar a Samy, do Infinitos livros, porque o blog dela é legal e eu adoro as resenhas dela.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

We were Liars, E. Lockhart

We were liars

Welcome to the beautiful Sinclair family.

No one is a criminal.

No one is an addict.

No one is a failure.

(…)

It doesn’t matter if divorce shreds the muscles of our hearts so that they will hardly beat without a struggle. It doesn’t matter if trust-fund money is running out; if credit card bills go unpaid on the kitchen counter. It doesn’t matter if there’se a cluster of pill bottles on the bedside table.

We were Liars foi o livro do mês passado no clube do livro do qual eu faço parte. Eu já estava curiosa para ler, de tanto que o livro foi falado nos blogs literários mundo afora. Só que é complicado: quase todo mundo adorou o livro, mas disse que não era para saber nada da história ou não ter expectativas. Mas como não ter expectativas com todo mundo falando tão bem? Não dá para controlar esse tipo de coisa. Então, bom, eu acabei me decepcionando um pouco.

Enfim, vamos ao que se pode falar da história (mas se você realmente não quiser saber nada da história, pule esse parágrafo ou não leia a resenha): a família Sinclair é rica e tem uma ilha particular. Cadence Sinclair, a protagonista, passa todas as férias nesse ilha com seus primos, até que acontece um acidente do qual ela não se lembra e ela passa a sofrer muito. Depois de um tempo em casa, ela volta para a ilha para descobrir exatamente o que aconteceu no seu acidente.

Gostei bastante do fato do livro mostrar uma família rica, e acho que ele retratou bem os Sinclair. Os conflitos familiares decorrentes do dinheiro são bem interessantes, e o livro não ignora a crítica social, problematizando a vida dos privilegiados.

A história flui bem, mas eu não gostei da narração, que abusa de frases repetitivas e separa alguns períodos em várias linhas só para supostamente ficar poético. E detestei as metáforas de como a Cadence estava se sentindo, achei exageradas e elas não funcionaram para mim, visto que não consegui me conectar com a personagem.

Esse é outro problema do livro, achei a maioria dos personagens insossos. Talvez se eles tivessem sido mais desenvolvidos nos momentos antes do acidente, eu teria aproveitado melhor. E como eu não ligo para os personagens, não gostei do final. Achei-o surpreendente, sim, mas não chocante. Ou quem sabe chocante do ponto de vista negativo. Bem negativo. Enfim, não dá para explicar direito sem falar de spoilers. Tem algumas coisas interessantes no final também, as discussões para o qual ele se abre, mas não gostei do principal.

Se eu recomendo o livro? Acho que sim. Muitos dos problemas que eu tive com ele são questões de gosto pessoal, e no final foi sim uma leitura envolvente e que conseguiu me impactar em alguns momentos — de maneira positiva ou negativa. A questão é que quando o livro é muito bem falado, eu acabo focando mais no que eu não gostei nele e isso prejudica a visão que eu tive dele durante a leitura. Faz sentido? É algo bem idiota e que eu adoraria não ter, mas algumas coisas não dá para evitar, né.

Avaliação final: 3/5

domingo, 2 de novembro de 2014

Os últimos filmes que eu vi #8

1- A noiva cadáver (Tim Burton e Mike Johnson, 2005)

A noiva cadáver Fazia muito tempo que eu tinha visto esse filme, então senti que precisava assisti-lo novamente para formar uma opinião mais atual. No começo, fiquei preocupada porque não estava gostando muito, e é triste quando filmes que você achava que adorava acabam te decepcionando quando você os revê. Mas no final minha visão de infância não estava tão errada assim e continuo gostando bastante de A noiva cadáver. Não é a minha animação favorita do Tim Burton atualmente — prefiro Frankenweenie —, e eu cortaria algumas músicas do filme, mas é uma boa diversão. Avaliação: 4/5

2- Eles voltam (Marcelo Lordello, 2012)

Eles voltamNão vejo tantos filmes brasileiros quanto gostaria, e são poucos que me interessam logo de cara, mas achei a sinopse de Eles voltam instigante e fiquei curiosa para assistir. O filme mostra dois irmãos que são obrigados pelos pais a sair do carro onde estavam e ficar na estrada. Logo o irmão vai embora, e a protagonista fica sozinha. Ela espera, mas ninguém aparece. Então a garota tem que se virar, conhece outras pessoas e vive uma realidade diferente da sua. O filme é um pouco parado e o silêncio é um elemento importante nele, então não é para qualquer um. Eles voltam se constrói com sutilezas e se firma a partir de pequenos momentos. Os personagens, talvez por causa disso, ficam quase indiferentes, inexpressivos, e isso me incomodou em alguns momentos, por mais que provavelmente seja proposital. Outra coisa que me incomodou foi que assisti a tarde, na hora do rush, quando o som do trânsito é alto, e acabei não conseguindo entender várias falas, além de às vezes ter que ficar aumentando e diminuindo o som por causa da diferença de volume entre as falas e os outros sons do filme ou a música. Avaliação: 3,5/5

3- A garota que conquistou o tempo (Mamoru Hosoda, 2006)

A garota que conquistou o tempoVi que essa animação estava com nota alta no Myanimelist e fiquei com vontade de assistir. É sobre uma garota que ganha um poder de viajar no tempo e o usa no seu cotidiano — para reviver momentos legais ou corrigir besteiras que cometeu, por exemplo. Não sei por que, mas adoro histórias de viagens no tempo, e com essa não foi diferente. Achei interessante porque a viagem no tempo não tinha grandes propósitos, mas mesmo assim podia causar grandes alterações. O filme é engraçado e envolvente. O problema é que no final começa a ficar um pouco confuso e eu não entendi direito as explicações dos motivos das viagens. Acho que seria melhor se o filme não complicasse tanto as coisas. Ao mesmo tempo, é interessante que o enredo seja viajado porque muita gente cria umas teorias estranhas que são curiosas de ler. Avaliação: 4/5

4- Memórias (Woody Allen, 1980)

MemóriasSeguindo minha meta de assistir os filmes mais famosos do Woody Allen, Memórias foi o escolhido da vez. Ou melhor, o que passou na televisão em um bom horário. Dizem que esse é o do Woody Allen, mas eu ainda não assisti , então não peguei as referências. Quando li algumas críticas sobre Memórias, entendi porque as pessoas gostam tanto do filme, mas não vi toda essa genialidade enquanto eu o assistia. É um bom filme para os fãs do diretor, mas não recomendo que vá assistir sem saber sobre o que é ou apenas por diversão. Avaliação: 3,5/5

5- Mogli: o menino lobo (Wolfgang Reitherman, 1967)

Mogli Mais um da série revendo-os-filmes-da-Disney-conforme-eles-passam-na-televisão. Não me lembrava de nada de Mogli além das músicas. E, depois de rever o filme, acho que a melhor parte é a musical mesmo. Gosto do Balu e do Baguera, que são a alma do filme. Fora isso, achei o final um pouco corrido, queria que algumas coisas tivessem sido mais desenvolvidas, ao mesmo tempo que alguns personagens poderiam ter sido cortados. Avaliação: 3,5/5

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Flipped, Wendelin Van Draanen

Flipped I’d spent so many years avoiding Juli Baker that I’d never really looked at her, and now all of a sudden I couldn’t stop. This weird feeling started taking over the pit of my stomach, and I didn’t like it. Not one bit. To tell you the truth, it scared the Sheetrock out of me.

Então o tema do Desafio do Tigre desse mês é amor. Um tema tão simples e tão fácil. Mas aí eu tinha um monte de opções e fiquei na dúvida do que ler. A sorte — ou azar — é que esse foi um mês pesado com outras leituras, e acabei tendo que selecionar um livro curto e leve de forma arbitrária. E acertei em cheio, porque Flipped é uma gracinha.

O livro conta sobre a relação de Bryce e Juli. Na primeira vez em que os dois se encontraram, antes da segunda série começar, Juli gruda em Bryce e ele fica assustado. Os dois são vizinhos e passam a estudar na mesma sala, o que deixa a garota muito animada. Bryce, porém, a acha uma obcecada, e tem medo dela. Aos poucos, conforme eles crescem, as coisas começam a mudar e viram de cabeça para baixo.

Flipped é contado pelo ponto de vista dos dois protagonistas, intercalando um capítulo do Bryce com um da Juli. Gostei bastante dessa forma de narrativa porque dá para ver claramente o que cada um pensa do outro e como cada um vê os acontecimentos. É bom também porque a autora conseguiu criar duas vozes bem distintas. Bryce é bem informal e a narração de Juli é um pouco mais séria, embora não deixe de ser engraçada às vezes.

O livro me lembrou bastante daquele filme ABC do amor, por mostrar o amor do ponto de vista infantil, e tem um clima muito forte de comédia romântica, do tipo que tem momentos que você torce para o casal, e aí dá tudo errado e você fica com muita raiva de um personagem, até que algo acontece e você gosta dele de novo… Enfim, o livro não surpreende tanto na estrutura básica do enredo, mas tem aspectos que fogem um pouco do clichê de romance. Como os personagens de Flipped passam da infância à adolescência, conseguimos ver o amadurecimento deles no período e como são suas relações com a família, que ocupa um papel quase central no livro.

Se eu tivesse que dizer um ponto negativo na história, eu diria que faltou falar um pouco das amizades escolares dos personagens. Não entendi direito quem Bryce é na escola, se ele é só um cara qualquer, se é o mais popular… Em cada capítulo eu entendia algo diferente, o que me deixou confusa. E parte de mim ficou decepcionada com o final, porque ele deixa várias coisas em aberto e eu queria tanto saber mais coisas sobre os personagens… Mas meu lado racional gostou bastante do fim. 

Enfim, recomendo Flipped para quem gosta de infantos-juvenis e de leituras leves e fofas. O livro não tem tradução para o português, infelizmente, mas pelo menos tem uma adaptação para o cinema, chamada O primeiro amor, que eu pretendo ver em breve.

Avaliação final: 4/5

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O verão do Chibo, Vanessa Barbara e Emilio Fraia

O verão de Chibo

Assim que o Bruno confirmou o passamento do nosso cascudo, confortando o Cabelo com a mão no ombro, observamos um minuto de silêncio. O Chibo não deixou ninguém ficar triste, e o que se viu em seguida foi o funeral mais suntuoso que houve nos lados de cá da árvore vermelha: meu irmão fez um discurso comprido, eu virei o meu short do avesso para parecer limpo e o Cabelo cantou “Eu Sou um Bolinho de Arroz”, alto e sem chorar, guardando todo o respeito que só as grandes personalidades inspiram.

                                                                                                   (O verão do Chibo, p. 31)

Não é segredo que eu adoro livros com narradores crianças. Sejam eles infantis ou para adultos, gosto de ver como o modo de pensar das crianças é recriado na literatura. Então, quando descobri O verão do Chibo, fiquei logo interessada em ler.

O livro conta a história das férias de verão de um menino, que costumava brincar com seu irmão mais velho, Chibo e outros amigos. Mas, nesse verão, ele é abandonado pelo Chibo sem saber o motivo e se sente rejeitado. As coisas não são mais as mesmas no milharal em que eles ficavam.

A leitura, infelizmente, não ocorreu no ritmo que eu esperava. O livro é curto, com cento e poucas páginas, mas foi difícil de entrar na história e eu demorei mais dias do que esperava para terminar de ler. O narrador tem o seu mundo de brincadeiras e achei complicado entender o que estava acontecendo. Aí, como não consegui entrar na história desde o começo, acabei ficando confusa e desanimada para continuar lendo.   

No entanto, O verão do Chibo tem momentos memoráveis, que causam identificação no leitor e uma saudades da infância. Gostei do trecho que eu separei, porque eu, mesmo sendo uma criança de prédio, também já fiz um funeral para um inseto. Só que ele não era treinado nem incrível como o Bob.

Esse é um dos livros que me deixam em dúvida se o problema sou eu ou eles. Talvez, se eu estivesse mais atenta à leitura desde o começo, teria me envolvido mais. Talvez o livro só não seja para mim. O lado bom de resenhar só por lazer é esse: eu não preciso me preocupar com a resposta dessa pergunta, só sigo em frente para a próxima leitura.

Avaliação final: 2,5/5

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Projetos de filmes e livros

Eu estava olhando o meu Listography e reparei que metade das minhas listas é de coisas para ler ou ver antes de morrer. Não sou dessas que acha que é obrigatório completar a lista, que é para mim mais como uma referência de clássicos e livros/filmes importantes. Mas, como adoro desafios e numerar as coisas, estabeleci algumas metas para mim, além de oficializar a participação em outros projetos. Todos os projetos e desafios atuais com suas respectivas listas estão na página de Projetos, que está na lateral do blog, para ficar mais fácil de visualizar.

Nesse post, só vou falar sobre meus novos projetos. Pensei em fazer um post assim só no final do ano, para incluir um possível desafio literário anual temático, mas como sempre finjo que não vou mais participar dessas coisas, fiz o post agora.

Sawyer reading challenge: esse desafio é do blog .Livro. Eu amo Lost e adoro o Sawyer, então decidi participar. Tem vários livros na lista que eu quero muito ler, e espero que participar do desafio me dê um incentivo para lê-los. Não vou fazer uma meta de leitura nesse projeto, vou ler quando der mesmo.

Rolling Stone’s 40 best YA novels: é a lista que vai ser mais fácil de completar. Eu vi essa lista e marquei os que já tinha lido e deu quase metade, então pensei: por que não completá-la? Tem vários livros que eu quero ler, então acho que não vai ser muito difícil. Só vou começar o projeto no ano que vem, com uma meta de seis livros por ano. Se eu quiser, vou ler as séries que estão na lista inteiras, mas não considero isso obrigatório, ler o primeiro volume já serve.

1001 livros para ler antes de morrer: não espero ler os 1001 livros nem nada do tipo, mas gostaria de ter um número de lidos um pouco mais expressivo que os atuais 40 da lista. Não vou estabelecer uma meta de um por mês porque achei que seria demais e se tornaria leitura por obrigação, então a meta é seis livros da lista por ano. Esse ano, já li os seis que precisava sem nem pensar nisso, então espero seguir nesse ritmo sem ter que ir atrás de livros que me desinteressam ou algo do tipo. Minha versão da lista é uma que peguei na internet, do livro original. Se eu tivesse a versão em português, seguiria ela, mas como já comecei com essa lista vou continuar com ela.

1001 filmes para ver antes de morrer: Eu sinto que faltam referências para eu entender vários filmes, então decidi começar o desafio para eu ver mais clássicos. Vou ver no mínimo um filme da lista por mês. Acho que não vai ser tão difícil ficar na meta, mas veremos como vai ser daqui a um tempo… Vou comentar os filmes como sempre faço, mas vai demorar um pouco porque ainda estou escrevendo sobre os filmes de agosto e não quero floodar o blog com post de filmes.

Animação todo mês: Esse projeto, como o nome indica, consiste em assistir a uma animação todo mês. Tem vários desenhos atuais que passam sempre na TV e eu fico com preguiça de ver, então decidi criar essa meta para me incentivar. Acho que vai ser muito fácil, porque costumo assistir até mais de uma animação por mês. Para esse desafio só contam animações que eu não tenha visto antes.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O Palácio da Meia-Noite, Carlos Ruiz Zafón

Capa O palacio da meia-noite.indd

A luz nebulosa daquele dia quente e úmido de maio, os perfis dos relevos e das gárgulas do refúgio secreto da Chowbar Society pareciam figuras de cera talhadas à faca por mãos furtivas. O sol se escondia atrás de um espesso manto de nuvens cinzentas e um mormaço asfixiante subia do rio Hooghly para se condensar nas ruas da cidade negra, imitando os vapores letais de um pântano envenenado.

 Esse é o terceiro livro do Zafón que eu leio. Gostei bastante do primeiro que li dele, mas achei superestimado ao mesmo tempo. O segundo eu achei um pouco pior, mas ainda assim foi uma leitura agradável, porque é dessas bem envolventes. Já O Palácio da Meia-Noite não me encantou em quase nenhum aspecto.

O livro tem uma pegada mais juvenil de aventura e mistério, narrando uma história que inclui gêmeos separados ao nascer, uma sociedade de órfãos, trens em chamas e um vilão que é o mal encarnado.

Primeiro problema meu com o livro: a tal da aventura é fraca e é fácil de descobrir algumas revelações, então um pouco do mistério se perde. Mesmo que eu tenha continuado curiosa para saber como os personagens iam descobrir as coisas, o fato de os personagens se separarem no final me irritou. Eu queria continuar lendo a parte do personagem X, aí bem na hora de suspense acaba a parte dele e vem a de outro. Isso acaba cortando o clima que a história tinha se esforçado para criar. E o final é ruim e forçado.

Achei os personagens pouco desenvolvidos. Cada um tem seus gostos e características básicas definidos, mas na hora de agir não dá para diferenciar os garotos. Não consegui me conectar os protagonistas, acabei simpatizando mais com alguns coadjuvantes.

A linguagem do Zafón pessoalmente não me agrada. Não sou fã de metáforas e comparações, acho descrições grandes chatas… Além da questão de gosto, acho que esse é o livro mais mal escrito dentre os que li do autor, o que faz sentido considerando que é apenas o segundo livro dele. Lendo O Palácio da Meia-Noite depois de ler outros livros dele, dá para ver claramente o quanto o Zafón evoluiu.

Enfim, deu para perceber o quanto eu não gostei desse livro. A leitura até que me envolveu, mas achei o enredo tão fraco… Não vou dizer que não indico para ninguém, porém mesmo os fãs do Zafón devem ir com expectativas mais baixas, porque o risco de decepção é grande.

Avaliação final: 2/5

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ciranda de pedra, Lygia Fagundes Telles

Ciranda de pedra

Virgínia pôs-se a assobiar baixinho (…) Olhou pensativamente a unha do polegar roída até à carne. A verdade é que Bruna e Otávia estavam muito bem sem ela. “E nem pedem para ver a mãe, faz mais de um mês que não aparecem. E a mãe está pior. Bruna diz que é castigo. Conrado diz que é mesmo doença, mas Otávia não diz nada. E Luciana?” Voltou-se para a empregada e ficou a observá-la.

                                                                          (Ciranda de pedra, p. 27)

Ciranda de pedra é outro livro da série minha-irmã-pegou-na-biblioteca-então-eu-decidi-ler-também. Nunca tinha lido nada da Lygia Fagundes Telles antes, e nem sabia sobre o que era esse livro. Eu poderia dizer que terminei a leitura satisfeita, mas a verdade é que terminei com a sensação de decepção, porque não gostei do final. Mas, considerando o todo, gostei muito do livro.

Ciranda de pedra conta a história de Virgínia. Na primeira parte, ela é criança. Seus pais se separaram, ela mora com a mãe, que é doente, e com Daniel. As irmãs dela moram com o pai. Virgínia se sente isolada, sozinha e confusa, sem poder falar sempre com a mãe e não sendo convidada para sair com as irmãs. Na segunda parte, ela é uma jovem adulta que volta para a casa da família. Lá, enxerga as mudanças nos membros da sua família e entende melhor suas relações com eles.

Bom, demorei um pouco para entrar no livro. A narração é intensa e já põe o leitor dentro da história desde o começo. Depois de um tempo passei a entender a situação, e é incrível como dá para entrar na mente da Virgínia, de um modo que se começa a sentir as mesmas coisas que ela. A segunda parte me decepcionou um pouco. Não achei tão fácil entrar no livro de novo, não consegui me conectar tão bem com essa Virgínia mais velha. Continuei gostando bastante, mas não tanto quanto do começo. E aí chegou o final.

Ah, a decepção… Fico um pouco dividida em falar mal do final porque acho que é assim que deveria ter sido. Mas acontece que foi rápido demais; em um momento a Virgínia pensa em uma coisa, depois ela tem uma epifania que não aparece completamente para o leitor — pelo menos na minha interpretação — e pronto, fim do livro. Se o final tivesse sido mais desenvolvido, eu teria gostado mais dele, eu acho.

Mesmo assim, adorei conhecer a narrativa da Lygia Fagundes Telles e fiquei curiosa para ler mais da obra dela. Ciranda de pedra teve seus altos e baixos durante a leitura, mas vale a pena conhecer, especialmente quem gosta de livros com alta densidade psicológica.

Avaliação final: 4/5

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Anime: Usagi Drop

 Usagi Drop 2 Não costumo assistir a muitos animes, porque intercalo com séries e não tenho paciência para ver vários episódios por dia. Mas, desde que eu voltei a assisti-los, senti a necessidade de escrever sobre eles, porque eu acho legal ter textos sobre isso no blog e gosto de me lembrar do que já vi. Ainda não sei se vou falar sobre séries também, porque é meio complicado com as questões de temporada e tal, mas provavelmente vou acabar escrevendo sobre elas também de vez em quando.

Usagi Drop é sobre um homem de trinta anos solteiro, chamado Daikichi, que acaba adotando a filha de seu avô quando este morre. A família não sabia da existência da garota, Rin, até então, e Daikichi, ao ver como ela é tratada pelos outros, decide levar a menina para sua casa. Aos poucos, ele aprende que conciliar os cuidados de uma criança, o trabalho e a vida social não é tão fácil quanto parece.

O anime tem onze episódios de vinte e poucos minutos mais quatro especiais de cinco minutos cada e no final eu queria mais. Nos primeiros episódios, há mais desenvolvimento da história, já que é quando conhecemos os personagens e alguns deles se conhecem pela primeira vez. Depois de um tempo, no entanto, eles se acostumam com a situação e a série se torna mais cotidiana ainda, com fragmentos da vida diária de Daikichi e Rin.

Usagi Drop Usagi Drop não é um anime que tenha um grande desenvolvimento psicológico dos personagens; o que a gente assiste é a interação entre eles. E essa simplicidade, que não exclui o carisma dos personagens, é o que acaba encantando. Além disso, a série trata de um tema importante na vida de todos, a família, e traz aspectos interessantes para reflexão.

A animação, combinando com o resto da série, é simples e bem feita, ajudando tudo a ficar mais fofinho — só de ver as expressões da Rin, já fico sorrindo que nem boba. Essa, aliás, foi a minha reação assistindo ao anime: um sorriso bobo e um coração quentinho. A série traz alguns dramas às vezes, mas no geral é muito leve. Isso é, inclusive, uma coisa que eu achei que poderia melhorar: quase tudo é perfeito demais, acho que poderiam ter ido mais a fundo em alguns problemas.

Usagi Drop foi adaptado de um mangá que foi lançado no Brasil há pouco tempo e é conhecido por ter um final polêmico. O anime acaba antes disso e, embora eu não tenha lido o mangá, acho que essa foi uma boa decisão. 

Na minha opinião, essa é um boa série para quem tem curiosidade em conhecer mais sobre animes, porque não precisa de uma boa base de cultura japonesa e não tem tantas referências. Eu recomendaria para alguém que acha que anime é coisa de criança, por exemplo, para a pessoa ver que existem séries mais maduras e realistas. No entanto, se a pessoa tiver preconceito com qualquer tipo de animação ou não conseguir lidar com alguns clichês de animes, Usagi Drop provavelmente não vai mudar isso.

Enfim, termino a série triste por não ter mais coisa para assistir e imagino que vou revê-la no futuro. Não sei se consegui expressar direito tudo que achei do anime; tenho a impressão de que não. Mas fica a recomendação mesmo se você não tenha entendido nada do que eu falei na resenha.

Usagi Drop 3

Avaliação final: 4,5/5

terça-feira, 30 de setembro de 2014

A casa dos náufragos, Guillermo Rosales

A casa dos náufragos

A única que se manteve fiel aos laços familiares foi essa tia Clotilde, que decidiu cuidar de mim e me hospedou durante três meses em sua casa. Até o dia em que, aconselhada por outros familiares e amigos, decidiu me pôr na boarding home; a casa dos escombros humanos.

— Porque você há de compreender que não se pode fazer mais nada.

Eu a entendo.

Li A casa dos náufragos por acaso, porque minha irmã pegou o livro na biblioteca. Eu não tinha muitas expectativas sobre a leitura, nunca tinha ouvido falar do livro e decidi ler só porque ele é curto e cabe no desafio de Volta ao mundo, representando Cuba.

O livro conta a história de William Figueras, um cubano exilado em Miami que é deixado pela família em uma boarding home, um tipo de asilo, por ter alucinações e um comportamento paranoico. Lá, ele convive com pessoas abandonadas e loucas, sofrendo nas mãos do mesquinho dono do local e do zelador e naufragando na miséria.

É interessante observar as semelhanças do livro com a vida do autor. Guillermo também passou por boarding homes no seu exílio e se decepcionou com a Revolução Cubana, que antes ele apoiava, então ele fala com propriedade sobre o assunto, tornando a história fácil de ser imaginada.

O tom da escrita é seco e enxuto, o que resulta num livro curto. Isso não é um defeito, mas acabou dificultando o processo de conexão emocional do livro comigo e fez A casa dos náufragos se tornar esquecível para mim, pouco marcante. De qualquer jeito, a intenção do autor provavelmente não era emocionar nem nada do tipo, me parece que ele simplesmente quer desabafar, que ele sente a necessidade de escrever.

É uma leitura rápida, eu li facilmente em um dia, mas tem várias camadas psicológicas, filosóficas e históricas por trás do livro. Eu só não fiquei com tanta vontade de ir atrás delas. Sabe quando você sabe que um livro é bom mas não consegue gostar tanto da leitura quanto gostaria? Foi isso que aconteceu.

Avaliação final: 3,5/5

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Os últimos filmes que eu vi #7

1- Garota fantástica (Drew Barrymore, 2009)

Garota fantástica Quis ver o filme logo depois de ler o livro (com isso, dá para ver o quanto essa seção está atrasada). Embora eu ache legal essa comparação em seguida, acho mais difícil de avaliar o filme sozinho desse jeito. O filme foca mais na parte esportiva e é bem clichê, com um clima de superação, mas conseguiu me conquistar e até me emocionei um pouquinho no final. Avaliação: 3,5/5

  2- Frozen: uma aventura congelante (Chris Buck e Jennifer Lee, 2013)

Frozen Bom, eu tinha uma certa birra com Frozen. Fico meio brava quando qualquer animação 3D faz muito sucesso porque quanto mais isso acontece menos incentivo vão dar para animações 2D. E todo mundo falava taaaanto do filme, como se fosse a melhor coisa do mundo, o filme mais inovador, revolucionário e feminista que toda a humanidade já viu… Eu já estava cansada só de ouvir falar de Frozen. Mas eu sabia que quando assistisse, provavelmente iria gostar do filme. E eu gostei, mas continuo achando superestimado. No começo, estava achando o filme meio chatinho, só comecei a aproveitar melhor na parte da aventura de Anna, Kristoff e companhia — o Olaf me conquistou. Achei a Elsa pouco desenvolvida e não gostei da maioria das músicas, o que não foi nenhuma surpresa porque não costumo gostar de musicais. Toda aquela coisa de quebrar clichês machistas e tal é interessante, mas não acho que a parte familiar nem as questões mágicas tenham sido bem desenvolvidas, então acabou ficando meio estranho para mim. Não sei, senti que faltou coisa no filme. Avaliação: 3/5

3- A culpa é das estrelas (Josh Boone, 2014)

A culpa é das estrelasNão pretendia ver o filme no cinema, mas aí ele foi para a sessão especial, cuja meia entrada custa 3 reais… Li o livro e não consegui me conectar com os personagens. No filme, continuei achando-os falsos, sem vida própria. Não liguei para a parte romântica e para o final trágico. Mesmo assim, a adaptação me emocionou mais que o livro, porque eu me importei com a família da Hazel e os pais dela quase me fizeram chorar. Como o enredo não teve nenhuma surpresa, tirei 0,5 estrela em relação ao livro — acho adaptação muito fiel sem graça —, mas quem sabe se tivesse visto o filme primeiro eu teria gostado mais dele… Avaliação: 3/5

4- Da colina Kokuriko (Goro Miyazaki, 2011)

Da colina Kokuriko Descobri que estão passando várias animações japonesas na HBO, o que me dá uma força para eu assistir a filmes que quero ver faz tempo mas não vejo porque tenho preguiça de assistir online. No geral, Da colina Kokuriko é um filme leve, delicado e muito bonito. Não é fantasioso ou grandioso quanto os filmes mais famosos do Ghibli, é mais cotidiano e nostálgico e reflete vários elementos da cultura japonesa — que eu demorei para captar ou simplesmente não entendi por falta de conhecimento no assunto… Eu preferiria que o filme terminasse de outro modo e não o achei especialmente marcante, mas vale a pena para fãs de animação, talvez não pela história, mas pelo menos pelos cenários lindos. Avaliação: 4/5

  5- Paris-Manhattan (Sophie Lellouche, 2012)

Paris-Manhattan Vi essa comédia romântica francesa no Telecine Play porque queria me distrair. É um filme curto, com menos de uma hora e vinte minutos, e apresenta a história de Alice, uma mulher solteira obcecada pelo Woody Allen. Sua família lhe apresenta vários pretendentes, mas Alice sempre acaba sozinha conversando com seu pôster do Woody Allen, até que, como em toda comédia romântica, as coisas mudam. Achei o filme divertido, serviu para o seu propósito de distração, mas não é grande coisa. Dizem que tem muitas referências aos filmes do diretor de quem Alice tanto gosta, mas não percebi muitas delas, porque não vi a maioria dos filmes dele, então recomendo o filme mais para quem também é fanático pelo Allen. Avaliação: 3/5

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Love is a mix tape, Rob Sheffield

Love is a mix tape

I have built my entire life around loving music, and I surround myself with it. I’m always racing to catch up on my next favorite song. But I never stop playing my mixes. Every fan makes them. The times you lived through, the people you shared those times with—nothing brings it all to life like an old mix tape. It does a better job of storing up memories than actual brain tissue can do. Every mix tape tells a story. Put them together, and they add up to the story of a life.

Conheci Love is a mix tape: life and loss, one song at a time por aí, em algum blog. A história de um homem que conta sobre o seu amor por música e por uma mulher me lembrou de Alta fidelidade, então fiquei curiosa para ler.

Rob Sheffield, jornalista musical, conta a história da sua vida no livro. Desde os anos de criança e adolescente, quando se preocupava em fazer as mix tapes para os bailes da escola, até a vida adulta, quando se casou com Renée e alguns anos depois se tornou um jovem viúvo, Rob sempre se importou com música. Os capítulos do livro começam com mix tapes que Rob ouviu em algum momento da vida, e a partir disso ele desenvolve suas memórias e suas reflexões sobre música. Há desde capítulos mais cronológicos, em que o autor narra o que estava acontecendo com ele na época e a mix tape é um simples pretexto para isso, até capítulos mais soltos, como o que ele fala sobre as fitas que gosta de ouvir ao lavar louça e como ele lavava louça depois de brigar com a esposa, o que o leva a listar os motivos de briga entre eles.

Em uma autobiografia, é comum que a gente não goste exatamente do peso que cada coisa recebe na história. Eu senti falta de um maior desenvolvimento de Renée. É um livro sobre amor, mas embora Rob repita constantemente o quanto ama sua mulher e o quanto ela fez dele um homem melhor e fale sobre a vida de casados, ele raramente deixa a esposa brilhar sozinha e eu não sinto que a conheci como possivelmente era a intenção de Rob ao escrever o livro. Mas isso não chega a ser um grande problema porque a estrela desse livro é realmente a música.

Há partes do livro bem universais, que falam sobre qualquer um que goste minimamente de música e sobre como ela faz parte da nossa história pessoal. Outras são mais específicas, e o problema disso é que, como não sou tão fanática por música hoje e sou da geração CD ou da MP3, eu não conhecia muitas das referências que aparecem no livro e nem posso me relacionar com a emoção de fazer uma mix tape, visto que nunca fiz uma. Acho legal conhecer músicas novas, mas ao mesmo tempo é difícil conciliar a leitura com a pesquisa pelas músicas bem na hora que elas são citadas. De qualquer jeito, não considero que isso defeito do livro; só faltou uma bagagem musical maior para mim, o que acabou prejudicando um pouco a minha leitura e diminuindo a minha avaliação pessoal. E eu recomendo muito a leitura para quem gosta de mix tapes e do movimento musical dos anos 80 e 90 — uma pena que o livro não tenha tradução para o português.

Love is a mix tape é um livro muito gostoso de ler, e o autor narra com uma sinceridade que faz que a gente vá se envolvendo mais e mais na história dele — por mais que eu tenha achado que Renée poderia ter sido mais explorada em vida, algumas partes após sua morte chegaram a me emocionar, porque Rob é muito honesto sobre seus sentimentos e é fácil de se identificar com ele em vários momentos. Às vezes, mesmo quando ele falava sobre músicas que eu nunca tinha ouvido falar, eu continuava achando a leitura deliciosa, porque esse é o poder de quem escreve bem e escreve sobre coisas que ama. Nesse sentido, acho que acertei com a comparação com Alta fidelidade.

Vou deixar mais um trechinho, sobre a morte do Kurt Cobain, porque eu achei o capítulo sobre isso muito bom e  ele une bem os temas do livro o amor e a música:

The Unplugged music bothered me a lot. Contrary to what people said at the time, he didn’t sound dead, or about to die, or anything like that. As far as I could tell, his voice was not just alive but raging to stay that way. And he sounded married. Married and buried, just like he says. People liked to claim his songs were all about the pressures of fame, but I guess they just weren’t used to hearing rock stars sing love songs anymore, not even love songs as blatant as “All Apologies” or “Heart-Shaped Box.” And he sings, all through Unplugged, about the kind of love you can’t leave until you die. The more he sang about this, the more his voice upset me. He made me think about death and marriage and a lot of things that I didn’t want to think about at all. I would have been glad to push this music to the back of my brain, put some furniture in front of it so I couldn’t see it, and wait thirty or forty years for it to rot so it wouldn’t be there to scare me anymore. The married guy was a lot more disturbing to me than the dead junkie.

Avaliação final: 3,5/5

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Luna Clara & Apolo Onze, Adriana Falcão

Luna Clara & Apolo Onze

O pai de Luna Clara andava por aí pelo mundo, com a chuva sempre chovendo na cabeça dele, desde que (por uma estranha coincidência do destino) ele se desencontrou do seu amor, olha só que coisa mais triste.

Fazia mais de treze anos que o pai e a mãe de Luna Clara se encontraram, se apaixonaram, se casaram e se perderam um do outro, tudo isso em três dias apenas.

Diziam que ele era muito sortudo antes.

Infelizmente, um dia, ele perdeu a sorte.

O primeiro contato que tive com Luna Clara & Apolo Onze foi na livraria. A capa do livro me chamava a atenção sempre que passava na seção infantojuvenil. Mesmo assim, nunca comprei o livro. Não sei se isso aconteceu porque o livro não tinha sinopse fácil de achar ou porque eu tinha preconceito contra livro juvenil brasileiro. Aí a minha fase de comprar livro com preço integral passou, comecei a ver bastante gente falando bem do livro na Internet e fiquei mais curiosa ainda para ler, até que minha irmã o alugou na biblioteca. 

Luna Clara & Apolo Onze, como o título indica, conta a história de Luna Clara e Apolo Onze. Ela mora em Desatino do Norte e espera todos os dias a chegada do seu pai. Ele mora em Desatino do Sul e vive uma eterna festa com os moradores da cidade, mas não sabe o que deseja. Um dia, por uma coincidência do destino, os dois se encontram e, finalmente, dão conclusão a uma história que já os unia desde o começo.

O trunfo do livro é ter um enredo simples e ao mesmo tempo diferente com uma narração gostosa de ler e criativa. A história é um pouco confusa no começo, cheia de personagens com nomes curiosos, mas logo a gente os conhece melhor e passa a torcer para que os desencontros finalmente acabem e a sorte de Doravante volte.

O livro tem ilustrações bonitinhas e é formado por capítulos curtos e fáceis de ler. São trezentas e vinte páginas, mas elas passam bem rápido e não duvido que dê para ler tudo em um dia eu, uma leitora lerda, li em três.

Dos pontos negativos, eu não gostei muito do final dos personagens Luna Clara e Apolo Onze e achei alguns momentos repetitivos. No primeiro caso, isso é puramente questão de gosto. No segundo, sei que a lentidão dos acontecimentos é proposital, mas achei que algumas páginas poderiam ter sido enxugadas mesmo assim.  

Bom, definitivamente recomendo o livro para fãs de infantojuvenis. Eu gostaria de ter lido Luna Clara quando eu era mais nova, mas adorei ter lido agora também.

Avaliação final: 4/5