sexta-feira, 24 de abril de 2020

Projeto Lendo a estante: apresentação e primeiras leituras

Que leitor nunca ouviu falar da palavra tsundoku, o ato de acumular pilhas de livros não lidos? Que leitor nunca se sentiu representado por ela?

Olha essa bela estante cheia de livros não lidos!

Acho interessante pensar na minha trajetória de leitora. Antes só comprava/ganhava livros em épocas especiais, e me contentava em relê-los várias vezes, alternando com livros emprestados por aí. Conforme fui crescendo, no entanto, descobri o apelo dos grandes sites com seus saldos de livro a menos de dez reais. Fiz a festa, inúmeras vezes. Percebi que já não gostava de pagar trinta, quarenta reais em um livro que queria muito quando podia comprar outros três ou quatro livros com esse dinheiro. O que aconteceu com o tempo? Pilhas que se acumularam, ao mesmo tempo que lia livros alugados da biblioteca ou e-books. O período da biblioteca, no entanto, foi importante para perceber que eu não precisava ter tantos livros. Com tanta opção por aí, a releitura não era mais minha prioridade e comprar livros por curiosidade e pelo preço baixo me parecia um exagero quando se podia alugá-lo de graça. E atualmente não tenho comprado tanto, e também não tenho ido a bibliotecas há um tempinho, mas os e-books são tentações constantes que me fazem deixar os livros da estante de lado de vez em quando.

Baseada no blog 746 Books, decidi finalmente contar quantos livros não lidos tenho na minha estante e cheguei no número redondo de 250. A ideia do projeto Lendo a estante é ler os livros e comentar um pouco sobre eles: o que motivou minha compra (ou o motivo pelo que ele chegou até mim), por que os li agora (se adiei muito a leitura, isso mudou minha opinião do livro? Já perdi a vontade de lê-lo? Etc.) e o que achei. O objetivo com isso é refletir um pouco sobre meu consumo e meus hábitos de leitura. Não vou ler só livros da estante durante o ano, mas quero ter o projeto em mente sempre que for decidir minha próxima leitura.

Tenho a meta numérica de terminar o ano com 200 livros não lidos na estante, em vez de 250, mas tenho consciência de que isso talvez não seja possível, porque continuo comprando livros. Então a meta mais verdadeira é ler 50 livros da estante, não importando o número que vai ficar no final. Pretendo postar dois ou três livros de cada vez no blog, e como sempre já começo atrasada, com os primeiros livros do ano.

As garotas, Emma Cline
Por que tenho: Comprei o livro em uma promoção da Saraiva on-line por 9,90 ano passado. Fiquei interessada pelo livro desde o lançamento, pelo hype criado pelos blogs gringos, mas vi críticas negativas também, então esperei por um preço realmente bom para comprar.
Por que li agora: É um livro que não está há tanto tempo na estante, então não deu tempo de enjoar dele, e me parecia uma leitura de fácil envolvimento, que era o que eu queria para a minha primeira leitura do ano. Usei o livro para a categoria “inspirado em uma notícia” no Around the Year.
O que achei: O livro tinha mesmo a atmosfera que eu esperava, com uma narrativa coming of age que me prendeu de início ao fim. Eu não conhecia muito sobre cultos, então achei interessante esse aspecto do enredo, mas o foco é mais na atração que a protagonista sente pelo culto ficcional estilo Charles Manson do que propriamente nos crimes que ocorreram. Gostei bastante da caracterização da Califórnia dos anos 60 e do tédio juvenil da protagonista. Eu não morro de amores pelos filmes da Sofia Coppola, mas esse livro me lembrou da obra da diretora. 
Avaliação: 4/5

As águas-vivas não sabem de si, Aline Valek
Por que tenho: Acompanho a newsletter da Aline faz um tempinho, e gosto muito da escrita dela. Não leio tanta ficção científica, mas os elogios ao livro e a capa linda me fizeram dar uma chance, comprando-o em uma promoção por metade do preço.
Por que li agora: Sorteei o tema “livro que se passa em um lugar ou época em que não gostaria de morar” no Around the year e essa foi minha primeira ideia — definitivamente não quero morar no fundo do oceano. Esse foi um dos muitos livros da minha lista adiados por um motivo simples: preguiça. Mesmo que minha irmã já tivesse lido e me assegurado que é uma leitura fácil, ainda fiquei com a ideia de que não seria tão instigante pelo que vi de outras pessoas falando sobre os capítulos narrados pelos seres marinhos.
O que achei: Minha irmã tinha razão — não foi uma leitura complicada. É um livro diferente do que tenho lido, mas a Aline Valek conseguiu criar uma ótima ambientação e quase me senti no fundo do mar junto com a Corina. Teve algumas partes que achei mais entediantes, mas no geral fiquei bem envolvida na história.
Avaliação: 4/5

terça-feira, 7 de abril de 2020

Os (realmente não tão) últimos filmes que eu vi #24

Os filmes da vez foram vistos no final de 2016. Isso significa que tenho três anos de filmes atrasados para postar. Eu até desistiria e começaria do zero, se não tivesse algumas das resenhas deles escritas em papel. Nos próximos posts talvez eu comece a fazer metade de filmes que vi nessa época e metade dos filmes atuais. Por enquanto, fiquemos com o passado distante, quando a gente podia pensar em sair de casa e aproveitar a programação cultural da cidade.

1- Sarusuberi: Miss Hokusai (Keiichi Hara, Stephanie Sheh e Michael Sinterniklaas, 2015)
A animação japonesa conta a história da filha do pintor Hokusai mostrando como funcionava o mercado de arte na época e a diferença no tratamento entre homens e mulheres do ramo. O filme tem umas partes bem bonitas, mas faltou alguma coisa — ele explora vários elementos, como o romance, o relacionamento familiar e até um tom de fantasia, mas no final fiquei sem entender qual era exatamente a mensagem a ser passada. Avaliação: 3,5/5

2- Um homem sério (Ethan e Joel Coen, 2009)
Eu nem sei o que foi que me levou a ter vontade de ver esse filme. Talvez ele tenha sido elogiado na época do lançamento? Talvez a banalidade da sinopse tenha me conquistado? Talvez parecesse um bom começo para alguém conhecer a obra dos irmãos Coen? São questões. O fato é que demorei tanto para vê-lo, quando estava nas vésperas de sair do catálogo da Netflix, e aí eu já conhecia outros filmes dos diretores (Queime depois de ler — não entendi e Inside Llewyn Davis: balada de um homem comum  — gostei). Minha opinião a respeito de Um homem sério é a mistura do que achei dos outros: não entendi e gostei. Toda questão religiosa do judaísmo não faz muito sentido para mim, que nunca me envolvi com religião. Mas algo me atraiu nessa história banal de um homem banal, mesmo que eu não saiba dizer o que é. Para mim, isso foi mais que o suficiente. Avaliação: 3,5/5

3- Feitiço do tempo (Harold Ramis, 1993)
Quantas referências a esse filme você já viu por aí? Eu já vi tantas que senti necessidade de vivenciar o tal Dia da Marmota. O filme tem aquele esquema óbvio de "é errando que se aprende", com Bill Murray interpretando um carinha da previsão do tempo chato demais que aos poucos vai entendendo como pode se tornar uma pessoa melhor. Eu adoro esse tipo de estrutura repetitiva, então o filme já tinha pontos garantidos, mas não tive nenhuma empatia com o protagonista, ou seja: por mim ele bem que poderia se dar mal. Avaliação: 3,5/5

4- Os reis do verão (Jordan Vogt-Roberts, 2013)
Conheci o filme pelo pôster de jovens pulando em um lago e fiquei interessada sem nem saber sobre o que era. Acontece que é um filme masculino demais, focado em três garotos que se cansam da vida familiar e vão morar por conta própria na floresta. É um filme bonitinho, com um clima de Conta comigo e tal, mas achei o protagonista muito chato e os personagens em geral um tanto rasos. Quem rouba a cena é o Biaggio, o alívio cômico que merecemos. Avaliação: 3,5/5

5- A bela e a fera (Jean Cocteau, 1946)
No projeto de ver um filme dos 1001 por mês, há meses em que vejo aquilo que quero e outros que assisto a algo aleatório por ser mais prático. Vamos aproveitar oportunidades, não é mesmo? Vi A bela e a fera em uma mostra de fantasia do Cinusp. Apesar da releitura do conto de fadas ser bem anterior à animação da Disney, é um pouco difícil não comparar as duas. Isso tira um pouco da graça do filme, porque o básico da história é o mesmo. Mesmo assim, o visual é bem impactante. O castelo da Fera pode não ter os objetos falantes da versão da Disney, mas não deixa de ser mágico do seu modo. Ainda assim, talvez o filme tenha envelhecido mal para mim. Foi uma experiência interessante assisti-lo, mas não me marcou. Avaliação: 3/5

6- Oxalá cresçam pitangas: histórias de Luanda (Kiluanje Liberdade e Ondjaki, 2007)
Vi esse documentário na aula de literatura africana focada em Angola. O filme fala sobre a cidade de Luanda, acompanhando alguns personagens de diferentes tipos. O formato é bem convencional e funciona para o que o filme propõe, apresentando um panorama da cidade para quem não a conhece. Avaliação: 3,5/5 

7- As patricinhas de Beverly Hills (Amy Heckerling, 1995) 
Eu sei racionalmente que já tinha visto esse filme antes, mas como não lembrava de nada achei que valeria a pena vê-lo novamente. É um filme adolescente típico e hoje se tornou icônico, mas não é um dos meus favoritos. Tenho raiva da Cher ser ~clueless~ e odeio que a Tai passe por um makeover e goste disso. Eu sei que o filme desconstrói  um pouco os estereótipos, mas não o suficiente. Sem problematizar, é um filme bem divertido, mas ainda prefiro filmes adolescentes da minha geração. Avaliação: 3,5/5


8- A ratinha valente (Don Bluth, 1982)
Essa animação é bem conhecida nos Estados Unidos, mas aqui não parece ter feito muito sucesso. A estética e o enredo lembram um pouco os filmes da idade das trevas da Disney; o filme não reluta em mostrar um pouco de sangue, e a ideia por trás do NIMH também é meio sombria para o universo infantil. Gosto do fato da protagonista ser uma ratinha que é mãe viúva: se é raro ver fêmeas como personagens principais em filmes de animais, imagina então protagonistas adultas e mães? Dito isso, o roteiro em si infelizmente não empolga. A aventura é bem tradicional, tem um deus ex machina fortíssimo, e alguns personagens são bem clichês. Avaliação: 3/5

9- Os sete suspeitos (Jonathan Lynn, 1985)
É um filme baseado no jogo de tabuleiro Detetive!!! E a adaptação funciona. Precisa suspender um pouco a descrença, é claro, mas as coisas se encaixam. Na verdade, eu já tinha visto esse filme antes, mas só me lembrava de umas cenas e de que tinha vários finais. Fiquei surpresa com o conteúdo político do enredo, que provavelmente eu não tinha entendido quando vi pela primeira vez e que continuei sem entender completamente agora (ops), e que envolve macartismo e tal. É claro que esse é só o pano de fundo dos personagens, a história se passa apenas em uma mansão com ares mal-assombrados e o tom que prevalece é de humor negro. E eu realmente não lembrava o quanto o filme era engraçado. É um humor ridículo na maior parte do tempo, sim, mas quem se importa? Eu dei gostosas risadas. Lá pelo final, no entanto, todo esse exagero começa a cansar e você só quer saber quem matou, com que arma e em que aposento. E os fins em si são interessantes, mas também um pouco cansativos. Ainda assim, fica a recomendação. Avaliação: 3,5/5 

10- Zelig (Woody Allen, 1983)
Revi o filme do Woody Allen sobre um homem-camaleão para uma disciplina da faculdade. Confesso que essa revisitação foi um pouco decepcionante — o formato de documentário não teve tanto impacto já que eu sabia o que viria a seguir. Acabei achando um filme que só tem uma hora e vinte meio cansativo. Mas isso não significa que Zelig não seja bom. Ele continua sendo um dos meus favoritos entre aquilo que vi do Woody Allen, justamente por ser um dos mais diferentes. Avaliação: 4/5