quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Morte e vida de Charlie St. Cloud, Ben Sherwood

Morte e vida de Charlie St. Cloud (…) a história começa com uma calamidade na ponta levadiça sobre o rio Saugus, mas a história não é só isso. Também há bastante devoção e o elo indestrutível entre irmãos. É também sobre encontrar a sua alma gêmea onde você menos espera. É sobre uma vida que foi tirada cedo demais e amores perdidos.

Eu aceitei Morte e vida de Charlie St. Cloud, que minha tia me emprestou, só porque parecia um livro do Nicholas Sparks, estilo Um homem de sorte, com adaptação para o cinema com o Zac Efron e tal. Eu não sabia sobre o que era a história. Quer dizer, eu sabia que envolvi a morte de um irmão e o outro irmão sendo capaz de ver o falecido, mas não parei para pensar em nenhum momento que isso significava que seria um livro espírita ou religioso, e que o problema dos livros estilo Nicholas Sparks é justamente que eles se levam a sério demais. Então, primeiro preciso dizer que não sou o público-alvo do livro. Não sou religiosa, não vou atrás de livros de superação e não acredito em almas gêmeas e ligações instantâneas.

A história do livro é sobre Charlie St. Cloud, que sai de carro com seu irmão para ver um jogo de beisebol sem nem ter carteira de motorista e se envolve em um acidente, que mata o seu irmão. Charlie quase morre, ou morre e ressuscita, e por isso ele se torna capaz de ver fantasmas. Ele encontra o seu irmão todas as noites no cemitério onde trabalha e, por causa da culpa que sente, não consegue parar de viver nesse passado — até que, é claro, ele conhece uma mulher, Tess. A partir daí, Tess e Charlie vão ter suas vidas transformadas em uma linda história edificante sobre o poder do amor e algo do tipo. Ou não.

O livro começa com uma introdução do bombeiro que salvou Charlie, contando sobre como às vezes milagres acontecem. Já nesse momento, fiquei meio desconfiada: eu não acredito em milagres. O que se segue, dentro da história, são várias frases religiosas ditas sem reflexão ou em contextos que não precisavam de frases religiosas. Não tenho nada contra discussão sobre religião em livros, o problema é quando fica explícito que todo mundo é cristão como se isso fosse natural, normal, o certo — de forma que o único personagem que não acredita em Deus é conhecido como Joe, o Ateu(!!!) e, sem querer dar spoiler mas já dando, no final passa a talvez até acreditar em Deus, lógico, porque obviamente não existem pessoas boas que não sejam fiéis.

Outra questão moral que me incomodou no livro é sobre a Tess. Ela é uma personagem independente e corajosa, que quer dar a volta ao mundo em seu barco sozinha. Ótimo. Só que… ela só está saindo em viagem porque não encontrou um homem para ela. Por que como ousa uma mulher querer ser sozinha e independente, não é mesmo? Não, ela é assim porque é frustrada e óbvio que isso vai mudar quando conhecer “o homem da sua vida”.

Fora isso, os personagens são pouco desenvolvidos, naquele bom-mocismo-sem-personalidade estilo Nick Sparks, a paixão instantânea é inverossímil e, se pararmos para analisar melhor, não precisava de quase trezentas páginas para essa história, com todos os seus furos. Mas é aí que reside o segredo do sucesso: as páginas fluem tão bem! Eu até terminei de ler antes do que planejava. Eu tinha setenta páginas para acabar e falei “vou ler até faltar cinquenta”, até que quando vi o número de páginas de novo só faltavam trinta… Aí eu terminei de ler, né.

Não sei o que esses escritores fazem para conseguirem me prender na leitura mesmo quando eu não ligo para a história que está sendo contada. É como um programa de TV que você sabe que é ruim e continua vendo sempre mesmo assim, satisfeita ao mesmo tempo em que revira os olhos em algumas cenas de ideologia explícita.

Avaliação final: 2,5/5

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Os (não tão) últimos filmes que eu vi #15

1- Ligados pelo amor (Josh Boone, 2012)Ligados pelo amorOuvi falar desse filme porque é do mesmo diretor de A culpa é das estrelas. A história é sobre uma família muito ligada à escrita e as suas aventuras e desventuras no amor. É uma comédia romântica dessas meio alternativas, cheias de referências literárias e com uma trilha sonora gostosinha de ouvir. É bem clichê, mas a primeira metade do filme me conquistou. Não sei direito explicar por que gosto de alguns filmes, mas Ligados pelo amor me trouxe sentimentos positivos. Só que na parte em que tudo dá errado — porque sempre tem essa parte — comecei a achar as coisas forçadas demais, a ver as estruturas por trás do enredo. Mesmo assim, meu sentimento geral em relação ao filme é boa, e recomendo para os fãs do estilo comédia-romântica-Hollywood-indie. Avaliação: 3,5/5

2- Ela (Spike Jonze, 2013)ElaContinuando com os filmes do Oscar do ano passado com um pouquinho de atraso (o suficiente para poder ver o filme na tela da minha televisão, em um horário proporcionado por um canal por assinatura). Minhas expectativas para Ela eram misturadas: muita gente amou o filme, mas eu não gostei de Onde vivem os monstros, do mesmo diretor. No final, acabou sendo isso mesmo: pontos positivos e negativos. A história é interessante e prende a atenção, mas achei a narrativa um pouco cansativa. Vi algumas pessoas falando sobre as discussões que o filme traz e sobre como ele é profundo, mas sinceramente sou meio fútil em relação a cinema. É raro eu ficar filosofando sobre um filme após vê-lo, prefiro pensar nas sensações que ele me passou enquanto assisti, e por esse critério Ela foi aprovado, mesmo sendo um pouco esquecível.  Avaliação: 3,5/5

3- O menino e o mundo (Alê Abreu, 2013)O menino e o mundoFinalmente assisti essa animação brasileira. Eu gosto bastante da estética do filme, da mistura de técnicas, com lápis, giz de cera, colagem, em um estilo mais infantil. A trilha sonora também é muito boa. Quanto à história, preciso dizer que não entendi algumas coisas, nem sei qual é exatamente a mensagem do filme — embora ele apresente várias críticas sociais, não pensei muito a respeito, por exemplo. Mas mesmo assim é gostoso de assistir e fica a recomendação. Avaliação: 4/5

4- Ida (Pawel Pawlikowski, 2013)IdaO filme passou no cinema do CCSP e decidi ir depois de ler vários elogios e ele ter ganhado o Oscar de melhor filme estrangeiro. Fiquei com medo de ser muito cult ou difícil de entender, mas gostei bastante, talvez porque fazia muito tempo que eu não via um filme europeu. Gostei dos conflitos da protagonista — as pessoas falam que é um filme de 2ª Guerra, e é claro que ela tem um papel importante na história, mas o que achei mais interessante é o desenvolvimento da personagem e suas dúvidas em relação ao que ela quer fazer depois que conhece mais do mundo fora do convento. O filme é um pouco lento, mas sua curta duração não o torna tão cansativo. E a fotografia é muito boa também. Eu não entendo nada de questões cinematográficas, mas Ida me deixou impressionada tecnicamente, do tipo que acontece quando você vê um filme e se lembra que um filme não é feito só de atores, roteiro e trilha sonora. Avaliação: 4/5

5- Chamada a cobrar (Anna Muylaert, 2012)Chamada a cobrarDesde que ouvi falar de um filme sobre uma mulher que cai naquele trote de sequestro, fiquei curiosa para vê-lo, mas como é um filme brasileiro de orçamento pequeno, ele acabou sendo pouco divulgado e pouco comentado. Eu consegui assisti-lo no Canal Brasil, e, bom, entendo por que ele foi pouco comentado. Basicamente o enredo é sobre Clara, uma mãe paulistana de três filhas que atende o telefone e acredita no papo do sequestrador, que diz ter raptado a sua filha, e vai até o Rio de Janeiro(!!!) resgatá-la. Enquanto isso, na casa da mulher, a empregada que trabalha lá tenta contar para as filhas de Clara que a mãe saiu correndo sem explicações e que está preocupada. O bom de assistir esses filmes pequenos é que as expectativas são pequenas, porque se fossem grandes teria detestado o filme. Chamada a cobrar se apresenta como um drama, ou como um suspense, mas é tudo tão exagerado que é quase comédia. Clara é insuportável e eu quase achei que ela merecia acreditar no sequestro mesmo. Se Que horas ela volta?, da mesma diretora, passa sua mensagem bem claramente, não consegui entender a moral principal de Chamada a cobrar, o que há por trás do filme. No mais, valeu pelos cenários paulistanos conhecidos. Avaliação: 3/5 

6- O grande roubo do trem (Edwin S. Porter, 1903)O grande roubo do tremÉ um dos curtas antigos que estão na lista dos 1001 filmes para ver antes de morrer. É um filme mudo de cowboys e achei a história meio difícil de entender, não prendeu a minha atenção. No entanto, é curioso ver os primórdios do cinema e a cena final é bem interessante. Avaliação: 3/5

7- A canção do oceano (Tomm Moore, 2014)A canção do oceano Foi uma das animações indicadas ao Oscar do ano e é do mesmo autor de Uma viagem ao mundo das fábulas, que quero ver mas sempre deixo para depois. Inicialmente, A canção do oceano chamou a atenção pela estética, e a trilha sonora, do Bruno Coulais, também é bem bonita. A história é baseada em um mito irlandês/escocês e é mais infantil, mas também agrada aos mais velhos. Eu, por exemplo, sou mais velha e gostei muito. No entanto, não sou parâmetro, porque o nome do cachorro é Cu e eu fiquei segurando o riso em várias legendas em que o nome dele aparecia. Viva a maturidade. Avaliação: 4/5

8- A dama das camélias (George Cukor, 1936)A dama das camélias Às vezes a sorte está ao meu lado e em um mês quase sem tempo para filmes, meu professor passou em aula um filme da lista dos 1001. Nunca tinha ouvido falar dele, porque não presto muita atenção em adaptações de clássicos que não li. Não tinha expectativas altas, só estava feliz por ter aula de filminho no lugar de uma aula entediante sobre Romantismo brasileiro, mas gostei do filme. É uma história tradicional, com uma disputa entre o amor e o dinheiro e muito drama romântico, mas também tem humor, que dá o toque especial. Não é o melhor clássico do mundo, mas vale a pena para fãs de histórias do tipo. Avaliação: 3,5/5

9- Uma notícia inesperada (Gillian Robespierre, 2014)A117_C002_0418MH Como já disse antes, gosto bastante do estilo comédia romântica indie. O diferencial desse filme é que ele trata sobre gravidez e bom, sem querer dar spoiler mas já dando, ele apresenta uma visão feminista do assunto. Quando comecei a assisti-lo, pensei que não seria tudo aquilo que as pessoas falaram, porque o humor não é exatamente o meu estilo. Com o tempo, no entanto, fui me apegando à história. Ainda acho superestimado, mas é um filme fofo, e ainda tem o diferencial de ter atores com mais cara de gente como a gente. Avaliação: 3,75/5

10- O sexto sentido (M. Night Shyamalan, 1999)O sexto sentido É difícil julgar um filme tão conhecido pelo seu final surpreendente quando já sabemos qual é o plot twist. Mesmo assim, gostei bastante de O sexto sentido. Eu o vi sozinha pelo computador, porque decidi que seria o filme do mês dos 1001 para ver antes de morrer (esse post tem filmes que vi de abril a julho, por isso falei várias vezes no projeto dos 1001), não sem antes me certificar que o gênero não era terror — o IMDB classifica como drama, suspense e thriller. E claro, vi em uma tarde ensolarada, porque nunca assistiria à noite. O tom que predomina de fato não é o de terror, mas uma mescla de suspense e drama, com alguns sustos e imagens tenebrosas aqui e acolá. A relação entre o psiquiatra e a criança assustada é muito interessante e faz O sexto sentido não ser apenas um filme de fantasmas qualquer. Sabendo do plot twist, algumas coisas parecem óbvias demais para não notar, mas é claro que se eu não soubesse dele eu me surpreenderia e ficaria frustrada percebendo que estava na cara o tempo todo. Avaliação: 4/5