quarta-feira, 26 de julho de 2017

O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação, Haruki Murakami

 
De julho do segundo ano da faculdade até janeiro do ano seguinte, Tsukuru Tazaki viveu pensando praticamente só em morrer. Nesse meio-tempo ele completou vinte anos, mas o marco não significou nada em especial para ele. Naquela época, acabar com a própria vida lhe parecia a coisa mais natural e lógica a ser feita. Até hoje ele não sabe bem por que não deu o passo derradeiro. Afinal, naquele momento, atravessar a soleira que separa a vida e a morte era mais fácil do que engolir um ovo cru.
Ah, Murakami... Ainda me lembro do período em que namorei avidamente seus livros, pensando que você poderia ser meu novo autor favorito. Comprei Norwegian Wood, com o preço cheio na internet — o que eu achava um ultraje — só porque a edição parecia esgotada em quase todos os lugares. Alguns meses depois, é claro, vi o livro nas estantes das livrarias novamente. Mas eu não me arrependi da compra. Li logo o romance e adorei. Me lembro de terminá-lo de madrugada, quando minha família já estava dormindo. Eu devorei Norwegian Wood. Como eu tinha pesquisado bem os outros livros do autor, sabia que eles não eram tão parecidos com o que eu lera: tinham talvez o mesmo tom melancólico, mas também os tais elementos fantásticos tão típicos da sua obra.

Então eu li Após o anoitecer e não gostei muito. Quando peguei o assunto dessa resenha (finalmente!) para ler, portanto, minhas expectativas já estavam menores — mas bem confusas, porque O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação fez um sucesso grande para um livro do Murakami, e vi várias opiniões diferentes sobre ele.

Tsukuru é um protagonista meio padrão do autor: um homem solitário e melancólico que se sente fora do lugar. O motivo por trás de toda essa tristeza é a exclusão que ele sofreu por seus amigos da juventude, um quarteto formado por Azul, Vermelho, Branca e Preta. Tsukuru já se sentia deslocado por não ter um nome de cor, mas quando eles param de falar com ele sem nem explicar o motivo, nosso pobre protagonista fica traumatizado. É com a ajuda de Sara, uma potencial namorada, que Tsukuru tenta entender melhor o passado e tudo o que aconteceu.

O enredo em si é interessante. Fiquei curiosa para entender o motivo por trás da exclusão de Tsukuru e todos os pedaços que vão se encaixando aos poucos na narrativa. Mas eu me senti indiferente a quase tudo durante a leitura. A amizade do grupo é mais contada que mostrada, então não dá para entender toda a questão de Tsukuru com eles, e esse é o assunto principal da história.

Basicamente, meu maior problema com o livro é que eu não entendo o que ele quer dizer com a história e se ele está apoiando o protagonista ou não. Não que a mensagem tenha que ser explícita, mas eu não faço a menor ideia do que havia na cabeça do Murakami ao escrever esse romance.

A descrição das personagens femininas, por exemplo, é de um viés de objetificação, e eu não sei o quanto isso é consciente ou não, mas incomoda ler sobre como Tsukuru sentia os peitos da amiga ao abraçá-la, por exemplo. É um narrador obviamente masculino e atualmente isso me incomoda se não há nenhum tom de sátira ou alguma indicação de que o romance considera o personagem babaca.

Gostei bastante do início do livro, quando a gente é apresentado ao Tsukuru suicida e vamos entendendo os motivos aos poucos. Também achei interessante a amizade dele com Haida, meu personagem favorito, embora ela não ofereça muitas respostas. Seria errado esperar explicações de um livro do Murakami?

No geral, é uma leitura interessante, mas naquele sentido de "interessante" de quando a gente não quer falar mal. Não sei identificar o motivo exato da minha estranheza com o livro — podem existir questões de traduções também, visto que a sintaxe japonesa é muito diferente da nossa. Acho que o que mais incomoda, no fundo, é não saber o quanto dessa estranheza é proposital, ou se na verdade existe todo um outro jeito de ler ao qual eu não fui ensinada.

Avaliação final: 2,5/5

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Os (realmente não tão) últimos filmes que eu vi #20

1- Atração mortal (Michael Lehmann, 1988)
Esse filme é um clássico adolescente que eu não tinha assistindo ainda por motivos de preguiça de ir atrás. Mas, influenciada pelo clima de jovens assassinos que A história secreta me proporcionou, achei que era a hora certa para conferir. Atração mortal, mais conhecido pelo nome original, Heathers, começa com um enredo comum de filmes juvenis, apresentando as populares da escola, um grupo formado por três garotas chamadas Heather e uma Veronica — esta, no entanto, não gosta do sistema de popularidade e exclusão do colégio e, com o incentivo de um garoto novo, J.D., ela acaba matando uma das populares. A morte, forjada como um suposto suicídio, gera uma comoção entre os alunos, e J.D. e Veronica se animam mais tentando punir outros populares. Acabei gostando bem mais do filme do que esperava, porque ele é engraçado, envolvente, tem crimes, clima sombrio... É um filme que usa uma abordagem ousada para lidar com temas adolescentes sem deixar o tom sério, e é especialmente maravilhoso porque é do final dos anos 80 e dá para perceber como virou referência para tantos outros filmes. Além disso, a Winona Ryder está maravilhosa como Veronica e eu, que nem ligo muito para moda, adorei o visual dela. Enfim, é um filme que me deixou muito empolgada depois que terminei de assistir e mesmo que parte dessa animação tenha passado, decidi manter a nota altíssima porque é de coração. Avaliação: 4,5/5

2- O primeiro que disse (Ferzan Ozpetek, 2010)
Fiquei curiosa para ver esse filme italiano quando ele estreou no cinema, por causa da sinopse: um homem volta para a casa da família no interior da Itália pronto para dizer que é gay, mas seu irmão, ao saber disso, confessa sua própria homossexualidade primeiro. O pai, com medo de que as pessoas descubram, surta com essa descoberta, enquanto o protagonista esconde a verdade e toma o lugar do irmão na família trabalhando no negócio deles, uma fábrica de macarrão. A família deles é bem grande, com personagens de diversos tipos, como a avó compreensiva e a tia alcoólatra. O filme mistura bem momentos cômicos — destaque para os amigos gays do protagonista fingindo serem héteros na frente da família dele — e dramáticos, e acho boa a forma que o filme escancara a homofobia e mostra o machismo que há nas famílias tradicionais italianas. Mas faltou alguma coisa para o filme me conquistar de verdade, e também não entendi bem a história da avó. Valeu pela temática e para matar a curiosidade. Avaliação: 3,5/5

3- Conta comigo (Rob Reiner, 1986)
Foi o filme da vez dos 1001 para ver antes de morrer por um motivo simples: queria algo curto e que tivesse na Netflix. O que eu tinha ouvido falar sobre ele antes era que envolvia crianças, emoção, e a música Stand by me. Achei que seria mais triste, mas é mais nostálgico do que propriamente triste. O enredo envolve um grupo de quatro amigos, de mais ou menos doze anos, indo procurar um cadáver que o irmão de um deles disse ter visto. Eles andam pelos trilhos de trem, naquela cena icônica, acampam na floresta, brincam, brigam e fazem tudo de que tem, e do que não tem, direito. Gostei de como os personagens são desenvolvidos, de como os quatro garotos têm seus problemas e seus modos de agir, e de que há uma questão social na história: o protagonista tem mais chances de sucesso no futuro, mas os outros são vistos como casos perdido, com pais bêbados, violentos, etc. O filme é, como dizem muitas resenhas no Filmow, "simples", mas nem por isso deixa de envolver nem de emocionar — apesar de eu não me identificar nada com o grupo de amigos por motivos de amizade obviamente masculina, eca, não dá para deixar de simpatizar por eles. Avaliação: 4/5

4- Perdido em Marte (Ridley Scott, 2015)
Comentei sobre o filme aqui. Avaliação: 3,5/5 

5- Shaun: o carneiro - o filme (Mark Burton e Richard Starzak, 2015)
Comentei sobre o filme aqui. Avaliação: 3,5/5

6-  Metrópolis (Fritz Lang, 1927)
O que dizer desse filme que eu achava que seria um porre mas me surpreendi positivamente? É um filme mudo de duas horas e meia de duração, então eu obviamente estava morrendo de preguiça de assistir, e o começo, quando a gente é apresentado à sociedade e aos personagens, me deixou mais apreensiva ainda, mas depois a história me envolveu com uma facilidade... (embora eu não tenha entendido algumas coisas direito) A crítica social apresentada continua muito atual e a forma em que ela é desenvolvida é ótima também, mesmo que eu não concorde totalmente que o mediador entre as mãos e o cérebro deva ser o coração — isso me parece um tanto redutor. Alguns filmes antigos que eu vi, como Viagem à Lua e O grande roubo do trem são elogiados considerando a importância que eles tiveram para a história do cinema, mas Metrópolis não precisa dessa comparação. É um filme muito inovador para a época e também bem diferente do que a gente vê hoje — as limitações técnicas o fizeram mais especial. No entanto, nem tudo é perfeito e achei a parte final bem cansativa, tanto é que eu e minha irmã dublamos muito nessa hora para matar o tempo. Aliás, a não ser que você seja um cinéfilo sério, recomendo assistir ao filme com alguém do lado para rir com algumas coisas estranhas e dublar nas cenas dramáticas. Talvez eu tivesse gostado bem menos do filme se o visse sozinha. Avaliação: 4/5

7- O jogo da imitação (Morten Tyldum, 2014)
Não dei muita bola para esse filme quando foi lançado, mesmo com as indicações para o Oscar, porque não sou das maiores fãs de cinebiografias. Mas é aquela coisa: a curiosidade sempre existe, então foi o escolhido para uma sessão de cinema em casa com minha família. Achei o filme bem qualquer coisa, honestamente. Ele prende a atenção e a história é interessante, mas falta algo que lhe dê personalidade e o faça se destacar. Avaliação: 3/5

8- Garota exemplar (David Fincher, 2014)
Quando li o livro, imaginei os personagens principais exatamente como os atores do filme. Por isso, fiquei curiosa para saber se o filme seria bem parecido com o que imaginava quando lia o livro. E é. Infelizmente para mim (!). O filme é muito bom como adaptação, muda só o suficiente para caber nas suas duas horas e tanto de duração. Os atores estão muito bem também — Ben Affleck palermíssima como Nick e Rosamund Pike como a Amy Exemplar. Mas, embora ache que o romance sobreviva bem a uma leitura sabendo dos plot twists, o filme não resistiu tão bem. Eu gosto muito de como a gente entra na cabeça dos personagens no livro, mas no filme isso não funciona do mesmo jeito. Um resumo: é um filme muito bom, mas não recomendo tanto se você já leu o livro. Nesse caso, até diria para ver a adaptação primeiro, porque o livro terá coisas a acrescentar. Avaliação: 3/5

9-  Anomalisa (Duke Johnson e Charlie Kaufman, 2015)
Comentei sobre o filme aqui. Avaliação: 3,5/5 

10- Rindo à toa (Lisa Azuelos, 2008)  
É um filme adolescente francês ao qual eu já tinha visto vários elogios. A história foca nos relacionamentos de Lola, tanto familiares e de amizade quanto amorosos, sendo que há cenas também protagonizadas pelos outros personagens, como a mãe. É um filme divertido, mas não fez o meu coração bater mais forte, visto que não me importei com nenhum dos personagens. No entanto, o cabelo dos interesses românticos é bem interessante, naquele estilo emo/indie que era moda na época. Avaliação: 3/5

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Podium finish, Beth Pond

 
When it's time to put my skates on, I try to do it left foot first like Alex dared me to, but it feels wrong, like my foot has been jammed into a skate that's a size too small. My fingers fumble with the laces as I pull them taut. This isn't right. It's not superstition though. I just can't break a fourteen-year-old habit. I take the skate off and start over, putting my right skate on first this time. My foot slides in easily, and there's a satisfying swoosh as I pull the laces tight. Much better.
Harper Kavanaugh, ou Kav, é uma das jogadoras mais novas do time americano de hóquei no gelo. Sua colega de quarto no centro de treinamento olímpico de Colorado é Alex, uma patinadora artística que, após uma péssima posição em sua primeira competição nacional na categoria sênior, decide mudar para a modalidade de dança no gelo, na qual ela faz par com Ace.

Kav e Alex têm o mesmo objetivo: uma medalha de ouro nas Olimpíadas de Reykjavik. Para correr atrás disso, no entanto, elas terão de enfrentar alguns obstáculos: Kav, como novata do time, precisa mostrar que ela é a melhor na sua posição, mas um problema no joelho pode colocar tudo a perder, e Alex sofre com as exigências do pai, que quer que ela busque patrocinadores, e a recusa de Ace em se abrir e participar da publicidade.

Eu conheci Podium finish através da busca da Amazon. Queria ler algo sobre patinação e tinha um cupom de dez reais para gastar, o que transformou a minha compra em um total de zero reais. Como eu nunca tinha ouvido falar do livro e da autora, minhas expectativas eram baixas. Por isso, acabei me surpreendendo com o livro. É claro, eu gostaria mais se o foco fosse só na patinação, mas a parte do hóquei não foi tão entediante. Tudo bem, as cenas de ação dos jogos são difíceis de entender e visualizar mentalmente — só que, até aí, os programas de patinação também são, e ainda com o agravante de não terem a música. O bom, ou ruim, dependendo do ângulo, é que provavelmente devido a essa dificuldade descritiva a autora não passa tanto tempo nessas cenas. Por um lado, como já disse, isso evita descrições longas e técnicas. Por outro, o clímax do livro fica um tanto... anticlimático. A construção da tensão é bem-feita durante o livro, mas quando ele termina você fica meio "é isso?". Não consigo imaginar um final melhor, mas há algo de sem graça nele.

Gostei da opção da autora de explorar duas vozes diferentes. Não achei em questão de narrativa as vozes de Kav e de Alex muito distintas, mas os dilemas e questões delas são. O arco da Kav envolve uma lesão, o que é interessante porque é algo tão comum no meio esportivo mas que às vezes a gente esquece. É dela também a parte do romance — bonitinha e ordinária, um tanto inofensiva. O relacionamento entre Alex e Ace, em comparação, parece um tanto mais real e com mais camadas. O companheirismo e a união deles é exatamente o que a gente imagina de parceiros de dança, e as discussões entre eles são verossímeis também. Eu preferiria que essa relação fosse mais aprofundada, mais mostrada em vez de contada, mas é o preço a se pagar ao apresentar duas vozes em vez de uma só com pouco espaço para desenvolvê-las.

No geral, não recomendaria Podium finish para todo mundo. Pessoas que não acompanham os esportes provavelmente não vão ver graça no cotidiano retratado, que é o maior trunfo do livro na minha opinião. Quem tiver curiosidade sobre o assunto, no entanto, tem o potencial de se divertir com os bastidores esportivos que raramente são mostrados na TV.

Avaliação final: 3/5

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Retrospectiva: tv em 2016

Eu sei, eu sei. Não apareço no blog há séculos e quando finalmente tem coisa nova é para falar do ano passado. Marília, você não reparou que já passamos da metade de 2017? Acontece que por milhões de motivos eu parei de escrever e registrar minhas opiniões sobre livros/filmes/tv/etc. Aí quanto mais você vai deixando a bola de neve acumular, mais difícil fica de acabar com ela. Por um motivo misterioso, comecei a fazer esse post nos rascunhos do meu e-mail, escrevendo de vez em quando sobre uma série ou outra. A ideia, obviamente, era postar no começo do ano. Não deu certo e eu fui alterando o texto várias vezes porque algumas coisas mudaram. Mas nunca é tarde para nada, então vamos para meus enormes melhores do ano na categoria televisão de 2016!

O documentário: Às vezes a gente não quer se envolver em história nenhuma, só quer se distrair. E ver animais fofinhos. 72 cutest animals é para isso: uma lista das espécies de animais mais fofas, com critérios que causam estresse em quem leva listas muito a sério como eu (orangotangos estão acima de coalas e coelhos!!!). Tem espaço para certa variedade aqui: dos animais domésticos mais óbvios a uma variedade de pinguins, dos gigantes africanos às raridades da Austrália (afinal, o programa é de lá). Não é um grande documentário, com informações que vão mudar a sua vida nem nada, mas é fofo, e é isso o que às vezes eu quero ver de madrugada na Netflix quando já estou saturada de narrativas e ficção (existe a possibilidade de eu ter um e-mail nos meus rascunhos com nomes de animais para eu fazer minha própria lista. Não confirmo nem nego).

A série nostalgia: The O.C. foi a primeira série que eu assisti mais ou menos em ordem, naquela rotina de acompanhar diariamente pela televisão que praticamente quase ninguém mais faz. Comecei a rever a série um pouco depois da estreia na Netflix, quando as pessoas já estavam desanimando ou terminando a primeira temporada ou simplesmente parando de comentar — eu tenho péssimo timing para os assuntos do momento e acompanho tudo atrasada mesmo. Mas isso não me fez perder o interesse e lá fui eu para Califórnia de novo. A primeira coisa que a gente nota é o quanto a série envelheceu. Faz tipo QUATORZE anos que estreou e, bom, dá para perceber isso. A fotografia ensolarada, a trilha sonora e principalmente as roupas nos dizem que essa foi uma época que já passou, e que bom (ou não). O que importa é que, assistindo pré-adolescência ou pós-adolescência, uma coisa se mantém: o drama. E como The O.C. é dramático!!! Sendo sincera, inicialmente achei o desenvolvimento meio lento, porque estava vendo Gossip Girl antes e o nível novelesco nem se compara, mas o poder da série de transformar pequenos dramas em grandes é maravilhoso. Assim como é maravilhoso o poder de nos fazer empatizar com personagens meio sem graça interpretados por atores meio ruins (olá, Ryan e Marissa), de forma que minha irmã, por exemplo, relatou que estava torcendo muito para que o Ryan chegasse a tempo na festa do ano novo para confessar seu amor pela Marissa, mesmo sabendo que ele chegaria porque ela já viu a série antes. E a série faz a gente sentir tudo com muita intensidade: como não odiar Oliver Trask? Como não ter impulsos violentos causados por ele? (e, em alguns momentos, causados por Julie Cooper?)
Estou assistindo aos poucos para não enjoar e estou no começo da segunda temporada temporada. The O.C. não é nem de longe a melhor série que já vi, mas é uma das mais queridas por mim, e é isso o que importa.

A série episódica: Quando eu via muita televisão, Criminal minds era uma das minhas séries favoritas de pegar assim meio do nada, ver um episódio solto só para passar o tempo. Só que assistir desse jeito nos impede de ver o desenvolvimento dos personagens e alguns casos que duram mais de um episódio. Assim, comecei a assistir em ordem. Na verdade, eu só vejo faço questão de ver a série por motivos de Spencer Reid, mas já é o suficiente, né?

 
O reality show: Comecei a ver Terrace House: Boys & Girls in the City com um pé atrás. Sim, eu adoro reality shows, mas é preciso de uma boa dose de tédio para poder se viciar neles. Assistir voluntariamente na Netflix não parecia ser o jeito certo, e a coisa pode ter demorado um pouco para funcionar. Isso porque Terrace House é como um BBB japonês sem prêmio, e no início pouca coisa acontece. São seis pessoas que convivem juntas na casa, conversam, trabalham e seguem a vida, simples assim. Mas são jovens japoneses, e isso faz toda a diferença para nós ocidentais que assistimos. É muito interessante ver como eles se relacionam, e o estilo do reality é bem diferente da baixaria de BBB ou dos realities da MTV (nada contra, inclusive gosto também). Terrace House é formado por conversas constrangedoras mas sinceras, por discussões sobre assuntos domésticos em volta da mesa da cozinha e por uma dose de romantismo também porque ninguém é de ferro e quase todos lá querem um amorzinho para chamar de seu. Minha parte favorita da série foi quando alguns participantes comeram a carne especial que foi dada de presente a outro participante e ele fica indignado, chegando depois a chorar por causa do ~crime da carne~ (tudo bem, ele diz que chorou porque a carne foi a gota d'água e ele finalmente se liberta de todos os sentimentos guardados). O comportamento parece ridículo, mas é tão fácil de se identificar, sabe? Porque a gente está acostumada a ver séries cheias de dramas e acontecimentos grandiosos, mas às vezes eu preciso de gente chateada porque comeram a sua comida sem permissão, de conversas sobre cozinhar e lavar a louça ou de pessoas se apresentando ao grupo novo todas envergonhadas. Além disso, o reality tem um grupo de pessoas para comentar os acontecimentos, porque não basta a gente acompanhar a vida de umas pessoas aleatórias, ainda tem que ver os comentários de outras pessoas sobre a vida de pessoas aleatórias. Os comentaristas são muito engraçados, embora demore para se acostumar com o estilo deles e às vezes a gente só fique "¿¿¿humor japonês???".
Menção honrosa: Are You the One? e Are You the One? Brasil, meus fiéis companheiros. Como não amar um reality que mistura convivência com jogo de senha? (pelo menos é assim que eu vejo. E sim, eu anoto os casais e combinações para poder calcular e adivinhar também, esse é o tamanho do vício)

A série que eu finalmente terminei: Finalmente vi a última temporada de Hannibal! É uma série que fui assistindo com grandes pausas entre as temporadas, então o resultado é que fiquei muito perdida quando voltei a assistir. Mas aos poucos fui me acostumando e entrando na história de novo. Acho que a palavra que melhor define Hannibal é "pretensão", e isso mostra que nem sempre essa palavra deve ter uma conotação negativa.

O anime: Puella Magi Madoka Magica tem a fama de ser a subversão dos animes de garotas mágicas. Eu, como fiel fã de Sakura Card Captors e Sailor Moon, precisava dar uma chance a ele. E valeu a pena. Com apenas doze episódios, Madoka consegue apresentar um universo ao mesmo tempo kawaii e dark (risos), e mostra que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades (e que não, nem sempre o poder do amor vai salvar o mundo quando tudo parecer perdido. Ou será que vai?). A animação nas cenas das bruxas é maravilhosa e na verdade todo o cenário é bem diferente e interessante. Mesmo sendo curto, o anime é bem impactante.
Menção honrosa 1: Kogepan conta histórias breves do protagonista homônimo, um pão queimado e ranzinza. São quatro minutos por episódio e é o que eu assisto quando preciso de algo que me deixe feliz.
Menção honrosa 2: Yuri!!! On ice foi sem sombra de dúvidas o anime mais comentado de 2016 na (minha bolha da) internet brasileira. Vi gente que eu nem sabia que gostava de anime acompanhando, sendo fangirl e shippando Victor e Yuri com todas as forças. Eu sinceramente não comecei a ver o anime por causa do ship: o meu interesse era a patinação no gelo. Minha irmã é do fandom do esporte e eu acompanho algumas coisas por tabela, assistindo às competições em horários bons na TV e até ficando mais fã na época da Olimpíadas de Inverno, por exemplo (observação: isso foi escrito faz um tempo. Atualmente eu me encontro no nível obcecada por patinação artística por motivos que eu nem mesmo sei explicar). Fui ver YOI em busca das referências e dos bastidores do esporte, e encontrei isso (embora gostaria de mais). No geral, minha opinião é essa: é bom, mas queria mais — mais desenvolvimentos dos personagens, tanto dos protagonistas quanto dos secundários, mais tempo mostrando os treinos, mais explicações sobre patinação dentro da trama, muito mais Axel, Lutz e Loop, as melhores trigêmeas do mundo, e até mais romance, olha só. Doze episódios de vinte e poucos minutos não são o suficiente para mostrar toda uma competição, e eu, tão fã dos momentos cotidianos, fiquei um pouco decepcionada em ver nos episódios finais tanta cena de apresentação (e com notas injustas. Otabek deserved better). É claro que isso pode se resolver na próxima temporada, pela qual estou aguardando com carinho — se ela vier.

A série brasileira: Eu estava ansiosa por 3%. Para falar a verdade nem sei bem o motivo, talvez só por ser do Brasil? Tá, e também porque o processo tem o mesmo esquema de reality shows, então eu já sabia que iria gostar. A série tem aquela estranheza de não saber se soa artificial porque a gente não está acostumado com produções brasileiras ou porque é ruim mesmo. Prefiro pensar que é por causa da primeira opção. 3% tem um ritmo irregular (o quarto episódio é o mais cheio de ação, enquanto o quinto muda totalmente de rumo para dar lugar ao drama), mas não acho que isso seja demérito. As críticas à meritocracia funcionam — embora haja momentos em que me incomodei com o quanto os discursos são explícitos (a cena em que Rafael explica como o mundo é injusto para Fernando, basicamente). Existe muita coisa para ser explorada ainda, e tenho esperanças de que a série aumente a qualidade na sua próxima temporada (ou temporadas?).

A série que eu só vi porque sou influenciável: (praticamente todas que eu vejo)
Eu não ligo para super-heróis.Ver Jessica Jones, portanto, não estava nos meus planos se não fossem os milhares de elogios e textões feministas sobre a série. Resolvi dar uma chance e saí bem satisfeita. É uma série que se baseia mais no psicológico da protagonista do que na ação, e a quantidade de cenas de lutas (vulgo: menos do que eu esperava) me agradou bastante, além dos mistérios e do suspense conseguirem prender bem o espectador. Já estou curiosa para a segunda temporada.

A novelona: Eu nem sei por que motivo comecei a ver Jane the Virgin, mas que bom que eu fiz isso. A série prende bem a atenção, tem personagens carismáticos, um narrador hilário e ainda zoa/homenageia novelas latinas! Vi a primeira temporada inteira naquele esquema meio maratona no começo do ano passado e parei no começo da segunda. Já sei de spoilers grandes, mas espero que isso não afete muito quando eu finalmente voltar a ver a série.

A série de comédia: A Netflix abre um mundo de possibilidades, e uma delas é ver Friends em ordem. Sério. Porque eu só assistia a Friends quando estava entediada e conforme as reprises na Warner, e isso significa que quase não acompanhei a série na ordem certa, no máximo metade de uma temporada em semanas de férias quando podia ligar a TV no mesmo horário todo dia. Como eu assisti mais as últimas temporadas, ver as primeiras foi uma experiência bem interessante, e acompanhar na sequência certa cria uma ligação com os personagens que é mais difícil de acontecer vendo fora de ordem (eu, por exemplo, pude odiar muito mais o Ross acompanhando o namoro dele com a Rachel). Estou vendo aos poucos, só quando realmente tenho vontade — e não porque é a única coisa decente que está passando na TV —, e isso faz uma diferença enorme: tenho gostado muito mais da série.
Menção honrosa: Eu não achei Master of None tudo isso. No entanto, desde que terminei de ver a série me via perguntando de repente: quando chega a próxima temporada? Acho que é o suficiente para incluí-la na lista (observação: já chegou a segunda temporada. Como ótima binge-watcher que eu definitivamente não sou, assisti só quatro episódios até agora).

A série de homens de terno: Comecei a ver Mad Men com minha família, em um esquema assistimos-a-cada-três-semanas-porque-sempre-tem-alguém-que-não-está-a-fim-de-ver (no final superamos isso e decidimos assistir separadamente. Uma decisão esperta. Minha mãe terminou a série faz séculos, enquanto ainda faltam três temporadas para mim). O fato é que Mad Men é de fato tão boa quanto falam. É uma série lenta, não é sempre que dá vontade de ver, mas o desenvolvimento dos personagens (não só dos homens de terno, das personagens femininas também!) vale a pena. E eu adoro ler as análises do AV Club depois de ver os episódios, eles sempre trazem boas observações.

A série de glamour e fofocas: Depois de ver episódios soltos quando a série ia ao ar e ler, sei lá, dez livros da série, foi só em 2016 que vi Gossip Girl seriamente. Porque às vezes a gente só precisa de personagens horríveis em dramas novelescos, sabe como é. A verdade é que uma das coisas que me levou a ver a série é justamente a revelação de quem é a Gossip Girl, spoiler que já sei e me deixou curiosa para ver esse absurdo se desenvolver. Eu espero que, por ter o conhecimento de que o final é ruim, eu fique menos decepcionada quando ela terminar, mas tenho minhas dúvidas. Assisti duas temporadas e parei para ver The O.C.. Não sei quando volto, mas às vezes sinto falta daquela necessidade de ver quatro episódios em seguida, como aconteceu com o final da primeira temporada.

 A série britânica: Eu tinha medo de não gostar de My Mad Fat Diary. Todo mundo ama tanto essa série, mas o possível tom de autoajuda me afastava um pouco dela. E se eu não gostasse e ficasse me sentindo uma pessoa ruim porque a série trata de temas importantes? Felizmente, isso não aconteceu, e eu entendi o motivo de todo o amor pela série. My Mad Fat Diary tem tudo do que uma série adolescente precisa — personagens carismáticos, uma ótima trilha sonora, dramas, romance e uma boa dose de humor —, abordando temas sérios e importantes sem subestimá-los ou se tornar didática. O fato da série ser tão curta, com apenas dezesseis episódios divididos em três temporadas, funciona muito bem: é o suficiente para aprofundar os personagens sem se perder em arcos que não funcionam. My Mad Fat Diary é a série que tem minha média mais alta no Banco de Séries por enquanto, porque todos os episódios mexeram muito comigo.