sábado, 30 de março de 2024

Virei k-popeira

É uma verdade universalmente reconhecida que uma mulher que não tem uma obsessão há algum tempo logo ficará obcecada por algo. E mesmo assim fui pega completamente de surpresa quando me vi virando fã de BTS.

Eu sempre soube que parte do apelo de grupos de k-pop é a quantidade de fan service que eles proporcionam, nas definições mais diversas desse termo, e não só a música em si. Eu só não tinha parado para pensar que isso significava a minha coisa favorita da televisão coreana: programas de variedades. Decidi ver Jinny's kitchen um dia porque gosto da ideia de celebridades fazendo trabalhos super normais como ter um restaurante, e estava curiosa para ver se eles seriam reconhecidos e como lidariam com isso. O fato de ter um membro do BTS ajudou na escolha porque é um nível de fama superior ao dos outros participantes, mas eu não sabia muito do grupo em si além de coisas aleatórias que via no Twitter. Apesar de o Taehyung durante o programa não ser particularmente carismático (ele é simpático, mas não tem tanto destaque por ser o novato do grupo), a ideia de ver idols fazendo coisas tão mundanas me abriu os olhos para o potencial de conteúdo de variedades que eles geram. Gosto muito do programa de viagens Where is my friend's home/The homecoming, do elenco de Abnormal Summit, e saber que o BTS tinha um programa de viagens foi importante para me fazer querer conhecer o grupo.

Ironicamente, o primeiro vídeo que me lembro de ter visto deles no Tiktok não era um conteúdo de momento engraçado ou algo assim: era um fancam do Suga dançando Boy with luv, e algo na sua expressão desinteressada quando ele não estava diretamente na coreografia me conquistou. O Tiktok deixou o algoritmo agir, e dias depois já tinha visto a coreografia de todos os membros nessa música e, mais importante, os tais 98957201 vídeos de interação entre eles.
 
Essa obsessão veio de um período em que tenho ouvido mais música, mas não sei mais definir meu gosto musical. A música foi meu primeiro interesse como fã (em um caminho que seria emo/pop punk => indie anos 2000 => indie brasileiro), mas foi deixada de lado após uma crise: sem o iTunes cheio de música baixada ou CDs físicos, já não sabia mais o que ouvir quando abria o Spotify.
 
O processo de redescobrir meu interesse pela música passa por muitas coisas, mas nunca imaginei que passaria pelo k-pop. Mas faz sentido. O que eu precisava para voltar a me interessar mais por música era algum elemento de fora para me conectar emocionalmente, por assim dizer. Na adolescência, isso era preenchido pelo ato de ser fã das bandas, pesquisando a respeito, vendo MTV, comprando revistas e lendo jornais e interagindo com as pessoas pela internet, ou, na época do indie brasileiro, simplesmente ao ato de ir a shows.
 
A maioria das músicas novas que eu ouço bastante depois desse período é atrelada a alguma coisa, como a trilha sonora de Malhação: viva a diferença e de As five, que foi outra obsessão, e trouxe várias músicas da MPB para meu repertório. 
 
E aí chega o k-pop. Passei a ficar mais intrigada com o gênero(?) quando vi pessoas com gostos mais parecidos com o meu obcecadas pelo BTS e até cheguei a ouvir um grupo ou outro quando via elogios, mas não gostei o suficiente para ir atrás. A música sozinha definitivamente não me chamou para o k-pop.
O que me chamou foi todo o resto, e foi todo o resto que me fez começar a apreciar mais a música.
 
Gosto de k-pop como gosto de música pop no geral; algumas músicas grudam na cabeça e fico querendo ouvir com frequência, mas sinto que posso logo enjoar delas. Ainda não encontrei nenhum grupo em que gosto de todas as músicas. No fundo, é algo mais de gostar muito de algumas músicas do que gostar da sonoridade típica (em contraponto com o resto do meu gosto musical, em que costumo apreciar a ~vibe~ da sonoridade e não ligo tanto para músicas específicas). E, claro, o fato de eu não gostar de todas as músicas não me impede de apreciar os grupos pelo resto do conteúdo que eles entregam.
 
É claro que eu tenho questões com a indústria do k-pop, mas fora o óbvio absurdo da exploração do trabalho sem limite dos idols nas mãos das empresas, algumas das contradições me fascinam: a mistura de artificialidade com vulnerabilidade da figura do idol, o jogo entre a extrema exposição e a privacidade, a venda de uma relação parassocial que vai de encontro à  própria ideia de ídolo, etc. E acho fascinante (e absurdo) o nível em que tudo isso é mediado por um consumo exacerbado, em uma relação de fanatismo bem mais associada com dinheiro do que estou acostumada como fã brasileira (e portanto pobre nos olhos do mercado global). O fandom de k-pop é outra coisa que acho interessantíssima de observar, especialmente por sua diversidade, tanto na demografia em si quanto na forma que agem.
 
Mas, voltando ao assunto principal do post, o BTS: como conheci melhor o grupo no chamado "capítulo 2", deles focados na carreira solo, me preocupei mais em acompanhar as coisas novas do que a discografia do grupo. Haverá tempo para o resto, já que temos até junho de 2025 para o retorno. Segue uma lista dos projetos solo lançados após o hiato e antes de todos entrarem no serviço militar (porque comecei a escrever o post há muito tempo e o j-hope já lançou coisa nova desde então) em ordem de preferência:


Ranking
1. V - Layover:
É o primeiro álbum que eu ouvi e o único que eu diria que combina com meu gosto musical esperado. Já sabia que meu gosto batia mais com o do Taehyung por ele ser fã de música brasileira e de jazz (enquanto a playlist dos outros membros do BTS no Spotify é cheia de pop, hip hop e coisas mainstream atuais, a dele tem várias músicas instrumentais compridas de jazz — que eu nem necessariamente gosto, mas prefiro a, sei lá, Justin Bieber e Drake). O álbum não vai 100% para esse lado, mas dá para ver as influências em som pop/RnB mais lofi com foco no instrumental, especialmente nas versões ao vivo com banda. Favoritas: Slow dancing e Love me again.

2. j-hope - Jack in the box:
Como uma pessoa que nunca gostou muito de rap (demorei para me acostumar com o fato das músicas do BTS terem mais de uma parte de rap, por exemplo), fiquei surpresa em gostar do álbum do j-hope de primeira. O estilo das músicas é diferente do esperado para a figura ensolarada de j-hope, mas casa perfeitamente com a sua performance. As músicas são bem curtinhas, e isso ajuda o álbum a não ficar cansativo. Favoritas: Pandora's box, MORE = (Equal Sign).

3. RM - Indigo:
Cheio de colaborações, o álbum do Namjoon é agradável de ouvir e só está embaixo do j-hope porque acho a segunda metade mais cansativa. Estou curiosa com o que ele vai lançar a seguir, porque parece que ele deixou bastante coisa pronta e a estética da sua carreira solo está puxando para um tom nostálgico e de conforto, que eu aprecio talvez um pouco mais mais do que as músicas em si. Favoritas: Still life

4: Jin - The astronaut: É estranho comparar álbuns com apenas uma música, mas é o que Jin nos deixou antes de ser o primeiro para ir para o exército (ela diz, como se estivesse acompanhando o grupo quando isso aconteceu). É uma música legal, feita junto com o Coldplay, e tenho certeza que deve ter emocionado e confortado muita gente na época do lançamento. Não é algo que eu tenha muita vontade de ouvir, mas também não é uma música que eu vou reclamar se tocar. Fico curiosa para ver o que o Jin vai fazer musicalmente no futuro, porque ainda não sei bem qual é o estilo dele e sinto que ele é o membro menos aproveitado do BTS nas canções em si, sem compor tanto quanto a rapline e com menos versos que os outros vocalistas. E ele vai ter bastante tempo para desenvolver sua carreira enquanto os outros não voltam.

5: Jimin - Face: O pop do Jimin nesse álbum é mais focado no eletrônico. Não é meu tipo de música favorita, mas gosto da ideia do álbum; dá para ver que ele tem um conceito por trás. Favoritas: Face-off e Interlude: Dive

6. Agust D - D-DAY: O Yoongi é o meu bias pela personalidade dele que vejo nos vídeos, então fui ouvir o álbum dele logo depois de ouvir o Layover, quando ainda não estava acostumada com a sonoridade de k-pop e ainda me incomodava com o ~excesso de rap~ no BTS. O resultado? Não gostei. Ouvi novamente depois, gostei um pouco mais, mas ainda não me conquistou, e acho que o meu estranhamento com o álbum pode ser resumido no fato de que a voz do Yoongi cantando me causa certa estranheza. Eu não sei o quanto é por causa dos efeitos na voz/autotune (que é usado claramente por escolha estética), porque a voz dele não me incomoda falando ou nas partes de rap, ou se é só questão de costume. O fato é que ironicamente a pessoa que se incomodava com ~excesso de rap~ hoje prefere as músicas que têm mais rap, pelo menos no caso dele. Favoritas: Haegeum, Polar night e Snooze

7. Jung Kook - Golden: Entendo o interesse do Jung Kook em se tornar um popstar global e sair do nicho do k-pop. Só não é algo que me atraia musicalmente. As músicas são bem chicletes e fáceis de grudar na cabeça. Não é insuportável de escutar, mas boa parte das músicas eu não faço questão de ouvir novamente. O lado bom é que o Jung Kook é bem versátil e diz querer lançar coisas diferentes no futuro: esse não é um álbum muito pessoal, parece ser o que ofereceram para ele. Favorita: Standing next to you