quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Os (realmente não tão) últimos filmes que eu vi #26

Terminamos esse ano interminável que foi 2020 e eu termino aqui também com os filmes vistos em 2016. Como me parece meio ridículo continuar postando minhas opiniões de quatro anos atrás, como se nada tivesse mudado, vou tentar modificar a forma desses posts, talvez deixar por temas em vez de cronologicamente? Veremos. Por enquanto, feliz ano novo! E ano que vem posto os melhores de 2020. 

1. Short cuts - cenas da vida (Robert Altman, 1993)
Segundo filme do Robert Altman que eu vejo, Short cuts tem a mesma estrutura estilo mosaico de personagens que Nashville. O foco aqui é em Los Angeles, mas não como a cidade do glamour e das estrelas, e sim nas partes mais afastadas e nas pessoas de classe média. Sinceramente, achei bem cansativo e pouco impactante. Como os personagens são gente como a gente, é mais difícil de entender o que o filme está tentando passar. Ou pelo menos foi o que eu achei. Avaliação: 3/5

2. Uma viagem ao mundo das fábulas (Tomm Moore, 2009)
Esse é um dos filmes que não faço ideia do motivo de não ter visto até agora. Vi até A canção do oceano antes, só por ter saído em um ano que estava vendo as animações do Oscar. Na verdade, o enredo de Uma viagem ao mundo das fábulas não me atraía muito — o monastério, a questão religiosa e a mitologia celta. Mas eu adorei o filme. O mérito maior é da animação, que é linda demais e me deixou praticamente de queixo caído o filme inteiro. Mas a história não é ruim, e conseguiu me prender durante o filme todo também. Avaliação: 4/5 
 
3. Mesmo se nada der certo (John Carney, 2013)
Esse filme foi bem hypado pela trilha sonora, todo o sucesso de Lost stars e tal. Demorei para ver por motivos de preguiça — e porque queria ver Apenas uma vez primeiro, já que sempre comparam os dois. Mesmo se nada der certo é um filme bonitinho, as músicas são gostosas de ouvir e tal, mas para ser sincera não achei tudo isso não. É um filme esquecível. E ainda achei que o roteiro trata mal a filha do personagem do Mark Ruffalo. Avaliação: 3,5/5
 
4. Imagine eu & você (Ol Parker, 2005)

Imagine uma comédia romântica clichê. Ela pode conter um casamento — no começo ou no final —, encontros por acidente entre o casal, momentos constrangedores, uma piada interna do casal que pode ser replicada no gesto final de convencimento do "eles viverão felizes para sempre", entre outros. Imagine eu & você tem tudo isso, mas também tem um casal formado por mulheres como protagonista, o que faz toda a diferença. Ou nem toda, mas dá uma simpatia a mais para o filme. Avaliação: 3/5
 
5. De olhos bem fechados (Stanley Kubrick, 1999)
Tudo que eu sabia sobre esse filme era que tinha o Tom Cruise e a Nicole Kidman no elenco, que era famoso pelas cenas de sexo e que tinha uma atmosfera onírica. O que descobri assistindo é que esses conhecimentos estavam corretos. E que o filme tem o baile de máscaras mais assustador da minha vida. Eu não sei descrever o gênero do filme, porque ele começa com um drama de casal e vira um thriller psicológico? Que ao mesmo tempo pode ser visto com tons cômicos? Eu não entendi bem o filme, e tudo bem, a experiência foi valiosa mesmo assim, algo bem diferente do que eu estava acostumada a ver. Avaliação: 3,5/5

6. Anticristo (Lars von Trier, 2009)
Outro visto para a faculdade e diferente do que costumo ver. Ou nem tanto, para falar a verdade, mas a fama da violência do filme me fez evitá-lo. Anticristo é explícito, mas menos do que eu esperava, e sei que Lars von Trier é uma persona non grata por vários motivos, mas por enquanto gostei dos filmes dele (esse e Melancolia, e pretendo ver Dançando no escuro um dia). No entanto, Anticristo não é um filme que eu teria vontade de ver novamente. Avaliação: 3,5/5

7. Ponto Final: Match Point (Woody Allen, 2005)
Eu sinceramente não sei bem o que pensar do filme. A história me prendeu, mas não me conquistou completamente. Os personagens são interessantes, mas é difícil de se identificar com eles (que bom!). Não é o melhor filme do Woody Allen e nem o pior. Acho que tenho dificuldade de gostar bastante dele fora do lado cômico. Avaliação: 3,5/5

8. Caindo na real (Ben Stiller, 1994)
Dirigido pelo Ben Stiller(!), o filme fala sobre os jovens de vinte e poucos dos anos 90. Apesar das diferenças óbvias — a tecnologia, a moda, algumas referências culturais —, dá para perceber que os dilemas da juventude não mudaram tanto, e muito do discurso aplicado à minha geração se encaixa perfeitamente nos jovens dos anos 90. Então foi bom ver Winona Ryder e cia. interpretando personagens que não fazem a menor ideia do que vão fazer da vida, que têm sonhos grandes e não sabem se devem correr atrás deles ou se manter nos empregos ruins, etc. Infelizmente ele foca um pouco mais no romance do que eu gostaria, mas faz parte. Avaliação: 3,5/5

9. Perdidos na noite (John Schlesinger, 1969)
Eu perdi o que tinha escrito sobre esse filme, outro que vi para a faculdade, mas me lembro de ter gostado bastante. A relação entre os dois protagonistas é bem interessante de se ver. Avaliação: 4/5

10. O rapaz e o monstro (Mamoru Hosoda, 2015)
A animação de Mamoru Hosoda, diretor de A garota que conquistou o tempo e Summer wars, traz a história de um garoto que se sente perdido após a morte da mãe, foge de casa e encontra uma fera que vê no humano uma possibilidade de discípulo. Como o rapaz e o monstro são esquentadinhos, eles não se dão bem no início, mas aos poucos o garoto aprende a lutar e se torna um bom aprendiz. A primeira metade do filme é bem divertida, e é interessante observar as diferenças entre o mundo humano e o mundo dos monstros. O final, no entanto, insiste em uma trama desnecessária para dar um tom mais épico. Avaliação: 3,5/5

11. Ela é o cara (Andy Fickman, 2006)
Eu adoro enredos forçados, então como não gostar de um filme em que uma menina se finge de menino, mais especificamente o irmão dela, e todos na escola acreditam, mesmo que o disfarce dela seja péssimo? Como se fosse só engrossar a voz, usar gírias de ~brothers~, cortar o cabelo e usar roupas masculinas para parecer homem... É claro que todas as confusões vindas do disfarce são ótimas, e a previsibilidade do enredo funciona em seu favor: a gente recebe exatamente o que estava esperando. Avaliação: 3,5/5

12. Bonnie e Clyde: uma rajada de balas (Arthur Penn, 1967)
E mais um para a aula. Embora a dupla de ladrões seja bem conhecida e sejam ícones da cultura pop, eu nunca teria pensado em ver o filme se não fosse pela faculdade. Bonnie e Clyde é um filme divertido, que nos faz torcer pelos ladrões graças às seus roubos. Avaliação: 4/5

13. Renegados até a última rajada (Robert Altman, 1974)
Para comparar com Bonnie e Clyde, a opção era esse filme. Os ladrões daqui são muito mais pobres e desglamourizados que a dupla famosa. É um filme interessante também, mas menos palatável aos meus gostos simples. Avaliação: 3,5/5

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Lendo a estante: A pessoa amada e Coisa de louco

A pessoa amada, CLAMP
Por que tenho: Minha irmã comprou há uns anos, junto com outro mangá, eu acho. Fiquei curiosa para ler algo mais cotidiano do CLAMP, sem elementos mágicos,
Por que li agora: A verdade é que logo que ela comprou eu já li várias histórias, mas porque não li de cabo a rabo os textinhos que vêm depois delas não marquei a leitura. Então só quis terminar oficialmente essa questão e riscar o livro da lista.
O que achei: O mangá é uma coleção de histórias curtinhas sobre amor que dão margem para as autoras refletirem sobre os temas abordados em seguida, em um textinho informal. É gostoso de ler, mas vale a pena mais pela arte do que pelas histórias e embora a história sobre a diferença de idade não seja tão absurda, eu ainda fico desconfiada com o CLAMP falando desse assunto, considerando a pedofilia que rola solta em Sakura Card Captors.
Avaliação: 3/5
 
Coisa de louco, John O'Farrell
Por que tenho: Conheci o livro no Skoob: vi a capa, achei que combinava com o estilo de livro que costumo ler e coloquei na lista. Acabei comprando na Bienal, naqueles estandes de livros a dez reais.
Por que li agora: O livro se encaixa naquela categoria "leve e fácil de ler", sempre desejada por mim.
O que achei: No início, achei toda essa história da Alice como mãe neurótica exagerada demais, sem ser engraçada, só patética. Com o desenrolar do enredo, as coisas ganham outro tom, mas a defesa da escola pública também é feita de modo forçado. Não sei, até entendo o que o autor queria fazer, mas é um público muito específico que ele está retratando e no início eu estava esperando algo um pouco mais realista e pé no chão, então esse conflito de expectativa x realidade acabou prejudicando minha leitura.
Avaliação: 3/5

domingo, 25 de outubro de 2020

Lendo a estante: contos de fadas, velhinhos mexicanos e mais contos de fadas

A câmara sangrenta e outras histórias
, Angela Carter

Por que tenho: Minha irmã ganhou de uma amiga.
Por que li agora: Porque deu vontade e era um dos livros que sorteei no início do ano na minha TBR Jar.
O que achei: Como todo livro de contos, tem alguns mais interessantes que outros. No geral, esperava algo mais impactante, já que a fama da Angela Carter é a de escritora de contos de fadas para adultos. Mas a verdade é que os contos de fadas originais já são violentos, então a autora só escolhe explicitar e brincar com alguns dos elementos que já estavam presentes nessas histórias, como a sexualidade. Meu conto favorito foi justamente A câmara sangrenta, o mais comprido e tenso.
Avaliação: 3/5
 
Te vendo um cachorro
, Juan Pablo Villalobos

Por que tenho: Eu e minha irmã gostamos bastante da obra do autor, então acompanhamos os lançamentos dele no Brasil. Esse a Lígia comprou na finada promoção do dia das mulheres na Saraiva, com um desconto de 50%.
Por que li agora: É um livro razoavelmente curto e fácil de ler. Gosto de variar a leitura de livros de gênero com outros considerados ~literários~, e esse se encaixa na segunda categoria sem ter aquele tom denso e pretensioso de outros livros da minha estante.
O que achei: Adoro narradores velhinhos rabugentos, como é o caso do narrador desse livro. Os moradores do prédio dele também são grandes figuras. O tom do livro é mais puxado para o cômico escrachado, mas tem umas pirações metalinguísticas também (e umas piadinhas com Adorno). Enfim, é uma leitura divertida.
Avaliação: 3,5/5
 
A escola do bem e do mal, Soman Chainani
Por que tenho: Ganhei o livro em um sorteio do finado blog Psychobooks.
Por que li agora: Atualmente tenho uma preguiça de livros mais fantásticos, então demorei um tempo para tirar o livro da estante, mas o fato de ser juvenil me deu a esperança de que seria uma leitura mais divertida.
O que achei: Em primeiro lugar, é preciso dizer que já li alguns livros de Ever After High, então parte do apelo da história de A escola do bem e do mal perde a graça porque já conheço uma história bem parecida de subversão de clichês de contos de fadas. E por já conhecer essa trama, não tive paciência para aguentar as protagonistas acreditando que houve um engano e que trocaram as escolas delas. Raven Queen e Apple White são muito melhores que Agatha e Sophie, até porque Ever After High é menos pretensioso que esse livro (porque o maior intuito de EAH é vender produtos, sejam livros, bonecas ou qualquer coisa que crianças desejem). Não é que A escola do bem e do mal seja uma leitura chata, mas eu passei tanta raiva com os personagens desse livro e com alguns caminhos que a história tomou que não sobraram muitos momentos para eu me divertir. Talvez eu gostasse mais do livro se eu tivesse lido quando criança, e não com meus vinte e seis anos de rabugice.
Avaliação: 2/5

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Lendo a estante: metrô, bomba atômica e a esposa perfeita

Zazie no metrô
, Raymond Queneau

Por que tenho: Não sei bem como conheci o livro, tenho impressão de que li um trecho em uma aula na escola, mas não tenho certeza. Só sei que fiquei curiosa e pedi para minha irmã comprar para mim no saldão da finada Cosac Naify
Por que li agora: Queria ler algo mais curto depois de Diga aos lobos que estou em casa e após gostar bastante de um livro achei que poderia aceitar melhor uma leitura possivelmente chata (convenhamos: livros que eu poderia ter lido na faculdade são leituras possivelmente chatas).
O que achei: É um livro diferente de fato, um tanto absurdo. Zazie é uma criança boca suja que chega em Paris e seu desejo é andar de metrô, mas o metrô está fechado por causa da greve. Ela então entra em altas confusões com uma galerinha do barulho em um enredo que não se parece nada com um filme da Sessão da Tarde. Queneau (em tradução de Paulo Werneck) escreve de uma forma bem particular, cheia de invenções linguísticas. Não é difícil de ler, mas às vezes é cansativo. Eu provavelmente teria gostado mais do livro se tivesse o lido para faculdade, estudando o contexto e ouvindo professores esmiuçando o brilhantismo do autor. Lendo-o sozinha não tive vontade de ir atrás de mais informações, mas valeu a experiência.
Avaliação: 3,5/5
 
Gen - pés descalços, volume 7
, Keiji Nakazawa
Por que tenho: Porque eu tenho a coleção inteira, oras. Não foi fácil comprar todos os volumes, demorou um tempo porque alguns estavam esgotados na época, mas após ler o primeiro decidi que queria ter todos.
Por que li agora: Costumo dar um espaçamento entre os volumes para não cansar do estilo, aí quando chega a vontade de ler um quadrinho já sei: é hora de continuar Gen.
O que achei: Nesse volume finalmente acontecem coisas tristes que já eram esperadas. São capítulos pesados, até por revermos a queda da bomba, dessa vez pelos olhos do personagem escritor, mas que volume de Gen não é pesado?
Avaliação: 3,5/5
 
O projeto Rosie
, Graeme Simsion

Por que tenho: Foi um livro bem comentado na época do lançamento, e achei a premissa inusitada: um pesquisador com Asperger busca a esposa perfeita através de um questionário. Acabei conseguindo o livro em uma troca no Skoob.
Por que li agora: Foi minha escolha para o tema Austrália, Nova Zelândia ou Canadá no desafio Around the year. Não sei bem por que demorei tanto para ler, talvez eu tenha visto críticas negativas e me desanimado com a história
O que achei: Às vezes esqueço como narradores masculinos podem ser irritantes. Don, nosso protagonista, é machista, e tive dificuldade de ter empatia com ele por causa disso. Rosie é meio manic pixie dream girl também, o que não ajuda. Mas ao mesmo tempo fiquei envolvida na história, não posso negar. O que digo é que, se compararmos histórias de pessoas com Asperger lidando com relacionamentos amorosos, The kiss quotient também tem uma premissa até que parecida e é muito mais divertido.
Avaliação: 3/5

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

The kiss quotient, Helen Hoang


Stella é uma econometrista bem-sucedida de trinta anos com pouca experiência em relacionamentos. Ao ouvir a mãe novamente dizendo que ela precisa se casar e formar família em breve, ela decide contratar Michael, um acompanhante, para ensiná-la a ser boa de cama, já que todas as relações sexuais que teve foram terríveis. Michael, que tem uma regra de não ficar com a mesma cliente mais de uma vez, se vê magneticamente atraído por Stella e acaba aceitando a proposta. E o que vai acontecer com os dois todo mundo já sabe.

The kiss quotient é um romance clichê em seu desenvolvimento, mas não tanto nos personagens: Stella tem Asperger e é a rica da relação, e Michael tem ascendência vietnamita (eu não leio muitos romances, mas até onde sei interesses românticos asiáticos são bem raros, especialmente com protagonistas brancas!). Os dois têm sua bagagem bem explicada, das dificuldades de socialização dela aos dramas familiares dele, de forma que conseguimos entender as motivações deles.

O que não é tão fácil de entender é a atração irresistível que eles sentem um por outro. E sinceramente? Nem precisa ser: é um livro de romance. Em geral não gosto de instalove, mas aceitei nesse caso justamente porque é o tipo de situação na qual os personagens não devem se apaixonar e sabem bem disso, e esse é o impedimento para eles ficarem juntos desde o início. Gostei bastante de como eles vão se aproximando e ficando mais íntimos aos poucos, cheio de cenas fofinhas e açucaradas que me deixaram sorrindo sozinha. Quando eles de fato ficam juntos, no entanto, as coisas ficam mais desinteressantes. As cenas de sexo, que eram importantes para mostrar a evolução dos dois, acabam ficando repetitivas e quase exageradas. Em mais de um momento pensei "parem com a pegação, vocês dois, que momento inapropriado para isso!" — especialmente considerando o fato de a Stella ser uma pessoa mais reservada. Mas é aquela coisa: isso pode ser problema meu, que torço horrores para um casal até eles ficarem juntos e depois já não ligo tanto para o que acontece em seguida. Se você quer ler um livro cheio de cenas quentes, garanto que o livro tem mais cenas quentes do que se espera pela capinha ilustrada.

Os conflitos no relacionamento de Stella e Michael são um tanto previsíveis e até chatinhos, mas, de novo, quase ninguém lê um livro de romance pelos conflitos. The kiss quotient apresenta toda a doçura que um bom romance deve ter. Só que açúcar demais pode dar diabetes, e talvez seja o caso desse livro.

Avaliação: 3,5/5

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Lendo a estante: um livro curtinho e outro comprido

A taste of the unexpected, Roald Dahl
Por que tenho: Minha irmã comprou há muuuito tempo, em uma época em que o dólar era barato e dava para comprar livros em inglês sem criar um rombo na carteira.
Por que li agora: Já tinha planejado ler Diga aos lobos que estou em casa em seguida, então quis algo curtinho, e como são contos pude ler no período em que ouvia o audiolivro de Red, white & royal blue. Ou melhor, nos momentos em que não estava a fim de ouvi-lo mas queria ler algo. Não sei por que demorei tanto para ler esse livro, acho que esqueço de livros muito antigos na estante e quando penso na próxima leitura costumo focar em romances.
O que achei: Os três continhos do livro são no estilo de escrita do Roald Dahl para adultos: humor negro e um pouquinho de suspense e tensão. É uma leitura divertida e rápida.
Avaliação: 3,5/5

Diga aos lobos que estou em casa, Carol Rifka Brunt
Por que tenho: Esse livro ficou bem popular na época do lançamento, tantos nos blogs daqui (quando meio mundo tinha parceria com a Novo Conceito e lia todos os lançamentos deles) quanto nos gringos. Acabei comprando em uma promoção depois de um tempo, na época do meu vício em fuçar sites de livrarias e procurar livros por menos de quinze reais.
Por que li agora: Demorei para ler porque morro de preguiça de livros muito compridos, confesso. Acabei tirando o livro da estante porque achei que depois de ler livros mais curtos podia ter uma leitura mais demorada, e também ia usar o livro para o Around the year para um tema específico.
O que achei: Quando paro para pensar sobre o que é a história, sobre uma menina que era apaixonada pelo tio e depois fica amiga do namorado dele, não consigo não achar estranho. Mas, ainda que eu ache que alguns aspectos dos relacionamentos entre os personagens poderiam ser diferentes, o fato é que gostei bastante do livro, um drama familiar escrito de forma muito sensível.
Avaliação: 4/5

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Os (realmente não tão) últimos filmes que eu vi #25

E seguimos com os filmes vistos em 2016, quando saíamos de casa sem preocupação e eu ainda estava na faculdade.

 
1.  Jogos vorazes: a esperança - parte 1 (Francis Lawrence, 2014)
O terceiro livro da série é o que eu menos gosto, então minhas expectativas não estavam muito altas. O fato de terem dividido a história em duas partes também aumentou a desconfiança com o filme. A primeira parte trata da preparação para a guerra e é.... ok, eu acho? A adaptação é fiel — pelo que me lembro do livro, o que não é muito — e o filme consegue trazer os conflitos da trama para a tela, mas falou alguma coisa para mim: mais emoção, brilho próprio, não sei. Avaliação: 3,5/5

2. A era do rádio (Woody Allen, 1987)
Outro Woody Allen que vi para a faculdade, dessa vez com foco na era de ouro do rádio. O filme é bem fragmentado, misturando a história de um garoto que também é o narrador com anedotas e fofocas das estrelas do rádio. Embora esse formato não seja muito fácil de prender a atenção, como as historinhas são engraçadas isso acaba compensando. O filme tem aquele tom nostálgico e ao mesmo tempo muito irônico tal qual vários outros filmes do diretor. Na escala filmes do Woody Allen, esse fica no meio da lista. Avaliação: 3,5/5 

3. Jogos vorazes: a esperança - o final (Francis Lawrence, 2015)
A segunda parte foca na jornada de Katniss e companhia até a Capital e o derradeiro fim da série. Aqui temos mais ação — diferente do anterior, que mostrava a estratégia. Novamente é uma adaptação bem razoável, e de novo sinto falta de alguma coisa. O fato é que Jogos vorazes, tanto os livros quanto os filmes, nunca terá o peso de um Harry Potter ou de outra série que eu acompanhava mais nova, e não adianta eu ter expectativa de que isso vai acontecer. Avaliação: 3,5/5
 
4. Uma mulher sob influência (John Cassavetes, 1974)
O filme do John Cassavetes mostra um casal e seus problemas. Nick, o marido, é um trabalhador de família italiana, e Mabel é sua esposa, uma dona de casa que não consegue se expressar diante da repressão que vive e é vista como louca pelos outros. Vi esse filme para a aula de literatura e cinema e estava com medo de ser chato, mas acabei surpreendida. A atuação da Gena Rowlands, a Mabel, é incrível e me deixou impressionada. Infelizmente, a temática do filme se mantém atual, com o ideal de mulher como "bela, recatada e do lar" em alguns grupos dominantes da sociedade. Não vou dizer que é um filme fácil de assistir, porque suas duas horas e meia de duração podem passar lentamente, em especial no início, mas vale a pena. Avaliação: 3,5/5

5. Dente canino (Yorgos Lanthimos, 2009)
A premissa do filme, do mesmo diretor de O lagosta, foi o que me intrigou: em uma família, há a regra de que os filhos só podem sair de casa quando seus dentes caninos caírem. Assim, os três ficam presos no terreno da casa e vivem de acordo com o que os absurdos que pais explicam para eles, completamente alienados. E é isso o filme, uma sequência de bizarrices bem encadeada, e vamos compreendendo as ações dos personagens aos poucos. É chocante e perturbador e não traz respostas óbvias e finais fechados, e saí do Cinusp atordoada e impressionada com o que tinha visto. Avaliação: 4/5

6. Digimon Adventure tri. 3: Kokuhaku (Keitaro Motonaga, 2016)
E continuamos a saga de Digimon. A terceira parte é tão (des)interessante quanto a primeira e a segunda, agora focando nos dramas do TK e do Patamon. Avaliação: 3/5

7. A arte da conquista (Gavin Wiesen, 2011)
O filme estava na minha lista faz tempo porque é uma comédia romântica com a Emma Roberts e o Freddie Highmore, dois atores de que gosto. Mas acabei um pouco decepcionada. Os personagens não têm muito carisma. Freddie interpreta o garoto introvertido e sem motivação, um pouco niilista e deprimido. Emma é a garota que vai dar sentido à vida dele e só está lá para isso. Não sei, talvez a minha cota de filmes-sobre-jovens-tristes-que-terão-sua-vida-transformada-por-garotas já tenha passado do limite. Mas acho que o problema principal é que o filme não desenvolve o suficiente as outras partes. Tem conflitos familiares, dramas com a escola e a relação do protagonista com a arte, mas embora isso tudo ganhe resolução faltou a profundidade que eu esperava — e olha que eu nem esperava muito por saber que o foco seria no romance. Enfim, é assistível e dispensável. Avaliação: 2,5/5

8. Nashville (Robert Altman, 1975)
Outro das obrigações da faculdade, o filme compõe um retrato da cidade americana capital do country a partir de dezenas de personagens, de cantores consolidados no gênero, empresários, aspirantes a celebridades, todos com ligações entre si. Também não é um filme fácil de assistir, demora um tempo para entender quem é quem, mas o esforço é recompensado. A relação entre política e o mundo do entretenimento está sempre em pauta e o final fecha com chave de ouro todo esse mosaico de personalidades. Avaliação: 4/5

9. A vida acontece (Kat Coiro, 2011) 
Uma comédia levinha para ver quando precisamos de filmes mais positivos quase sempre é uma boa, né? No caso, temos Krysten Ritter interpretando uma mãe cuja vida não mudou tanto assim após ter o bebê (tirando, obviamente, o fato de ter que cuidar do filho). A história é bem previsível, e exatamente por isso é um filme gostosinho de ver. Avaliação: 3/5

10. O abutre (Dan Gilroy, 2014) 
Esse é um daqueles filmes hollywoodianos elogiados por todo mundo por ter uma temática interessante e uma boa atuação. Jake Gyllenhaal interpreta Louis, um trambiqueiro que descobre que pode ganhar muito dinheiro filmando acidentes, crimes e outras coisas horríveis. A partir daí ele vai ficando cada vez mais maníaco para criar o seu império de filmagens e vemos como ele e a mídia não têm escrúpulos. Para ser sincera, pelo que tinham falado do filme eu esperava algo mais impactante. Não que seja sem graça, mas achei o filme um pouco esquecível. Não sei se é porque o formato é tradicional demais ou porque não ligo tanto para o tema, mas foi um filme que pensei "nossa, que louco" enquanto via e depois de desligar a TV não pensei mais nele. Avaliação: 3,5/5

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Lendo a estante: Maratona Asiática

O Buda no sótão, Julie Otsuka
Por que tenho: Minha irmã comprou na Festa do Livro da USP há uns bons anos.
Por que li agora: Eu decidi que era hora de acabar com essa pendência. O livro está na estante há tanto tempo que outro livro da autora, Quando o imperador era divino, comprado alguns anos depois, também já está juntando poeira na estante. Além disso, queria que a minha primeira leitura para a Maratona Asiática fosse um livro mais curto, ideal para iniciar o projeto com o pé direito.
O que achei: O livro é narrado por um coletivo de mulheres japonesas que imigraram para os Estados Unidos na esperança de bons casamentos. Partindo da jornada delas na longa viagem de navio até o período da Segunda Guerra Mundial, em que japoneses foram perseguidos e enviados para campos de trabalhos forçados nos Estados Unidos, a autora apresenta as mais variadas experiências de vida, sem focar em uma mulher por muito mais que uma frase. A ideia é interessante, mas o livro brilha mais no início, quando as mulheres são uma voz mais coletiva mesmo, do que quando o destino delas começa a se diferenciar demais e a narração parece mais uma lista de acontecimentos possíveis do que um romance.
Avaliação: 3,5/5 

O último homem na torre, Aravind Adiga
Por que tenho: Gostei muito dos outros livros do autor que li, O tigre branco e Entre assassinatos, então é claro que fiquei interessada no lançamento mais recente dele.
Por que li agora: Achei que a Maratona Asiática seria uma boa oportunidade para ler o livro, como representante da Índia.
O que achei: O livro mostra o cotidiano de moradores de um prédio em Mumbai. Eles recebem uma proposta generosa de compra de seus apartamentos por um gigante do ramo imobiliário e precisam decidir individualmente se vão aceitá-la. O último homem na torre, um professor aposentado e viúvo, não quer se mudar, e daí surge uma série de conflitos entre os moradores.
Gosto do fato do romance explorar um pouco de cada morador do prédio e mostrar os laços dessa vida comunitária — e  quais são os limites desses laços. No entanto, há momentos em que a leitura se torna cansativa com tantos personagens. São quatrocentas páginas para uma história simples e tinha dias em que eu pegava o livro e ficava grudada nele, querendo saber o que ia acontecer, e outros em que só queria que o livro acabasse. 
Aravind Adiga continua com sua crítica social mordaz, mostrando uma Índia em que a corrupção e a ganância imperam, mas infelizmente achei a história um tanto alongada demais.
Avaliação: 3,5/5

O melhor que podíamos fazer, Thi Bui
Por que tenho: Vi essa graphic novel sendo bem elogiada no lançamento lá fora e ela me chamou a atenção por ser uma história de imigração do Vietnã, país sobre o qual não conheço quase nada.
Por que li agora: Eu queria ler um quadrinho para a maratona, e fora autores japoneses essa era minha única opção na estante.
O que achei: A autora inicia a história mostrando o momento em que vira mãe para então refletir sobre o que é família e contar o passado dos seus pais. Eu preferia um foco em uma das coisas: ou na relação da autora com a família ou a história dos seus pais. Ou melhor, o problema não é tratar de passado e presente, mas de misturar os dois na narração. Fui capturada pelo início e fiquei decepcionada quando a autora começou a voltar para o passado. Gostaria mais de algo linear. Dito isso, gostei da arte e achei a voz da narradora bem honesta nas suas memórias. E é sempre interessante conhecer mais sobre um país diferente.
Avaliação: 3,5/5

Botchan, Natsume Soseki
Por que tenho: Minha irmã é fã do autor e sempre compra os lançamentos dele da Estação Liberdade na Festa da USP.
Por que li agora: Outro caso de "Marília, toma vergonha na cara!". Tinha quatro livros do Soseki na estante e não tinha lido nenhum até agora (ironicamente, li dois livros dele alugados na biblioteca). Tenho um caso crônico de preguiça de clássicos na estante. Mas aí chegou a maratona, e estava no fim do mês, e Botchan é um livro curtinho, que eu sabia que ia terminar a tempo: a oportunidade perfeita.
O que achei: Aqui temos Soseki na sua veia mais cômica, com a história de Botchan, um jovem que acaba virando professor de matemática em uma cidade do interior. Mimado pela antiga criada da família, ele julga tudo e todos e se envolve em confusões com os alunos e outros professores. É um livro cotidiano e engraçadinho, mas terminei sem saber bem o que fazer com isso. Sinto que não ter um conhecimento do Japão da época deixou mais difícil de entender quais são os alvos da crítica. 
Avaliação: 3,5/5

sábado, 20 de junho de 2020

Maratona asiática: encerramento

Relendo meu post da maratona agora, percebi que não cumpri as tarefas exatamente como pretendia. Mesmo assim, posso dizer: a maratona asiática foi finalizada com sucesso! Foram nove livros, uma série de mangás, sete filmes e seis séries para o projeto, um número superior ao que eu esperava. Segue a lista:

Livros
1. O Buda no sótão, Julie Otsuka
2. Starfish, Akemi Dawn Bowman
3. O último homem na torre, Aravind Adiga
4. Inconvenient daughter,
5. O melhor que podíamos fazer, Thi Bui
6. Botchan, Natsume Soseki
7. Sisters Matsumoto, Philip Kan Gotanda
8. When Dimple met Rishi, Sandhya Menon
9. Penance, Kanae Minato
E a série de mangás Limit, Keiko Suenobu

Filmes
1. Plano-sequência dos mortos, Shin'ichirô Ueda
2. Yesterday, Danny Boyle
3. Love suicides, Edmund Yeo
4. Dot 2 dot, Amos Why
5. Para todos os garotos: P.S. ainda amo você, Michael Fimognari
6. Tigertail, Alan Yang
7. A voz do silêncio, Naoko Yamada

Séries
1. A primeira temporada de Eu nunca... 
2. Alguns episódios de Homecoming (ou Where is my friend's home?)
3. Os primeiros seis episódios de Ainori Love Wagon: Asian Journey
4. Os primeiros três episódios de Age of Youth (ou Hello, my twenties!)
5. Um episódio de Gatchaman Crowds
6. Muitos episódios de Malhação: viva a diferença

 
Não atingi a variedade de países que gostaria (as únicas coisas que não são do Leste Asiático são da Índia) e consumi mais coisas americanas, mas o saldo é bem positivo. O que reparei nesse mês é que as escolhas americanas que fiz falam muito sobre identidade e a relação dos personagens com a cultura de ascendência deles. Em Starfish e Inconvenient daughter, aparece o preconceito e a inicial negação dessa cultura — no primeiro por uma tentativa da mãe branca da protagonista de tomar o controle e apagar os elementos japoneses da família, e no segundo pela protagonista ser adotada e não conviver com pessoas asiáticas além do seu irmão, também adotado. Em Never have I ever e When Dimple met Rishi, há a questão de até que ponto devem ser adotadas as tradições culturais familiares, com conflitos entre as protagonistas e os personagens que são mais apegados à cultura indiana. Tigertail e O melhor que podíamos fazer mostra famílias imigrantes e a distância entre os pais, que deixaram sua terra natal em busca de oportunidades melhores, e os filhos, bem integrados na cultura americana. E O Buda no sótão e Sisters Matsumoto retratam os sofrimentos dos japoneses nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra.

Isso significa que pessoas asiático-americanas só falam sobre identidade, preconceito e questões culturais? Não, só significa que meu interesse por histórias contemporâneas e coming of age acabou levando minhas escolhas para esse lado. Fiquei um pouco surpresa quando comparei a variedade de temas do que consumi das coisas americanas e dos países da Ásia (zumbis, bullying, expansão imobiliária, arte urbana, viagens...), é verdade, mas gostei de ter essa imersão em histórias que são mais semelhantes às minhas e da minha família e que conversam entre si, porque são todas de alguma forma sobre ser o Outro. 

Pretendo postar sobre todas as leituras e os filmes em breve. Sobre as séries não tem muito o que falar porque a maioria eu nem conclui ainda. Minha maior recomendação é Eu nunca..., uma série adolescente com momentos engraçados e tristes, que eu devorei em pouco tempo.

Gostei bastante de escolher o que ia ler ou ver para a maratona, e em junho estou focando em conteúdo LGBTQ+ (só deixei as séries de lado porque não queria começar outras coisas). Ainda que eu consuma conteúdo de minorias com certa frequência, essas maratonas garantem uma intencionalidade nas minhas escolhas que não tenho no resto do ano.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Starfish, Akemi Dawn Bowman


Conheci esse livro porque ele estava disponível para ler no site da editora durante maio. Ele conta a história de Kiko, uma jovem mestiça de pai de ascendência japonesa e mãe branca. O sonho dela é estudar na Prism, uma escola de artes em Nova York, onde ela acredita que poderá recomeçar e esquecer de seu passado traumático. No entanto, ela recebe uma carta de rejeição da escola, e terá que superar seus medos de outra forma.

Starfish não é uma leitura leve — Kiko tem familiares abusivos e tóxicos e sofre de ansiedade social —, mas mesmo assim o ritmo de leitura é rápido, típico de YAs, e fiquei bem imersa na história. E assim como em outros YAs, o que mais me incomodou no livro são questões de enredo e personagens. Gostei de ver o amadurecimento da Kiko durante a história, e como pessoa tímida acho fácil de me identificar com ela e suas inseguranças, mas sua evolução acabou mais ligada a fatores externos (um amigo/interesse romântico e um mentor) do que a ela mesma. É como se nada teria mudado se ela não tivesse a sorte de encontrar essas pessoas pelo caminho, e essa não é uma boa mensagem para se passar, ainda que ela só seja implícita.

Além disso, por mais que eu goste do Jamie, ele é um tanto sem graça como personagem. O único defeito dele é não entender a timidez da Kiko e a tratar com impaciência por causa disso, o que é errado, mas também compreensível. E o romance deles é tão óbvio.

No geral, gostei do retrato da família da Kiko, mas queria saber mais sobre os outros familiares além da mãe. Há motivos para eles serem distantes, mas do jeito que a mãe dela é descrita é um pouco surpreendente que o resto da família nunca a tenha confrontado. Eu gostei mais do lado do drama familiar do que o lado romântico do livro, acho que isso resume bem o que achei do livro.

Avaliação: 3,5/5

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Lendo a estante: Pequenos incêndios por toda parte e O homem que passeia

As leituras a seguir foram feitas no final de janeiro e início de fevereiro. Por coincidência, ambos os livros se encaixam na maratona asiática, então vamos fingir que foi de propósito.

Pequenos incêndios por toda parte, Celeste Ng
Por que tenho: Adorei Everything I never told you e fiquei com vontade de ler tudo que a Celeste Ng já tinha publicado — e Pequenos incêndios por toda parte é o único outro romance dela. Comprei o livro em março de 2019, em uma promoção da Amazon.
Por que li agora: Um dos motivos foi ler antes da série estrear, para evitar spoilers e quem sabe até acompanhar (spoilers de hoje: pretendo ver a série nesse mês só). O outro motivo foi que sorteei o tema "ler um livro de um autor de umas das suas melhores leituras de 2018 ou 2019" no Around the year, e a primeira autora que pensei foi a Celeste. O fato de eu ter demorado quase um ano depois da compra para ler provavelmente foi pelo medo da decepção, algo que me acompanha quando tenho motivos para achar que vou adorar um livro (e, para meus padrões, demorar um ano é surpreendentemente pouco!).
O que achei: Pequenos incêndios por toda parte é um drama familiar bem desenvolvido e que prende a atenção, mas não senti o livro da mesma forma que senti Everything I never told you, porque não tem o mesmo tom de mistério nem senti algum tipo de identificação pessoal com os personagens. Queria que os personagens principais fossem explorados de forma mais igual, porque senti falta de conhecer melhor alguns membros da família Richardson, como o Trip. Também achei o foco narrativo confuso em certos momentos, entrando na mente de um personagem quando contava sobre outro. Se fosse meu primeiro contato com a obra da Celeste, possivelmente gostaria mais do livro, mas como Everything I never told you é um dos meus livros favoritos dos últimos anos não tenho como não ficar um pouco decepcionada.
Avaliação: 3,5/5

O homem que passeia, Jiro Taniguchi
Por que tenho: Minha irmã comprou.
Por que li agora: Não era um livro que estava no meu radar e minha irmã não amou, então demorei um pouco para tirá-lo da estante. Decidi ler em um momento que queria algo rápido, depois de passar uns dias ouvindo um audiobook acabei me sentindo culpada por negligenciar a estante, e qual a melhor e mais rápida forma de riscar um livro da lista? Ler um quadrinho, é claro.
O que achei: O homem que passeia é um mangá com histórias curtinhas de caminhadas que o protagonista faz por aí, algo no estilo "poéticas do cotidiano". É uma leitura fácil e tem momentos bonitos, mas não me marcou.
Avaliação: 3/5

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Maratona asiática de maio

Maio é o mês do patrimônio asiático-americano e das ilhas do Pacífico nos Estados Unidos, o que dá origem a projetos especiais. Um deles é a Asian Readathon, uma maratona literária para ler livros asiáticos. Como tenho muitos livros que se encaixam na proposta e tenho também um tédio enorme por causa da quarentena, decidi participar da  maratona, em uma versão ainda maior, incluindo filmes e séries também. As tarefas oficiais são:
 
1. Ler qualquer livro escrito por uma pessoa asiática
2. Ler um livro com um personagem asiático ou escrito por alguém asiático com que você se identifique
3. Ler um livro com um personagem asiático ou escrito por alguém asiático que seja diferente de você
4. Ler um livro recomendado por uma pessoa asiática
5. Ler Pequenos incêndios por toda parte/ver a série (opcional)


A ideia inicial é que não se repitam as etnias/nacionalidades, e vou respeitá-la nas quatro tarefas principais. Mas se ler/ver algo extra, não vejo problema em repetir, já que minha intenção principal é diminuir a pilha de livros parados na estante, e eu não tenho tanta diversidade em questão de países. 

Minhas escolhas literárias são:
1. Viver, Yu Hua ou Secondhand world, Katherine Min
2. O buda no sótão, Julie Otsuka (uma mulher de ascendência japonesa, como eu)
3. O último homem na torre, Aravind Adiga ou O pintor de letreiros, R. K. Narayan (homens indianos, diferente de mim)
4. O melhor que podíamos fazer, Thi Bui (recomendado aqui
Algumas opções extras que tenho na estante ou no Kindle: os mangás Limit, Keiko Suenobu; Jovens de elite, Marie Lu; Life, Lu Yao; The kiss quotient, Helen Hoang; Miracle Creek, Angie Kim; A fórmula preferida do professor, Yoko Ogawa; Botchan, Natsume Soseki... 

Minhas escolhas de filme:
1. Plano-sequência dos mortos
2. Para todos os garotos: PS. ainda amo você (a protagonista é mestiça, como eu)
3. Não sei ainda, provavelmente algo indiano do Mubi ou da Netflix
4. Tigertail, indicado pelos irmãos Shibutani
Extras: Yesterday, The farewell, Assunto de família, Você nem imagina, algo do Studio Ghibli... 

Para as séries, não tenho como objetivo terminar todas, só começar e ver até onde eu chego.
1. Eu nunca...
2. Ainori Love Wagon: Asian Journey
3. The untamed
4. Ainda estou procurando um k-drama com um clima mais leve
5. Little fires everywhere
Extras: vou continuar Malhação: viva a diferença, Gatchaman crowds e Terrace house: boys and girls next door.

No final do mês pretendo voltar aqui e contar o que consegui cumprir. Boa sorte para mim (e para todos os outros participantes)!

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Projeto Lendo a estante: apresentação e primeiras leituras

Que leitor nunca ouviu falar da palavra tsundoku, o ato de acumular pilhas de livros não lidos? Que leitor nunca se sentiu representado por ela?

Olha essa bela estante cheia de livros não lidos!

Acho interessante pensar na minha trajetória de leitora. Antes só comprava/ganhava livros em épocas especiais, e me contentava em relê-los várias vezes, alternando com livros emprestados por aí. Conforme fui crescendo, no entanto, descobri o apelo dos grandes sites com seus saldos de livro a menos de dez reais. Fiz a festa, inúmeras vezes. Percebi que já não gostava de pagar trinta, quarenta reais em um livro que queria muito quando podia comprar outros três ou quatro livros com esse dinheiro. O que aconteceu com o tempo? Pilhas que se acumularam, ao mesmo tempo que lia livros alugados da biblioteca ou e-books. O período da biblioteca, no entanto, foi importante para perceber que eu não precisava ter tantos livros. Com tanta opção por aí, a releitura não era mais minha prioridade e comprar livros por curiosidade e pelo preço baixo me parecia um exagero quando se podia alugá-lo de graça. E atualmente não tenho comprado tanto, e também não tenho ido a bibliotecas há um tempinho, mas os e-books são tentações constantes que me fazem deixar os livros da estante de lado de vez em quando.

Baseada no blog 746 Books, decidi finalmente contar quantos livros não lidos tenho na minha estante e cheguei no número redondo de 250. A ideia do projeto Lendo a estante é ler os livros e comentar um pouco sobre eles: o que motivou minha compra (ou o motivo pelo que ele chegou até mim), por que os li agora (se adiei muito a leitura, isso mudou minha opinião do livro? Já perdi a vontade de lê-lo? Etc.) e o que achei. O objetivo com isso é refletir um pouco sobre meu consumo e meus hábitos de leitura. Não vou ler só livros da estante durante o ano, mas quero ter o projeto em mente sempre que for decidir minha próxima leitura.

Tenho a meta numérica de terminar o ano com 200 livros não lidos na estante, em vez de 250, mas tenho consciência de que isso talvez não seja possível, porque continuo comprando livros. Então a meta mais verdadeira é ler 50 livros da estante, não importando o número que vai ficar no final. Pretendo postar dois ou três livros de cada vez no blog, e como sempre já começo atrasada, com os primeiros livros do ano.

As garotas, Emma Cline
Por que tenho: Comprei o livro em uma promoção da Saraiva on-line por 9,90 ano passado. Fiquei interessada pelo livro desde o lançamento, pelo hype criado pelos blogs gringos, mas vi críticas negativas também, então esperei por um preço realmente bom para comprar.
Por que li agora: É um livro que não está há tanto tempo na estante, então não deu tempo de enjoar dele, e me parecia uma leitura de fácil envolvimento, que era o que eu queria para a minha primeira leitura do ano. Usei o livro para a categoria “inspirado em uma notícia” no Around the Year.
O que achei: O livro tinha mesmo a atmosfera que eu esperava, com uma narrativa coming of age que me prendeu de início ao fim. Eu não conhecia muito sobre cultos, então achei interessante esse aspecto do enredo, mas o foco é mais na atração que a protagonista sente pelo culto ficcional estilo Charles Manson do que propriamente nos crimes que ocorreram. Gostei bastante da caracterização da Califórnia dos anos 60 e do tédio juvenil da protagonista. Eu não morro de amores pelos filmes da Sofia Coppola, mas esse livro me lembrou da obra da diretora. 
Avaliação: 4/5

As águas-vivas não sabem de si, Aline Valek
Por que tenho: Acompanho a newsletter da Aline faz um tempinho, e gosto muito da escrita dela. Não leio tanta ficção científica, mas os elogios ao livro e a capa linda me fizeram dar uma chance, comprando-o em uma promoção por metade do preço.
Por que li agora: Sorteei o tema “livro que se passa em um lugar ou época em que não gostaria de morar” no Around the year e essa foi minha primeira ideia — definitivamente não quero morar no fundo do oceano. Esse foi um dos muitos livros da minha lista adiados por um motivo simples: preguiça. Mesmo que minha irmã já tivesse lido e me assegurado que é uma leitura fácil, ainda fiquei com a ideia de que não seria tão instigante pelo que vi de outras pessoas falando sobre os capítulos narrados pelos seres marinhos.
O que achei: Minha irmã tinha razão — não foi uma leitura complicada. É um livro diferente do que tenho lido, mas a Aline Valek conseguiu criar uma ótima ambientação e quase me senti no fundo do mar junto com a Corina. Teve algumas partes que achei mais entediantes, mas no geral fiquei bem envolvida na história.
Avaliação: 4/5

terça-feira, 7 de abril de 2020

Os (realmente não tão) últimos filmes que eu vi #24

Os filmes da vez foram vistos no final de 2016. Isso significa que tenho três anos de filmes atrasados para postar. Eu até desistiria e começaria do zero, se não tivesse algumas das resenhas deles escritas em papel. Nos próximos posts talvez eu comece a fazer metade de filmes que vi nessa época e metade dos filmes atuais. Por enquanto, fiquemos com o passado distante, quando a gente podia pensar em sair de casa e aproveitar a programação cultural da cidade.

1- Sarusuberi: Miss Hokusai (Keiichi Hara, Stephanie Sheh e Michael Sinterniklaas, 2015)
A animação japonesa conta a história da filha do pintor Hokusai mostrando como funcionava o mercado de arte na época e a diferença no tratamento entre homens e mulheres do ramo. O filme tem umas partes bem bonitas, mas faltou alguma coisa — ele explora vários elementos, como o romance, o relacionamento familiar e até um tom de fantasia, mas no final fiquei sem entender qual era exatamente a mensagem a ser passada. Avaliação: 3,5/5

2- Um homem sério (Ethan e Joel Coen, 2009)
Eu nem sei o que foi que me levou a ter vontade de ver esse filme. Talvez ele tenha sido elogiado na época do lançamento? Talvez a banalidade da sinopse tenha me conquistado? Talvez parecesse um bom começo para alguém conhecer a obra dos irmãos Coen? São questões. O fato é que demorei tanto para vê-lo, quando estava nas vésperas de sair do catálogo da Netflix, e aí eu já conhecia outros filmes dos diretores (Queime depois de ler — não entendi e Inside Llewyn Davis: balada de um homem comum  — gostei). Minha opinião a respeito de Um homem sério é a mistura do que achei dos outros: não entendi e gostei. Toda questão religiosa do judaísmo não faz muito sentido para mim, que nunca me envolvi com religião. Mas algo me atraiu nessa história banal de um homem banal, mesmo que eu não saiba dizer o que é. Para mim, isso foi mais que o suficiente. Avaliação: 3,5/5

3- Feitiço do tempo (Harold Ramis, 1993)
Quantas referências a esse filme você já viu por aí? Eu já vi tantas que senti necessidade de vivenciar o tal Dia da Marmota. O filme tem aquele esquema óbvio de "é errando que se aprende", com Bill Murray interpretando um carinha da previsão do tempo chato demais que aos poucos vai entendendo como pode se tornar uma pessoa melhor. Eu adoro esse tipo de estrutura repetitiva, então o filme já tinha pontos garantidos, mas não tive nenhuma empatia com o protagonista, ou seja: por mim ele bem que poderia se dar mal. Avaliação: 3,5/5

4- Os reis do verão (Jordan Vogt-Roberts, 2013)
Conheci o filme pelo pôster de jovens pulando em um lago e fiquei interessada sem nem saber sobre o que era. Acontece que é um filme masculino demais, focado em três garotos que se cansam da vida familiar e vão morar por conta própria na floresta. É um filme bonitinho, com um clima de Conta comigo e tal, mas achei o protagonista muito chato e os personagens em geral um tanto rasos. Quem rouba a cena é o Biaggio, o alívio cômico que merecemos. Avaliação: 3,5/5

5- A bela e a fera (Jean Cocteau, 1946)
No projeto de ver um filme dos 1001 por mês, há meses em que vejo aquilo que quero e outros que assisto a algo aleatório por ser mais prático. Vamos aproveitar oportunidades, não é mesmo? Vi A bela e a fera em uma mostra de fantasia do Cinusp. Apesar da releitura do conto de fadas ser bem anterior à animação da Disney, é um pouco difícil não comparar as duas. Isso tira um pouco da graça do filme, porque o básico da história é o mesmo. Mesmo assim, o visual é bem impactante. O castelo da Fera pode não ter os objetos falantes da versão da Disney, mas não deixa de ser mágico do seu modo. Ainda assim, talvez o filme tenha envelhecido mal para mim. Foi uma experiência interessante assisti-lo, mas não me marcou. Avaliação: 3/5

6- Oxalá cresçam pitangas: histórias de Luanda (Kiluanje Liberdade e Ondjaki, 2007)
Vi esse documentário na aula de literatura africana focada em Angola. O filme fala sobre a cidade de Luanda, acompanhando alguns personagens de diferentes tipos. O formato é bem convencional e funciona para o que o filme propõe, apresentando um panorama da cidade para quem não a conhece. Avaliação: 3,5/5 

7- As patricinhas de Beverly Hills (Amy Heckerling, 1995) 
Eu sei racionalmente que já tinha visto esse filme antes, mas como não lembrava de nada achei que valeria a pena vê-lo novamente. É um filme adolescente típico e hoje se tornou icônico, mas não é um dos meus favoritos. Tenho raiva da Cher ser ~clueless~ e odeio que a Tai passe por um makeover e goste disso. Eu sei que o filme desconstrói  um pouco os estereótipos, mas não o suficiente. Sem problematizar, é um filme bem divertido, mas ainda prefiro filmes adolescentes da minha geração. Avaliação: 3,5/5


8- A ratinha valente (Don Bluth, 1982)
Essa animação é bem conhecida nos Estados Unidos, mas aqui não parece ter feito muito sucesso. A estética e o enredo lembram um pouco os filmes da idade das trevas da Disney; o filme não reluta em mostrar um pouco de sangue, e a ideia por trás do NIMH também é meio sombria para o universo infantil. Gosto do fato da protagonista ser uma ratinha que é mãe viúva: se é raro ver fêmeas como personagens principais em filmes de animais, imagina então protagonistas adultas e mães? Dito isso, o roteiro em si infelizmente não empolga. A aventura é bem tradicional, tem um deus ex machina fortíssimo, e alguns personagens são bem clichês. Avaliação: 3/5

9- Os sete suspeitos (Jonathan Lynn, 1985)
É um filme baseado no jogo de tabuleiro Detetive!!! E a adaptação funciona. Precisa suspender um pouco a descrença, é claro, mas as coisas se encaixam. Na verdade, eu já tinha visto esse filme antes, mas só me lembrava de umas cenas e de que tinha vários finais. Fiquei surpresa com o conteúdo político do enredo, que provavelmente eu não tinha entendido quando vi pela primeira vez e que continuei sem entender completamente agora (ops), e que envolve macartismo e tal. É claro que esse é só o pano de fundo dos personagens, a história se passa apenas em uma mansão com ares mal-assombrados e o tom que prevalece é de humor negro. E eu realmente não lembrava o quanto o filme era engraçado. É um humor ridículo na maior parte do tempo, sim, mas quem se importa? Eu dei gostosas risadas. Lá pelo final, no entanto, todo esse exagero começa a cansar e você só quer saber quem matou, com que arma e em que aposento. E os fins em si são interessantes, mas também um pouco cansativos. Ainda assim, fica a recomendação. Avaliação: 3,5/5 

10- Zelig (Woody Allen, 1983)
Revi o filme do Woody Allen sobre um homem-camaleão para uma disciplina da faculdade. Confesso que essa revisitação foi um pouco decepcionante — o formato de documentário não teve tanto impacto já que eu sabia o que viria a seguir. Acabei achando um filme que só tem uma hora e vinte meio cansativo. Mas isso não significa que Zelig não seja bom. Ele continua sendo um dos meus favoritos entre aquilo que vi do Woody Allen, justamente por ser um dos mais diferentes. Avaliação: 4/5