quinta-feira, 31 de março de 2016

Antes de dormir, S. J. Watson

Não tenho memória. Nada. Não há uma só coisa nesta casa que eu me lembre de ter visto antes. Nem uma única fotografia — sejam as que rodeiam o espelho, sejam aquelas no álbum à minha frente — me desperta lembrança de quando foi tirada, não há nenhum momento com Ben de que eu me recorde, a não ser os que compartilhamos esta manhã. Minha mente parece totalmente vazia.
Não precisa de muito para me fazer ler um livro de mistério. Um enredo com algo novo para mim já é o suficiente. Por isso Antes de dormir, sobre uma mulher com amnésia, estava na minha lista há tempos.

Christine, a protagonista, acorda todos os dias sem saber quem é e onde está. Seu marido, Ben, explica a situação: ela teve um acidente e por isso sofre da perda de memória. Como ela consegue se lembrar dos acontecimentos do dia enquanto está acordada, seu médico a encoraja a escrever um diário, para ela ler todos os dias e ir somando as memórias. No entanto, algumas peças do quebra-cabeça da sua identidade não parecem se encaixar. Será que Ben está mentindo? Em quem Christine pode confiar? São essas questões que ficam na mente do leitor durante a leitura.

A primeira parte do livro chama "Hoje" e começa com um dia normal da vida da Christine, ou seja, com ela completamente confusa. Essa parte é interessante por nos colocar na mente de uma amnésica e assim tentamos entender como é o seu cotidiano. Depois passamos para o diário dela, que corresponde a grande parte do livro. No início, achei legal essa parte, mas depois de um tempo ficou um tanto repetitivo e fiquei me questionando quando é que algo emocionante ia acontecer, porque no começo a gente nem sabe quais são as perguntas para serem respondidas, mal sabe o que está estranho na história. Afinal de contas, ela não se lembra das coisas e passa muito tempo sem nem desconfiar de nada.

Aí chega a parte final, que volta ao tal "Hoje". Temos a revelação, que achei bem razoável: não é completamente óbvia nem surpreendente do tipo de ser completamente inverossímil. Ela se encaixa no que a história pretende ser, embora se pensarmos melhor sobre isso acabe ficando um pouco irrealista, é bem verdade.

Os personagens são bem construídos, mas eu não liguei para nenhum deles. Achei inclusive que alguns foram retratados de forma positiva demais, considerando que *insira spoiler aqui*. Não me importei com o núcleo familiar da Christine, que tem um tom de melodrama que não é meu estilo.

Por fim, apesar de não ser um livro perfeito, é um suspense muito eficaz para leitores ocasionais do gênero, como eu. As quatrocentas páginas passam rápido mesmo nas partes mais tediosas. A adaptação para o cinema não parece ter feito muito sucesso, mas pretendo assistir algum dia.

Avaliação final: 3,5/5

quinta-feira, 24 de março de 2016

Anime: Shigatsu wa Kimi no Uso

Depois de um tempinho sem postar nada, pelos motivos de sempre — aquela falta de ânimo causada pela falta de tempo —, eu volto com uma resenha de um anime que vi no ano passado, porque sempre tem resenhas atrasadas para publicar.


Shigatsu wa Kimi no Uso conta a história de Kousei, um jovem prodígio do piano que abandonou os estudos do instrumento após sua mãe morrer. Quando ele conhece Kaori, uma violinista, ele é obrigado a encarar novamente seu passado e volta a tocar.

Em resumo, a história é uma mistura de Whiplash, com a busca incessante pela perfeição, com As variações de Lucy, tratando dos dilemas com o instrumento e os traumas do passado. Fiquei interessada pelo anime por causa da música, mas infelizmente ele trata de outros elementos também: é claro que tinha que haver romancinho e drama na história. E para mim eles realmente não funcionaram.


A Kaori é pouco desenvolvida e fica naquele estereótipo de personagem-feminina-livre-e-feliz-que-servirá-apenas-para-o-protagonista-se-desenvolver, estilo manic pixie dream girl. E o fato é que eu não me importei com ela, e inclusive gostei bem mais da Tsubaki, amiga de infância do Kousei que gosta dele — quem não se apaixonaria também por alguém tão sem carisma? —, porque ela é bem mais real, chegando a ser bem irritante às vezes.

O ritmo do anime é bem irregular. Eu fiquei bem interessada nos episódios que focavam nas competições,  mostrando os antigos rivais do Kousei e mais sobre o seu passado como "metrônomo humano". Cheguei a assistir quatro episódios em seguida, o que é bastante para mim, que não sou grande adepta das maratonas. Mas o anime também tem episódios arrastadíssimos e que eu queria que acabassem logo. Vi o anime, de 22 episódios, em 243 dias, o que é mais lento do que minha média para séries desse estilo.

A arte é boa, mas tenho um pouco de preguiça desse estilo de cenas bonitas com monólogo interior. Vi algumas pessoas reclamando da parte cômica do anime, enquanto eu particularmente achei os momentos leves muito melhores do que os dramáticos, que chegam a ser bregas. Minhas cenas favoritas foram as da infância e eu adoraria um anime que só focasse nisso.

Enfim, acho que parte do meu problema com Shigatsu é que o anime é muuuito elogiado e ver as pessoas se emocionando tanto só me deixou com pontos de interrogação na cabeça (e um pouquinho de raiva, admito), porque não senti nada disso. É um anime ruim? Não, mas o melodrama não me pegou — e para não dizer que eu tenho algo contra melodrama, eu adoro AnoHana

Em resumo, não é um anime que eu recomende vivamente, mas também não é ruim, e os fãs dele me incomodam mais do que a série em si.

Avaliação final: 3/5

quinta-feira, 3 de março de 2016

Dash & Lily's Book of Dares, Rachel Cohn e David Levithan

You could be standing a few feet away — Clara's dance partner, or across the street taking a picture of Rudolph before he takes flight. I could have sat next to you on the subway, or brushed beside you as we went through the turnstiles. But whether or not you are here, you are here — because the words are for you, and they wouldn't exist if you weren't here in some way. This notebook is a strange instrument — the player doesn't know the music until it's being played.
Eu gostei bastante de Nick & Norah - uma noite de amor e música, então quando soube que os autores haviam lançado mais livros nesse estilo fui correndo colocar na listinha para ler. Demorou, mas um dia bateu aquela vontade de ler um YA, não tinha nenhuma leitura obrigatória para fazer ah, a liberdade de não participar de nenhum desafio literário... — e peguei o Dash & Lily's Book of Dares da estante. 

O livro segue a mesma lógica de Nick & Norah: o David Levithan escreve pelo menino, Dash, e a Rachel escreve a parte da menina, a Lily. Eles não se conhecem até que Dash encontra um caderno na sua livraria favorita com um desafio para cumprir. Ele resolve o desafio e decide continuar jogando, deixando novas dicas para quem encontrar. Assim, sem se conhecerem pessoalmente, Lily e Dash vão trocando mensagens e desafios e se conhecendo melhor, sempre se perguntando se a outra pessoa que escreve é como imaginam que ela seja.

É importante dizer que é um livro natalino. O Natal está presente em toda a história, com a contraposição forte entre Lily, que ama a data, e Dash, que odeia. Essa diferença entre os dois se acentua com outros aspectos da personalidade deles: Dash tem jeito de hipster, é sarcástico e tenta ser cool, enquanto Lily é mais ingênua, fofa e feliz. Enquanto eles estão apenas trocando mensagens, gostei bastante de ambos os lados. Não são personagens que eu amei, mas eles têm lá a sua simpatia e a escrita é boa o suficiente para prender a atenção. Mas quando eles se juntam, senti que não era bem isso que eu esperava. Faltou química, acho, ou melhor: faltou que eu sentisse a química. Eu, que torcia tanto para vê-los juntos, fiquei decepcionada quando isso aconteceu, ou por causa da forma que aconteceu.

Então posso dizer que não é um dos meus YAs favoritos. É bonitinho, uma boa leitura para momentos de tédio, mas alguma coisa não se encaixou. Faltou sentimento, não sei. Pelo que vi no Goodreads, o livro aparentemente vai ter uma continuação, que talvez eu até leia algum dia. Mas continuo preferindo Nick & Norah, até pela temática: sou muito mais fã de música do que do Natal.

Avaliação final: 3,5/5