quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Patinação: Grand Prix, um resumo e previsões do final

Olá. Vocês esperavam que o blog de repente mudasse o foco de literatura para patinação no gelo? Eu não esperava. Mas o mundo traz muitas surpresas, assim como os resultados desse Grand Prix. A ideia é fazer uma recapitulação completamente parcial do que aconteceu e depois falar sobre o Grand Prix Final, que começa amanhã. Então vamos lá!

Rostelecom Cup
O primeiro Grand Prix do ano foi provavelmente o menos surpreendente, o início que não trouxe nenhuma dose exagerada de estranhamento. No masculino, quem a gente esperava ficou no pódio, ainda que não necessariamente na ordem prevista — eu acreditei no ouro de Yuzuru, ainda que a regra seja a de que ele nunca ganha o primeiro GP do ano. Em pares e em dança, a Rússia mostrou a sua dominação, mesmo que não tenha conseguido impedir o ouro dos Shibutani. A maioria dos programas aqui foi vista pela primeira ou segunda vez, e é difícil julgá-los desse jeito: é preciso um pouco de tempo para eles crescerem, embora às vezes meu gosto dependa simplesmente do meu humor na hora. A Rostelecom Cup consolidou minha apreciação pelo programa curto do Nathan, provavelmente meu curto favorito do masculino nessa temporada, pelos dois programas da Wakaba e pela dança curta de Gilles e Poirier — queria amar a dança livre também mas me parece vazia demais. Continuei sem me apaixonar pelos programas da Carolina, uma pena, e o resto eu esqueci ou não é digno de nota. É isso o que dá escrever semanas depois do acontecido...

Quando tudo ainda parecia normal (fonte)

Skate Canada
É aqui, diz o povo, que tudo começou a desandar. Patrick Chan ficou em 4º no GP que é praticamente dele e o painel técnico do feminino decidiu que 45897 dos saltos foram under-rotated. Nesse Grand Prix, os pares eram a categoria mais interessante e fizeram uma competição forte, com um pódio todo formado por possíveis medalhistas olímpicos. Eu não gosto tantos dos programas desse ano de Savchenko/Massot e de James/Cipres comparando com os do ano passado, mas fico feliz com o esforço coreográficos desses times, que desenvolvem um estilo próprio em seus programas. Peng/Jin não tiveram tanto espaço para brilhar com essa competição, mas gosto bastante deles e dos seus programas e acho que eles têm muito potencial. 
No masculino, Shoma ganhou o ouro com falhas, mas sua pontuação foi a mais alta de todos os GPs do ano e eu aprendi a gostar um pouquinho mais dos seus programas, ainda que não o suficiente para não continuar decepcionada. Jason Brown fez seu trabalho para ficar com a prata e Samarin aproveitou a queda de Patrick para entrar no pódio, usando seus saltos difíceis como trunfo e apresentando programas tipicamente russos — ou seja: com pouca coreografia, cortes musicais estranhos e roupas feias. Mura teve performances fraquíssimas que o deixaram em último lugar e trouxeram dúvidas se ele ainda tem chances de ficar com a terceira vaga do Japão nas Olimpíadas. Ele também abandonou o SP moderninho ao som de "Too close" e retornou para o flamenco do ano passado, para a minha tristeza.

A única queda de Patrick Chan que queríamos ter visto (fonte)

No feminino, Kaetlyn não fez mais que a obrigação ao ganhar, com um curto limpo e um longo atrapalhado, como é típico dela. Sotskova fez o que precisava para garantir a prata e Ashley foi um tanto decepcionante, mas conseguiu o terceiro lugar. Marin Honda não teve a estreia que ela e seus fãs desejavam, mas dá para dizer que o Turandot dela foi o destaque entre os programas longos do feminino. Anna Pogorilaya parecia ter voltado à sua boa forma quando ficou em segundo no programa curto, mas teve um longo sofrido e difícil de assistir, desistindo mais tarde de participar do seu outro GP por estar machucada, uma pena e melhoras para ela! 
Na dança, Tessa e Scott obviamente ficaram no topo, e talvez a influência canadense foi o que deixou Weaver e Poje na frente de Hubbell e Donohue. Foram várias performances sólidas, que fortaleceram a ideia de que dança está muito competitiva nessa temporada, além de ser interessante ver a variedade dos programas — diferente do ano passado, em que o estilo mais lírico a la Papadakis/Cizeron reinava. 

Cup of China
O primeiro dos GPs com horários ingratos para nós, mas surpreendentemente até que deu para assistir bastante, e só perdi a dança ao vivo em favor do meu bom sono. A Cup of China é popularmente conhecida como Cup of Disasters, mas até que o desastre não foi tãão grande comparando com as competições seguintes.
A categoria desastrosa, como sempre, foi o masculino. Boyang fracassou na tentativa de finalmente ganhar um GP, mas pelo menos conseguiu a prata. Javier acabou com um problema no estômago e o pódio que parecia tão fácil de alcançar deu espaço para um amargo sexto lugar. Quem aproveitou a oportunidade foi Kolyada, que fez um belo quádruplo lutz no programa curto e bateu os 100 pontos (e depois flopou no longo como esperado). O bronze ficou com Max Aaron e o quarto lugar com Vincent Zhou, mostrando que a disputa pelas vagas americanas pode ser menos previsível do que o esperado. Keiji fez um programa curto limpo(!) e depois acabou caindo antes de fazer um dos saltos no programa longo. Uma pena, mas ele conseguiu um personal best no curto e pareceu estar em boa forma para quem estava machucado há pouco tempo. Han Yan mostrou que está recuperado após os problemas no ombro e fez performances medianas para boas, ficando com o quinto lugar. Eu amo o fato de que o programa curto dele é de "A thousand years", ele realmente é o Edward Cullen.

A melhor gala entre os Grand Prix (fonte)

Nos pares e na dança, não tivemos muitas surpresas: Sui e Han ficaram com o ouro, com boas performances, mas os programas não são tão marcantes quanto os da temporada passada. Yu/Zhang terminaram com a prata e Moore-Towers/Marinaro com o bronze. Na dança, Papadakis/Cizeron bateram recordes, com mais de 200 pontos, e Chock/Bates ficaram acima de Bobrova/Soloviev. Nenhum deles tem programas que eu amo, mas os longos são agradáveis de assistir e provavelmente vou gostar mais da Sonata ao luar dos franceses com o tempo, como aconteceu com outros programas deles.
A categoria feminina foi a mais empolgante aqui, com a novata Zagitova garantindo seu ouro e três japonesas duelando entre si. Wakaba se saiu melhor, com dois programas limpos. Mai Mihara ficou o quarto lugar, embora talvez merecesse o bronze, e Marin ficou em quinto. As duas são simpáticas, mas Wakaba me encanta bem mais. Radionova ficou com o bronze e Gabrielle Daleman perdeu a liderança no programa curto após fazer um longo fraco e terminou em sexto lugar.
 
Um bom kiss and cry, oferecimento de Marin Honda (fonte)

NHK Trophy
Drama. Se o Skate Canada é o GP do Patrick, o NHK é o do Yuzuru, certo? E ele estava pronto para ganhar, ainda mais com a desistência do seu maior concorrente, Patrick, por motivos que até agora não foram bem explicados (cansaço, falta de vontade para viajar e competir, algum machucado misterioso?). Até que Yuzuru caiu em um quádruplo lutz durante o treino e se machucou. Ele teve que desistir da competição, e após vencer quatro vezes o GPF, dessa vez nem pôde se qualificar. Então tivemos um pódio improvável e velho, com Voronov ganhando, Adam Rippon em segundo lugar, com uma performance maravilhosa do seu programa longo, e Bychenko em terceiro, mostrando o poder dos tiozões. Jason decepcionou e ficou em quarto e Kazuki Tomono, chamado para substituir Daisuke Murakami, fez uma boa estreia no GP sênior, ficando em sétimo lugar.

Também fiquei assim depois da sua performance, Adam (fonte)

Na categoria feminina, não tivemos grandes surpresas. Evgenia ganhou, ainda que caindo, e os boatos de que estava machucada já foram confirmados. Ela teve que desistir da sua participação no GPF, e melhoras para ela! Carolina ficou em segundo e Polina Tsurskaya conseguiu o bronze. Será que o pódio do nacional russo será composto só por garotas treinadas pela Eteri? É bem possível.
Os horários péssimos me impediram de ver os pares ao vivo, e acabei nem tendo vontade de acompanhar tudo pelo Youtube depois, visto que já conhecia a maioria dos programas apresentados. Mas vi o programa de Sui e Han que bateu o recorde e parabéns para eles! Ainda acho uma escolha não tão boa, mas entendo o raciocínio por trás dela e é bem capaz que eles tenham seu próprio momento olímpico de glória com Turandot.

Depois de bater um recorde já pode trocar de parceiro? (fonte)

Também não vi a dança curta porque, convenhamos, dá para passar sem essa. A dança livre, no entanto, foi muito legal e foi um dos momentos em que eu estava toda animada e pensando "eu amo patinação". Gosto bastante dos programas dos dinamarqueses Fournier Beaudry/Sorensen e dos japoneses Muramoto/Reed. Coomes/Buckland não tiveram o retorno ao GP que esperavam, e apesar de eu gostar de alguns levantamentos deles acho o programa em si um pouco sem graça.

Internationaux de France
A França é conhecida pelos seus GPs com problemas estruturais, e dessa vez não foi tão diferente. Há quem diga que foi um desastre (muitas quedas provavelmente devido ao gelo ruim, uma falha técnica no sistema de pontuação na hora de dar a nota dos italianos Della Monica/Guarise, um 0,25 suspeito nos protocolos de Weaver/Poje, e, bom, as estrelas em vez de medalhas), mas quem estava lá garante que não foi tão desorganizado assim, e muitos dos problemas nem devem ser culpa da organização.

E os vencedores das maiores estrelas são... (fonte)

Nessa altura, já estavam sendo delineados os participantes do GPF. Zagitova confirmou seu favoritismo, entregando outro programa curto com uma performance bagunçada para corrigir no longo sem falhas, e Kaetlyn Osmond sofreu no longo, mas conseguiu um bronze. Quem se deu bem, de novo, foi Maria Sotskova, que ficou com a prata e outra classificação para o GPF. Yuna Shiraiwa foi a única a fazer uma performance completamente limpa no programa curto, mas uma queda no longo a tirou de um possível pódio. Mai Mihara e Elizabet Tursynbaeva conseguiram apresentar programas longos limpos, e ficaram respectivamente em quarto e quinto lugar, um resultado talvez decepcionante para a japonesa, que era vista por muitos como a favorita para uma das vagas olímpicas do Japão mas não conseguiu se classificar para o GPF, com dois quartos lugares, mas bom para a garota do Cazaquistão, que bateu a marca dos 200 pontos no total.
No masculino, Javier mostrou que o desastre da Cup of China foi apenas uma pequena mancha no currículo, e fez uma ótima apresentação do programa curto e um longo meio ruim, mas dentro do esperado. Shoma também flopou no longo, o que era previsto por todos os boatos que diziam que ele ficou doente após o Skate Canada e não teve muito tempo de treino. Misha Ge mostrou que nem só de quádruplos se fazem os campeões e conseguiu sua primeira medalha no Grand Prix, um respeitável bronze ou a menor estrela azul. Queria amar tanto os programas dele quanto o resto do mundo; eu gosto bastante do longo normalmente, mas não aprendi a apreciar o curto e gostaria que ele seguisse outro caminho que não o clássico em algum dos programas. Mas se o clássico ajuda nas notas dos juízes e na consistência dele, não há o que fazer, né? Vincent sofreu nesse GP e mostrou que talvez não esteja tão preparado para fazer 13092 quádruplos como algumas pessoas gostariam. Kevin Aymoz mostrou seus programas novos, e apesar da sua técnica de saltos não ser das melhores, vejo muita qualidade na parte artística dele, que é capaz de interpretar a música com bastante naturalidade.

Quando você sabe que arrasou (fonte)

Tarasova/Morozov mostraram sua força ao ficar em primeiro, ainda que seus erros no longo deixaram a dúvida se o ouro foi mesmo merecido em relação aos franceses James/Cipres, favoritos dos fãs. Peng/Jin sofreram de novo, ficando em quinto lugar, e os italianos Della Monica/Guarise, que tiveram que esperar muito tempo pela sua nota, conseguiram um respeitável bronze ou a menor estrela verde.
Na dança, Papadakis/Cizeron bateram seu próprio recorde, consolidando a ideia de que a disputa entre eles e Tessa e Scott não será tão previsível. Weaver e Poje tiveram problemas nos twizzles e terminaram em quarto e fora do GPF, o que talvez seja uma boa considerando que ambos disseram estar com problemas de saúde. Chock/Bates então tiveram espaço para outro segundo lugar, e Stepanova/Bukin repetiram também o seu bronze.

Skate America
O que dizer dessa competição, que fez todos os GPs anteriores parecerem muito bons e sem desastres? Além de todas as desistências e substituições antes do Skate America começar, três pessoas desistiram durante a competição, duas delas durante os próprios programas, e encaramos diretamente a face mais trágica da patinação: a dor. Mas nem só de coisas ruins se faz um GP — embora há quem diga o contrário — e o Skate America também trouxe surpresas boas. 
No feminino, as japonesas Satoko Miyahara e Kaori Sakamoto terminaram no pódio com programas limpos, e tivemos uma competição, o programa livre, sem quedas, ainda que com pops, aterrissagens ruins e a desistência de Ashley no meio do seu programa. Polêmicas de pontuações e under-rotations à parte, foi bom ver algumas garotas mostrando que, favoritas ou não, vão dão seu máximo nas suas apresentações. Dito isso, é notável a diferença na qualidade de interpretação entre Satoko e o resto, a maioria delas júnior há uma ou duas temporadas. Ainda que eu não ame até agora os programas da japonesa e às vezes me incomode com seus saltos baixos, só o movimento dos braços dela é mais elegante e musical do que toda a expressão corporal inteira de várias garotas. Kaori tem belos saltos, e gosto mais do programa livre ao som de O fabuloso destino de Amélie Poulain do que muita gente, talvez mais devido à música do que ao programa em si, mas ainda falta um tanto de amadurecimento para chegar ao topo. Bradie Tennell confirmou a impressão de que pode sim entrar na equipe olímpica dos Estados Unidos, com um bronze aqui, performances limpas e a maior nota entre todas as americanas nos Grand Prix. Ela não seria uma concorrente tão forte a ponto de esperar por uma medalha olímpica como talvez as outras tenham alguma chance, mas sua consistência também poderia ser a chave para barrar desastres maiores. Não é a minha torcida, mas segue a vida... 

Adoro ver patinadores felizes (fonte)

No masculino, Nathan fez o suficiente para conseguir o ouro, e foi o único homem que conseguiu o primeiro lugar em seus dois GPs. Adam conseguiu a prata e a classificação para o GPF após deslocar o seu ombro durante o programa longo e nos trazer uma sensação de déjà vu após o machucado de Samohin (melhoras para os dois!). Voronov também se classificou para o GPF, assim como Boyang, que infelizmente teve que ficar em casa por causa de suas lesões (melhoras!). Han Yan ficou novamente em quinto, e os três homens canadenses decepcionaram, deixando claro que qualquer coisa pode acontecer nos nacionais.
Na dança, os Shibutani e Cappellini/Lanotte confirmaram seu favoritismo, e o bronze ficou com os russos Sinitsina/Katsalapov, mostrando que algo não está funcionando nos programas de Gilles/Poirier aos olhos dos juízes — eu continuo gostando do curto e achando o longo entediante em alguns momentos. Foi uma competição com duplas fortes e conhecidas, mas por algum motivo não consegui aproveitar tanto.
Nos pares, Savchenko/Massot tiraram o thrown triple axel do programa e foram mais consistentes, e problemas na execução de Duhamel/Radford deixaram a prata com Yu/Zhang, que ainda aproveitaram para fazer programas limpos no caminho. Esse pódio estará todo no GPF, e veremos como as coisas serão em Nagoya.

Grand Prix Final
Não dá para falar muito do que ainda não aconteceu, então vou focar nas minhas previsões e no que eu queria que acontecesse. Até gostaria de escrever sobre o júnior, mas já ocupei espaço demais falando abobrinhas.

Masculino
Previsão: 
1. Shoma Uno — porque os erros dele podem ser menos custosos que os do Nathan. Mas ele está sob maior pressão também, então não dá para saber.
2. Nathan Chen — será que ele já resolveu os problemas com os patins?
3. Mikhail Kolyada — é o que tem maior chance dada a pontuação técnica, e dependendo dos erros alheios pode até subir mais no pódio, mas será que ele consegue ser limpo?
4. Adam Rippon — deve estar confiante após as duas pratas, mas o deslocamento no ombro pode ter atrapalhado seus planos.
5. Sergei Voronov — pareceu razoavelmente consistente nas últimas competições, mas pode ter o menor PCS de todos.
6. Jason Brown — não acho que ele tenha muito mais chance que Adam e Sergei de ficar em último, mas dado o fato de ele ter sido chamado para substituir Boyang, vou supor que sua preparação foi menor.

Sonho:
1. Shoma/Nathan  — seria legal ver o Shoma ganhando na cidade dele, mas honestamente já não torço tanto para ele. O Nathan tem programas mais legais, então seria bom ele ter um reconhecimento disso, visto que eu não o quero no pódio das Olimpíadas, risos.
2. Shoma/Nathan
3. Adam — eu só não ponho o Adam em primeiro porque isso significaria que Nathan e Shoma floparam muito, mas estou aceitando qualquer lugar no pódio para ele sim.
4. Mikhail — até gosto do programa curto dele e adoraria vê-lo fazendo pelo menos um quádruplo lutz limpo no GPF.
5. Jason/Sergei — eu gosto mais do Jason, mas poderia deixar o Sergei acima pela sua consistência.
6. Jason/Sergei

Feminino
Previsão:
1. Alina Zagitova — pela pontuação técnica. Resta saber se os nervos dela aguentarão a pressão, ainda mais depois da questão dos atletas russos nas Olimpíadas.
2. Carolina Kostner — já provou que pode ir para o pódio mesmo com erros, dado o seu PCS.
3. Satoko Miyahara — se tiver as mesmas performances do Skate America, tem boas chances de pódio, porém depende do desempenho das outras e do painel técnico.
4. Kaetlyn Osmond — não dá para prever o desempenho da Kaetlyn, que pode ganhar ouro se for limpa e ficar em último se apresentar um longo desastroso.
5. Wakaba Higuchi — se tiver a mesma consistência das outras competições na temporada, pode ficar acima também.
6. Maria Sotskova — é a mais dependente do resto, já que normalmente é consistente mas não tem PCS muito alto nem grandes GOEs nos saltos.

Sonho:
1. Wakaba — eu finalmente tenho uma favorita no feminino!
2. Satoko — seria bom ver Satoko mantendo a consistência no pódio do GPF.
3. Kaetlyn — eu sinto que meio mundo a odeia, mas gosto dos seus saltos e do seu programa curto.
4. Maria Sotskova — uma boa posição no GPF a deixaria mais favorável como a terceira russa para participar das Olimpíadas, mas não sei se ainda dá para discutir do mesmo jeito o time olímpico russo.
5. Carolina Kostner — não tenho opinião formada.
6. Alina Zagitova — vê-la em último de verdade seria triste, mas é de quem eu menos gosto.

Pares
Previsão:
1. Sui/Han — e espero que batam mais uns recordes no meio do caminho.
2. Tarasova/Morozov — parecem ser consistentes.
3. Savchenko/Massot — talvez fiquem melhores após voltar ao programa curto da temporada passada.
4. Duhamel/Radford — também podem estar no pódio facilmente.
5. Yu/Zhang — dependem um pouco dos erros alheios mesmo se forem limpos.
6. Stolbova/Klimov — não sou capaz de opinar.

Sonho:
1. Sui/Han
2. Savchenko/Massot
3. Yu/Zhang
4. Stolbova/Klimov
5. Tarasova/Morozov — eles têm bons elementos, só que os programas são ruins.
6. Duhamel/Radford — eu gosto do Eric fora do gelo e não odeio a Meagan como meio mundo, mas os dois juntos no gelo não têm muita personalidade.

Dança
Previsão:
1. Virtue/Moir — sei que P/C tiveram pontuações melhores nos Grand Prix, mas não sei quem vai ganhar quando as duplas estiverem na mesma competição.
2. Papadakis/Cizeron
3. Shibutani/Shibutani — tiveram pontuações mais altas que quem está abaixo deles nas minhas previsões, mas não sei se estão tão sólidos como bronze.
4. Hubbell/Donohue — talvez tenham a chance de um terceiro lugar? Veremos.
5. Chock/Bates — só coloquei acima de C/L porque supostamente os italianos são piores em atingir os níveis, mas não faço ideia do que estou falando.
6. Cappellini/Lanotte

Sonho:
1. Papadakis/Cizeron — podiam ter notas menores na dança curta, mas...
2. Shibutani/Shibutani — ainda prefiro Fix you, mas...
3. Virtue/Moir ou Hubbell/Donohue — não sei o quanto eu gosto de V/M, e até gosto dos programas de H/D, mas...
4. Virtue/Moir ou Hubbel/Donohue
5. Chock/Bates
6. Cappellini/Lanotte — eu não gosto muito deles. Pronto, falei.

Depois de escrever tudo isso fiquei até cansada. E é bom dormir cedo, porque nos próximos dias vou acordar cedo e viver as milhares de emoções do Grand Prix Final!

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Os (realmente não tão) últimos filmes que eu vi #21

1- Divertida mente (Pete Docter e Ronnie Del Carmen, 2015)
Comentei sobre o filme aqui. Avaliação: 3,75/5

2- O substituto (Tony Kaye, 2011)
Esse filme estava há muito tempo na minha lista porque gosto de histórias sobre professores e vou com a cara do Adrien Brody. O substituto é menos convencional do que eu esperava, embora em outros aspectos seja bem tradicional, e ainda não sei o que pensar do protagonista. A escola na qual ele é substituto não vai bem, cheia de alunos problemáticos, mas ele consegue fazê-los prestar atenção. Mas não é um filme sobre como um professor salvou a escola ou algo do tipo, e inclusive o tom do protagonista é um tanto niilista. Além disso, outras esferas da vida dele são exploradas, como a família e seu relacionamento com uma jovem que encontrou na rua. Avaliação: 3,5/5

3- Brooklyn (John Crowley, 2015) 
Comentei sobre o filme aqui. Avaliação: 3/5 

4- Apenas uma vez (John Carney, 2007) 
Finalmente vi esse filme, também conhecido como o filme da música "Falling slowly", que as pessoas sempre cantavam no The Voice ou no American Idol. A história é um garoto encontra garota, mas embora haja amor envolvido, o foco é a música — e a trilha sonora é bem legal. O filme tem uma hora e meia e passa bem rápido. Não me marcou particularmente, mas como bastante gente se emociona assistindo fica a recomendação. Avaliação: 3,75/5

5- O quarto de Jack (Lenny Abrahamson, 2015)
Comentei sobre o filme aqui. Avaliação: 4/5 

6- O Grande Hotel Budapeste (Wes Anderson, 2014)
Gosto dos filmes do Wes Anderson, mas também não sou apaixonada. O Grande Hotel Budapeste segui esse caminho também. É um filme excêntrico, com personagens curiosos, cenários bonitos e uma história pitoresca. É bem divertido de assistir, mas não faz meu coração bater mais forte, sabe? Faltou alguma coisa para isso, algo que me fizesse arredondar a nota para cima. Talvez seja questão de expectativa, tanta gente amou e eu acabei esperando mais por causa disso. Quem sabe se fosse meu primeiro filme do diretor a experiência fosse outra. Avaliação: 3,75/5

7- Apenas duas noites (Max Nichols, 2014) 
Queria ver esse filme porque gosto da Analeigh Tipton e do Miles Teller. É uma comédia romântica com um enredo bem simples: o casal fica junto por uma noite logo após de se conhecer e na manhã seguinte eles não podem sair de casa por causa de uma nevasca, então são obrigados a conviver por mais tempo do que pretendiam. É aquela coisa de homem e mulher que não querem lidar um com o outro, momentos constrangedores, gente falando besteira, mas sempre com alguma química. Completamente clichê, mas funciona bem, então por que não? Os dois personagens são meio babacas, ele bem mais que ela, mas torci para eles ficarem juntos. E meio que me identifiquei com a relação do personagem do Miles Teller com o campo profissional e fiquei chocada com o fato de que agora sou adulta o suficiente para até que entender essas coisas(!). Avaliação: 3,5/5

8- Digimon Adventure tri. Ketsui (Keitaro Motonaga, 2016)
Sim, eu insisto no erro até o fim. Depois de não ter gostado muito do primeiro, é claro que fui correndo ver o segundo Digimon tri. quando lançou, porque a curiosidade estava me matando e esses revivals são o tipo de coisa que a gente precisa ter uma opinião a respeito, mesmo que seja para falar mal. Bom, eu gostei mais desse do que do primeiro, porque ele tem mais cenas cotidianas e clichês típicas de animes como a ida na casa de banhos e o festival escolar. Eu honestamente não dou a mínima para as lutas e para a parte de ação. O filme foca mais nos dilemas de Mimi e Joe, que apesar de serem pouco aprofundados, são mais críveis do que os de Tai e a famigerada cena do celular quebrando. O enredo mais importante, sobre a questão digital, só se desenvolve lá no final, bem rapidamente, mas eu também não ligo para isso — é apenas uma crítica quando ao ritmo. Enfim, é bom? Não. Mas melhorou em relação ao primeiro. Aguardemos os próximos capítulos (spoilers: são ruins). Avaliação: 3/5

9- Parceiras eternas (Susanna Fogel, 2014)
Outro sobre jovens de vinte e tantos anos, no caso quase trinta, e com atores legais: temos Blair Waldorf e Seth Cohen no elenco! Mas no filme a Blair, quer dizer, a Leighton, interpreta uma personagem lésbica. Ela tem uma BFF hétero que começa a namorar com o personagem do Seth Adam Brody e por causa disso a amizade das duas garotas começa a sofrer. Achei interessante a diferença de perfil das duas mulheres — uma delas é uma advogada bem sucedida, a outra está investindo na carreira musical e tem o emprego de recepcionista para pagar as contas. É um filme simpático e sincero, que me sentir e pensar sobre a vida. Objetivamente, não sei explicar porque gostei tanto: o filme é clichê, o destino da personagem da Leighton podia ter sido melhor explicado, etc., mas às vezes a gente não precisa ficar procurando motivos racionais e deve aceitar os sentimentos. É um filme que me fez bem, e isso é mais que o suficiente. Avaliação: 4/5

10- Força maior (Ruben Östlund, 2014)
Eu provavelmente conheci esse filme por alguma crítica no jornal, achei interessante o mote — o relacionamento de um casal desanda depois que o homem foge de uma avalanche sem se preocupar com a mulher e com os filhos — e coloquei na lista para ver. É um filme que traz bastante reflexão, sobre papéis de gênero e a contemporaneidade, sobre relacionamentos e sobre a Europa, porque é sobre gente rica que passa as férias num resort de ski, e o diretor deixa bem claro o quanto eles são ricos de dinheiro e pobres de espírito. Além dessas discussões, o filme é visualmente bem impactante, com tomadas de montanhas, da imensidão da neve e de coisas que não identifiquei porque não sei como funciona um resort de ski. Para resumir, Força maior é um desses filmes europeus que me fez me sentir inteligente porque entendo parte do que ele está querendo dizer, e não é mais do mesmo em questões artísticas. Avaliação: 4/5 

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

TAG: Patinação

Como imagino que dê para perceber em alguns dos meus posts mais atuais, ando viciada em patinação artística no gelo. Acompanhei um pouco do final da temporada anterior e agora estamos no início da temporada olímpica. Decidi responder essa tag porque seria interessante contrastar a minha visão no início da temporada com a do final. Sou uma pessoa que prefere programas interessantes à qualidade geral de patinação, então minha opinião sobre um patinador pode mudar muito dependendo dos seus programas. Copiei as categorias da minha irmã mas, assim como ela, retirei ou alterei algumas coisas que não consigo responder.

- Patinador favorito (em geral)
Foi o Shoma Uno que, de certa forma, me trouxe de volta para a patinação. Não foi de primeira que eu gostei dele — me lembro de quando vi o mundial de 2016 e fiquei meio "???" porque ele era o queridinho da minha irmã (não ajuda o fato de que, bom, eu preferia esquecer o desempenho do Shoma nessa competição) —, mas aos poucos eu fui conquistada pela sua musicalidade, pela presença no gelo e pelo contraste entre sua personalidade intensa patinando com o jeito tímido e perdido fora do gelo. Estou bem decepcionada, admito, com suas escolhas para essa temporada, mas o Shoma continua sendo o único patinador que eu realmente acompanho fora do gelo, por notícias, pela fan fest do Golden Skate, por Tumblr de fãs e afins.

Shoma também é habilidoso nos dardos! (fonte)

 - Homem sênior
Shoma Uno, vide resposta acima.

- Mulher sênior
Não tenho uma grande favorita, mas escolho a Wakaba Higuchi.

- Par sênior
Sui/Han ou Savchenko/Massot. Na temporada de 2016/2017, o programa longo de S/M me deixou impressionada, assim como o curto de S/H. Considerando que os chineses vão de Turandot no longo, em um caminho mais previsível, diria que estou pendendo mais para preferir os alemães, mas ainda não vi os programa novo de nenhum deles.

- Dupla de dança sênior
Papadakis/Cizeron. Eles fazem programas longos parecidos? Fazem sim, mas não se mexe em time que está ganhando (ou em segundo lugar, hehe) e acho tudo lindo.

Papadakis/Cizeron (fonte)

- Homem júnior
Donovan Carillo, pelo pouquíssimo que acompanhei da categoria júnior. Só vi o programa longo dele no JGP da Austrália, mas já fui conquistada.

- Mulher júnior
Anastasiia Gubanova porque sou óbvia. Gosto de várias japonesas também, mas não o suficiente para escolher uma.

- Par júnior
Não assisto o suficiente, mas torço pelos australianos Alexandrovskaya/Windsor só porque acho legal ver gente de federação pequena no topo.

- Dupla de dança júnior
Carreira/Ponomarenko por causa da dança livre deles.

- Disciplina favorita
É uma questão. Sou mais emocionalmente ligada aos competidores principais do masculino, mas a categoria júnior é a mais chata de assistir. Amo a dança livre e acho uma tristeza que pouca gente se importe com essa categoria, mas não faço questão de ver todas as danças curtas. As mulheres são em geral mais interessantes, mas a previsibilidade do primeiro lugar na categoria sênior me fez perder um pouco do interesse. Ou seja, todas menos pares, talvez? Mas até gosto bastante de pares, acho que os que estão no topo atualmente têm estilos variados e estão inovando um pouco nos elementos.

- Pódio dos sonhos no masculino
Todo mundo ganha! Eu gostaria de medalhas para o Patrick, o Yuzuru, o Shoma e o Javier (ele pode ficar com bronze porque a medalha seria mais pela importância de uma medalha para a Espanha do que por eu querer que ele ganhe, risos). Mas também não odeio ninguém e aceito Nathan ou Boyang no pódio. Só quero que todos patinem bem e fiquem satisfeitos com as performances.

- Pódio dos sonhos no feminino
Queria uma medalha para a Satoko e uma para a Wakaba, mas a gente nem sabe se elas vão conseguir entrar na equipe japonesa. Acho que o único pódio que eu não gostaria é um com mais de uma garota treinada pela Eteri (e é bem possível que aconteça). Por exemplo, ficaria satisfeita com Evgenia, Satoko/Wakaba e uma americana ou canadense.

- Pódio dos sonhos nos pares
Sui/Han, Savchenko/Massot, James/Cipres, não sei a ordem ainda.

- Pódio dos sonhos na dança
Papadakis/Cizeron, Shibutani/Shibutani e Gilles/Poirier, mas aceito os pódios mais prováveis também com Virtue/Moir no topo.

- Pódio dos sonhos na competição por equipes
Canadá, Japão, China. Quero muito que o Canadá ganhe ouro, o resto não importa. Mas seria bem interessante que não fosse a tríade óbvia Canadá, Rússia e Estados Unidos.

- Mulheres para a equipe olímpica russa (3)
Quem eu quero: Evgenia Medvedeva, Anna Pogorilaya e... Elena Radionova? Não sei.
Quem eu acho que vai: Evgenia, Alina Zagitova e... Não sei, não estou por dentro das meninas russas.

- Mulheres para a equipe olímpica japonesa (2)
Quem eu quero: Satoko Miyahara e Wakaba Higuchi.
Quem eu acho que vai: Satoko se estiver saudável e na forma anterior e Mai Mihara, a não ser que de repente a Wakaba fique bem consistente.

Satoko e Wakaba (fonte)

 - Mulheres para a equipe olímpica americana (3)
Quem eu quero: Karen Chen, Mirai Nagasu e Ashley Wagner, nessa ordem de preferência.
Quem eu acho que vai: Karen, Ashley e Mirai, se o triple axel estiver consistente. Ou a Mariah Bell. Mas não duvido nada que alguma delas flope nos nacionais e alguém meio aleatório consiga a vaga (Bradie Tennell talvez?).

- Homens para a equipe olímpica americana (3)
Quem eu quero: Adam Rippon, Nathan Chen e Jason Brown, nessa ordem de preferência.
Quem eu acho que vai: Nathan Chen, Vincent Zhou e Jason/Adam. Ou Max Aaron, pelos quádruplos.

- Programa que você está mais empolgado para ver
O longo de Papadakis/Cizeron. Não estou muito feliz com a suposta escolha deles (Sonata ao luar), mas estou curiosa para ver como será. E, bom, eu meio que já vi a maior parte dos programas agora que os challengers já começaram.

- Escolha musical que você menos gosta
São tantas... A trilha sonora de Moulin Rouge está sendo usada demais nessa temporada, mas até aceito alguns programas se a pessoa consegue vender bem o drama. It's a man's man's man's world é usada demais e é um tanto ridículo que os patinadores não se importem com a letra dela (ou até concordem?). Também não gosto de algumas músicas bregas específicas de O fantasma da ópera ou de Os miseráveis, mas não sei dizer quais agora. E todos os repetecos, sem exceção, especialmente quem não vai apresentar nenhum programa novo (olá, Ashley, olá, Yuzuru).

- Warhorse favorito
Eu costumo gostar de tangos, de músicas do Abel Korzeniowski e do Ludovico Einaudi. Não são exatamente warhorses, mas é só assistir um Junior Grand Prix para ver o quanto elas são usadas. Em questão de warhorses, diria que gosto das músicas mais clássicas, mas tem exceções, tipo As quatro estações (olá, Shoma).

- Que patinadores/países que ainda não tem vaga você quer ver nas Olimpíadas?
Feminino: Isadora Williams (Brasil)
Masculino: Julian Yee (Malásia), Donovan Carrillo (México) e gostaria que o June Hyoung Lee conseguisse a vaga para a Coreia do Sul mas preferiria que quem fosse para as Olimpíadas fosse o Jinseo Kim ou o Jun Hwan Cha.
Pares: Ryom/Kim (Coreia do Norte) e Alexandrovskaya/Windsor (Austrália)
Dança: Muramoto/Reed (Japão)

Julian Yee (fonte)

Amanhã começa o Nebelhorn, que decidirá as vagas restantes. Quem sabe antes das Olimpíadas eu retorne a essa tag para ver o que aconteceu como eu queria e o que deu errado. Já estou ansiosa!

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Love, loss, and what we ate, Padma Lakshmi

It's funny to me that most of the cooking in the world is done by women, and yet when you look at modern Western cuisine, it's largely based on what a few dead Frenchmen have opined to be the correct way of doing things. (...) Cooking was something women did to nourish and nurture their families, whereas for men it was something they did professionally to gain money and status.
Love, loss, and what we ate foi uma leitura feita para o Ler além, na categoria biografia de mulher não branca. Descobri a existência do livro por acaso, em um e-mail de promoções de e-books, e achei que seria uma boa escolha para o desafio, visto que não tinha muitas opções em mente. Simpatizava o suficiente com a Padma como apresentadora do Top Chef, meu reality de culinária favorito, e o pouco que sabia de sua vida pessoal envolvia seu casamento com o escritor Salman Rushdie.

É claro que Padma entrega o ouro logo no começo, e inicia o livro falando do relacionamento com Salman: sobre como eles se conectaram de primeira e logo se apaixonaram, o drama de estar namorando alguém casado, como ela se sentia ao redor dos amigos escritores e intelectuais dele, e o que aconteceu para tudo dar errado. Não é surpreendente que a imagem apresentada de Rushdie é de alguém arrogante e egoísta, ainda que charmoso; minha parte favorita é quando ela diz que ele ficava aguardando ansioso o anúncio do Prêmio Nobel de Literatura e depois, ao não ganhar, dizia coisas como "gênios como Proust e Joyce nunca ganharam também". 

Após o término do relacionamento deles, a história retorna mais ou menos ao começo da vida de Padma: temos capítulos sobre sua infância na Índia e a mudança para os Estados Unidos, recheados por memórias gustativas e (poucas) receitas. Gostei da abordagem culinária, mas quem não tem muito conhecimento sobre comida indiana como eu pode sofrer um pouco para imaginar os sabores descritos — o que é um problema meu, não do livro.

Para quem é fã de Top Chef, Padma acrescenta aqui e ali pequenas curiosidades ou fatos sobre o programa, mas ele está mais como pano de fundo dos acontecimentos pessoais do que como foco de algum capítulo, por exemplo. Quem esperar muito sobre o bastidores pode ser decepcionar.

Após o relacionamento com Salman Rushdie, Padma esteve envolvida com dois homens: o rico Adam Dell e o ricaço Teddy Forstmann. Temos então novos dramas, como os desentendimentos com Adam, pai da filha dela, e a morte de Teddy (a tal da "loss" do título). Não é a parte mais interessante da biografia, mas, como o resto do livro, é fácil de ler.

Muitas resenhas sobre esse livro apontam para Padma como "metida" ou "reclamona". Eu particularmente não fiquei com essa impressão. É verdade que ela não reconhece tanto seus privilégios e falar sobre as discriminações que sofreu na vida (como mulher indiana, como modelo com uma cicatriz grande no braço) pode dar a impressão de que ela se vê como coitadinha — a comparação entre a família de Salman, de ricos, com a dela, de classe média, por exemplo, dá a impressão de que ela se acha pobre, quando o simples fato da sua mãe ter se mudado para os Estados Unidos nos diz que ela não é tão pobre assim. O fato é que ela teve sim uma vida bem diferente da imagem da celebridade americana média e não vejo por que isso não deveria estar exposto.

Por outro lado, também entendo a opinião de quem não gostou da figura de Padma exposta no livro: são suas memórias, e não há como escapar de momentos egoístas ou erros cometidos. A autora vende uma imagem mais acessível, mais humana — ainda que sem excessos —, em oposição à figura de uma mulher modelo e inspiradora pela qual poderia se esperar de uma autobiografia. 

Como não costumo ler biografias, é difícil de avaliar esse livro dentro do gênero. No geral, achei o formato um pouco irregular — às vezes os capítulos iam e voltavam no tempo, tornando a leitura confusa. O conteúdo é mais ou menos o esperado: muito sobre os relacionamentos de Padma, alguma coisa sobre a família e a juventude e um pouco sobre a carreira. Tudo isso, é claro, temperado pelas memórias culinárias. Não é, enfim, um livro que mudou minha vida, mas algumas observações o fizeram valer a pena para mim.

Avaliação final: 3/5

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

TAG: 3 coisas

Como manter o blog vivo sem ser na base de todos os posts de filmes atrasados? Com tags, é claro. Eu já respondi uma parecida com essa, a 7 coisas, mas essa aqui tem mais categorias — sendo que algumas eu pulei,  porque não consegui decidir as respostas. Peguei a tag daqui, mas não sei de onde é a original.

3 coisas que me dão medo:
- falar em público
- sustos
 - o futuro

3 coisas que me dão preguiça:
- lugares que precisam de mais de um ônibus/metrô para chegar
- lugares cheios
- sair de casa, no geral

eu saindo de casa (fonte)

3 coisas que eu gosto:
- livros
- animais
- reality shows

3 coisas que eu sei fazer:
- tocar nos meus pés quando estou em pé (quando estou sentada também, né)
- escrever e ler hiragana e katakana (e um pouco de kanji)
- cookies

3 coisas que eu não sei fazer:
- andar de bicicleta
- feijão
- puxar conversa com desconhecidos

3 assuntos preferidos:
- literatura
- patinação artística no gelo
- cultura pop no geral

3 assuntos que eu não gosto de discutir:
- política
- decisões pessoais
- religião

3 melhores comidas:
- chocolate
- comida chinesa no geral
- feijoada

3 piores comidas:
- estrogonofe
- maionese
- requeijão

3 melhores redes sociais:
- twitter
- listography
- facebook pela praticidade dos grupos

3 melhores bebidas:
- suco de laranja
- suco de tangerina
- coca gelada de garrafa de vidro

3 piores bebidas:
- alcoólicos no geral
- café
- chá de erva-doce

3 coisas que me acalmam:
- música instrumental
- deitar na cama
- ver fotos de bichos fofinhos

3 coisas que levam todo o meu dinheiro:
- doces
- livros
- comida (mas principalmente doces mesmo)

3 coisas em que eu não gosto de gastar dinheiro:
- roupas
- táxi
- eletrônicos

3 coisas que me estressam:
- gente que não sabe se comportar em ônibus lotado
- gente barulhenta/efusiva quando eu não estou no clima para isso (ou seja: quando estou no ônibus lotado voltando da faculdade às onze da noite)
- ônibus lotado

quarta-feira, 26 de julho de 2017

O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação, Haruki Murakami

 
De julho do segundo ano da faculdade até janeiro do ano seguinte, Tsukuru Tazaki viveu pensando praticamente só em morrer. Nesse meio-tempo ele completou vinte anos, mas o marco não significou nada em especial para ele. Naquela época, acabar com a própria vida lhe parecia a coisa mais natural e lógica a ser feita. Até hoje ele não sabe bem por que não deu o passo derradeiro. Afinal, naquele momento, atravessar a soleira que separa a vida e a morte era mais fácil do que engolir um ovo cru.
Ah, Murakami... Ainda me lembro do período em que namorei avidamente seus livros, pensando que você poderia ser meu novo autor favorito. Comprei Norwegian Wood, com o preço cheio na internet — o que eu achava um ultraje — só porque a edição parecia esgotada em quase todos os lugares. Alguns meses depois, é claro, vi o livro nas estantes das livrarias novamente. Mas eu não me arrependi da compra. Li logo o romance e adorei. Me lembro de terminá-lo de madrugada, quando minha família já estava dormindo. Eu devorei Norwegian Wood. Como eu tinha pesquisado bem os outros livros do autor, sabia que eles não eram tão parecidos com o que eu lera: tinham talvez o mesmo tom melancólico, mas também os tais elementos fantásticos tão típicos da sua obra.

Então eu li Após o anoitecer e não gostei muito. Quando peguei o assunto dessa resenha (finalmente!) para ler, portanto, minhas expectativas já estavam menores — mas bem confusas, porque O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação fez um sucesso grande para um livro do Murakami, e vi várias opiniões diferentes sobre ele.

Tsukuru é um protagonista meio padrão do autor: um homem solitário e melancólico que se sente fora do lugar. O motivo por trás de toda essa tristeza é a exclusão que ele sofreu por seus amigos da juventude, um quarteto formado por Azul, Vermelho, Branca e Preta. Tsukuru já se sentia deslocado por não ter um nome de cor, mas quando eles param de falar com ele sem nem explicar o motivo, nosso pobre protagonista fica traumatizado. É com a ajuda de Sara, uma potencial namorada, que Tsukuru tenta entender melhor o passado e tudo o que aconteceu.

O enredo em si é interessante. Fiquei curiosa para entender o motivo por trás da exclusão de Tsukuru e todos os pedaços que vão se encaixando aos poucos na narrativa. Mas eu me senti indiferente a quase tudo durante a leitura. A amizade do grupo é mais contada que mostrada, então não dá para entender toda a questão de Tsukuru com eles, e esse é o assunto principal da história.

Basicamente, meu maior problema com o livro é que eu não entendo o que ele quer dizer com a história e se ele está apoiando o protagonista ou não. Não que a mensagem tenha que ser explícita, mas eu não faço a menor ideia do que havia na cabeça do Murakami ao escrever esse romance.

A descrição das personagens femininas, por exemplo, é de um viés de objetificação, e eu não sei o quanto isso é consciente ou não, mas incomoda ler sobre como Tsukuru sentia os peitos da amiga ao abraçá-la, por exemplo. É um narrador obviamente masculino e atualmente isso me incomoda se não há nenhum tom de sátira ou alguma indicação de que o romance considera o personagem babaca.

Gostei bastante do início do livro, quando a gente é apresentado ao Tsukuru suicida e vamos entendendo os motivos aos poucos. Também achei interessante a amizade dele com Haida, meu personagem favorito, embora ela não ofereça muitas respostas. Seria errado esperar explicações de um livro do Murakami?

No geral, é uma leitura interessante, mas naquele sentido de "interessante" de quando a gente não quer falar mal. Não sei identificar o motivo exato da minha estranheza com o livro — podem existir questões de traduções também, visto que a sintaxe japonesa é muito diferente da nossa. Acho que o que mais incomoda, no fundo, é não saber o quanto dessa estranheza é proposital, ou se na verdade existe todo um outro jeito de ler ao qual eu não fui ensinada.

Avaliação final: 2,5/5

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Os (realmente não tão) últimos filmes que eu vi #20

1- Atração mortal (Michael Lehmann, 1988)
Esse filme é um clássico adolescente que eu não tinha assistindo ainda por motivos de preguiça de ir atrás. Mas, influenciada pelo clima de jovens assassinos que A história secreta me proporcionou, achei que era a hora certa para conferir. Atração mortal, mais conhecido pelo nome original, Heathers, começa com um enredo comum de filmes juvenis, apresentando as populares da escola, um grupo formado por três garotas chamadas Heather e uma Veronica — esta, no entanto, não gosta do sistema de popularidade e exclusão do colégio e, com o incentivo de um garoto novo, J.D., ela acaba matando uma das populares. A morte, forjada como um suposto suicídio, gera uma comoção entre os alunos, e J.D. e Veronica se animam mais tentando punir outros populares. Acabei gostando bem mais do filme do que esperava, porque ele é engraçado, envolvente, tem crimes, clima sombrio... É um filme que usa uma abordagem ousada para lidar com temas adolescentes sem deixar o tom sério, e é especialmente maravilhoso porque é do final dos anos 80 e dá para perceber como virou referência para tantos outros filmes. Além disso, a Winona Ryder está maravilhosa como Veronica e eu, que nem ligo muito para moda, adorei o visual dela. Enfim, é um filme que me deixou muito empolgada depois que terminei de assistir e mesmo que parte dessa animação tenha passado, decidi manter a nota altíssima porque é de coração. Avaliação: 4,5/5

2- O primeiro que disse (Ferzan Ozpetek, 2010)
Fiquei curiosa para ver esse filme italiano quando ele estreou no cinema, por causa da sinopse: um homem volta para a casa da família no interior da Itália pronto para dizer que é gay, mas seu irmão, ao saber disso, confessa sua própria homossexualidade primeiro. O pai, com medo de que as pessoas descubram, surta com essa descoberta, enquanto o protagonista esconde a verdade e toma o lugar do irmão na família trabalhando no negócio deles, uma fábrica de macarrão. A família deles é bem grande, com personagens de diversos tipos, como a avó compreensiva e a tia alcoólatra. O filme mistura bem momentos cômicos — destaque para os amigos gays do protagonista fingindo serem héteros na frente da família dele — e dramáticos, e acho boa a forma que o filme escancara a homofobia e mostra o machismo que há nas famílias tradicionais italianas. Mas faltou alguma coisa para o filme me conquistar de verdade, e também não entendi bem a história da avó. Valeu pela temática e para matar a curiosidade. Avaliação: 3,5/5

3- Conta comigo (Rob Reiner, 1986)
Foi o filme da vez dos 1001 para ver antes de morrer por um motivo simples: queria algo curto e que tivesse na Netflix. O que eu tinha ouvido falar sobre ele antes era que envolvia crianças, emoção, e a música Stand by me. Achei que seria mais triste, mas é mais nostálgico do que propriamente triste. O enredo envolve um grupo de quatro amigos, de mais ou menos doze anos, indo procurar um cadáver que o irmão de um deles disse ter visto. Eles andam pelos trilhos de trem, naquela cena icônica, acampam na floresta, brincam, brigam e fazem tudo de que tem, e do que não tem, direito. Gostei de como os personagens são desenvolvidos, de como os quatro garotos têm seus problemas e seus modos de agir, e de que há uma questão social na história: o protagonista tem mais chances de sucesso no futuro, mas os outros são vistos como casos perdido, com pais bêbados, violentos, etc. O filme é, como dizem muitas resenhas no Filmow, "simples", mas nem por isso deixa de envolver nem de emocionar — apesar de eu não me identificar nada com o grupo de amigos por motivos de amizade obviamente masculina, eca, não dá para deixar de simpatizar por eles. Avaliação: 4/5

4- Perdido em Marte (Ridley Scott, 2015)
Comentei sobre o filme aqui. Avaliação: 3,5/5 

5- Shaun: o carneiro - o filme (Mark Burton e Richard Starzak, 2015)
Comentei sobre o filme aqui. Avaliação: 3,5/5

6-  Metrópolis (Fritz Lang, 1927)
O que dizer desse filme que eu achava que seria um porre mas me surpreendi positivamente? É um filme mudo de duas horas e meia de duração, então eu obviamente estava morrendo de preguiça de assistir, e o começo, quando a gente é apresentado à sociedade e aos personagens, me deixou mais apreensiva ainda, mas depois a história me envolveu com uma facilidade... (embora eu não tenha entendido algumas coisas direito) A crítica social apresentada continua muito atual e a forma em que ela é desenvolvida é ótima também, mesmo que eu não concorde totalmente que o mediador entre as mãos e o cérebro deva ser o coração — isso me parece um tanto redutor. Alguns filmes antigos que eu vi, como Viagem à Lua e O grande roubo do trem são elogiados considerando a importância que eles tiveram para a história do cinema, mas Metrópolis não precisa dessa comparação. É um filme muito inovador para a época e também bem diferente do que a gente vê hoje — as limitações técnicas o fizeram mais especial. No entanto, nem tudo é perfeito e achei a parte final bem cansativa, tanto é que eu e minha irmã dublamos muito nessa hora para matar o tempo. Aliás, a não ser que você seja um cinéfilo sério, recomendo assistir ao filme com alguém do lado para rir com algumas coisas estranhas e dublar nas cenas dramáticas. Talvez eu tivesse gostado bem menos do filme se o visse sozinha. Avaliação: 4/5

7- O jogo da imitação (Morten Tyldum, 2014)
Não dei muita bola para esse filme quando foi lançado, mesmo com as indicações para o Oscar, porque não sou das maiores fãs de cinebiografias. Mas é aquela coisa: a curiosidade sempre existe, então foi o escolhido para uma sessão de cinema em casa com minha família. Achei o filme bem qualquer coisa, honestamente. Ele prende a atenção e a história é interessante, mas falta algo que lhe dê personalidade e o faça se destacar. Avaliação: 3/5

8- Garota exemplar (David Fincher, 2014)
Quando li o livro, imaginei os personagens principais exatamente como os atores do filme. Por isso, fiquei curiosa para saber se o filme seria bem parecido com o que imaginava quando lia o livro. E é. Infelizmente para mim (!). O filme é muito bom como adaptação, muda só o suficiente para caber nas suas duas horas e tanto de duração. Os atores estão muito bem também — Ben Affleck palermíssima como Nick e Rosamund Pike como a Amy Exemplar. Mas, embora ache que o romance sobreviva bem a uma leitura sabendo dos plot twists, o filme não resistiu tão bem. Eu gosto muito de como a gente entra na cabeça dos personagens no livro, mas no filme isso não funciona do mesmo jeito. Um resumo: é um filme muito bom, mas não recomendo tanto se você já leu o livro. Nesse caso, até diria para ver a adaptação primeiro, porque o livro terá coisas a acrescentar. Avaliação: 3/5

9-  Anomalisa (Duke Johnson e Charlie Kaufman, 2015)
Comentei sobre o filme aqui. Avaliação: 3,5/5 

10- Rindo à toa (Lisa Azuelos, 2008)  
É um filme adolescente francês ao qual eu já tinha visto vários elogios. A história foca nos relacionamentos de Lola, tanto familiares e de amizade quanto amorosos, sendo que há cenas também protagonizadas pelos outros personagens, como a mãe. É um filme divertido, mas não fez o meu coração bater mais forte, visto que não me importei com nenhum dos personagens. No entanto, o cabelo dos interesses românticos é bem interessante, naquele estilo emo/indie que era moda na época. Avaliação: 3/5