quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Os últimos filmes que eu vi #17 - edição especial Oscar

O Oscar, como outras coisas da minha vida, só caiu no meu gosto graças ao mundo cibernético. Antes eu via as indicações pelo jornal, torcia se tivesse algo de que eu gostava, e pronto, segue a vida. Acho que foi em 2014 que me rendi a assistir a apresentação dos prêmios. Em 2015, não só acompanhei a premiação como tive vontade de ver quase tudo, fazendo uma promessa mental de que em 2016 eu veria os indicados a melhor filme junto com as outras pessoas, porque não é maravilhoso ver todo mundo comentando o mesmo assunto? Só que aí chegaram as indicações e... ¯\_(ツ)_/¯

Eu tenho curiosidade em ver todos os indicados a melhor filme, justamente para comparar as opiniões com quem se deu ao trabalho de assistir tudo. Mas curiosidade não é a mesma coisa que vontade genuína, e também não é a mesma coisa que disposição. Além disso, já imagino que não vou gostar muito de quase nenhum dos que ainda não vi da categoria principal. Talvez quem sabe algum dia eu veja quando passar na televisão, mas ter que me movimentar para isso seria esforço demais só para poder dizer que cumpri algo que queria. Então finalizei minha maratona: assisti três filmes indicados a melhor filme e todos(!) indicados a melhor animação, visto que só faltavam três para completar a lista. 

Indicados a melhor filme

1- Perdido em Marte (Ridley Scott, 2015)
Não sou a maior fã de filmes espaciais e grandiosos. Nada contra, mas tenho preguiça — são filmes longos, e têm cenas longas de ação. Então o fato é que eu não tinha dado bola para Perdido em Marte até ele ser muito elogiado por aí e indicado para o Oscar. Ainda não seria um filme que eu veria no cinema se não tivesse passado no cinema do CCSP, sempre maravilhoso e que custa um real. No começo eu estava apreensiva, justamente por não ligar para filmes do gênero, mas aos poucos o filme foi me envolvendo e cativando, e de repente me vi torcendo muito para que a NASA resgatasse o Matt Damon, mesmo sabendo que o final não poderia ser outro — se fosse, estaria na categoria de drama no Globo de Ouro (embora a classificação como comédia seja discutível). Não curti muito as cenas de ação propriamente dita, mais para o final do filme, mas gostei do clima mais leve e do bom humor durante toda a história, e também achei a proporção entre cenas do protagonista e cenas de fora bem equilibrada. Enfim, é um filme eficaz no que se propõe a fazer, e para não dizer que é só entretenimento preciso confessar que entrei numas reflexões erradíssimas sobre viagens espaciais, o custo que isso tem, desigualdade, o que é ser humano e essas coisas divertidas (mas sugiro que não façam isso também). Avaliação: 3,5/5
E o Oscar? O filme foi indicado para sete categorias, mas não acho que leve nenhuma que não seja técnica. Achei as indicações válidas, mas também não estou torcendo por ele.

2- Brooklyn (John Crowley, 2015)
Eu também não tinha planos concretos de ver Brooklyn, mas pensei que entre os que eu não tinha tanto interesse esse era o que poderia me agradar mais: uma produção menor, uma história simples e convencional. Depois que eu terminei de assistir, fiquei pensando em que tipo de filme ele se parecia, até chegar na conclusão óbvia: com Educação, que também tem roteiro do Nick Hornby. E assim como em Educação, faltou algo em Brooklyn para me deixar próxima do filme. Eu não tenho os conflitos da protagonista, Eilis, então não consegui me aproximar dela. Não é que não dê para simpatizar com ela, mas sempre fiquei meio distante, algo não funcionou com a conexão, especialmente depois que ela voltou para a Irlanda — e isso é pessoal, porque tem gente que se identificou demais com a personagem. A história prende fácil o espectador e é interessante o suficiente para me fazer ter vontade de ler o livro, que já está em mãos, a Saoirse está bem no papel e os figurinos dos anos 50 são maravilhosos (saí desejando o guarda-roupa da Eilis? Saí sim, e olha que nem sou uma pessoa ligada em moda). Provavelmente não é um filme que vai mudar dramaticamente a vida de ninguém, mas também não é isso que ele pretende fazer. Avaliação: 3/5
E o Oscar? O filme foi indicado para melhor filme, atriz e roteiro adaptado. Acho que é um daqueles casos em que a indicação é o próprio prêmio, porque muita gente foi atrás dele só por causa disso, como eu.

3- O quarto de Jack (Lenny Abrahamson, 2015)
Eu gostei muito de Quarto, o livro; de Temporário 12, com a Brie Larson, e de Frank, dirigido pelo Lenny Abrahamson. Então eu estava com bastante vontade de ver o filme, tendo expectativas de que a adaptação me agradaria. E não me enganei. Não tenho muito o que falar além de que tudo está muito bom. O filme prendeu a minha atenção, me emocionou, e, não sei, não pareceu ter nada de errado? Em questão de sentimentos, ainda prefiro Temporário 12, que me impactou de verdade, mas talvez isso seja porque já conhecia a história de O quarto de Jack pelo livro. Avaliação: 4/5 
E o Oscar? Brie Larson é a favorita para o Oscar de melhor atriz, o que me deixa bem satisfeita. As outras indicações são menos prováveis, mas se eu pudesse votar tendo visto só três filmes meu voto seria dele (não que isso conte alguma coisa).

Indicados a melhor animação

 1- O menino e o mundo (Alê Abreu, 2013)
Comentei sobre o filme aqui. Avaliação: 4/5
E o Oscar? Meu comentário foi um pouco desanimado, talvez porque eu goste mais do que o filme representa em termos de animação do que dele em si. Quer dizer, eu amo a estética, mas não amo a história. Dito isso, preciso falar que fiquei realmente emocionada quando vi a indicação, e que minha torcida é completamente para ele, mesmo as chances sendo ínfimas. É por patriotismo mesmo, mas não para mostrar para os americanos como o Brasil é bom, e sim mostrar para os brasileiros quanto potencial a gente tem em questão de animação. E acho que a indicação ao Oscar já fez isso, espero de verdade que essa área seja mais incentivada a partir de agora.

2- Quando estou com Marnie (Hiromasa Yonebayashi, 2014)
Comentei sobre o filme aqui. Avaliação: 3,5/5 
E o Oscar? Fiquei um pouco surpresa com a indicação, porque não é um filme tão grandioso do Studio Ghibli. E também está longe de ser um dos meus favoritos deles. Fico feliz com outra animação 2D não americana ser indicada, e em questão de estética também sou fã, mas peguei birra do filme, por motivos até externos a ele — então recomendo que assistam para tirar suas próprias conclusões e não se deixem levar pelo meu mau humor.
 
3- Shaun: o carneiro - o filme (Mark Burton e Richard Starzak, 2015)
Eu acompanho há um tempo os trabalhos da produtora Aardman, de Wallace & Gromit e A fuga das galinhas, mas normalmente só de ficar com vontade de ver o lançamento da vez e deixar para lá. Por causa do Oscar, fui atrás de Shaun e lembrei por que eu gosto dessas animações. A história do filme é bem simples: Shaun vive em uma fazenda e, cansado da rotina, decide tirar um dia de folga. Só que as coisas dão terrivelmente errado e ele terá que ir para a cidade grande resgatar seu fazendeiro. A ideia remete bastante ao filme das galinhas, por ser sobre um grupo de animais de fazenda que precisa bolar planos para resolver determinada situação. A principal diferença é que os carneiros, e todos os outros personagens do filme, falam uma linguagem incompreensível para nós. É um filme mudo, praticamente (assim como O menino e o mundo!). Ele não é tão inspirado quanto as produções mais famosas da Aardman, mas é bem divertido e a animação mantém a qualidade. Avaliação: 3,5/5
E o Oscar? As chances são pequenas, mas gostei da indicação.

4- Anomalisa (Duke Johnson e Charlie Kaufman, 2015)
Eu li duas críticas de jornal e uma resenha em um blog antes de ver o filme e acho que isso acabou me influenciando negativamente, porque os três textos faziam praticamente a mesma análise. Com isso, já fui ao cinema sabendo o que pensar em questão do que o filme quer dizer, o que, paradoxalmente, me deixou sem saber o que pensar do filme em questão de opinião. É uma animação bem diferente do que eu costumo ver, com temas adultos e filosóficos: a dificuldade de se relacionar com outras pessoas, a solidão, a subjetividade, o desejo, a modernidade e outras abstrações. Sei que há muito material para reflexão no filme, mas talvez por ter ido com uma análise pronta na cabeça não fiquei com vontade de ir atrás disso e pensar nas minhas dúvidas. Entretanto, o filme é muito bem feito e a experiência vale a pena. Avaliação: 3,5/5
E o Oscar? Eu li algum lugar dizendo que era o filme que tinha mais chance depois de Divertida mente, mas acho que o filme da Pixar é quase unanimidade, então a probabilidade dele ganhar é pequena. Seria interessante um filme adulto vencer o prêmio, mas também não é minha torcida.

 5- Divertida mente (Pete Docter e Ronnie Del Carmen, 2015)
Minhas expectativas eram misturadas: por um lado, o filme é considerado um dos melhores da Pixar. Por outro, eu não sou tão fã da Pixar hoje e nem de animações em computação gráfica. No final, fiquei bem satisfeita. Achei a ideia do filme ótima e adorei a central em ação — é tipo um jogo de The Sims. Aí o filme foi pelo caminho que eu não queria: para a aventura. Alegria e Tristeza tem uma jornada juntas nos outros lugares da mente. Achei várias partes da aventura engraçadas e interessantes, por nos lembrarem de como nossa mente funciona, mas também achei um pouco cansativo esse negócio de estamos-conseguindo-ops-deu-algum-problema-falhamos. Queria ver mais conflitos entre as emoções na central e a resolução foi rápida demais para o meu gosto. Enfim, acho que o filme tinha todo um potencial que não foi explorado, mas também entendo que não dava para abarcar tudo. Avaliação: 3,75/5
E o Oscar? Vai ser uma grande surpresa se não ganhar o Oscar de melhor animação. Eu podia torcer o nariz porque sempre a mesma coisa filme americano animação 3D e blablablá, mas acho a provável vitória merecida nesse caso. O filme também foi indicado para roteiro original, mas acho que as chances de vencer são menores.

P.S.: agora tenho uma newsletter! Relutei muito antes de entrar na moda, mas acho que é uma boa forma de escrever coisas mais pessoais que ficariam um pouco deslocadas no blog. Prometo não encher sua caixa de entrada!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Eles eram muitos cavalos, Luiz Ruffato

Na esquina com a rua Estados Unidos, o tráfego da avenida Rebouças estancou de vez. Henrique afrouxou a gravata, aumentou o volume do toca-cedê, Betty Carter ocupou todas as frinchas do Honda Civic estalando de novo, janelas cerradas, cidadela irresgatável, lá fora o mundo, calor, poluição, tensão, corre-corre.
Estou cursando uma matéria sobre literatura brasileira contemporânea e Eles eram muitos cavalos é uma das futuras leituras. Decidida a adiantar algum livro, comecei, obviamente, lendo o mais curto, porque se não começasse pelo mais fácil não seria eu.

No entanto, eu não definiria como "fácil" o livro do Luiz Ruffato. Ele é separado em setenta episódios que se passam todos no mesmo dia na cidade de São Paulo e vão desde narrativas mais tradicionais a textos de jornais. São variados também os tipos de personagens e os locais retratados.

A ideia de Eles eram muitos cavalos é inteligente, (pós-?)moderna, contemporânea. É um livro interessante, mas não posso dizer que adorei, porque achei muitos fragmentos chatos. Muitos terminam no meio, ou são aquele tipo de prosa poética que precisa de muita imaginação para funcionar. Não sou intelectual o suficiente para apreciar tudo, embora tenha vários episódios que me agradaram bastante.

Estou bem curiosa para saber o que os acadêmicos pensam do livro, tão elogiado pela crítica mas nem tanto pelos leitores. Termino com a minha resenha favorita dele, de um gênio do Skoob que resumiu o sentimento de muita gente em tão poucas palavras:



Avaliação final: 3/5

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O que eu ouvi #1

E aí eu decidi escrever também sobre música. Eu não entendo nada teórico sobre o assunto, mas desde quando não saber algo técnico me impediu de falar sobre isso? Meu blog foca em achismos e em opiniões, não em críticas bem fundamentadas, então... Antes de começar, preciso esclarecer umas coisinhas: primeiro, eu não presto muita atenção em letras de música. Sério. Eu pego o tom geral da coisa, mas é difícil eu me importar com isso. Em segundo lugar, estou escrevendo de acordo com os álbuns que ouço no meu iPod. Eu ouço sem fazer outra coisa para poder selecionar as músicas que ficam e as que vão embora. E como eu já estava ouvindo a minha biblioteca em ordem antes de decidir escrever, os álbuns vão sair mais ou menos em ordem alfabética começando pela letra L, com uma exceção ou outra baixada posteriormente. Ah, e minha irmã compartilhou o computador comigo por muitos anos, então tem algumas coisas que são dela no meio. Como temos um gosto parecido, nunca tive a necessidade de separar o iTunes ou coisa assim. Por último, vou deixar o link do youtube das músicas favoritas, mas não vou substituí-lo quando alguns deles certamente saírem do ar, e o link do álbum no rateyourmusic se por algum acaso alguém se interessar em ler mais resenhas sobre o CD — normalmente os textos de lá são bem críticos, nos dois sentidos: manjam mais do assunto e são bem mais chatos e rigorosos e muitas vezes elitistas.

Talvez isso não interesse ninguém além de mim, mas achei que seria interessante. Eu constantemente abro meu player e não faço a menor ideia do que ouvir diante de tantas opções, por isso escrever sobre os álbuns vai me fazer lembrar do que eu gosto. E se ajudar alguém com alguma indicação já é ótimo também. E de qualquer jeito esses posts não vão ser tão frequentes, não se preocupem.

1- Little Deuce Coupe (The Beach Boys, 1963)
É um álbum de músicas curtinhas, de mais ou menos dois minutos. As harmonias mantêm o padrão Beach Boys. Está longe de ser a obra-prima deles, mas é a surf music típica e por algum motivo as músicas falam sobre carros(?). Avaliação: 3,5/5

2- Little Joy (Little Joy, 2008)
O Little Joy surgiu quando eu era bem fã dos Strokes, então fiquei feliz em gostar do projeto paralelo do Fabrizio Moretti. É um tipo de música bom para ouvir deitada na rede ou na praia, bem gostosinha, com um clima de preguiça de fim de semana. O CD, também curtinho, mistura as vozes dos três membros da banda e tem músicas em inglês e em português, algumas mais calmas e outras agitadinhas. Avaliação: 3,5/5

3- The Little Mermaid (Alan Menken e Howard Ashman, 1997)
Minha irmã gosta bastante do filme, então baixou a trilha sonora, porque quando se gosta de um filme da Disney está implícito que se gosta da trilha sonora dele também. Não consigo julgar o quanto gosto das músicas sem relacionar com as memórias da infância, mas de qualquer jeito adoro a maioria das músicas cantadas. Para as instrumentais eu não ligo tanto, mas no geral é uma trilha sonora bem simpática. Avaliação: 3,5/5

4- Have You in My Wilderness (Julia Holter, 2015)
Estava vendo uma lista de melhores álbuns do ano e obviamente descobri que não tinha ouvido falar de quase nada. Tentando ficar por dentro, fui ouvir algumas músicas para decidir quem eu ia baixar, e a Julia Holter foi escolhida. Have You in My Wilderness é um bom álbum, mas para mim não se destacou tanto entre outras centenas de cantoras alternativas. Não sei, também não ouvi o suficiente para me apegar. Poucas músicas chamaram a minha atenção, mas a maioria é gostosa de ouvir — embora as músicas mais compridas, de seis minutos, eu tenha achado cansativas. Avaliação: 3,5/5

5- Lon Gisland (Beirut, 2007)
Eu enjoei um pouco de "Elephant gun" porque desde que conheci a música eu a ouvi mais vezes do que deveria. No entanto, ouvindo o Lon Gisland não tem como não se sentir bem. Saudades, Beirut! Eu ouvi os álbuns mais recentes da banda e não parei de gostar deles, mas esse EP não me deixa esquecer da minha fase favorita. São cinco músicas no total, então é uma boa forma de descobrir se gosta da banda. Avaliação: 4/5

6- London Calling (The Clash, 1979)
Fui atrás do The Clash provavelmente em uma época que estava a fim de conhecer os clássicos do rock. Já tinha ouvido várias musicas da banda, seja na MTV, parte muito importante da minha adolescência, ou por covers de outras bandas. Ouvi pouco o London Calling, principalmente porque ele tem muitas músicas e acaba ficando cansativo. Individualmente, gosto de quase todas as músicas, mas não de escutar tudo de uma vez só. Acho interessante a influência de outros ritmos, tipo ska e reggae, no som deles, por isso é a banda punk clássica pela qual eu mais simpatizo. Avaliação: 3/5

7- Lonely Avenue (Ben Folds e Nick Hornby, 2010) 
Eu provavelmente  conheci o Ben Folds lendo o Nick Hornby, então essa união entre cantor e escritor não me surpreendeu muito. Não sei bem explicar o gênero do álbum, é um pop rock que seria genérico se eu não conhecesse bem a voz do Ben Folds. Tem várias músicas que eu adoro nesse CD, como dá para ver pelos destaques, mas também tem algumas bem descartáveis. Avaliação: 3,5/5

8- Louva-a-Deus (Forgotten Boys, 2008)
Destaque: "Highest stakes"
Eu tive uma fase fã de rock independente brasileiro, e Forgotten Boys era uma das bandas de que eu gostava na época, cheguei a ir a alguns shows e tal (ah, a adolescência...). Hoje esse álbum não me diz quase nada, e tenho a impressão de que mesmo na época não gostava tanto dele — o Stand by the D.A.N.C.E. é muito melhor —, mas era o lançamento deles, então eu tinha que ouvir. As músicas, rocks cantados em inglês ou em português, são parecidas entre sim e embora não sejam insuportáveis, também não vão fazer falta na minha vida. Avaliação: 2/5

9- Made in the A.M. (One Direction, 2015)
De repente você está lá, ouvindo um CD inteiro do One Direction. Várias pessoas estavam elogiando o álbum, inclusive gente que não ligava para a banda antes, então eu, enxerida como sou, fui atrás, né, fazer o quê? Eu nunca desgostei propriamente da banda, só achava chato quando os hits ficavam presos na cabeça. Há uma grande diferença entre ouvir um hit pop e um álbum inteiro disso, porque o hit vai ficar na sua cabeça sozinho, mas depois de ouvir vários hits potenciais da mesma banda em seguida o que se segue é meu cérebro tentando processar com que refrão eu devo ficar obcecada. Enfim, o fato é que o álbum funciona: as músicas animadas são ótimas, eu consigo imaginar os calouros cantando as baladinhas no The Voice... Tudo é bem produzido e pronto para grudar na cabeça, o que é bom quando se gosta da música, e eu gostei da maioria delas. Mas também é ruim, porque elas são criadas para serem fáceis de decorar, e por isso são repetitivas. Quando estou fazendo outra coisa, tipo lavando a louça, não é um problema, mas ouvir prestando a atenção deixa algumas músicas cansativas. O álbum poderia ter sido mais curto, mas é claro que eles fazem uma versão deluxe para vender mais caro. Em resumo: gostei e a magia pop deles funcionou bem comigo. Avaliação: 3,5/5

10- Made of bricks (Kate Nash, 2007)
Conheci a Kate Nash na época em que se falava da nova geração de cantoras britânicas, sempre colocando-a do lado da Lily Allen. Portanto, ouço o Made of bricks há bastante tempo. Mas nunca fui muito fã dele por completo. Já tive fases de ouvir muito "Foundations" e "Mouthwash", mas o álbum inteiro não me conquistou. Tem algumas músicas estranhas como "Dickhead" e "Shit song" e nem tudo é o pop fofo que eu esperava ouvir, mas ainda assim, ou talvez justamente por isso, vale a pena conhecer. Avaliação: 3,5/5

sábado, 13 de fevereiro de 2016

O crime do padre Amaro, Eça de Queirós

 O pároco fechou a porta do quarto. A roupa da cama entreaberta, alva, tinha um bom cheiro de linho lavado. Por cima da cabeceira pendia a gravura antiga dum Cristo crucificado. Amaro abriu o seu Breviário, ajoelhou aos pés da cama, persignou-se; mas estava fatigado, vinham-lhe grandes bocejos; e então por cima, sobre o teto, através das orações rituais que maquinalmente ia lendo, começou a sentir o tique-tique das botinas de Amélia e o ruído das saias engomadas que ela sacudia ao despir-se.
Essa foi uma leitura para a faculdade. Eu gostei mais do que esperava de A cidade e as serras, mas não teria vontade suficiente de ler mais do Eça sem algum incentivo. Porém existia uma Literatura Portuguesa III no meio do caminho, então... Lá fui eu ler O crime do padre Amaro.

A história é famosa: um padre tem um caso com uma jovem. Sendo um livro realista, ele foca mais na sociedade, na cidadezinha de Portugal e como funcionam as dinâmicas de poder lá, do que no amor romântico, que é inclusive ironizado. Os personagens são mais caricatos e não apresentam grande densidade psicológica. E, claro, são quase todos odiosos. 

Eu gosto do jeito irônico de escrever do Eça, que torna a leitura mais agradável e engraçada. Mas eu li o livro rapidamente, em cima da hora porque eu procrastinei e tinha prova, e isso deixou a leitura um pouco cansativa. Os dramas de cidadezinha pequena começam a ficar enrolados demais e perdi a paciência, acho que aproveitaria mais se o livro fosse mais curto (ou se eu lesse mais devagar...). De qualquer jeito, a história e as críticas, infelizmente, continuam bem atuais.

Enfim, a resenha vai ficar curta mesmo porque não tenho muito o que falar. Para quem gosta do estilo mordaz e descritivo do Eça, O crime do padre Amaro é uma boa pedida. Não posso comparar com o resto da obra dele porque só li dois livros, mas entendo o lugar de destaque que a história sobre o padreca ocupa — embora esse destaque se deva mais à fama da história do que ao livro em si (faz sentido?). Eu provavelmente deveria ler O primo Basílio também, porque como estudante de Letras eu teria que conhecer bem esse romance também, mas literatura realista portuguesa continua não sendo minha prioridade.

Avaliação final: 3,5/5

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Retrospectiva: janeiro

• Eu finjo que não ligo para passagem de ano, mas na verdade janeiro é sempre um dos melhores meses. São as férias, sem o cansaço residual que dezembro tem e o estresse das festas de final de ano. Mas o calor, é claro, é insuportável.

• No entanto, nem tudo dá certo, e já comecei o ano falhando em algumas propostas. Não consegui colocar o blog em ordem como eu esperava. Cheguei a conclusão de que quando a gente tem vontade, não tem tempo; quando tem tempo, não tem vontade e, se temos os dois, não temos disposição — de repente aparece uma dor de cabeça dos infernos. Enfim, o fato é que fui atrasando o que queria escrever porque não estava a fim de escrever. Consegui fazer o mínimo, felizmente, mas não tirei o atraso que 2015 deixou.

• Em janeiro houve também um boom de newsletters novas, o que deixou a minha caixa de entrada mais feliz e meu período no trabalho um pouco menos tedioso. Fiquei pensando em fazer uma, mas percebi que o conteúdo seria igual ao desse post e de qualquer jeito quase ninguém iria assinar. Depois, em um dia em que estava voltando do trabalho a pé e refletindo sobre viagens espaciais e a humanidade por causa de Perdido em Marte, pensei que poderia fazer uma newsletter com textos mais reflexivos e ~filosóficos~. Só que eu tenho uma grande dificuldade em escrever coisas pessoais desse nível, e muitos dos insights que tenho parecem bobagem meia hora depois, como meus pensamentos sobre o espaço, então eu perco a vontade logo. Enfim, talvez um dia quando vier um impulso irrefreável eu crie uma newsletter. Por enquanto estou só observando.

• De quando eu fiquei quase aliviada porque o David Bowie morreu: no dia da morte dele, minha mãe ia fazer uma cirurgia. Era algo pouco perigoso, mas a gente sempre fica receosa, especialmente porque minha mãe não é a pessoa mais saudável do mundo, é idosa, etc. Aí de manhã eu li meu horóscopo no jornal. Pausa: eu quase nunca leio o horóscopo, e em geral o da Folha diz coisas profissionais que nem tem como encaixar na minha vida. Mas o do dia dizia sobre ciclos que se encerrariam, e os textos dos signos de outras pessoas da minha família também falavam coisas que poderiam ser interpretadas como morte. Eu não acredito de verdade em astrologia, mas vai que funciona? Enfim, fiquei preocupada. Mas quando eu cheguei no trabalho e fui ler o Twitter as notícias, vi que o David Bowie tinha morrido. Fiquei chocada, porque a gente nunca espera que uma pessoa que lançou disco há tão pouco tempo morra, não sei, uma semana depois? Mas eu também fiquei um pouco aliviada: o horóscopo podia se referir a morte dele, não da minha mãe. E no final deu tudo certo com a cirurgia. Desculpa, Bowie, não é nada pessoal, juro.

• Dessa vez eu me lembrei de guardar links para indicar! O primeiro é sobre aqueles trenzinhos com gente fantasiada, tipo as pessoas desse que é o melhor clipe feito pela internet. Enfim, eu nem sabia que os trenzinhos eram um negócio grande e sério, na minha época era só algo infantil de cidade de interior mesmo. A reportagem é bem longa, mas é uma delícia de ler e as fotos são maravilhosas (e eu bem acho que poderiam fazer um filme de terror com essas fantasias e máscaras).


• O outro é um clima completamente diferente. É um tumblr sobre comédias românticas. Eu adoro ler esses projetos de quem resolve seguir uma lista, fazer um desafio e coisas afins. E é sobre comédias românticas, o que é maravilhoso. Eu não vi a maioria da lista pois sou poser do gênero, mas obviamente estou colocando na lista as com enredos mais mirabolantes e as clássicas que não assisti ainda.

Em janeiro:  
Eu vi… muita coisa! Finalmente assinei o Netflix no final do ano passado, e obviamente me aproveitei bem dele. Vi onze filmes no total, o que é um número alto para os meus padrões, comecei a ver Friends em ordem, porque sempre vi tudo picado na TV, e vi os primeiros dois episódios de Mad Men. Além disso, comecei a ver Honey & Clover II, e já me arrependi e estou frustrada, porque gostei tanto da primeira temporada do anime, mas a segunda foca nas relações românticas e é tanto dramalhão... E, é claro, comecei a ver a segunda temporada de Are you the one? Brasil

Eu (re)li… A irmandade das calças viajantes. Finalmente eu consegui terminar a releitura de uma série inteira. Em 2013 eu tentei reler Harry Potter e parei no terceiro. Em 2014 comecei a reler Desventuras em série e parei no terceiro. Mas as calças viajantes resistiram a maldição e consegui ler o quinto livro da série pela primeira vez também. Vou fazer um post com minhas impressões sobre cada livro em breve.


Eu ouvi… bastante coisa do meu iPod. Logo vou começar uma seção musical aqui no blog dando pitacos sobre os álbuns que eu escutei. Não sei se alguém vai se interessar, mas é uma maneira de eu pensar mais no que ouço.

Eu escrevi… outro texto para a Pólen, dessa vez uma resenha sobre as calças viajantes que fala mais sobre mim do que sobre os livros. Não fiquei muito feliz com esse texto, que gerou uma crise de por-que-eu-insisto-em-escrever e de como-é-difícil-escrever-sabendo-que-vai-ter-gente-que-vai-ler. Enfim, o de sempre. E isso ainda veio em um mês em que eu estava me sentindo bem com a escrita e pensando que talvez devesse divulgar mais algumas coisas que escrevo.

Eu comi… cookies e torta de liquidificador, minhas receitas do mês. Decidi que vou cozinhar pelo menos uma receita por mês (quando digo receita é porque tem que ser algo com receita a ser seguida, não coisas como arroz e carne moída que faço normalmente). Aos poucos vou aumentando meu repertório, mas por enquanto eu provavelmente não conseguiria viver sozinha... 

Eu fui… visitar a Casa das Rosas com uma amiga. É engraçado como eu sempre vivi em São Paulo e ainda tenho muitos pontos turísticos para conhecer. A casa e o jardim são bonitos, mas não diria que a visita é imperdível.

Eu (não) comprei… nenhum livro. Será que em 2016 eu consigo resistir aos impulsos consumistas?

Eu fiz… uma organização nas minhas coisas, mas tudo continua uma bagunça. 

No blog:

• Escrevi uma resenha de Cabeça de vento, um livro sobre troca de corpos!

• Também chegou a hora da retrospectiva de livros de 2015, que ficou gigante por motivos de reflexões sobre meu processo de leitura.

•  Depois postei a resenha de Garota exemplar, que mesmo que eu já soubesse parte do mistério não deixou de me impactar.

• Já quase no final do mês, publiquei a retrospectiva de dezembro.

•  A última resenha foi de Sayonara, gangsters, um livro estranhíssimo mas muito legal.

• Por fim, escrevi sobre os filmes que vi lá no meio do ano passado.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Por que Indiana, João?, Danilo Leonardi

Atrás de uma pilastra, sentado no chão. É onde você me encontraria, se quisesse passar o intervalo das aulas comigo, mas provavelmente não ia querer. Por quê? Sei lá. Assim é o mundo e está tudo bem por mim.
Admito: tenho um pouco de preconceito com novos autores brasileiros. A questão é que alguns deles são publicados porque são populares em outras mídias, e aí as pessoas gostam dos livros pelos autores, e eu fico em dúvida se devo confiar na opinião alheia ou não. Mas a curiosidade sempre me vence, e foi assim que me vi solicitando Por que Indiana, João? para troca no Skoob. Achei que era a oportunidade perfeita: eu não precisaria gastar dinheiro com o livro e mesmo que não gostasse poderia colocar o livro para troca de novo. E, no final, eu pretendo trocá-lo, mas não porque não gostei.

O livro conta a história de João, que sofre bullying na escola. Ele é tímido, nerd e mudou para a escola há pouco tempo, sendo alvo perfeito para os valentões. Até que um dia ele revida, e um vídeo gravado da briga viraliza na internet. Ele se torna popular, mas com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, e João tem que aprender a lidar com sua nova vida.

Basicamente, parece um enredo típico de histórias de bullying e superação, e eu estava gostando bastante da leitura. É um livro que me prendeu, fácil e rápido de ler, e dá para ler em um dia mesmo. Eu estava pensando até em dar quatro estrelas, que é uma nota alta para os meus padrões e que superaria minhas expectativas em relação ao livro. Até que... A história perdeu um pouco do rumo no final e os plot twists foram mais importantes para o autor do que a verossimilhança. No começo tudo bem, uma surpresa a gente até acha bom, mas aí ele simplesmente força a barra e terminei o livro muito frustrada. O drama que a história tenta trazer não é coerente com a leveza que o assunto, por mais sério que seja, era tratado até então. Enfim, não precisava, né?

Por que Indiana, João? reúne personagens simples, mas com algum carisma, em uma discussão sobre um assunto muito importante para os jovens. Achei especialmente interessante ver como a escola trata o bullying, sem saber bem o que fazer, e com professores até incentivando. Isso pareceu realista.O livro não é um tratado definitivo sobre o tema, e nem é isso que pretende ser. Ele funciona como história, embora às vezes seja um pouco raso. É uma boa estreia de Danilo Leonardi, e só vou trocar o livro porque não pretendo ficar com livros que não pretendo reler.

Avaliação final: 3,5/5