sexta-feira, 23 de setembro de 2016

The Complete Polysyllabic Spree, Nick Hornby

 
(...) all the books we own, both read and unread, are the fullest expression of self we have at out disposal. (...) with each passing year, and with each whimsical purchase, out libraries become more and more able to articulate who we are, whether we read the books or not. Maybe that's not worth the thirty-odd quid I blew on those collections of letters, admittedly, but it's got to be worth something, right?
Eu tive uma fase muito Nick Hornby na vida. Foi quando eu descobri que existia literatura que falava sobre cultura pop, o que foi logo depois de ter descoberto que eu me importava com cultura pop. Eu e o autor passamos por momentos muito bons juntos, em que cheguei a colocá-lo entre os meus escritores favoritos, e outros nem tanto, quando percebi que qualquer um com uma obra mais extensa é capaz de decepcionar. Minha irmã comprou vários livros dele, com suas capinhas bonitinhas das edições em inglês, mas eu os deixei parados na estante por bastante tempo. Aí eu senti vontade de ler algo de não-ficção e peguei o The Complete Polysyllabic Spree. Não acredito muito em "momento certo" de leitura, mas mesmo assim digo que valeu a pena a espera. Ler um livro que fala tão honestamente e com paixão sobre leitura em um momento em que você está lendo mais por obrigação — porque é o que você sempre fez, não exatamente porque você quer — me fez me lembrar conscientemente do quanto eu amo ler.

O livro é uma compilação de artigos que o Nick Hornby escreveu para a revista Believer. Neles, ele lista as leituras e compras de livros do mês e comenta um pouco sobre o que achou, além de digressões, piadas e reflexões sobre literatura. A primeira coisa que chama atenção, depois da diferença entre a quantidade de leituras contra a quantidade de livros comprados (quem nunca?), é a variação de gêneros que Hornby lê. Tem ficção contemporânea, clássica, histórias em quadrinhos, livros-reportagem, poesia e estilos variados de não-ficção. Como uma pessoa fã especialmente de romances,  as leituras dele em geral não chamaram a minha atenção. De repente tem páginas sobre um livro de, sei lá, beisebol, e você fica um pouco decepcionada, porque tem tantos livros legais que podiam ser mais comentados! Ao mesmo tempo, é interessante sair da zona de conforto e ver alguém falando com tanto interesse sobre um livro de beisebol. E eu consegui acrescentar alguns livros na minha lista de desejo, então valeu a pena.

No entanto, o destaque não são os comentários específicos sobre os livros lidos, e sim quando Nick Hornby fala sobre leitura. Eu não sou daquelas pessoas que acha que literatura é a melhor forma de arte e que "como assim você não gosta de ler? Credo!", mas vê-lo falando com tanta sinceridade e carinho sobre o assunto é bonito demais (desculpa, sou brega). E ele consegue não ser elitista, o que também é bem legal. Além disso, ele tem um estilo de escrita muito gostoso de ler. Sabe quando você pensa "queria escrever desse jeito"? Se eu escrevesse metade do que o Nick Hornby escreve, essa forma leve, despretensiosa e divertida que é muito particular dele, eu já estaria feliz.

Eu acho que esse livro é para qualquer um? Não acho. O humor do escritor não agrada todo mundo e às vezes ele exagera. Além disso, por se tratar de textos que originalmente eram de uma revista, a quantidade de piadas com a Believer perde o contexto aqui. Contudo, se você está precisando relembrar o porquê do seu amor pela leitura, vale a pena dar uma chance para esse livro. 

Avaliação final: 4/5

sábado, 10 de setembro de 2016

Os (não tão) últimos filmes que eu vi #19

1- Será que? (Michael Dowse, 2013)
Eu assisti algumas entrevistas com o Daniel Radcliffe pós-Harry Potter e, apesar de não gostar muito da sua atuação com o menino que sobreviveu, simpatizei o suficiente com o ator para ter curiosidade em ver mais filmes com ele. Será que?, com a Zoe Kazan, é uma daquelas comédias românticas menos mainstream de que eu tanto gosto. O tema é: é possível homens e mulheres serem só amigos? A resposta não vai te surpreender... O filme é fofo, previsível e as partes cômicas são um pouco exageradas, como é típico de filmes desse estilo. O que me surpreendeu é o final feliz demais. Não achei o epílogo necessário, mas tudo bem. Avaliação: 3,5/5

2- Rede de intrigas (Sidney Lumet, 1976)
Decidi aleatoriamente por um filme dos anos 70 e que tivesse na Netflix para ser o clássico do mês. A história é sobre um canal de televisão, acompanhando um apresentador que desabafa ao vivo e diz que vai se suicidar, gerando um bafafá. O canal tem a escolha de abafar o caso ou de criar mais atenção para ele, e obviamente escolhem a segunda opção, percebendo que o sensacionalismo era tudo que eles precisavam para fazer sucesso. As críticas que o filme desenvolve são interessantes, mas um pouco batidas hoje: a gente já sabe quanto a TV nos manipula. A história em si também é interessante, mas sofre de um mal: são muitos homens brancos de meia-idade de terno e eu, que não sou a pessoa mais habilidosa em distinguir feições do mundo, só aprendi quem era quem lá pela metade do filme, o que deixou o começo meio confuso. Enfim, entendo a importância do filme, mas não o acho indispensável hoje. Avaliação: 3,5/5

3- Frank (Lenny Abrahamson, 2014)
Em uma palavra, Frank é estranho. Afinal, é sobre um homem  que usa uma cabeça de papel machê e se recusa a tirá-la. Não vemos o mundo, no entanto, pelos olhos de Frank — até porque seu campo de visão deve ser limitado com a cabeça falsa, risos —, mas por Jon, músico novato que entra na banda de Frank. É um filme interessante que discute questões como a comercialização da arte e o sofrimento do artista, tudo isso com músicas um tanto incomuns. Frank é uma estranheza que não vai agradar a todos, mas eu gostei. Avaliação: 4/5

4- A série Divergente: Insurgente (Robert Schwentke, 2015)
Acho que eu gostei mais do filme de Divergente do que do livro, então fiquei curiosa para ver a continuação. Só que aí tive preguiça de ver no cinema e perdi o ânimo, e decidi que só assistiria antes de ler Convergente para poder relembrar a história. Isso não adiantou muito, porque a adaptação muda bastante coisa em relação ao livro. A maioria das diferenças não passa de detalhe — a história e os dramas precisam ser enxugados para um filme de duas horas, afinal de contas —, mas a parte final é bem diferente, e me deixou em dúvida se a conclusão dos filmes será parecida com a da série ou se vão inventar mais. Não sei se é porque não gosto muito do segundo livro, ou mesmo se é porque não vi o filme no cinema, mas Insurgente me empolgou bem menos que o primeiro. Não cheguei a achar cansativo, mas também não achei divertido. Veremos o que vai acontecer com os próximos. Avaliação: 3/5

5- De repente 30 (Gary Winick, 2004)
Eu passei minha pré-adolescência desejando ser criança e parar de crescer. Por isso, não era muito fã desses filmes de adolescente, aos quais só assistia quando ia na casa das minhas amigas. É uma falha de caráter que estou tentando curar atualmente. É maravilhoso ver um filme desses em 2016, porque ele apresenta o que os anos 2000 têm de melhor (e de pior) e se eu visse na época que foi lançado ele simplesmente não teria o mesmo brilho. De repente 30, se vocês não sabem, nos apresenta a Jenna, uma garota com 13 anos recém-completados. Ela sonha em ser popular, mas é claro que seu melhor amigo é um loser. Depois de um desastre na sua festa de aniversário, ela deseja ter 30 anos e consegue realizar esse desejo. A partir daí, já sabemos o que vai acontecer — uma série de confusões com a vida adulta, a descoberta de que ela se tornou o que queria, mas não do jeito que queria, e a tentativa de resolver isso. É muito clichê, e é completamente adorável. Mark Ruffalo está ótimo como o melhor amigo dela versão crescida, e apesar de eu não ir muito com a cara da Jennifer Garner ela também convence. O filme tem cenas forçadas e totalmente inverossímeis, mas obviamente não assistimos De repente 30 em busca da realidade. Por que Hollywood não produz mais filmes com enredos batidos e mirabolantes como esse hoje? (ou produz e eu não estou sabendo?) Avaliação: 3,75/5

6- Depois do casamento (Susanne Bier, 2006)
Vi esse filme porque queria assistir algo com o Mads Mikkelsen no elenco. Eu não sabia sobre o que era antes de assistir, só a sinopse, que envolve um dono de um orfanato na Índia que volta para a Dinamarca. Foi ótimo saber só isso porque eu não fazia ideia de aonde o filme ia e a surpresa foi um fator importante para me fazer gostar do filme. Basicamente é um drama bem novelesco... E é isso. Não tem muito o que falar. Os atores principais estão bem e achei curioso como a câmera sempre pousava nos olhos ou na boca de alguém — não que eu saiba o que isso quer dizer além do efeito estético. Não me arrependi de assisti-lo, mas é um filme um tanto esquecível. Ah, e depois de tanto tempo vendo o Mads interpretando vilões, foi bom vê-lo sendo um mocinho para variar. Avaliação: 3,5/5

7- Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban (Alfonso Cuarón, 2003)
Eu assisti várias vezes esse filme e lembro que era um dos meus favoritos de Harry Potter. Ao revê-lo esse ano, não sei dizer por que gostava tanto. Quer dizer, a ambientação dele é bem legal, o clima sombrio, a trilha sonora, mas como adaptação ele não funciona tão bem. O roteiro não explica coisas importantes, como quem são os marotos, e fica tudo meio solto na trama. Além disso, toda hora eu ficava pensando "ah, no livro dava para entender melhor os sentimentos do Harry, dava para entrar melhor na história". É um filme gostoso para ver quando reprisa na TV, mas assistir pensando conscientemente sobre ele já não é tão divertido. Avaliação: 3,5/5

8- Califórnia (Marina Person, 2015) 
Eu nunca me recuso a ver um filme brasileiro sobre jovens. Califórnia se passa na São Paulo dos anos 80 e têm dilemas e clichês típicos do cinema adolescente — a primeira vez, a paixão pelo menino popular, as amigas fofoqueiras, o garoto novos na escola — e outros nem tanto, como a protagonista, Teca, tendo que lidar com a doença do seu tio. No geral o filme não apresenta grandes novidades, mas gostei da personagem principal e do JM, o garoto ~misterioso~. Tenho um pouco de preconceito com música dos anos 80, mas gostei bastante da trilha sonora. Ah, e filmes que se passam em São Paulo são especiais para mim porque reconheço algumas das paisagens. Aqui o destaque fica para uma citação ao colégio onde eu estudei. Avaliação: 3,5/5

9- Garotas (Céline Sciamma, 2014)
Garotas é da mesma diretora de Tomboy outro filme que recomendo — e retrata o processo de independência da protagonista, que começa mais tímida e submissa e se torna mais aberta, ou, nos vocabulários feminista atuais, empoderada ao se aproximar de um grupo de garotas similar a uma gangue. O filme discute questões como racismo, desigualdade social, machismo e violência, mas sem se tornar didático. Os temas são abordados porque fazem parte da vida das meninas, ponto. Também gostei de como as personagens principais nunca são julgadas pelo filme — seria fácil criar uma lição de moral para a história, mas não há respostas prontas no final. Avaliação: 4/5

10- G.B.F.  (Darren Stein, 2013)
O filme me chamou a atenção por ser uma comédia adolescente com protagonista gay, porque quão frequente é isso? GBF se refere a "gay best friend" e após o termo entrar na moda, as populares da escola do personagem principal passam a querer ter um também. É um daqueles filmes que exagera nos estereótipos no começo para depois subvertê-los. É um filme bem estilo série da MTV, com diálogos rápidos e cheios de referências à cultura pop, além de incluir no elenco alguns dos próprios atores de séries da emissora — além da atriz da Luna Lovegood interpretando uma religiosa fervorosa. Enfim, é um filme divertido, bem exagerado no cômico e no caricatural, e bom para matar o tempo, com o diferencial da temática LGBT.  Avaliação: 3/5