terça-feira, 30 de setembro de 2014

A casa dos náufragos, Guillermo Rosales

A casa dos náufragos

A única que se manteve fiel aos laços familiares foi essa tia Clotilde, que decidiu cuidar de mim e me hospedou durante três meses em sua casa. Até o dia em que, aconselhada por outros familiares e amigos, decidiu me pôr na boarding home; a casa dos escombros humanos.

— Porque você há de compreender que não se pode fazer mais nada.

Eu a entendo.

Li A casa dos náufragos por acaso, porque minha irmã pegou o livro na biblioteca. Eu não tinha muitas expectativas sobre a leitura, nunca tinha ouvido falar do livro e decidi ler só porque ele é curto e cabe no desafio de Volta ao mundo, representando Cuba.

O livro conta a história de William Figueras, um cubano exilado em Miami que é deixado pela família em uma boarding home, um tipo de asilo, por ter alucinações e um comportamento paranoico. Lá, ele convive com pessoas abandonadas e loucas, sofrendo nas mãos do mesquinho dono do local e do zelador e naufragando na miséria.

É interessante observar as semelhanças do livro com a vida do autor. Guillermo também passou por boarding homes no seu exílio e se decepcionou com a Revolução Cubana, que antes ele apoiava, então ele fala com propriedade sobre o assunto, tornando a história fácil de ser imaginada.

O tom da escrita é seco e enxuto, o que resulta num livro curto. Isso não é um defeito, mas acabou dificultando o processo de conexão emocional do livro comigo e fez A casa dos náufragos se tornar esquecível para mim, pouco marcante. De qualquer jeito, a intenção do autor provavelmente não era emocionar nem nada do tipo, me parece que ele simplesmente quer desabafar, que ele sente a necessidade de escrever.

É uma leitura rápida, eu li facilmente em um dia, mas tem várias camadas psicológicas, filosóficas e históricas por trás do livro. Eu só não fiquei com tanta vontade de ir atrás delas. Sabe quando você sabe que um livro é bom mas não consegue gostar tanto da leitura quanto gostaria? Foi isso que aconteceu.

Avaliação final: 3,5/5

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Os últimos filmes que eu vi #7

1- Garota fantástica (Drew Barrymore, 2009)

Garota fantástica Quis ver o filme logo depois de ler o livro (com isso, dá para ver o quanto essa seção está atrasada). Embora eu ache legal essa comparação em seguida, acho mais difícil de avaliar o filme sozinho desse jeito. O filme foca mais na parte esportiva e é bem clichê, com um clima de superação, mas conseguiu me conquistar e até me emocionei um pouquinho no final. Avaliação: 3,5/5

  2- Frozen: uma aventura congelante (Chris Buck e Jennifer Lee, 2013)

Frozen Bom, eu tinha uma certa birra com Frozen. Fico meio brava quando qualquer animação 3D faz muito sucesso porque quanto mais isso acontece menos incentivo vão dar para animações 2D. E todo mundo falava taaaanto do filme, como se fosse a melhor coisa do mundo, o filme mais inovador, revolucionário e feminista que toda a humanidade já viu… Eu já estava cansada só de ouvir falar de Frozen. Mas eu sabia que quando assistisse, provavelmente iria gostar do filme. E eu gostei, mas continuo achando superestimado. No começo, estava achando o filme meio chatinho, só comecei a aproveitar melhor na parte da aventura de Anna, Kristoff e companhia — o Olaf me conquistou. Achei a Elsa pouco desenvolvida e não gostei da maioria das músicas, o que não foi nenhuma surpresa porque não costumo gostar de musicais. Toda aquela coisa de quebrar clichês machistas e tal é interessante, mas não acho que a parte familiar nem as questões mágicas tenham sido bem desenvolvidas, então acabou ficando meio estranho para mim. Não sei, senti que faltou coisa no filme. Avaliação: 3/5

3- A culpa é das estrelas (Josh Boone, 2014)

A culpa é das estrelasNão pretendia ver o filme no cinema, mas aí ele foi para a sessão especial, cuja meia entrada custa 3 reais… Li o livro e não consegui me conectar com os personagens. No filme, continuei achando-os falsos, sem vida própria. Não liguei para a parte romântica e para o final trágico. Mesmo assim, a adaptação me emocionou mais que o livro, porque eu me importei com a família da Hazel e os pais dela quase me fizeram chorar. Como o enredo não teve nenhuma surpresa, tirei 0,5 estrela em relação ao livro — acho adaptação muito fiel sem graça —, mas quem sabe se tivesse visto o filme primeiro eu teria gostado mais dele… Avaliação: 3/5

4- Da colina Kokuriko (Goro Miyazaki, 2011)

Da colina Kokuriko Descobri que estão passando várias animações japonesas na HBO, o que me dá uma força para eu assistir a filmes que quero ver faz tempo mas não vejo porque tenho preguiça de assistir online. No geral, Da colina Kokuriko é um filme leve, delicado e muito bonito. Não é fantasioso ou grandioso quanto os filmes mais famosos do Ghibli, é mais cotidiano e nostálgico e reflete vários elementos da cultura japonesa — que eu demorei para captar ou simplesmente não entendi por falta de conhecimento no assunto… Eu preferiria que o filme terminasse de outro modo e não o achei especialmente marcante, mas vale a pena para fãs de animação, talvez não pela história, mas pelo menos pelos cenários lindos. Avaliação: 4/5

  5- Paris-Manhattan (Sophie Lellouche, 2012)

Paris-Manhattan Vi essa comédia romântica francesa no Telecine Play porque queria me distrair. É um filme curto, com menos de uma hora e vinte minutos, e apresenta a história de Alice, uma mulher solteira obcecada pelo Woody Allen. Sua família lhe apresenta vários pretendentes, mas Alice sempre acaba sozinha conversando com seu pôster do Woody Allen, até que, como em toda comédia romântica, as coisas mudam. Achei o filme divertido, serviu para o seu propósito de distração, mas não é grande coisa. Dizem que tem muitas referências aos filmes do diretor de quem Alice tanto gosta, mas não percebi muitas delas, porque não vi a maioria dos filmes dele, então recomendo o filme mais para quem também é fanático pelo Allen. Avaliação: 3/5

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Love is a mix tape, Rob Sheffield

Love is a mix tape

I have built my entire life around loving music, and I surround myself with it. I’m always racing to catch up on my next favorite song. But I never stop playing my mixes. Every fan makes them. The times you lived through, the people you shared those times with—nothing brings it all to life like an old mix tape. It does a better job of storing up memories than actual brain tissue can do. Every mix tape tells a story. Put them together, and they add up to the story of a life.

Conheci Love is a mix tape: life and loss, one song at a time por aí, em algum blog. A história de um homem que conta sobre o seu amor por música e por uma mulher me lembrou de Alta fidelidade, então fiquei curiosa para ler.

Rob Sheffield, jornalista musical, conta a história da sua vida no livro. Desde os anos de criança e adolescente, quando se preocupava em fazer as mix tapes para os bailes da escola, até a vida adulta, quando se casou com Renée e alguns anos depois se tornou um jovem viúvo, Rob sempre se importou com música. Os capítulos do livro começam com mix tapes que Rob ouviu em algum momento da vida, e a partir disso ele desenvolve suas memórias e suas reflexões sobre música. Há desde capítulos mais cronológicos, em que o autor narra o que estava acontecendo com ele na época e a mix tape é um simples pretexto para isso, até capítulos mais soltos, como o que ele fala sobre as fitas que gosta de ouvir ao lavar louça e como ele lavava louça depois de brigar com a esposa, o que o leva a listar os motivos de briga entre eles.

Em uma autobiografia, é comum que a gente não goste exatamente do peso que cada coisa recebe na história. Eu senti falta de um maior desenvolvimento de Renée. É um livro sobre amor, mas embora Rob repita constantemente o quanto ama sua mulher e o quanto ela fez dele um homem melhor e fale sobre a vida de casados, ele raramente deixa a esposa brilhar sozinha e eu não sinto que a conheci como possivelmente era a intenção de Rob ao escrever o livro. Mas isso não chega a ser um grande problema porque a estrela desse livro é realmente a música.

Há partes do livro bem universais, que falam sobre qualquer um que goste minimamente de música e sobre como ela faz parte da nossa história pessoal. Outras são mais específicas, e o problema disso é que, como não sou tão fanática por música hoje e sou da geração CD ou da MP3, eu não conhecia muitas das referências que aparecem no livro e nem posso me relacionar com a emoção de fazer uma mix tape, visto que nunca fiz uma. Acho legal conhecer músicas novas, mas ao mesmo tempo é difícil conciliar a leitura com a pesquisa pelas músicas bem na hora que elas são citadas. De qualquer jeito, não considero que isso defeito do livro; só faltou uma bagagem musical maior para mim, o que acabou prejudicando um pouco a minha leitura e diminuindo a minha avaliação pessoal. E eu recomendo muito a leitura para quem gosta de mix tapes e do movimento musical dos anos 80 e 90 — uma pena que o livro não tenha tradução para o português.

Love is a mix tape é um livro muito gostoso de ler, e o autor narra com uma sinceridade que faz que a gente vá se envolvendo mais e mais na história dele — por mais que eu tenha achado que Renée poderia ter sido mais explorada em vida, algumas partes após sua morte chegaram a me emocionar, porque Rob é muito honesto sobre seus sentimentos e é fácil de se identificar com ele em vários momentos. Às vezes, mesmo quando ele falava sobre músicas que eu nunca tinha ouvido falar, eu continuava achando a leitura deliciosa, porque esse é o poder de quem escreve bem e escreve sobre coisas que ama. Nesse sentido, acho que acertei com a comparação com Alta fidelidade.

Vou deixar mais um trechinho, sobre a morte do Kurt Cobain, porque eu achei o capítulo sobre isso muito bom e  ele une bem os temas do livro o amor e a música:

The Unplugged music bothered me a lot. Contrary to what people said at the time, he didn’t sound dead, or about to die, or anything like that. As far as I could tell, his voice was not just alive but raging to stay that way. And he sounded married. Married and buried, just like he says. People liked to claim his songs were all about the pressures of fame, but I guess they just weren’t used to hearing rock stars sing love songs anymore, not even love songs as blatant as “All Apologies” or “Heart-Shaped Box.” And he sings, all through Unplugged, about the kind of love you can’t leave until you die. The more he sang about this, the more his voice upset me. He made me think about death and marriage and a lot of things that I didn’t want to think about at all. I would have been glad to push this music to the back of my brain, put some furniture in front of it so I couldn’t see it, and wait thirty or forty years for it to rot so it wouldn’t be there to scare me anymore. The married guy was a lot more disturbing to me than the dead junkie.

Avaliação final: 3,5/5

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Luna Clara & Apolo Onze, Adriana Falcão

Luna Clara & Apolo Onze

O pai de Luna Clara andava por aí pelo mundo, com a chuva sempre chovendo na cabeça dele, desde que (por uma estranha coincidência do destino) ele se desencontrou do seu amor, olha só que coisa mais triste.

Fazia mais de treze anos que o pai e a mãe de Luna Clara se encontraram, se apaixonaram, se casaram e se perderam um do outro, tudo isso em três dias apenas.

Diziam que ele era muito sortudo antes.

Infelizmente, um dia, ele perdeu a sorte.

O primeiro contato que tive com Luna Clara & Apolo Onze foi na livraria. A capa do livro me chamava a atenção sempre que passava na seção infantojuvenil. Mesmo assim, nunca comprei o livro. Não sei se isso aconteceu porque o livro não tinha sinopse fácil de achar ou porque eu tinha preconceito contra livro juvenil brasileiro. Aí a minha fase de comprar livro com preço integral passou, comecei a ver bastante gente falando bem do livro na Internet e fiquei mais curiosa ainda para ler, até que minha irmã o alugou na biblioteca. 

Luna Clara & Apolo Onze, como o título indica, conta a história de Luna Clara e Apolo Onze. Ela mora em Desatino do Norte e espera todos os dias a chegada do seu pai. Ele mora em Desatino do Sul e vive uma eterna festa com os moradores da cidade, mas não sabe o que deseja. Um dia, por uma coincidência do destino, os dois se encontram e, finalmente, dão conclusão a uma história que já os unia desde o começo.

O trunfo do livro é ter um enredo simples e ao mesmo tempo diferente com uma narração gostosa de ler e criativa. A história é um pouco confusa no começo, cheia de personagens com nomes curiosos, mas logo a gente os conhece melhor e passa a torcer para que os desencontros finalmente acabem e a sorte de Doravante volte.

O livro tem ilustrações bonitinhas e é formado por capítulos curtos e fáceis de ler. São trezentas e vinte páginas, mas elas passam bem rápido e não duvido que dê para ler tudo em um dia eu, uma leitora lerda, li em três.

Dos pontos negativos, eu não gostei muito do final dos personagens Luna Clara e Apolo Onze e achei alguns momentos repetitivos. No primeiro caso, isso é puramente questão de gosto. No segundo, sei que a lentidão dos acontecimentos é proposital, mas achei que algumas páginas poderiam ter sido enxugadas mesmo assim.  

Bom, definitivamente recomendo o livro para fãs de infantojuvenis. Eu gostaria de ter lido Luna Clara quando eu era mais nova, mas adorei ter lido agora também.

Avaliação final: 4/5

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Se eu ficar, Gayle Forman

Se eu ficar

(…) acredito que é verdade. Ouço as palavras da enfermeira de novo. Sou eu quem está no comando. Todos estão esperando por mim.

Sou eu quem deve decidir. Agora sei.

E isso me aterroriza mais do que qualquer outra coisa que aconteceu hoje.

Gosto de música, mas não sou fanática por nenhuma banda a ponto de querer ler biografias ou coisas do tipo. Mesmo assim, acho interessante ler livros que tenham a música como parte fundamental do enredo. Meu plano não era ler Se eu ficar para o DL do Tigre, porque eu achava que não tinha música suficiente no livro, mas de repente todo mundo estava falando sobre essa história por causa do filme e eu fiquei curiosa para ler.

A história é sobre Mia, uma jovem violoncelista que sofre um acidente de carro com a sua família. Seus pais morrem e ela acha que morreu também, porque não parece ferida, mas percebe que na verdade ela saiu do seu corpo, e o seu corpo está em coma. Para ficar mais fácil de entender, é como se ela tivesse virado um fantasma sem ter morrido. Ela vai ao hospital, seguindo o seu corpo, e vê as pessoas ao redor, sua família, sua amiga, seu namorado Adam, reagindo ao acidente. Depois ela descobre que tem controle sobre sua saúde, que deve decidir entre ficar ou ir embora, viver e voltar ao seu corpo ou morrer. Por isso, Mia acaba refletindo também sobre momentos marcantes da sua vida.

Não acredito muito nesse poder de decisão de Mia do ponto de vista científico não que eu saiba algo a respeito disso, só costumo ser cética mesmo , mas achei a ideia do livro interessante, retratar a decisão entre a vida e a morte quando já se perdeu muita coisa. Isso destaca o livro de outros vários YA contemporâneos que lidam com os mesmos assuntos: o futuro, o amor, a música…

O livro tem a narração dividida entre o presente, que é constituído dos momentos no hospital após o acidente, e o passado, que são as partes que Mia relembra relacionando-as com o seu presente. Gostei da narrativa ser desse jeito porque deu para conhecer melhor os personagens, sabendo do presente e de como eles fizeram parte da vida da protagonista. Vi algumas pessoas que acharam o livro entediante, reclamando que não acontece nada na história, mas a narração da Mia me prendeu e não achei cansativo em nenhum momento. É um pouco repetitivo às vezes, mas como o livro é curto, isso não chegou a me irritar.

Mesmo tendo achado a leitura envolvente, tive vários probleminhas pessoais com algumas coisas. Primeiro, achei Mia e Adam um pouco entediantes, faltou carisma. Não consegui me conectar com ela ou com vários outros personagens, possivelmente porque muitos deles são perfeitos demais. As partes do livro que mais me emocionaram foram em relação aos avós dela, porque sou bem sensível tratando-se de avós. Além disso, achei estranho que a Mia não descreve a reação de ninguém ao acidente como um todo, e por isso parece que a parte viva da família só se importa com a Mia e que não perdeu outras pessoas no mesmo dia se eu descrevesse a sala de espera no hospital, faria questão de dizer que tinha gente chorando, porque afinal de contas, eles perderam filhos, irmãos… Não é possível que só gostassem da Mia ou que todos estivessem em estado de choque.

Achei interessante o livro tratar de música e de diferenças musicais Mia é da música clássica, seu namorado e sua família são roqueiros , mas revirei os olhos sempre que Mia achava que ela era muito esquisita por gostar de música clássica ou que violoncelo não combina com rock. É curioso, porque ela me parece madura na maior parte do tempo, mas tem seus momentos de grande insegurança. Aliás, justamente por isso que achei Mia sem graça ela é a típica garota de YA normal e insegura. Não é uma falha da autora, só que depende muito do leitor se ele vai se identificar com a personagem. Eu me identifico com várias garotas normais e inseguras, mas não deu certo com a Mia.

Outra coisa que me incomodou foi o final rápido demais. Terminei o livro com aquela sensação de “esse é o fim?”. No fundo, achei o final esperto, mas mesmo assim queria mais explicações. Se eu ficar tem uma continuação narrada pelo Adam que me chamou a atenção pelo trecho que eu li. Talvez eu encontre o carisma pelo qual estava procurando na continuação. Talvez não. De qualquer jeito, Se eu ficar foi uma leitura rápida e que me prendeu, mesmo que eu não tenha conseguido me conectar emocionalmente do jeito que eu queria.

Avaliação final: 3,5/5

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Comentários sobre livros #1

Há pouco tempo, organizando os livros de casa, separei vários livros infantis meus e da minha irmã para doar. Como sou apegada à maior parte das minhas coisas, eu quero ler os livros antes de dá-los. Aí surgiu a ideia de fazer pequenos comentários sobre eles no blog, assim como faço com filmes. Nessa categoria, vou incluir qualquer livro que eu leia e que não vai receber uma resenha própria. A maioria vai ser infantil, releitura e/ou livros curtos. Não sei até quando esse tipo de post vai durar ou a frequência com que ele vai sair, visto que isso depende muito do que eu leio. Vale lembrar que as opiniões do post são completamente pessoais e que não sou o público-alvo de grande parte dos livros comentados aqui.

1- O Sítio no Descobrimento, Luciana Sandroni

O Sítio no descobrimentoEsse é um dos livros que são da meus e da minha irmã, mas que a gente ganhou quando eu era muito nova para ter interesse por ele. Aí ele acabou ficando guardado no quartinho, esquecido, até que eu o resgatei para lê-lo pela primeira e última vez já que ele vai embora. Talvez por eu ter expectativas baixas, acabei achando o livro bem simpático. Faz tempo que não leio nada do Sítio, então não sou a melhor pessoa para julgar, mas acho que a autora captou bem o espírito dos personagens do Monteiro Lobato e não exagerou no didatismo. Avaliação: 3/5

2- A bruxa Salomé, Audrey Wood. Ilustrações de Don Wood

A Bruxa Salomé Não sei exatamente o porquê, mas esse livro é um dos mais marcantes da minha infância. Relendo-o, achei interessante, parece um conto de fadas tradicional, mas hoje acho difícil me conectar com livros infantis se não acho as ilustrações bonitas e, apesar de bem feitos, os desenhos de A bruxa Salomé não são do meu estilo. Então não vou ficar com o livro. Avaliação: 3,5/5 

3- A hora da caipora, Regina Chamlian. Ilustrações de Helena Alexandrino

A hora da caiporaLivro sobre folclore brasileiro, eba! Fico triste ao ver que muitos livros infantis brasileiros são bem menos populares que os estrangeiros no Skoob, sendo que temos autores e ilustradores de qualidade aqui. Gosto de como a autora introduz a figura da caipora em uma narrativa interessante, que prende a atenção. Mas me incomoda o fato de a caipora ser descrita como índia e ser desenhada com traços que para mim parecem brancos. Em geral quando penso na caipora penso nas ilustrações desse livro, então me sinto meio errada. Avaliação: 3,5/5

4- Mamãe botou um ovo!, Babette Cole

Mamãe botou um ovo Gosto muito das ilustrações da Babette Cole e acho esse livro muito bom, tanto que vou continuar com ele. Acho legal que ele mostra as crianças como espertas e que as coisas são explicadas de forma leve e divertida. Tiro 0,5 da minha avaliação porque o livro tem noções meio sexistas: os pais dizem que os meninos nascem da sujeira e as meninas de coisas graciosas. É piadinha só, mas prefiro que livros infantis não incentivem estereótipos de gênero de qualquer tipo, porque crianças são mais influenciáveis sou chata, eu sei. Avaliação: 4,5/5 

5- As valentinas, Luiza Trigo

As ValentinasEsse eu baixei de graça no Kindle. É uma história que antecede o livro Meus 15 anos. Eu tenho curiosidade de ler mais histórias brasileiras juvenis/adolescentes, então fiquei feliz de poder sentir um gostinho de uma sem precisar comprar o livro, até porque agora eu já sei que não vou comprá-lo. Sinto que eu não sou a pessoa certa para gostar de As Valentinas. O livro é destinado a meninas mais novas e por mais que eu tenha achado algumas coisas do conteúdo interessantes, pelas semelhanças com a minha antiga vida escolar (eu também tinha aula de projetos!), não gostei da linguagem. É muito moderninha, usa # no meio do livro (#quelivromoderno.com) e tal. Sei que tem muita gente que fala assim, mas eu achei bem estranho ver isso em um livro, não me identifiquei em nada. Porém, também acho a escrita da Thalita Rebouças forçada e e milhares de jovens gostam dela, então quem sou eu para julgar… No geral, As valentinas é uma leitura divertida, mas como não aprofunda muito, acaba trazendo poucas novidades. Não pretendo ler Meus 15 anos, mas no fundo fiquei até curiosa para saber o desfecho da história… Avaliação: 2/5

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Adeus tristeza, Belle Yang

Adeus tristeza

Ganhei Adeus tristeza de uma amiga. O livro ficou parado por quase dois anos na minha estante, mas finalmente o li! Ele foi o primeiro sorteado da minha TBR jar. Eu provavelmente vou usar pouco o sorteio, já que participo de desafios literários e alugo vários livros na biblioteca, mas quando tenho tempo para ler algo meu fico tão indecisa que achei uma boa ideia fazer uma lista de livros para sortear. 

Adeus tristeza é uma graphic novel autobiográfica que conta a história da família da autora, a partir de conversas entre ela e seu pai, mostrando em seu pano de fundo parte da história chinesa.

Demorou um pouco para eu entrar na história, porque fiquei confusa no começo com os personagens e com as diferenças de tempo — o presente, que é a época da narradora, e o passado, a narrativa que o pai conta. A família da autora é grande e nem sempre é fácil reconhecer quem é quem pelo desenho, mas depois de um tempo a gente se acostuma.

O livro não é tão didático quanto Persépolis na questão histórica, o leitor sabe o que está acontecendo na China apenas a partir do que aconteceu com a família, sem explicações por fora. Isso é bom porque é a ideia do livro mesmo, mostrar como a família foi afetada, mas acho que eu acabaria aproveitando mais se soubesse mais sobre história chinesa antes de lê-lo. Ou seja, eu deveria ter lido o livro quando ganhei e estudava a história da China na escola, já que agora esqueci tudo que tinha aprendido, ops…

A arte do livro não é das minhas favoritas, não gostei muito do traço das pessoas, mas isso é questão de gosto pessoal. De qualquer jeito,  achei bom que a história tenha sido escrita em uma graphic novel, senti que era o meio certo pelo qual ela devia ser contada.

Para resumir, foi uma leitura interessante. Não é minha graphic novel favorita, mas vale a pena para quem se interessa por quadrinhos realistas, sem fantasia ou super-heróis.

Adeus tristeza 2

Avaliação final: 3,5/5

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A volta ao mundo em oitenta dias, Júlio Verne

A volta ao mundo em oitenta dias

Sir Francis Cromarty não deixara de reconhecer a originalidade de seu companheiro de viagem, embora só tivesse podido observá-lo de cartas na mão e entre duas rodadas. Assim, tinha razões para perguntar-se se um coração humano batia sob aquele invólucro frio, se Phileas Fogg possuía uma alma sensível às belezas da natureza, às aspirações morais. Para ele, tratava-se de um enigma. De todos os personagens excêntricos que o general-de-brigada já conhecera, nenhum se comparava àquele produto das ciências exatas.

                                                                  (A volta ao mundo em oitenta dias, pp. 68-69)

Fiquei feliz quando vi que o Júlio Verne era um dos autores do Volta ao mundo em 12 livros. A volta ao mundo em oitenta dias está na estante de casa há muito tempo, e mesmo com minha irmã dizendo que o livro é legal, eu não tinha tanta vontade de lê-lo, por causa da preguiça que tenho tratando-se de clássicos em geral. Mas deixei a preguiça de lado esse mês, e até que me surpreendi.

O livro conta a história muito famosa do excêntrico Phileas Fogg, inglês que aceita uma aposta de dar a volta ao mundo em oitenta dias. Na companhia do seu criado Passepartout, ele viaja pela França, Índia, China e Estados Unidos, entre outros, usando como meios de transporte trens, barcos e até um elefante. Ao mesmo tempo, o policial Fix procura por um ladrão de banco que estranhamente se parece com a figura de Fogg, então ele passa a perseguir o inglês, buscando por um modo de prendê-lo, e entra junto na viagem.

O enredo do livro parece um pouco sem graça. E é, em alguns momentos, em que só são descritos os procedimentos da viagem: em tal horário, eles pegaram um barco para ir a tal lugar, e a viagem foi normal e eles chegaram no outro lugar, e pegaram um trem, etc. Mas mesmo assim eu fiquei curiosa para saber o que ia acontecer, se o Fogg ia ganhar a aposta e como a situação com o Fix se resolveria, então achei o livro envolvente. Além disso, o narrador é bem humorado, e alguns personagens, como Passepartout, são carismáticos, o que melhora a situação quando a história fica cansativa.

O complicado de ler alguns clássicos é se deparar com a visão de mundo da época ou do autor, mais racista e machista do que a de hoje, além de, nesse caso, ser bem eurocêntrica. Júlio Verne não poupa opiniões sobre os lugares por qual Fogg passa, dizendo que indianos fanáticos são “energúmenos” ou que o Japão e a China não são civilizações, além de retratar indígenas norte-americanos como bandidos selvagens. Acho engraçado que alguém que vá escrever sobre uma viagem no mundo não tenha uma cabeça aberta, mas suponho que ele não teria como ter uma cabeça aberta, já que escreveu seu livro baseado em pesquisas e provavelmente no senso comum, e não chegou a ir para a maioria dos lugares descritos.

A outra coisa que me incomodou na obra é o seu final. Eu achei meio inverossímil a questão do Fogg ter conseguido ou não ganhar a aposta, e o final pessoal de alguns personagens me incomodou.

De qualquer jeito, acabei gostando da leitura. Recomendo o livro para quem tem curiosidade em relação a esse clássico, e acho que é uma boa sugestão para leitores mais novos.

Avaliação final: 3,5/5