quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Festa no covil, Juan Pablo Villalobos

Festa no covil

O Yolcault é meu pai, mas ele não gosta que eu chame ele de pai. Diz que somos o melhor bando de machos num raio de pelo menos oito quilômetros. O Yolcault é dos realistas, e por isso não diz que somos o melhor bando do universo nem o melhor bando num raio de oito mil quilômetros. Os realistas são pessoas que acham que a realidade não é assim, como você pensa que é. Foi o Yolcault que falou. (…) “É preciso ser realista” é a frase favorita dos realistas.

                                                                         (Festa no covil, pp. 10-11)

Esta foi a segunda leitura para o Desafio Literário do Tigre. Não estava na minha lista de opções, mas cheguei no fim do mês e não ia ter tempo para ler os outros. E de qualquer jeito eu tenho o livro e ele também estava na lista de leitura há séculos. Talvez não seja a escolha mais apropriada, porque eu não sei se foi a sinopse ou a capa que me fizeram ter vontade de ler o livro, mas se o livro tivesse a capa feia minha irmã provavelmente não o teria comprado. E vale dizer que a capa é bem mais laranja (quase neon), não esse tom coralzinho da imagem.

Festa no covil conta a história de Tochtli, um garoto filho de um chefão do narcotráfico mexicano. Ele mora em um palácio isolado, conhece pouquíssimas pessoas e sonha em ter um hipopótamo anão da Libéria.

O livro é narrado por Tochtli, então é um narrador infantil falando sobre coisas pesadas, sem ter consciência de tudo o que está por trás dos acontecimentos. Mas, diferente de outras histórias, como O menino do pijama listrado, ele tem mais noção do que está acontecendo e, até certo ponto, vive em um ambiente menos inocente. Por exemplo, ele fala com naturalidade sobre armas, morte e crime.

Festa no covil é um livro curto, com menos de cem páginas, e a leitura é rápida e divertida, mesmo com o tema pesado, com personagens engraçados e situações inusitadas. Então além de ser uma leitura com um conteúdo político mais evidente, também — ou talvez principalmente — entretém.

Avaliação final: 4/5

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O futuro de nós dois, Jay Asher e Carolyn Mackler

O futuro de nós dois

Acho que o site pode ser de verdade diz Emma. E não estou feliz.  

Dá para ver. Mas por quê?

Não responde ela. Estou falando do futuro. Eu nunca vou ser feliz.

                                                                                   (O futuro de nós dois, p. 35)

Emma e Josh eram melhores amigos. Mas Josh queria algo mais, e Emma o rejeitou. A relação deles fica estranha, até que o garoto dá a ela um CD-ROM da AOL e eles acessam sem querer os seus perfis do Facebook do futuro, de quinze anos depois. E descobrem que o futuro deles não é o que esperavam, para o bem ou para o mal, e que cada ação no presente traz muitas mudanças depois.

Me interessei pelo livro por causa da sinopse de viagem no tempo sem ser muito ficção científica. Gosto de temas “fantásticos” misturados com coisas cotidianas, como em A idade dos milagres e Before I fall.

A leitura de O futuro de nós dois é rápida e o livro prende a atenção, mas sinto que o livro poderia ser muito melhor do que foi. Os protagonistas são ok, bem desenvolvidos, mas eu não torci por eles (e acho que isso não teve relação com o fato de eles serem um pouco chatos, porque dava para entender por que eles eram chatos. O que me deixa brava é que vi muita gente falando mal da Emma e bem do Josh, sendo que o Josh também cometeu seus erros e teve atitudes idiotas). Eu não consegui me conectar emocionalmente com o livro, e isso é um problema quando a história é previsível, porque deixa a previsibilidade mais sem graça do que já costuma ser.

O livro também deixa algumas questões em aberto que eu gostaria que tivessem sido mais desenvolvidas. Ele aborda alguns pontos mas não os fecha, como o relacionamentos dos protagonistas com as suas famílias e a história de Kellan.

Apesar desses problemas, como eu já disse antes, o livro prendeu minha atenção. É uma boa leitura para se distrair, quando não se está procurando nada muito sério.

Avaliação final: 3,5/5

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Em chamas, Suzanne Collins

Em Chamas

Atenção: Esse post contém spoilers do primeiro livro!

Tenho saudades da minha antiga vida aqui. Nós mal conseguíamos nos manter vivas, mas sabia onde me encaixava, sabia qual era o meu lugar na trama bem-urdida que era a nossa vida. Gostaria muito de poder voltar para cá porque, olhando o passado, ela parece tão segura em comparação à que vivo agora, sendo tão rica e tão famosa e tão odiada pelas autoridades da Capital.

                                                                                                           (Em chamas, p. 13)

Em 2010, li Jogos vorazes. Gostei bastante, mas é do tipo de livro que se gosta enquanto lê, que não dá para largar. Depois de ler, eu meio que já esqueci dele. Quer dizer, não consegui esquecer, porque o livro foi um sucesso, virou filme, etc e tal. Continuei com a vontade de ler os outros volumes, mas não tão grandes assim para comprar o livro. Descobri que tinham muitos exemplares nas bibliotecas municipais, mas eles quase sempre estavam pegos onde eu e minha irmã frequentamos. Aí um dia, por sorte,minha irmã achou um exemplar na biblioteca.

Em chamas mostra Katniss e Peeta como vencedores dos últimos Jogos. Eles têm que fazer uma viagem entre os distritos, a Turnê dos Vitoriosos, e Katniss vai percebendo que, graças a ela e a seu gesto desafiador, as coisas não estão muito bem para a Capital. Há uma chance grande de ocorrerem levantes e rebeliões nos distritos. O clima de repressão aumenta, então, até ser anunciada a próxima edição dos Jogos Vorazes, com tributos vencedores das edições anteriores. Sem opção, Katniss tem que entrar na arena novamente, sem saber se vai voltar de lá.

Bom, o livro começa com uma parte mais política e também mais sentimental. Katniss fala sobre como estão suas relações com as pessoas do seu distrito depois que voltou dos jogos, se encontra muito confusa em um (entediante e previsível) triângulo amoroso e não sabe o que fazer diante das ameaças da Capital. Esta parte é interessante, mas achei um pouco arrastada demais, porque a Katniss estava muito egoísta e indecisa (fazia um plano se achando a gênia, aí mudava de ideia porque percebia que o plano era ruim) e fiquei com mais raiva dela do que já fico normalmente.

Fiquei ansiosa esperando pelos Jogos mas eles demoraram muito para chegar e passaram muito rápido, além de não serem especialmente marcantes (mas eu não sei o que eu estava esperando, porque também não acho os jogos no primeiro livro grande coisa). O que valeu a pena foram os novos tributos, com personagens interessantes como Finnick, Johanna e Mags, que mesmo não sendo muito desenvolvidos têm o seu carisma.

Acho que o livro é uma boa sequência, realmente não parece ter sido feita só por dinheiro ou algo assim. Tem algumas coisas que eu achei estranhas/forçadas ou não gostei, especialmente o final, mas talvez o terceiro volume deixe algumas coisas mais claras.

Enfim, acho que o livro cumpre bem o seu papel de entreter e traz também alguma reflexão. O fato de Katniss ser a narradora meio que me irrita e imagino que se eu provavelmente lesse todos os livros em sequência ficaria muito de saco cheio dela, mas mesmo assim o livro conseguiu me prender, porque eu estava curiosa para saber como ia terminar. Talvez se eu tivesse visto o filme antes o livro perderia a graça. Quero ver se a leitura do último volume será pior porque já sei de alguns spoilers…

Avaliação: 3,75/5 (eu não sabia se dava 3,5 ou 4)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Após o anoitecer, Haruki Murakami

Após o anoitecer

(…) nossos olhos fixam-se numa garota sentada ao lado da janela. Por que ela? Por que não outra pessoa? Não saberíamos responder. Mas o fato é que essa garota — não se sabe por quê — atraiu o nosso olhar, de um modo extremamente espontâneo. Ela está sentada numa mesa para quatro e lê um livro.

                                                                        (Após o anoitecer, pp. 8-9)

Já tinha lido um livro do Murakami antes, Norwegian Wood, e gostado bastante. Então, quando o autor foi o escolhido do mês no Volta ao mundo em 12 livros, pude ler Após o anoitecer.

O livro é sobre duas irmãs, Mari e Eri Asai. Eri está dormindo há dois meses, uma espécie de Bela Adormecida, e Mari sai à noite em Tóquio. O livro se passa em uma madrugada e mostra outros personagens que aparecem pelo caminho de Mari também, como uma prostituta chinesa que foi agredida, uma gerente de motel e um músico jovem colega de Eri.

O livro tem uma narração diferente, como se seguisse uma câmera, mais ou menos como no trecho que eu selecionei. O narrador é em terceira pessoa, para nos colocar dentro da história. Mas aí começam os problemas… Eu achei interessante ter um narrador diferente, mas não entendi exatamente o propósito dele para o livro. E algo na narração deixou os personagens um pouco artificiais, acho que pelo fato de a gente só vê-los muito de fora, além de algo estranho nos próprios diálogos. Não sei se é alguma coisa na tradução ou no próprio jeito do Murakami escrever, mas os diálogos não eram muito críveis, embora interessantes.

Além disso, também não gostei das partes da Eri Asai. Basicamente são uma descrição do quarto, dela dormindo e com algumas coisas meio estranhas no meio do caminho. Achei que teria uma explicação no final, mas não teve, e fiquei me perguntando qual o sentido por trás da história…

Fiquei bem triste de não ter gostado da leitura, porque é chato se decepcionar com um autor que você gostava (e mais chato ainda é continuar querendo ler outros livros dele mesmo depois da decepção)… O lado bom é que eu até entendo quem gostou do livro. Acho que é uma leitura de sensações e que tem muito por trás da suposta simplicidade do enredo. Eu só não consegui me animar para entrar no clima e nem para refletir mais sobre ele.

Avaliação final: 2,5/5

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Tchick, Wolfgang Herrndorf

Tchick Andamos a trinta por hora entre gramados e campos, sobre os quais o sol nascia devagar, em algum lugar atrás de Rahnsdorf, e isso foi a coisa mais bonita e rara que já tinha me acontecido. O que exatamente era raro é difícil de dizer, pois afinal tratava-se apenas de uma viagem de carro, e eu já tinha andado muitas vezes de carro. Mas existe uma diferença entre estar sentado ao lado de adultos que conversam sobre concreto lavado e Angela Merkel e estar sentado sem eles ali e sem ninguém conversando.                         

                                          (Tchick, p. 97)

Tchick é o apelido de um garoto russo, o novo colega na sala de Maik Klingenberg. Maik, o narrador da história, não vai com a cara de Tchick no início, mas muda de opinião quando se vê praticamente sozinho em casa nas férias, sem ter sido convidado para a festa da garota de quem ele gosta. Maik e Tchick, então, vão viajar pela Alemanha em um carro roubado e viver altas aventuras e confusões!

Visto desse jeito, o livro parece um pouco bobo. E é mesmo um pouco bobo, e daí? Mesmo assim, traz reflexões interessantes e têm todo aquele processo de amadurecimentos que road trips costumam ter. Maik sempre se achou um perdedor, um garoto entediante e invisível, mas nessa viagem ele pode conhecer novos amigos e conhecer melhor a si mesmo (mas o livro não é brega como eu estou fazendo-o parecer…).

Eu costumo gostar de livros com narradores meio losers, e não foi diferente com esse. Maik se acha um perdedor e não tem vergonha de narrar sua história com honestidade, tornando a narrativa mais divertida. A narração me lembrou um pouco o livro espanhol Manolito, embora este seja mais sobre o cotidiano e de um garoto mais novo. Fora isso, Tchick também tem outros personagens interessantes, como o próprio Tchick e os problemáticos pais de Maik.

Porém, como nem tudo é perfeito, não gostei muito das cenas de “ação” que tem com o carro e de algumas partes da viagem. Não sei se eu já estava sobre o efeito de leitura por obrigação (porque “tenho” que ler muitos livro este mês) ou justamente por achar as cenas chatas ou mal descritas, mas às vezes começava a viajar — não para os personagens estavam indo — durante a leitura e não entendia exatamente o que estava acontecendo.

Mas acho que vale a dica. Tchick é uma leitura descontraída e deve ser aproveitada sem muitas expectativas. Além de servir bem para quem quer fugir do lugar-comum dos livros de países de língua inglesa — o livro é alemão e eu o li para meu desafio de volta ao mundo em 80 livros.

Avaliação final: 4/5

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Os últimos filmes que eu vi #2

1- Compramos um zoológico (Cameron Crowe, 2011)

We Bought A Zoo Li o livro e mesmo não gostando muito dele, fiquei curiosa para ver o filme (por motivos de: animais e diretor de Quase famosos).

O livro não é muito emotivo, já o filme mistura a história sobre ter um zoológico — de uma maneira bem inacreditável, aliás — com uma drama familiar. E nenhuma dessas partes funciona muito bem. O filme também dá um par romântico para o pai e para o filho, mas não desenvolve o romance. Parece que colocaram os casais porque é uma obrigação hollywoodiana: se um homem e uma mulher de idades parecidas são solteiros, se dão bem e pelo menos um deles têm a vida infeliz por algum motivo, eles irão superar as adversidades como um casal, mesmo que não tenham exatamente química juntos.

Além disso, a personagem interpretada pela Elle Fanning é bizarra, do tipo de não saber se a atriz é ruim ou se a personagem é bizarra, e a menininha é um tanto irritante. Mas, apesar de tudo isso, o filme entretém, e às vezes é só isso que a gente quer. Avaliação: 3/5

2- Ruby Sparks: a namorada perfeita (Jonathan Dayton e Valerie Faris, 2012)

Ruby SparksTenho um fraco por filmes assim, com carinha de indie, e, apesar de não ter muita preferência por atores e coisas assim, simpatizo bastante com o Paul Dano. Então esperei o filme estrear na TV, porque não sou muito de ir ao cinema, e o assisti.

Acho legal a premissa do filme, a ideia de que é impossível criar uma pessoa perfeita e como critica a ideia de manic pixie dream girl, mesmo sem querer. Mas, e aqui vão alguns spoilers, não gostei do final feliz. Calvin, o protagonista, é um personagem meio Woody Allen, egoísta e problemático. Mas ele chega a ser bem violento em alguns momentos, e achei estranho o filme não falar nada disso. Quer dizer que tudo bem agarrar uma mulher (e isso no começo da história, nessa foto aí, quando ele descobre que ela existe de verdade) e tudo bem obrigá-la a fazer um monte de coisas? Ele se arrependeu, aprendeu a lição, então vai ter uma nova chance tão fácil assim? Li algumas opiniões de umas pessoas defendendo o filme e até concordo com algumas coisas, mas, na minha primeira interpretação, pessoalmente, fiquei um pouco brava. Mas, mesmo assim, gosto da moral do filme, que tem algumas lições feministas apesar disso, e gostei do filme, me prendeu a atenção e tal. Avaliação: 3,5/5

3- Desconstruindo Harry (Woody Allen, 1997)

Desconstruindo Harry Outro dos filmes do Woody Allen que minha irmã tinha que ver para a faculdade. Eu gostei bastante desse filme, mas não escrevi nada na hora e agora, uns dois meses depois, nem sei mais o motivo. Lembro que achei engraçado e que achei que era um bom resumo dos filmes do Woody Allen, suponho que tenha me lembrado vários outros filmes dele. Avaliação: 4/5

4- Mulan (Barry Cook e Tony Bancroft, 1998)

Mulan Faz um tempo que eu queria rever Mulan, porque estava interessada em ver um filme da Disney com uma garota mais em ação, diferente dos últimos filmes de princesa que eu revi. Gosto da lição da menina que pode fazer o que quiser e lutar contra o seu destino, o filme prende a atenção, tem músicas legais e a animação é boa, mas acho meio raso. Do tipo assisti e não pensei mais sobre ele. Avaliação: 3,5/5

5- O corcunda de Notre Dame (Gary Trousdale e Kirk Wise, 1996)

O Corcunda de Notre DameO corcunda de Notre Dame eu acho bem mais profundo. Eu me lembro de tê-lo assistido quando criança, sei que tinha a fita legendada e era a única legendada que eu tinha, mas não lembro se gostava ou não do filme. Enfim, não sei também se eu entedia o filme direito, porque eu era uma criança bem inocente. Revendo, achei o filme um pouco pesado para crianças. Não do tipo que precisaria de censura ou coisa assim, mas acho que é um filme que é mais apreciado por gente mais velha, que entende melhor os assuntos do filme. O Frollo é um dos vilões mais malvados da Disney, e também um dos mais realistas. E gosto que o final não é o mais feliz do mundo, que não é “Disneyficado”, apesar do filme ser da Disney. Enfim, foi uma boa surpresa e me fez pensar. Avaliação: 4/5