sábado, 16 de janeiro de 2016

Garota exemplar, Gillian Flynn

Não sei se a essa altura somos realmente humanos, aqueles de nós que são como a maioria de nós, que cresceram com TV, filmes e agora internet. Quando somos traídos, sabemos quais palavras dizer; quando um ente querido morre, sabemos quais palavras dizer. Quando queremos bancar o fodão, o espertinho ou o idiota, sabemos quais palavras dizer. Todos trabalhamos a partir do mesmo roteiro gasto.
Eu disse na retrospectiva de leituras de 2015 que eu quase não compro livros no estilo "quero ler esse agora, então vou comprar". Por isso, estou constantemente atrasada nas tendências literárias. Eu queria ler Garota exemplar desde a época em que começou a fazer sucesso, mas só li no final de 2015, porque minha tia me emprestou lá no meio do ano e eu obviamente esperei mais um tempinho antes de lê-lo.

Escrevi o parágrafo acima só para dizer que eu já sabia mais ou menos o que ia encontrar antes de ler o livro. Já tinha lido várias resenhas, comentários e afins e, mesmo que eles não deixassem claro qual é a situação, eu já sabia mais ou menos o que aconteceria ou, para ser mais exata, já imaginava onde estava Amy Dunne — e se você por acaso ainda não leu o livro e não faz ideia do que acontece nem quer spoilers, não leia o resto da resenha.

A questão, um dos trunfos de Garota exemplar, é que mesmo sabendo parte da história eu não me deixei de me surpreender com a parte dois do livro. Eu sabia que o diário era mentira, mas mesmo assim acreditei nele, de uma forma que só a ficção e bons autores conseguem fazer. Eu sabia que Amy era manipuladora, mas aceitei ser manipulada mesmo assim — até porque entre Amy e Nick, eu continuo preferindo a Amy; por mais maluca que ela seja, Nick é a definição de homenzinho de merda (ainda não vi o filme, mas tenho uma antipatia talvez gratuita pelo Ben Affleck, então imagino que ele esteja perfeito no papel).

A primeira metade do livro, quando conhecemos os personagens, pelo menos aos olhos de Nick, foi a minha favorita. Lá pelo meio da segunda parte, quando Amy começa a ter problemas, a história ficou um pouco cansativa. Primeiro achei que não era do padrão de Amy falhar tantas vezes em seguida, mas aí veio a questão: o livro não fala justamente sobre a diferença entre a imagem e a realidade? A Amy queria parecer uma pessoa inteligente e detalhista, mas a imagem que quer ter nem sempre corresponde à realidade. As pessoas erram.

A discussão por trás da história, que envolve relacionamentos, papéis sociais e máscaras, foi o meu aspecto favorito do livro. Outro motivo do sucesso de Garota exemplar é que é um suspense muito bem construído com críticas que funcionam bem. É um livro que prende o leitor e que o faz pensar ao mesmo tempo e com a mesma habilidade.

Eu poderia escrever mais e mais dos motivos por quais eu gostei tanto de Garota exemplar, e já sei que o livro cresceu em mim depois que eu terminei de ler — eu fui esquecendo do que me incomodou na leitura com o tempo —, mas acho que muito já foi dito sobre ele e provavelmente de modo melhor. Com personagens bem desenvolvidos e uma trama instigante, o livro é um ótimo thriller psicológico. Agora estou curiosa para ver a adaptação para o cinema, do David Fincher, e para ler mais da autora.

Avaliação final: 3,75/5

2 comentários:

  1. Diferente de vc eu não achei que o Affleck combinou com o papel, apesar de ainda não ter visto o filme. hehehehe
    Acho que acostumei demais com os papéis que ele faz em filmes de ação e tal. Daí não curti. Mas entre Amy e Nick, taco os dois no fogo, credo! hahahaha
    E os aspectos que você mencionou, realmente são o ponto de ouro do livro. Relacionamento abusivo dos dois lados! WOW! hehehehe

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    1. É que acho que existem muitos mais Nicks no mundo do que Amys, por isso eu fiquei com tanta raiva dele. Mas na verdade o Nick é bem mais inofensivo do que ela, então... Acho que é uma boa tacar os dois no fogo, haha :P

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