E é claro que gostava das pessoas. Certo: da maioria. St. Ambrose, afinal de contas, era famosa pelas pessoas. Era conhecida em todo o país pelo seu número do "somos uma grande família feliz". Todos apoiavam uns aos outros em St. Ambrose; sentiam orgulho disso. Bem, pelo menos alguns. E Rachel instintivamente sempre fizera questão de se envolver com aquela gente o mínimo possível que a boa educação permitia, muito obrigada.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
Colmeia, Gill Hornby
terça-feira, 29 de dezembro de 2015
Retrospectiva: desafios literários
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Filomena Firmeza, Patrick Modiano

E eu subia na balança com ele. Ficávamos lá, os dois, as mãos do papai nos meus ombros. Não nos mexíamos. Era como se fizéssemos pose diante da lente de um fotógrafo. Eu tirava meus óculos e papai também tirava os dele. Era tudo suave e nebuloso em torno da gente. O tempo parecia ter parado. Sentíamo-nos bem.
sábado, 19 de dezembro de 2015
Comentários sobre livros #4
Reli para a faculdade. Já escrevi uma resenha sobre ele aqui. É interessante revisitar a obra no contexto de estudo; acho que consegui captar muito mais dos contos agora. Ao mesmo tempo, dá para perceber que continuo a mesma: os contos de que mais gostei continuam iguais aos meus favoritos de antes, embora alguns que tinham me impactado na primeira leitura não chamaram tanta atenção na releitura. Enfim, continuo apreciando a Clarice contista. Avaliação: 4/5
É o terceiro livro só do Sempé que eu leio, e achei o pior deles. Na verdade, já imaginava que não iria gostar tanto, porque já tinha aberto o livro antes e começado a ler, mas é chato quando um dos nossos autores favoritos nos decepciona, não é? A história não traz muito de novo, as conversas são repetitivas e as ilustrações, já que o livro se passa no mesmo lugar, um restaurante, não variam muito. Mas o final é engraçadinho, e continuo adorando o Sempé, então não tem como dar uma avaliação baixa. Avaliação: 3,5/5
Após uma aula de japonês em que o professor falou um pouco sobre a influência de Portugal no Japão, incentivei minha irmã a alugar esse livro na biblioteca, porque fiquei com vontade de ler algo histórico japonês. Não sei exatamente se eu estava lendo outras coisas, se estava sem tempo ou algo do tipo, só sei que perdi a vontade no meio do caminho — também por minha irmã ter lido antes e não gostado muito. Li umas trinta páginas, que eram em sua maioria uma introdução falando sobre o período histórico no qual se passa o livro, e acabei desistindo por falta de ânimo. Não queria forçar a leitura e ter que ler cem páginas por dia, então abandonei a leitura mesmo. Não descarto a ideia de ler de novo, se a vontade voltar — até porque o Scorsese vai lançar uma adaptação em breve e o livro vai ser mais comentado. Avaliação (do pouco que li): 3/5
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
Marcelo no mundo real, Francisco X. Stork
Apesar do termo tão vago e amplo, tenho a sensação de que sei o que significa e as dificuldades que isso envolve. Seguir as regras do mundo real significa, por exemplo, ficar de conversinha com outras pessoas. Significa não falar sobre meus interesses. Significa olhar as pessoas nos olhos e apertar a mão (…) Pode significar andar ou ir a lugares com os quais não tenho qualquer familiaridade, ruas de cidades cheias de barulho e confusão.
Marcelo é um jovem com uma forma leve de autismo. Ele ouve música dentro dele, tem um interesse grande por religião e não gosta de sair da sua rotina. No entanto, seu pai quer que ele conheça melhor o mundo real para que seu filho aprenda a lidar melhor com as dificuldades que a realidade apresenta. Marcelo não gosta da ideia proposta, mas aceita trabalhar durante o verão no escritório do pai, advogado. Lá ele aprende sobre competição, relações pessoais e injustiça, e tenta fazer a coisa certa, por mais que isso possa custar o bem-estar da sua família.
Me interessei por Marcelo no mundo real porque gosto de ler sobre personagens neuroatípicos. Acho importante conhecer outras realidades psicológicas, e uma boa forma de fazer isso é através da leitura. O Marcelo não é dos narradores mais difíceis de compreender: embora ele tenha suas diferenças, isso aparece mais fora da narração. Por exemplo, quando fala com outras pessoas, ele costuma referir a si mesmo em terceira pessoa, “o Marcelo acha isso”, mas quando ele está narrando, o texto é em primeira pessoa.
Além disso, a dificuldade de comunicação que o protagonista apresenta criou uma identificação fácil comigo. Também tenho problemas para falar com pessoas desconhecidas sem preparação, por exemplo. Isso e o fato dele trabalhar em um setor administrativo e ir aprendendo aos poucos, assim como fiz nesse ano, me fez desenvolver uma simpatia pelo personagem. Vê-lo crescer foi lembrar um pouco de como eu cresci também.
O problema do livro, para mim, foi quando ele parou de focar no desenvolvimento do personagem para ir para um pseudo-história de investigação. Claro, ela também ajudou o Marcelo a crescer, mas achei que ficou um pouco solta dentro do enredo. Além disso, o tom moral me incomodou um pouco. O mundo não é feito de heróis e vilões, e embora alguns personagens tenham os dois lados, senti que o maniqueísmo predominou.
Mas, no geral, foi uma leitura bem satisfatória. O livro prendeu a atenção e me deixou curiosa desde o início. Apesar dele não ser muito conhecido no Brasil, vale a pena tentar entender o mundo do Marcelo.
Avaliação final: 3,5/5
sábado, 5 de dezembro de 2015
Retrospectiva: outubro e novembro
• O fim de semestre, como sempre, acabou me aterrando em novembro e tive que juntar os dois meses na retrospectiva. Além disso, não fiz nada muito fora da rotina, então foi bom juntá-los. Um resumo desses dois meses e do que escrevi abaixo, para quem não quiser ler meus dramas: Psyduck sou eu. Eu sou Psyduck.
• Finalmente, depois de alguns meses usando o tablet da minha mãe (hehe), fiquei viciada de verdade em um jogo. O jogo, é claro, só poderia ser fofinho, pois não gasto meu tempo com jogos feios (por isso era viciada em Neopets. Tem coisa mais gracinha?), e é de Pokémon. Eu, que pouco entendia por que as pessoas ficavam viciadas em Candy Crush (mas, convenhamos, Candy Crush é feio, vai), passei por uma fase de amor verdadeiro por Pokémon Shuffle, que é no mesmo estilo. A diferença é que cada fase é uma batalha contra um Pokémon e você pode capturá-lo, e cada peça é um Pokémon. Ou seja, toda a diferença do mundo, né? Só que fiquei empacada várias vezes e agora ando meio enjoada do jogo. E, falando em fofuras, também comecei a colecionar os gatinhos do Neko Atsume. Uma gracinha, mas um pouco tedioso.
• Eu decidi renovar meu estágio, então o fim de semestre também foi um período de incertezas profissionais. Basicamente estou em um estágio na minha universidade, muito prático, mas não é exatamente o que eu quero profissionalmente. Só que é meio difícil de entrar na área que eu quero, e imagino que exigiria mais de mim. Ao mesmo tempo, percebi que consigo lidar com um estágio chato. Então as dúvidas são: trabalhar em algo chato mas que me dá mais tempo para mim ou tentar algo na minha área, mesmo que seja mais cansativo e que provavelmente eu demoraria para conseguir? Eu resolvi renovar, mas tem dias que me arrependo disso. O futuro é tão incerto, e pensar que um dia eu vou ter que trabalhar oito horas por dia me deixa um pouco agoniada, tipo: é isso que resta na minha vida? Fim do desabafo #classemédiasofre.
• A Jamie, do The Perpetual Page-Turner, sempre faz uns posts sobre como ela se relaciona com leitura e com a vida de leitora — aliás, vários blogs gringos fazem posts de discussão, sinto falta disso nos blogs literários brasileiros. What is my problem lately? fala sobre a dificuldade de encontrar novos favoritos e eu me identifiquei tanto com esse post. Eu vejo a Marília de oito anos atrás sempre relendo os favoritos e hoje eu não sei dizer exatamente quais seriam meus favoritos atuais. Sei das leituras que mais me impactaram, as que eu adorei, mas não sei se colocaria na lista de favoritos. Enfim, os dramas de ser crítica demais.
• Outro drama de ser crítica demais é escrever resenha quando eu não gostei do livro. Eu adoro falar mal de livros quando acho que consigo explicar os motivos, mas sempre fico pensando se não estou sendo cínica demais, o que as pessoas vão pensar de mim, especialmente quando a resenha vai ser divulgada. Vai ver é por isso que quase não divulgo meu blog. Como faz para ter coragem de se expor?
Em outubro e novembro:
• Eu vi… a terceira temporada de Are you the one? americana. Estou em dúvida se posto uma resenha dela ou não, porque a única pessoa interessada nisso sou eu, mas provavelmente vou postar. De qualquer jeito, achei a temporada mais fraca do reality por enquanto, provando que a fórmula talvez esteja prestes a se esgotar. Uma pena, mas estou esperando ansiosamente pela segunda temporada da versão brasileira, que é mais amigável e menos intriguenta.
• Eu li… muito mais do que resenhei, e agora não sei o que vou fazer com as resenhas atrasadas. Sinto que as resenhas que escrevo muito tempo depois de ter lido saem bem piores, mas ao mesmo tempo eu gosto da ideia de resenhar tudo que li. Vou ver se nessas férias eu consigo escrever a maioria, se não só faço pequenos comentários sobre os livros mesmo.
• Eu ouvi… um dia as músicas que a MTV colocou em uma playlist de clássicos. Quer dizer, eu liguei a TV e estavam passando os clipes em uma seção de clássicos. E tocou Keane, Los Hermanos, Queens of the Stone Age. Não estou querendo ser purista nem nada, mas fiquei bem espantada, por que como assim isso já é considerado clássico? Aí eu parei para pensar melhor… Como assim algumas dessas músicas já têm uns oito anos ou mais? Socorro, estou ficando velha.
• Eu escrevi… dois posts para a Revista Pólen. O primeiro, Quem conta um conto..., fala um pouco sobre releituras de fábulas e contos de fadas e o papel do narrador neles, e o segundo, Representatividade para quem?, é um textão™ discutindo como nem sempre diversidade significa representatividade, ou como os americanos sempre esquecem que existe a possibilidade de ler tradução e que a diversidade não precisa vir só deles, e tudo isso a partir da leitura de The Summer Prince, que ainda vai ganhar resenha aqui e já adianto que foi a pior leitura do ano, e nem só por causa dos estereótipos.
• Eu comi… muito doce. De novo. Estou pensando em um projeto de vida saudável 2016, mas não sei o que posso fazer para cumprir. Veremos.
• Eu fui… à festa de cem anos do meu avô! Parabéns para ele!
• Eu comprei… livros. De novo. Ops. Primeiro, no Sebo do Messias, porque não resisto a seus preços baixíssimos e seus livros gringos. Depois, comprei o segundo volume de Gen — pés descalços porque faz tempo que estava procurando. E ainda aproveitei a semana de Black Friday e comprei mais coisas, que só vão chegar em janeiro. O bom é que agora tenho menos coisa para comprar na Festa do Livro da USP. O ruim é que na verdade eu tecnicamente não precisava de nada disso.
• Eu fiz… muito trabalho acadêmico de última hora. Outra promessa furada para 2016: procrastinar menos.
No blog:
• Eu publiquei a resenha de Caixa de pássaros, a minha leitura de terror para o DL Skoob. É um livro envolvente, mas não me marcou muito.
• Depois postei a retrospectiva de setembro, bem curtinha.
• Escrevi também a resneha de Trash, um livro que inicialmente me atraiu pela capa, mas que só fui ler quando já era mais conhecido. Uma boa aventura juvenil.
• No final de outubro respondi uma tag, Palavras cruzadas. Gosto desse tipo de tag porque dá para relembrar leituras antigas, que não tem resenha no blog, mas acabei priorizando as novas…
• Era para eu ter feito a resenha de Cira e o Velho para o tema de mitologia do DL Skoob, mas acabei me atrasando e só postei no final de outubro.
• Fiz mais uma edição dos Últimos filmes que eu vi, dessa vez com dez filmes para tentar alcançar o ritmo. Talvez daqui a uns três meses eu consiga me ajeitar e deixar essa seção menos atrasada. Veremos.
• Por último, fiz uma resenha de Morte e vida de Charlie St. Cloud, um livro que peguei emprestado da minha tia e ficou na estante por anos. O DL Skoob serviu como incentivo para que eu lesse, dentro do tema de morte.
No momento, estou de recesso do estágio e praticamente de férias da faculdade. Vou viajar semana que vem, mas vou tentar deixar uns posts programados para tirar o atraso do blog aos poucos.
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
Morte e vida de Charlie St. Cloud, Ben Sherwood
(…) a história começa com uma calamidade na ponta levadiça sobre o rio Saugus, mas a história não é só isso. Também há bastante devoção e o elo indestrutível entre irmãos. É também sobre encontrar a sua alma gêmea onde você menos espera. É sobre uma vida que foi tirada cedo demais e amores perdidos.
Eu aceitei Morte e vida de Charlie St. Cloud, que minha tia me emprestou, só porque parecia um livro do Nicholas Sparks, estilo Um homem de sorte, com adaptação para o cinema com o Zac Efron e tal. Eu não sabia sobre o que era a história. Quer dizer, eu sabia que envolvi a morte de um irmão e o outro irmão sendo capaz de ver o falecido, mas não parei para pensar em nenhum momento que isso significava que seria um livro espírita ou religioso, e que o problema dos livros estilo Nicholas Sparks é justamente que eles se levam a sério demais. Então, primeiro preciso dizer que não sou o público-alvo do livro. Não sou religiosa, não vou atrás de livros de superação e não acredito em almas gêmeas e ligações instantâneas.
A história do livro é sobre Charlie St. Cloud, que sai de carro com seu irmão para ver um jogo de beisebol sem nem ter carteira de motorista e se envolve em um acidente, que mata o seu irmão. Charlie quase morre, ou morre e ressuscita, e por isso ele se torna capaz de ver fantasmas. Ele encontra o seu irmão todas as noites no cemitério onde trabalha e, por causa da culpa que sente, não consegue parar de viver nesse passado — até que, é claro, ele conhece uma mulher, Tess. A partir daí, Tess e Charlie vão ter suas vidas transformadas em uma linda história edificante sobre o poder do amor e algo do tipo. Ou não.
O livro começa com uma introdução do bombeiro que salvou Charlie, contando sobre como às vezes milagres acontecem. Já nesse momento, fiquei meio desconfiada: eu não acredito em milagres. O que se segue, dentro da história, são várias frases religiosas ditas sem reflexão ou em contextos que não precisavam de frases religiosas. Não tenho nada contra discussão sobre religião em livros, o problema é quando fica explícito que todo mundo é cristão como se isso fosse natural, normal, o certo — de forma que o único personagem que não acredita em Deus é conhecido como Joe, o Ateu(!!!) e, sem querer dar spoiler mas já dando, no final passa a talvez até acreditar em Deus, lógico, porque obviamente não existem pessoas boas que não sejam fiéis.
Outra questão moral que me incomodou no livro é sobre a Tess. Ela é uma personagem independente e corajosa, que quer dar a volta ao mundo em seu barco sozinha. Ótimo. Só que… ela só está saindo em viagem porque não encontrou um homem para ela. Por que como ousa uma mulher querer ser sozinha e independente, não é mesmo? Não, ela é assim porque é frustrada e óbvio que isso vai mudar quando conhecer “o homem da sua vida”.
Fora isso, os personagens são pouco desenvolvidos, naquele bom-mocismo-sem-personalidade estilo Nick Sparks, a paixão instantânea é inverossímil e, se pararmos para analisar melhor, não precisava de quase trezentas páginas para essa história, com todos os seus furos. Mas é aí que reside o segredo do sucesso: as páginas fluem tão bem! Eu até terminei de ler antes do que planejava. Eu tinha setenta páginas para acabar e falei “vou ler até faltar cinquenta”, até que quando vi o número de páginas de novo só faltavam trinta… Aí eu terminei de ler, né.
Não sei o que esses escritores fazem para conseguirem me prender na leitura mesmo quando eu não ligo para a história que está sendo contada. É como um programa de TV que você sabe que é ruim e continua vendo sempre mesmo assim, satisfeita ao mesmo tempo em que revira os olhos em algumas cenas de ideologia explícita.
Avaliação final: 2,5/5
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
Os (não tão) últimos filmes que eu vi #15
1- Ligados pelo amor (Josh Boone, 2012)Ouvi falar desse filme porque é do mesmo diretor de A culpa é das estrelas. A história é sobre uma família muito ligada à escrita e as suas aventuras e desventuras no amor. É uma comédia romântica dessas meio alternativas, cheias de referências literárias e com uma trilha sonora gostosinha de ouvir. É bem clichê, mas a primeira metade do filme me conquistou. Não sei direito explicar por que gosto de alguns filmes, mas Ligados pelo amor me trouxe sentimentos positivos. Só que na parte em que tudo dá errado — porque sempre tem essa parte — comecei a achar as coisas forçadas demais, a ver as estruturas por trás do enredo. Mesmo assim, meu sentimento geral em relação ao filme é boa, e recomendo para os fãs do estilo comédia-romântica-Hollywood-indie. Avaliação: 3,5/5
2- Ela (Spike Jonze, 2013)Continuando com os filmes do Oscar do ano passado com um pouquinho de atraso (o suficiente para poder ver o filme na tela da minha televisão, em um horário proporcionado por um canal por assinatura). Minhas expectativas para Ela eram misturadas: muita gente amou o filme, mas eu não gostei de Onde vivem os monstros, do mesmo diretor. No final, acabou sendo isso mesmo: pontos positivos e negativos. A história é interessante e prende a atenção, mas achei a narrativa um pouco cansativa. Vi algumas pessoas falando sobre as discussões que o filme traz e sobre como ele é profundo, mas sinceramente sou meio fútil em relação a cinema. É raro eu ficar filosofando sobre um filme após vê-lo, prefiro pensar nas sensações que ele me passou enquanto assisti, e por esse critério Ela foi aprovado, mesmo sendo um pouco esquecível. Avaliação: 3,5/5
3- O menino e o mundo (Alê Abreu, 2013)Finalmente assisti essa animação brasileira. Eu gosto bastante da estética do filme, da mistura de técnicas, com lápis, giz de cera, colagem, em um estilo mais infantil. A trilha sonora também é muito boa. Quanto à história, preciso dizer que não entendi algumas coisas, nem sei qual é exatamente a mensagem do filme — embora ele apresente várias críticas sociais, não pensei muito a respeito, por exemplo. Mas mesmo assim é gostoso de assistir e fica a recomendação. Avaliação: 4/5
4- Ida (Pawel Pawlikowski, 2013)O filme passou no cinema do CCSP e decidi ir depois de ler vários elogios e ele ter ganhado o Oscar de melhor filme estrangeiro. Fiquei com medo de ser muito cult ou difícil de entender, mas gostei bastante, talvez porque fazia muito tempo que eu não via um filme europeu. Gostei dos conflitos da protagonista — as pessoas falam que é um filme de 2ª Guerra, e é claro que ela tem um papel importante na história, mas o que achei mais interessante é o desenvolvimento da personagem e suas dúvidas em relação ao que ela quer fazer depois que conhece mais do mundo fora do convento. O filme é um pouco lento, mas sua curta duração não o torna tão cansativo. E a fotografia é muito boa também. Eu não entendo nada de questões cinematográficas, mas Ida me deixou impressionada tecnicamente, do tipo que acontece quando você vê um filme e se lembra que um filme não é feito só de atores, roteiro e trilha sonora. Avaliação: 4/5
5- Chamada a cobrar (Anna Muylaert, 2012)Desde que ouvi falar de um filme sobre uma mulher que cai naquele trote de sequestro, fiquei curiosa para vê-lo, mas como é um filme brasileiro de orçamento pequeno, ele acabou sendo pouco divulgado e pouco comentado. Eu consegui assisti-lo no Canal Brasil, e, bom, entendo por que ele foi pouco comentado. Basicamente o enredo é sobre Clara, uma mãe paulistana de três filhas que atende o telefone e acredita no papo do sequestrador, que diz ter raptado a sua filha, e vai até o Rio de Janeiro(!!!) resgatá-la. Enquanto isso, na casa da mulher, a empregada que trabalha lá tenta contar para as filhas de Clara que a mãe saiu correndo sem explicações e que está preocupada. O bom de assistir esses filmes pequenos é que as expectativas são pequenas, porque se fossem grandes teria detestado o filme. Chamada a cobrar se apresenta como um drama, ou como um suspense, mas é tudo tão exagerado que é quase comédia. Clara é insuportável e eu quase achei que ela merecia acreditar no sequestro mesmo. Se Que horas ela volta?, da mesma diretora, passa sua mensagem bem claramente, não consegui entender a moral principal de Chamada a cobrar, o que há por trás do filme. No mais, valeu pelos cenários paulistanos conhecidos. Avaliação: 3/5
6- O grande roubo do trem (Edwin S. Porter, 1903)É um dos curtas antigos que estão na lista dos 1001 filmes para ver antes de morrer. É um filme mudo de cowboys e achei a história meio difícil de entender, não prendeu a minha atenção. No entanto, é curioso ver os primórdios do cinema e a cena final é bem interessante. Avaliação: 3/5
7- A canção do oceano (Tomm Moore, 2014) Foi uma das animações indicadas ao Oscar do ano e é do mesmo autor de Uma viagem ao mundo das fábulas, que quero ver mas sempre deixo para depois. Inicialmente, A canção do oceano chamou a atenção pela estética, e a trilha sonora, do Bruno Coulais, também é bem bonita. A história é baseada em um mito irlandês/escocês e é mais infantil, mas também agrada aos mais velhos. Eu, por exemplo, sou mais velha e gostei muito. No entanto, não sou parâmetro, porque o nome do cachorro é Cu e eu fiquei segurando o riso em várias legendas em que o nome dele aparecia. Viva a maturidade. Avaliação: 4/5
8- A dama das camélias (George Cukor, 1936) Às vezes a sorte está ao meu lado e em um mês quase sem tempo para filmes, meu professor passou em aula um filme da lista dos 1001. Nunca tinha ouvido falar dele, porque não presto muita atenção em adaptações de clássicos que não li. Não tinha expectativas altas, só estava feliz por ter aula de filminho no lugar de uma aula entediante sobre Romantismo brasileiro, mas gostei do filme. É uma história tradicional, com uma disputa entre o amor e o dinheiro e muito drama romântico, mas também tem humor, que dá o toque especial. Não é o melhor clássico do mundo, mas vale a pena para fãs de histórias do tipo. Avaliação: 3,5/5
9- Uma notícia inesperada (Gillian Robespierre, 2014) Como já disse antes, gosto bastante do estilo comédia romântica indie. O diferencial desse filme é que ele trata sobre gravidez e bom, sem querer dar spoiler mas já dando, ele apresenta uma visão feminista do assunto. Quando comecei a assisti-lo, pensei que não seria tudo aquilo que as pessoas falaram, porque o humor não é exatamente o meu estilo. Com o tempo, no entanto, fui me apegando à história. Ainda acho superestimado, mas é um filme fofo, e ainda tem o diferencial de ter atores com mais cara de gente como a gente. Avaliação: 3,75/5
10- O sexto sentido (M. Night Shyamalan, 1999) É difícil julgar um filme tão conhecido pelo seu final surpreendente quando já sabemos qual é o plot twist. Mesmo assim, gostei bastante de O sexto sentido. Eu o vi sozinha pelo computador, porque decidi que seria o filme do mês dos 1001 para ver antes de morrer (esse post tem filmes que vi de abril a julho, por isso falei várias vezes no projeto dos 1001), não sem antes me certificar que o gênero não era terror — o IMDB classifica como drama, suspense e thriller. E claro, vi em uma tarde ensolarada, porque nunca assistiria à noite. O tom que predomina de fato não é o de terror, mas uma mescla de suspense e drama, com alguns sustos e imagens tenebrosas aqui e acolá. A relação entre o psiquiatra e a criança assustada é muito interessante e faz O sexto sentido não ser apenas um filme de fantasmas qualquer. Sabendo do plot twist, algumas coisas parecem óbvias demais para não notar, mas é claro que se eu não soubesse dele eu me surpreenderia e ficaria frustrada percebendo que estava na cara o tempo todo. Avaliação: 4/5
sábado, 31 de outubro de 2015
Cira e o Velho, Walter Tierno
— O homem branco, que acaba de chegar a estas terras, nunca ouviu falar das coisas que, para o homem sensato, são comuns. Só porque tem jeito mais poderoso de matar, o branco pensa que sabe de tudo. São todos uns tolos, ignorantes. Vosmicê, abaiba, deve ser o pior de to…
Seria interessante descrever o debate metafísico que os dois teriam travado a respeito da diferença entre civilizados e selvagens, conhecimento e sabedoria, técnica e tecnologia. Mas, na verdade, a explosão do caraíba era tudo que o sertanista esperava. O murro reprimido finalmente se libertou e explodiu no rosto do índio, que, por sua vez, lançou um feitiço.
Conheci Cira e o Velho pela minha irmã. Já tinha ouvido falar do trabalho do Walter Tierno através do Psychobooks, mas, sinceramente, eu não me interessava muito. Na teoria, gosto de conhecer autores brasileiros pouco conhecidos. Na prática, tenho um pouco de preguiça de livros novos de fantasia e de mitologia, porque a chance de dar errado é grande. No entanto, o livro do Walter Tierno foi uma surpresa positiva.
O livro é baseado nas lendas da Cobra Norato e da Maria Caninana. Esta pede para que o tal Velho do título mate todos os filhos de seu irmão, Norato. Mas Cira sobrevive e planeja a sua vingança contra o assassino. A história se passa no Brasil colonial, e inclui até a guerra dos Palmares nos acontecimentos, enquanto a narrativa é contada por alguém do presente, que reuniu o que descobriu sobre Cira.
Achei bem interessante essa mistura entre mitologia e história e fiquei feliz em ver como isso ficou natural na narrativa. Foi legal ler algo sobre índios e sobre esse período, porque a verdade é que eu só tinha visto coisas do tipo para a escola. Nesse sentido, me lembrou do filme Uma história de amor e fúria. Os dois são entretenimentos que ensinam sem precisar deixar informações educativas soltas nas narrativas, conseguindo contextualizar bem o pano de fundo histórico sem explicar tudo. Cira e o Velho inclusive seria uma leitura apropriada para a escola, embora não para crianças devido à violência sexual presente na história.
A leitura fluiu bem, embora eu tenha gostado bem mais do começo do que do final. Os personagens são um pouco unidimensionais, mas acho que isso faz sentido considerando o tom mítico da narrativa. Eu não conheço muito de folclore brasileiro e não sei quanto da história foi invenção e quanto foi inspiração na lenda; de qualquer jeito, acredito que o autor tenha feito um bom trabalho.
Avaliação fina: 3,5/5
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
TAG: Palavras cruzadas
Eu percebi que faço pouquíssimas tags de listar livros dentro de categorias(?). Dá preguiça, eu sempre fico em dúvida do que escolher e tal. Mas aí a Ana Luiza ressuscitou recentemente a tag Palavras cruzadas e fiquei com vontade de participar. Demorei vários dias pensando nas minhas escolhas e mais outros para escrever o texto. Ainda assim, saiu tudo repetitivo, como sempre (como falar sobre livros sem repetir as palavras livro e leitura, me ensinem). Os links vão para as respectivas resenhas ou para a página do Skoob, caso o livro em questão não tenha sido resenhado. Se for ler a resenha, tenha cuidado, porque tem umas velharias ou não tão velharias no meio que até fiquei com vergonha, mas sou blogueira íntegra e mostro meus fracassos.
1) Vox Populi (um livro para recomendar a toda gente): Eu sou péssima para indicar algo para todo o mundo. As pessoas têm gostos diferentes, sei que tem gente que não gosta de juvenis, de fantasia, etc, e gosto bastante de tentar recomendar algo específico que tenha a ver com o que eu sei da pessoa para quem estou indicando. Então, olhando a minha estante no Skoob, optei por indicar Frango com ameixas, da Marjane Satrapi. É uma graphic novel curta e conta uma história familiar tocante. Provavelmente nem todo mundo vai amar, mas é difícil ter algo contra uma narrativa tão curta e simples, não é? Ou seja, você pode não amar, mas provavelmente também não vai odiar.
2) Maldito plágio (o livro que gostaríamos de ter escrito): Eu nunca parei para pensar nessa pergunta e realmente acho difícil escolher um livro. É complicado se apropriar do livro de outra pessoa, né? Eu quero escrever um livro algum dia, ou pelo menos concluir uma história grande, sendo mais realista, mas algo que seja meu. Dito isso, se eu escrevesse metade do que a Lygia Fagundes Telles escreve em Ciranda de pedra, eu definitivamente ficaria mais satisfeita. Pena que não me esforço nem um pouco para isso, e pratico pouquíssimo. Quem sabe um dia…
3) Não vale a pena abater árvores por causa disso: Eu gosto de baixar livros
ilegalmente e às vezes caio nessas roubadas de escolher uma leitura só pela sinopse. Numa dessas, eu encontrei Still waters, um YA supostamente de terror, mas o enredo não se sustenta, os personagens são fracos e a emoção predominante que você sente lendo é raiva, estilo como-o-personagem-pode-ser-tão-burro (melhor do que sentir tédio, não é mesmo?). Não é que seja totalmente desperdício de papel, até porque eu não gastei papel com ele, mas certamente é dispensável. Tem muito livro no mundo para se gastar tempo com esse.
4) Não és tu, sou eu (um livro bom, lido na altura errada): É difícil escolher um, porque em geral quando não gosto do livro é porque não é meu estilo, e não por causa do momento. Por exemplo, acabei de ler Esaú e Jacó, do Machado de Assis, e não gostei muito. Eu sei que ele é bom, assim como sei que provavelmente se lesse pela primeira vez em outra situação, continuaria não gostando muito. Quer dizer, talvez daqui a trinta anos eu mude de estilo literário, mas por enquanto não consigo me imaginar assim. Enfim, fico com O médico e o monstro, pelo simples fato de ter visto uma adaptação no teatro antes de ler. Por isso, já conhecia bem o enredo e não vi nada de novo no livro.
5) Eu tentei… (um livro que tentamos ler, mas não conseguimos): Todos os livros que marquei como abandonados no Skoob estão lá por motivos bestas. A maioria eu comecei a ler no computador, parei, porque não tenho mais paciência para ler livro em PDF (viva o Kindle!) e acabei não voltando mais. A exceção é O silêncio, do Shusako Endo. É um romance inspirado na história de perseguição de cristãos no Japão, e minha irmã pegou na biblioteca justamente porque eu queria ler algo histórico japonês. Só que quando eu fui ler percebi que não estava na vibe. Até comecei, li umas 30 páginas, mas vi que não valia a pena me forçar a ler rápido para poder devolver para a biblioteca. Ou seja, pedi para minha irmã pegar um livro e no final só ela que leu… Não descarto a ideia de tentar outra vez. Como o Scorsese vai lançar uma adaptação do livro, quem sabe a vontade de ler volte. Só espero que ele continue na biblioteca até lá.
6) Hã? (um livro que lemos e não percebemos nada OU um livro com final surpreendente): Eu sou bem besta como leitora e quase tudo me surpreende. Só que sou orgulhosa também, por isso em vez de ficar feliz pelo livro ter me surpreendido, eu procuro desculpas para não gostar dele, como se ele tivesse me ofendido ou coisa assim (sou muito trouxa). Enfim, o final de We were liars me pegou de surpresa e eu não gostei muito. Mas, honestamente, o que mais me incomodou no livro foi a narrativa, ou o fato de eu não dar a mínima para os personagens, então o plot twist pelo menos fez o livro se destacar e virar piada interna.
7) Foi tão bom, não foi? (um livro que devoramos): Vou citar o último que li em um dia, Por que Indiana, João?. Foram duzentas páginas lidas em uma noite. Eu costumo ser uma leitora bem lerda, por isso gosto quando consigo ler um livro em um dia, por mais fácil que a leitura seja. Não entrou na minha lista de favoritos, embora eu até tenha gostado mais do que esperava, mas às vezes um livro rápido e envolvente é tudo o que a gente precisa, especialmente depois de passar vários dias presa em um livro mais devagar. Além disso, é um jeito fácil de se sentir menos culpada com a pilha de livros não lidos: um a menos!
8) Entre livros e tachos (uma personagem que gostaríamos que cozinhasse para nós): Não é nenhum personagem específico, mas bem que eu gostaria de experimentar algumas comidas descritas pelo crítico de A morte do gourmet. Em um capítulo eu estava com vontade de comer sashimi, em outro queria uma comida marroquina que nunca ouvi falar, depois desejei comer em um restaurante chique e elogiado pelos críticos… E provavelmente eu nem gostaria de metade das comidas descritas, porque sou bem fresca, mas as descrições me fizeram acreditar que tudo seria bom.
9) Fast forward (um livro que poderia ter menos páginas que não se perdia nada): É um pouco suspeito eu dizer isso, já que não gostei do livro, mas Razão e sensibilidade (ou Razão e sentimento) passava muito bem com umas cem páginas a menos. Eu até gosto do estilo de escrita da Jane Austen, mas o livro tem pouco enredo para muitas páginas. É muito papo furado, fofoquinhas e jantares para pouco acontecimento. Como disse na minha resenha, pode ser que a autora retrate bem a sociedade da época, mas não vejo por que eu tenho que ser obrigada a gostar do livro por isso.
10) Às cegas (um livro que escolheríamos só por causa do título): Minha família vendeu há uns anos os nossos discos de vinil. Recebemos uma parte em dinheiro e outra em crédito para gastar no sebo do comprador. Só que o sebo não era muito grande, e tinha poucas coisas que me interessavam, por isso tive que vasculhar todas as estantes em busca de algo que me chamasse a atenção. Foi assim que descobri O menino que se trancou na geladeira. Eu gosto bastante de títulos misteriosos e genéricos ao mesmo tempo, e precisava saber por que o menino se trancou na geladeira. Para ser sincera, eu nem sei se eu descobri o motivo do menino ter se trancado na geladeira. Tudo que eu lembro da leitura é que não entendi quase nada da metade para o final do livro e fiquei bem frustrada.
11) O que vale é o interior (um livro bom com a capa feia): Eu não costumo ter problemas com capas. Em geral, as editoras que eu mais leio têm trabalhos gráficos bons e do meu estilo. De vez em quando leio algo com uma capa feia com foto de casal ou algo do tipo, mas difícil achar uma que se destaque no meio dessa mediocridade. Eu me lembro melhor de clássicos que têm capa feia. O trabalho da Martin Claret é exemplar nesse aspecto, mas como evito comprar livros da editora pela sua fama de plágio em traduções, também não conta. Fiquei então com Angústia, do Graciliano Ramos. O livro é da minha mãe e tem essa capa feia e que deixa claro que é uma edição velha. Tenho outros livros do Graciliano nessa mesma edição, mas esse se destaca com essa imagem misteriosa e simbólica.
12) Rir é o melhor remédio (um livro que nos tenha feito rir): Sou uma pessoa razoavelmente fácil de agradar com humor e não é raro eu sorrir várias vezes durante uma leitura. Ao mesmo tempo, acho difícil rir de verdade (insira aqui um comentário de como o riso é algo social, etc.) e não vou atrás especificamente de livros de humor. Não sei se ri alto lendo Nu, de botas, mas considero um livro bem divertido e me lembro de sorrir bastante durante a leitura. Aliás, eu também ficaria bem satisfeita se tivesse metade do talento do Antonio Prata para a escrita.
13) Tragam-me os Kleenex, faz favor (um livro que nos tenha feito chorar): Assim como na categoria anterior, não é raro que eu chore, mas é difícil que eu chore de verdade, fique abalada por muito tempo ou qualquer coisa do tipo. Provavelmente chorei com várias mortes em Harry Potter, mas como li várias vezes não consigo dizer qual foi a mais marcante. Escolho então o clichê A última música, do Nicholas Sparks. Existem certos acontecimentos com pessoas com quem se tem certa relação (tentando evitar os spoilers) que me deixam triste com facilidade. A empatia é instantânea e leva a uma corrente de pensamentos de “e se fosse comigo…”. Por isso, não tive como não chorar com A última música. É previsível, genérico e os protagonistas são chatos, mas a fórmula funciona para mim. Desculpa, sociedade.
14) Esse livro tem um V de volta (um livro que não emprestaríamos a ninguém): Eu não tenho muitos problemas para empresar livros comuns — até porque poucas pessoas me pedem. Hipoteticamente, não gostaria de emprestar livros velhos, porque cada pessoa que lê estraga mais o livro. Por exemplo, já emprestei, ou melhor, minha irmã emprestou, o primeiro Harry Potter para várias pessoas na época em que o livro estava começando a fazer sucesso. Hoje ele está bem gasto e tenho planos de lê-lo mais vezes, então não gostaria que ficasse mais estragadinho. Outro caso é com livros caros, porque se a pessoa não devolvesse a perda financeira seria maior.
15) Espera aí que eu já te atendo (um livro ou autor que estamos constantemente a adiar): O que dizer do Ian McEwan que eu mal conheço mas já considero pacas? Eu já li um livro dele, Black dogs, e gostei mas não amei. Só que a minha irmã é fã dele, então minha estante tem outros cinco livros do autor há anos. E eu nunca li nenhum. Nem Atonement, que todo mundo ama e recomenda. É um daqueles casos que a expectativa é tão alta que não sei nem o que fazer. Além disso, é comprido, é em inglês e é histórico, por isso rola uma preguicinha básica. Mas eu prometo que vou ler algum dia. Talvez ano que vem, quem sabe. Ou não.
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Trash, Andy Mulligan
Meu nome é Raphael Fernández e sou um garoto do lixão.
(...)
(...) passar a vida remexendo o lixo, respirando aquele fedor, dormindo ao lado dele — bom... Talvez um dia você encontre "alguma coisa legal". Ah, sim.
Um dia eu encontrei.
Conheci Trash olhando a estante de infantojuvenis da biblioteca. Estava na seção de novidades, e fiquei curiosa para saber sobre o que era. Mas, com essa vida de preciso-ler-livros-que-todo-mundo-comenta, acabei deixando-o de lado por um tempo, até que saiu o filme, com o Selton Mello e o Wagner Moura e pude entender um pouco mais da história pelo que a crítica comentou do longa. Ainda demorei bastante para ler o livro após isso, porque ele não era uma das prioridades na interminável fila da biblioteca. Mas o dia chegou e pude acabar com minha curiosidade.
Eu tinha a impressão de que o livro focaria na vida cotidiana dos meninos do lixão, e era isso que tinha me dado a vontade de ler, mas na verdade é uma história de investigação, e o lixão é o pano de fundo e de onde a aventura começa. Mesmo assim, como minhas expectativas não eram altas, acabei gostando mais do livro do que esperava: foi uma leitura divertida e que prendeu a atenção.
Trash traz um tom forte de crítica social, tratando de desigualdades sociais e de corrupção — não é à toa que fizeram o filme se passar no Brasil. Achei as críticas pertinentes, mas às vezes falta profundidade e elas beiram a ingenuidade: quase um maniqueísmo pobre-bom/rico-ruim.
O trabalho gráfico, como é esperado de um livro da Cosac Naify, é interessante, com uma fonte diferente para cada narrador (vou fingir que não reparei isso só na metade do livro), mas a grande quantidade de narradores, embora importante para a história, não é muito distinta entre si. No geral, é um livro mais de acontecimentos que de personagens.
Enfim, Trash é uma aventura juvenil interessante que se passa em um ambiente menos convencional. Tem alguns aspectos que me incomodaram na obra, mas recomendo a leitura para quem se interessar. Ainda não vi o filme, pretendo assistir algum dia para ver de que modo o Brasil é retratado na história.
Avaliação final: 3,5/5
sábado, 17 de outubro de 2015
Retrospectiva: setembro
• Setembro passou rápido, muito rápido. Tão rápido que não anotei nada para comentar na retrospectiva, então o post vai ser pequeno. O fato é que foi um mês bem típico, com poucas coisas além da rotina cansativa estágio-faculdade. Quero férias, por favor.
• Li essa conversa da Sofia sobre Harry Potter e a Câmara Secreta e achei muito legal. Harry Potter é um assunto inesgotável e embora eu particularmente não pense muito fora do que é canon, é interessante ver observações de outras pessoas sobre esse universo. Além disso, adoro o formato do post, fácil de ler e de prestar atenção — se fosse em formato de podcast, sei que eu nunca ouviria… Agora eu fiquei com vontade de reler Harry Potter, óbvio (comecei a reler há uns dois anos e parei no terceiro. Preciso voltar) e de participar de um clube do livro que renda conversas como essas. Quem sabe ano que vem eu invista nisso. Quem sabe…
Em setembro:
• Eu vi… o primeiro episódio de Shirokuma Cafe, um anime sobre um urso polar que tem um café e seus clientes, especialmente o panda e o pinguim. É completamente nonsense e adorável, e era tudo o que eu precisava assistir naquele momento. Não sei como a série vai conseguir se sustentar em cinquenta episódios sem se tornar repetitiva, mas pretendo assistir aos poucos.
(finjo que não tenho tempo para o blog, mas na verdade…)
• Eu li… Diário absolutamente verdadeiro de um índio de meio expediente. É o segundo livro da lista da Rolling Stone de melhores YAs que eu leio nesse ano, sendo que eu tinha a meta de ler seis. Claramente não vou cumpri-la, né?
• Eu ouvi… lançamentos! Tomei vergonha na cara e tentei ficar por dentro das novidades do momento. Ouvi o 1989 do Ryan Adams, o novo do Beirut e o primeiro álbum da Halsey, que está sendo muito comentada. Não tenho grandes considerações para fazer porque o que acho de música varia muito com o meu humor.
• Eu escrevi… vários rascunhos de resenhas no papel, mas postei menos no blog do que gostaria. Ou seja, estou cheia de resenhas atrasadas, porque tenho preguiça de pegar as minhas anotações e transformá-las na resenha propriamente dita. Mas isso vai acontecer. Algum dia no futuro, mas vai acontecer.
• Eu comi… bolo. Foi meu aniversário, então teve bolo para comemorar.
• Eu fui… ao cinema, três vezes. A primeira para assistir Princesa Arete, em uma mostra de anime no MIS, a segunda para ver Que horas ela volta?, que está sendo muito comentado (eu particularmente adorei, mas entendo algumas das críticas — as da esquerda, não as das patroas indignadas), e por último vi Thelma & Louise em uma mostra de garotas armadas no Cinusp (queria ter visto mais filmes dessa mostra, também passou O silêncio dos inocentes e o último Mad Max, mas não gosto de sair vários dias em seguida).
• Eu comprei… chocolate. Porque não comprei mais nada de importante e sempre compro chocolate.
• Eu fiz… um trabalho muito chato de Filologia. Filologia foi eleita por mim como a matéria mais chata da faculdade até agora, e ainda por cima estou fazendo com um professor chato e machistinha do nível que faz piadas sobre mulher não saber dirigir.
No blog:
• A primeira resenha do mês foi de Suíte em quatro movimentos, primeiro livro da Ali Smith que leio e já terminei com vontade de ler mais dela.
• Em seguida postei a retrospectiva de agosto, ilustrada por grandes sabedorias de MasterChef.
• Postei também uma resenha curtinha e sem graça de Um gato indiscreto e outros contos, livro que li no começo do ano, demorei mais uns três meses para escrever a resenha e mais um tanto para publicá-la.
• Continuo atrasadíssima com a seção de últimos filmes que eu vi, dessa vez escrevi sobre alguns filmes que assisti em fevereiro e março…
• A resenha para o Desafio Literário Skoob foi de Diário absolutamente verdadeiro de um índio de meio expediente.
• Por último, fiz comentários sobre MasterChef Brasil, porque não devo excluir os reality shows da lista se quero escrever sobre tudo que leio e vejo.
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
Caixa de pássaros, Josh Malerman
O quarto está escuro. A única janela está tapada com tantos cobertores que, mesmo em seu auge, a luz do sol não consegue entrar. Há dois colchões, um em cada canto do quarto. Acima deles há domos negros. Muito tempo atrás, a grade de arame que sustenta o tecido era usada para cercar o pequeno jardim próximo ao poço, no quintal da casa. Mas, nos últimos quatro anos, ela serviu como armadura, protegendo as crianças não do que poderia vê-las, mas do que elas poderiam ver.
Caixa de pássaros é um lançamento da Intrínseca do começo do ano. Eu vi várias resenhas positivas e o ar de suspense da história me deu vontade de ler. Descobri que o livro tinha chegado na biblioteca pouco antes de outubro, então aproveitei a leitura para o Desafio Literário Skoob, tema terror. Não sei se eu diria que é um livro de terror de verdade, para mim está mais para um thriller pós-apocalíptico/distópico, mas as outras opções que tenho também não são livros muito assustadores, então fico com esse mesmo.
O livro se passa em uma sociedade pós-apocalíptica, em que as pessoas que veem certas coisas misteriosas ficam loucas e se matam. Ninguém sabe o que exatamente causa a loucura. Ninguém sabe como parar com isso. A solução, portanto, é tentar não enxergar o que quer que seja que deixe as pessoas loucas. Os sobreviventes se trancam em suas casas e só saem delas vendados, tendo que lidar com os problemas de uma sociedade em extinção.
O foco da história é Malorie e a narração se divide em duas partes: presente, no qual somos colocados direto na (pouca) ação, e passado, que é a explicação dos acontecimentos que levaram ao presente. Como quase toda história dividida, tem uma parte bem mais interessante que a outra. No caso, gostei mais da parte do passado, que tem mais personagens e acontecimentos mais dramáticos. O fato é que não consegui empatizar muito com a protagonista e com seus dramas, então não me importava com o que aconteceria com ela.
Aliás, esse é um problema comum em livros de suspense. Eu não consigo me apegar aos personagens, a escrita nem sempre é incrível nem nada do tipo, parece que só estou lá pela ação e tudo bem, isso é mais que o suficiente enquanto leio, mas depois quanto mais penso sobre o assunto, mais o livro parece descartável. Li, me diverti, esqueci. Às vezes é o que a gente precisa, por isso a minha avaliação boa, mas acredito que existam livros melhores nesse quesito também.
Em resumo, eu diria que Caixa de pássaros é uma mistura de Ensaio sobre a cegueira com A estrada, escrita no estilo do Stephen King (podem colocar isso na capa do livro, pena que não é uma definição muito comercial). O desespero em relação à cegueira está na história, embora de forma mais branda que no livro de Saramago; a jornada do pai da narrativa de Cormac McCarthy é semelhante à de Malorie, escrita de forma menos tediosa bonita, e Josh Malerman consegue criar tensão assim como King, apesar de ter um estilo próprio menos desenvolvido. Como disse antes, o livro cumpriu seu propósito de entreter, mas também não se sobressaiu dentre os outros do gênero.
Avaliação final: 3,5/5