quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Filomena Firmeza, Patrick Modiano


 
E eu subia na balança com ele. Ficávamos lá, os dois, as mãos do papai nos meus ombros. Não nos mexíamos. Era como se fizéssemos pose diante da lente de um fotógrafo. Eu tirava meus óculos e papai também tirava os dele. Era tudo suave e nebuloso em torno da gente. O tempo parecia ter parado. Sentíamo-nos bem.
A primeira reação que tive quando descobri que Patrick Modiano ganhou o Prêmio Nobel Literatura em 2014 foi me perguntar "quem raios é Patrick Modiano?". Eu não conheço muitos dos vencedores do Nobel, mas isso acontece principalmente quando são pessoas de países como a Bielorrúsia, como a ganhadora desse ano. Modiano é supostamente um dos escritores franceses mais importantes, então nunca ter ouvido falar dele era estranho para mim. Mas ok, vida que segue, e depois do prêmio passou a se falar dele com exaustão, novas edições surgiram no Brasil, novos livros traduzidos, etc e tal. E eu continuei sem me interessar pelo dito cujo. Não morro de amores pela temática da segunda guerra e muita gente que leu os livros dele não gostou, então por que eu iria atrás, né?

Eis que surge Filomena Firmeza, em toda a sua glória de livro com cara de infantil ilustrado pelo Sempé. E eu amo o Sempé, então o que podia fazer? Comprei o tal livro — depois que ele estava em promoção, porque apesar de não ser caro, desconto é sempre bom e a Cosac Naify sempre tem tinha. Eu não sei exatamente o que eu esperava da leitura: de um lado, queria que fosse como um livro escrito pelo Sempé e que me deixasse com aquele sorriso no rosto que só ele consegue me deixar; meu lado pessimista, no entanto, me lembrava constantemente de que várias pessoas não gostam do Modiano. E o resultado foi mais próximo do lado pessimista, mas nem tanto assim.

Basicamente, o livro é narrado pela Filomena do título, uma diretora de uma escola de dança. Ela, em Nova York, relembra da sua infância com o pai em Paris, mostrando o cotidiano deles na cidade. É isso. É tão isso que o livro parece não ter conflito, o que foi o que mais me incomodou. É claro que ele traz várias questões: a narradora já adulta x a memória da infância, a relação da paternidade, a passagem do tempo, etc., mas isso tudo sem um enredo muito bem construído. É de propósito, mas sabe quando você termina o livro e fica tipo "tá, ok, mas aonde você, autor, queria chegar com isso?"? Ou talvez "eu li o livro para isso?"? Foi, de forma exagerada, o que aconteceu. E, veja bem, a culpa não é do Patrick Modiano: como já disse antes, o livro traz várias questões. O problema é que eu não fiquei com vontade de ir atrás delas, o livro não me inspirou para refletir.

Agora para as partes boas: o Sempé, como sempre, fez ilustrações fofas; a história é fácil e rápida de ler, coisa de se resolver em uma sentada; e o livro tem algumas frases bem legais e trechos divertidos, como a festa da amiga da aula de dança da Filomena. Apesar de gostar de como "Filomena Firmeza" soa, algumas partes que explicavam o nome não se encaixaram tão bem em português — o original é "Catherine Certitude" — e imagino que o livro todo ficaria mais bonito em francês. Mas é a vida, algumas coisas se perdem com tradução mesmo.

Enfim, para concluir, a minha primeira experiência com o Modiano foi razoável. Tenho vontade de ler mais coisa dele? Por enquanto não; ele escreve bem, mas se não me conquistou em um livro infantil, duvido que vá me conquistar com outra coisa.

Avaliação final: 3/5

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