domingo, 14 de dezembro de 2014

Sobre guilty pleasures

Sei que é estranho fazer posts de discussões confusos, que falam, falam e não chegam a lugar nenhum, mas não sou uma pessoa de opiniões firmes e prefiro problematizar as coisas a resolvê-las. O próprio fato de eu estar falando isso é um pouco contraditório, porque talvez mais tarde eu pareça ter convicções e ideias bem formadas. Enfim, desse jeito parece até que vou falar sobre um assunto sério e importante para o mundo inteiro, mas não. Só queria dizer o que penso sobre guilty pleasures. Minha opinião não é a que eu mais vejo por aí nesse universo cuidadosamente selecionado que é a internet, onde acompanho apenas quem me apetece de algum modo, e acho que por isso senti necessidade de falar sobre o assunto.

A maior parte das pessoas que conheço defende que guilty pleasure é um termo que não deveria ser usado, que gente bem resolvida não sente culpa nenhuma, etc. E eu entendo por que elas dizem isso, mas a minha visão é de que não é o fim do mundo ter guilty pleasures, especialmente com uma definição mais branda do termo.

Eu não defendo a visão de que guilty pleasure, como a definição padrão diz, é algo do qual você gosta e o resto do mundo acha duvidoso. Acho que não tem problema nenhum gostar de algo supostamente ruim e defender isso; aliás, acho isso louvável. Eu gostaria de ligar menos para o que os outros pensam, mas ao mesmo tempo não é um fator que interfira muito na minha vida. Meus amigos e minha família mais próxima sabem do que eu gosto, e o resto não precisa saber. Posso ficar com um pouco de vergonha quando alugo um livro YA na biblioteca, ou quando minhas compras no supermercado são só coisas nada saudáveis, mas isso não me impede de fazer essas coisas. Até porque, como sou tímida, tenho vergonha de pegar qualquer livro na biblioteca ou comprar qualquer coisa.

Basicamente, entendo que as outras pessoas queiram que todo mundo pare de julgar os outros pelos seus gostos (não sei se isso aumentou com a internet ou se antes eu não percebia, mas por que todos têm que ter opinião formada sobre tudo? Ou você ama Crepúsculo ou você odeia, ou você acha a Taylor Swift o melhor exemplo de pessoa na face da terra ou você a odeia, ou você fala biscoito ou fala bolacha — achando que o seu lado, claro, é o certo . Não existem outras possibilidades? Sei que é exagero meu e que faço isso às vezes, mas esse tipo de coisa realmente me incomoda). Não acho horrível eu mesma sentir culpa em algumas coisas, no entanto. Não preciso ter orgulho de tudo o que faço. Se a culpa que eu sinto por gostar de algo não é enorme e não me impede de fazer alguma coisa, está tudo certo.

Eu divido meus guilty pleasures em três categorias. A primeira é de coisas que me fazem mal de alguma forma, hábitos ruins: comer muito doce em seguida, arrancar esmalte da unha, tirar casquinha de machucado ou mesmo comprar livros compulsivamente… Coisas que são legais de fazer na hora, mas que depois eu me arrependo. Tenho a impressão de que esses são os guilty pleasures mais comuns e que quase todo mundo tem.

O segundo tipo é de coisas problemáticas — racistas, machistas, homofóbicas, etc. Gosto de The big bang theory, por exemplo, que é cheio de piadas preconceituosas. De vez em quando vejo Esquadrão da moda ou outros reality shows de makeover, mas eles são muito opressores e humilhantes. Gosto bastante dos filmes do Woody Allen, que é um figura super problemática. A culpa no caso vem de apoiar algo que vai contra seus ideais. Tem formas de diminuir esse apoio, usando a pirataria, por exemplo, mas nem sempre penso nisso. Normalmente, não chego a me sentir muito mal por esse tipo de coisa porque se a gente for se sentir culpada por qualquer coisa minimamente problemática, não vai gostar de nada.

O último tipo de guilty pleasure é o que mais parece com a definição tradicional: o de coisas que considero ruins. Acho ruim e gosto mesmo assim. Alguns exemplos: reality shows da MTV, filmes do Disney Channel, leituras bem fúteis (daquelas que você fica em dúvida de que nota vai dar, porque pelo entretenimento seria uma nota alta mas pela qualidade seria baixa). Acho que a culpa daqui vem dessa ideia de que temos que ser produtivos até no nosso tempo livre e que nesse período poderia estar lendo ou vendo algo melhor — e nesse caso significa apenas algo que eu ache melhor, um livro da minha estante, um filme que quero ver há séculos… Gostaria de não sentir tanta pressão no meu entretenimento, mas isso é algo que não envolve só guilty pleasures.

Enfim, para resumir, eu tenho guilty pleasures, mas na maior parte do tempo lido bem com eles. Minha vida não gira ao redor disso, mas daquilo que gosto muito e defendo até o fim, não importa o quão vergonhoso seja. E você? Tem guilty pleasures? Acha isso uma bobagem? Acha que a gente tem que esconder nossos gostos supostamente ridículos? Adoraria saber sua opinião nos comentários.  

2 comentários:

  1. Claro que tenho!, mas nunca os categorizei nem pensei muito no que eles são. Também me incomoda essa coisa de tudo ter de ser preto no branco, de as pessoas sempre se dividirem em dois partidos (e isso se inclui em vários assuntos) e terem atitudes radicais. Eu sempre me importei muito com a opinião das pessoas, e 'antigamente' eu costumava omitir meus gostos duvidosos. Ainda me importo com as opiniões, mas se hoje surgisse determinado guilty pleasue numa conversa, eu não omitiria mais, mesmo que a pessoa fizesse piadinhas e tal. Isso não quer dizer que sou uma pessoa bem resolvida (definitivamente não sou), mas que não preciso subordinar minha opinião à de determinada pessoa, e nem impor a minha. Agora sempre faço uso da frase: "pão ou pães, é questão de opiniães".

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  2. Acho que o comentário da Sabrina quase serve para mim também. Já me preocupei mais com a opinião das pessoas. Atualmente tenho ligado muito menos para isso. Se a pessoa acha ridículo o livro que estou lendo, ou que gosto, bom para ela, é só não ler. Se às vezes gosto de ler livros bobinhos para espairecer, isso é problema meu e de mais ninguém. Mas confesso que não é fácil, para mim, simplesmente ignorar. Tenho trabalhado nisso! hehehehe
    Por esse motivo eu vou usar a sua última definição para escolher um livro para o desafio esse mês. Você falou exatamente o que sinto! Dúvida de qual nota dar, pois se divertiu muito durante a leitura, mas sabe que é de qualidade duvidosa. Passo sempre por esse problema! hehehehehe
    Gostei muito do post! Achei bem pertinente!

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