quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Caixa de pássaros, Josh Malerman

Caixa de pássaros

O quarto está escuro. A única janela está tapada com tantos cobertores que, mesmo em seu auge, a luz do sol não consegue entrar. Há dois colchões, um em cada canto do quarto. Acima deles há domos negros. Muito tempo atrás, a grade de arame que sustenta o tecido era usada para cercar o pequeno jardim próximo ao poço, no quintal da casa. Mas, nos últimos quatro anos, ela serviu como armadura, protegendo as crianças não do que poderia vê-las, mas do que elas poderiam ver.

Caixa de pássaros é um lançamento da Intrínseca do começo do ano. Eu vi várias resenhas positivas e o ar de suspense da história me deu vontade de ler. Descobri que o livro tinha chegado na biblioteca pouco antes de outubro, então aproveitei a leitura para o Desafio Literário Skoob, tema terror. Não sei se eu diria que é um livro de terror de verdade, para mim está mais para um thriller pós-apocalíptico/distópico, mas as outras opções que tenho também não são livros muito assustadores, então fico com esse mesmo.

O livro se passa em uma sociedade pós-apocalíptica, em que as pessoas que veem certas coisas misteriosas ficam loucas e se matam. Ninguém sabe o que exatamente causa a loucura. Ninguém sabe como parar com isso. A solução, portanto, é tentar não enxergar o que quer que seja que deixe as pessoas loucas. Os sobreviventes se trancam em suas casas e só saem delas vendados, tendo que lidar com os problemas de uma sociedade em extinção.

O foco da história é Malorie e a narração se divide em duas partes: presente, no qual somos colocados direto na (pouca) ação, e passado, que é a explicação dos acontecimentos que levaram ao presente. Como quase toda história dividida, tem uma parte bem mais interessante que a outra. No caso, gostei mais da parte do passado, que tem mais personagens e acontecimentos mais dramáticos. O fato é que não consegui empatizar muito com a protagonista e com seus dramas, então não me importava com o que aconteceria com ela.

Aliás, esse é um problema comum em livros de suspense. Eu não consigo me apegar aos personagens, a escrita nem sempre é incrível nem nada do tipo, parece que só estou lá pela ação e tudo bem, isso é mais que o suficiente enquanto leio, mas depois quanto mais penso sobre o assunto, mais o livro parece descartável. Li, me diverti, esqueci. Às vezes é o que a gente precisa, por isso a minha avaliação boa, mas acredito que existam livros melhores nesse quesito também.

Em resumo, eu diria que Caixa de pássaros é uma mistura de Ensaio sobre a cegueira com A estrada, escrita no estilo do Stephen King (podem colocar isso na capa do livro, pena que não é uma definição muito comercial). O desespero em relação à cegueira está na história, embora de forma mais branda que no livro de Saramago; a jornada do pai da narrativa de Cormac McCarthy é semelhante à de Malorie, escrita de forma menos tediosa bonita, e Josh Malerman consegue criar tensão assim como King, apesar de ter um estilo próprio menos desenvolvido. Como disse antes, o livro cumpriu seu propósito de entreter, mas também não se sobressaiu dentre os outros do gênero.

Avaliação final: 3,5/5

4 comentários:

  1. Também sinto isso quando leio livros de suspense (e alguns policiais). Enquanto eu leio fico super entretida, mas depois que acabo eu não me importo mais e, às vezes, quando paro para refletir melhor sobre a leitura, começo a ver um monte de problemas :P. Mesmo assim, atualmente acho que prefiro esse tipo de livro.

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    1. Eu gosto é de mesclar as leituras. Não me vejo lendo só livros assim em seguida, mas também não consigo ler só livros "sérios". O bom é misturar, um pouco de suspense ali, literatura contemporânea depois, então um YA... Assim o que me incomoda em cada gênero fica mais disperso.

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  2. Eu sinto isso com os policiais que leio. Nem sempre crio uma super empatia pelo personagem, mesmo que eu goste dele ou o ache bem construído. (E é um dos meus gêneros favoritos!!) Mas nesse caso eu consegui simpatizar muito com os personagens e achei muito bom o desfecho!

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    1. Eu tenho isso com policiais também, por isso que livros com detetives carismáticos acabam se sobressaindo (por isso gosto do Sherlock Holmes, por exemplo)

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