domingo, 16 de agosto de 2015

Precisamos de novos nomes, NoViolet Bulawayo

Precisamos de novos nomes

Se você for roubar alguma coisa, é melhor que seja pequena e fácil de esconder, ou algo que você possa comer depressa e acabar logo com a história, como goiabas. Assim, as pessoas não podem ver você com a coisa e se lembrar de que você é um ladrão sem-vergonha e que você roubou aquilo deles, então eu não sei o que os brancos estavam tentando fazer, para começo de conversa, roubando não uma coisinha de nada mas um país inteiro. Como é que as pessoas vão conseguir esquecer se você roubar algo assim?

A capa de Precisamos de novos nomes foi o que me fez prestar a atenção no livro. Quando descobri que a autora é do Zimbábue, minha vontade de ler só aumentou. Estava pensando em comprá-lo na Festa do livro da USP, porque 50% de desconto é algo que não se pode ignorar, mas aí vi o livro na biblioteca e corri para pegá-lo, não me importando por quebrar a minha regra recém-criada de pegar um livro só por vez. Afinal, vai que alguém aluga o livro primeiro e rouba, né? (sabe aquelas pessoas que não têm limites nas compras de livros, sempre procurando por desculpas para comprar mais? Então, eu não tenho limites nem nas compras nem na biblioteca. Eu compro um monte de livros, mas dou prioridade para o que pego na biblioteca porque sou besta assim mesmo)

Precisamos de novos nomes é um romance de formação narrado por Darling, uma jovem garota que mora em uma bairro pobre de Harare. Ela passa os seus dias brincando na rua com seus amigos, indo ao bairro rico da cidade roubar goiabas com eles e esperando ansiosamente a sua mudança para os Estados Unidos. Quando ela finalmente se muda, percebe que a vida que leva no país não é exatamente o que esperava e que sempre será estrangeira nessa terra.

Romances narrados por crianças ou jovens em cenários violentos são bem comuns, mostrando um pouco da confusão e da ingenuidade deles. Apenas falando sobre a África, por exemplo, posso citar AvóDezanove e o segredo do soviético e Hibisco roxo. Precisamos falar sobre novos nomes não traz muitas novidades no uso dessa narração, embora a voz de Darling seja bem desenvolvida e única — gostaria de ter lido o livro no original, para ver melhor a linguagem dela e as diferenças pré- e pós-Estados Unidos.

Muitos temas são tratados no livro: doenças, religião, racismo, colonialismo, a exploração que algumas pessoas fazem da pobreza, entre outras coisas. Darling não entende sobre tudo de que fala, mas quase tudo fica claro para o leitor. Quando concluí o livro, pensei que talvez essa narração direta, que escancara as críticas mesmo que a própria narradora não tenha consciência disso, deixasse pouco para a reflexão do leitor. Mas, pensando melhor, essa honestidade é válida também, por que não? Além disso, mesmo que muitos temas sejam óbvios ou até previsíveis, eles não deixam de ser menos importantes por isso, e um livro não precisa ser inovador para ser bom. Também deve ter várias sutilezas que não consegui captar por serem sobre a realidade do país. É muito fácil dizer “ai, livro africano sobre a pobreza narrado por criança, já tem 500 sobre o assunto” como se a África fosse tudo a mesma coisa. A gente não fala “nossa, outro livro europeu sobre a 2ª Guerra narrado por um homem de meia-idade, que repetição” (quer dizer, às vezes a gente fala. Ops).

Achei interessante ler um livro que se passa em uma época mais atual, com referências recentes, como a Rihanna e a Kim Kardashian. Tenho a impressão de que muitos livros mais “literários” (muitas aspas aqui, por favor) fogem de citações a cultura pop, mas é inegável que ela influencia muito a nossa vida, especialmente quando jovens.

Enfim, gostei bastante de Precisamos de novos nomes. O livro prendeu a atenção, mesmo com muitos saltos temporais. Talvez não seja uma leitura especialmente marcante, mas foi boa, e indico principalmente para quem quer começar a conhecer literatura africana.

Avaliação final: 4/5

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