domingo, 13 de janeiro de 2013

Arlington Park, Rachel Cusk

Arlington Park
Ele entrelaçou os dedos nas tranças de cor sem graça. Nem sequer estava prestando atenção no que fazia, ela percebeu. (…) Simplesmente continuou a enrolar os cabelos nos dedos, distraído, esquecendo o que sentira apenas um minuto antes. Sentira que ela estava distante dele. Ela sabia: ele a vira ali no corredor e se lembrara de que ela se mantinha afastada dele. Era como quando Juliet de vez em quando ficava na frente da televisão com o controle remoto, trocando de canal para encontrar alguma coisa para as crianças assistirem, e um fragmento de noticiário aparecia na tela. Ela via uma guerra ou um terremoto, rostos de vítimas da dor ou de pessoas segurando armas, via regiões de poeira e montanhas distantes. Via isso, alguns instantes de turbulência do outro do lado mundo, e em seguida mudava de canal.
 (Arlington Park, p. 34)
 
Minha primeira leitura do Desafio Literário de 2013 foi Arlington Park. Como o tema de janeiro é livre mas eu não quero resenhar todos os livros que ler, criei um tema próprio: livros mais novos do que eu, ou seja, publicados de 1994 para cima.
 
Peguei esse livro na biblioteca porque já estava com vontade de lê-lo faz tempo (mas não tanta vontade a ponto de comprá-lo). O motivo é simples: adoro a capa e a contracapa do livro. A sinopse me agradou também: a vida de mulheres no subúrbio inglês de Arlington Park.
 
E a história é essa mesmo, trechos narrando a rotina de um grupo de mulheres, a maioria delas donas de casa e mães. Temos Juliet, professora de uma escola particular só para garotas e infeliz; Solly, que recebe estudantes estrangeiras em sua casa e é infeliz; Maisie, que se mudou de Londres para Arlington Park e se arrepende da mudança (e portanto, está infeliz)… Cada uma recebe no mínimo um “capítulo”, narrado em terceira pessoa mas com o seu ponto de vista.
 
Não é um livro muito excitante. Se você não estiver no clima depressivo, provavelmente irá achar um tédio. Mas eu acabei entrando no clima triste e chuvoso do livro, tendo simpatia por alguns personagens (Juliet) e raiva de outros (Christine). O meu grau de simpatia varia de acordo com o quanto a personagem tem noção de que ela está presa no mundo de donas de casa (quanto mais, melhor) e o quanto ela manifesta pensamentos classe-média-sofre (quanto mais, pior).
 
No fim, me pareceu que as lições do livro são “não seja uma dona de casa suburbana” e “os homens (maridos) tiram a sua vida de você mesma”. Tá, estou exagerando… Ou não. Por mais que eu concorde em certo grau com isso, ao mesmo tempo é um exagero… Ou não.
Como eu disse antes, é para ser lido num dia de desespero existencial (para ficar mais desesperada ainda). Se for lido em dias felizes, talvez você pense que é exagero da autora mostrar a vida suburbana só com tristeza e mal-estar. 

2 comentários:

  1. Acho que eu não estava muito no clima quando li esse livro. Achei meio negativo demais e classe-média-sofre demais.

    A capa e a contracapa acabaram me enganado. :P

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    1. Mas é negativo demais mesmo... E eu gosto do fato dos personagens serem bem classe-média-sofre, porque mostra que, bom, a classe média é igual em todo o mundo, hehe.

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