Ele entrelaçou os dedos nas tranças de cor sem graça. Nem sequer estava prestando atenção no que fazia, ela percebeu. (…) Simplesmente continuou a enrolar os cabelos nos dedos, distraído, esquecendo o que sentira apenas um minuto antes. Sentira que ela estava distante dele. Ela sabia: ele a vira ali no corredor e se lembrara de que ela se mantinha afastada dele. Era como quando Juliet de vez em quando ficava na frente da televisão com o controle remoto, trocando de canal para encontrar alguma coisa para as crianças assistirem, e um fragmento de noticiário aparecia na tela. Ela via uma guerra ou um terremoto, rostos de vítimas da dor ou de pessoas segurando armas, via regiões de poeira e montanhas distantes. Via isso, alguns instantes de turbulência do outro do lado mundo, e em seguida mudava de canal.
(Arlington Park, p. 34)
Minha primeira leitura do Desafio Literário de 2013 foi Arlington Park. Como o tema de janeiro é livre mas eu não quero resenhar todos os livros que ler, criei um tema próprio: livros mais novos do que eu, ou seja, publicados de 1994 para cima.
Peguei esse livro na biblioteca porque já estava com vontade de lê-lo faz tempo (mas não tanta vontade a ponto de comprá-lo). O motivo é simples: adoro a capa e a contracapa do livro. A sinopse me agradou também: a vida de mulheres no subúrbio inglês de Arlington Park.
E a história é essa mesmo, trechos narrando a rotina de um grupo de mulheres, a maioria delas donas de casa e mães. Temos Juliet, professora de uma escola particular só para garotas e infeliz; Solly, que recebe estudantes estrangeiras em sua casa e é infeliz; Maisie, que se mudou de Londres para Arlington Park e se arrepende da mudança (e portanto, está infeliz)… Cada uma recebe no mínimo um “capítulo”, narrado em terceira pessoa mas com o seu ponto de vista.
Não é um livro muito excitante. Se você não estiver no clima depressivo, provavelmente irá achar um tédio. Mas eu acabei entrando no clima triste e chuvoso do livro, tendo simpatia por alguns personagens (Juliet) e raiva de outros (Christine). O meu grau de simpatia varia de acordo com o quanto a personagem tem noção de que ela está presa no mundo de donas de casa (quanto mais, melhor) e o quanto ela manifesta pensamentos classe-média-sofre (quanto mais, pior).
No fim, me pareceu que as lições do livro são “não seja uma dona de casa suburbana” e “os homens (maridos) tiram a sua vida de você mesma”. Tá, estou exagerando… Ou não. Por mais que eu concorde em certo grau com isso, ao mesmo tempo é um exagero… Ou não.
Como eu disse antes, é para ser lido num dia de desespero existencial (para ficar mais desesperada ainda). Se for lido em dias felizes, talvez você pense que é exagero da autora mostrar a vida suburbana só com tristeza e mal-estar.
Acho que eu não estava muito no clima quando li esse livro. Achei meio negativo demais e classe-média-sofre demais.
ResponderExcluirA capa e a contracapa acabaram me enganado. :P
Mas é negativo demais mesmo... E eu gosto do fato dos personagens serem bem classe-média-sofre, porque mostra que, bom, a classe média é igual em todo o mundo, hehe.
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