segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Uma casa na escuridão, José Luís Peixoto

Uma casa na escuridão

Ao escrever, algo de nós se tocava. Ao escrever, sentia-a passar por mim, sentia-a atravessar-me. Depois, fechava os olhos e via-a sorrir. Ainda dentro de mim, mas um pouco do seu rosto de anjo e da lonjura do seu olhar e dos seus gestos brandos a existir na página, no texto. Às vezes, levantava-me, segurava as folhas a tremerem-me  na mão e lia devagar. Após cada frase, parava e ouvia-a lida na memória. Ela era o texto.

Eu precisava fazer um trabalho de literatura portuguesa com o tema de Romantismo e Uma casa na escuridão era uma das sugestões para análise. Como gostei bastante do outro livro do Peixoto que eu li e não tinha a menor vontade de ler um autor romântico autêntico, fiquei com a opção mais segura para mim e li Uma casa na escuridão.

O livro conta a história de uma escritor em uma sociedade onde editores são presos por recusarem a publicações de originais, invasões de soldados não são raras e algumas famílias têm escravas. O escritor, que narra a história, vive com sua mãe e uma escrava na casa do título. Sua vida é pacata, até que ele encontra uma mulher dentro dele e se apaixona perdidamente. Mas a crueldade do mundo real se impõe e a vida não será como ele quer que seja.

A história é cheia de elementos simbólicos e quase tudo dá para interpretar como metáfora e relacionar com a nossa sociedade. Não sei a que ponto minhas interpretações estão corretas, mas também não acho que seja a ideia ter interpretações certas.

No geral, do ponto de vista crítico, achei o livro bem interessante — ou seja, consegui material suficiente para a minha análise. Porém, quando a questão mais óbvia, se eu gostei do livro, a resposta não é tão simples.

A prosa do autor é bem poética, e eu não gosto muito disso. Ao mesmo tempo, a leitura fluiu bem apesar dos parágrafos enormes. Mesmo que eu não estivesse tão envolvida com o que estava lendo, eu continuava, porque não achava motivo para parar e porque tinha prazo para fazer o trabalho.

O enredo do livro é curioso, mas tem muito de romantismo no começo e o psicológico do protagonista é bem mais explorado do que o lado social — uma escolha proposital do autor, claro, mas fiquei querendo entender melhor a sociedade e fiquei entediada em algumas partes com todo o drama do narrador.

Eu li o livro sem saber quase nada sobre ele, por isso algumas coisas do enredo me pegaram de surpresa e me chocaram, o que eu considerei positivo (embora tenha visto algumas resenhas reclamando da violência do livro — questão de gosto, acho).

Enfim, para não me alongar e não escrever uma versão 2.0 do meu trabalho, recomendo Uma casa na escuridão para fãs de obras intensas, viscerais e líricas.

Avaliação final: 3,25/5

2 comentários:

  1. Morri de rir foi da sua nota: 3,25. Isso que eu chamo de precisão! hehehehehehe
    Taí um livro que fiquei na dúvida se quero ler ou não. Pelo sim, pelo não, no momento fica em stand by.
    Gostei da sua resenha. ;)

    ResponderExcluir
  2. Olá Marília, tudo bem? Adorei que sua resolução de ano novo foi comentar mais em blogs, porque gostei muito do seu comentário. É sempre bom conhecer os leitores fantasmas, hahaha.
    Acho interessante reparar nas indicações de estudantes de letras. Vocês sempre descobrem umas obras que o público ~comum~ demoraria muito a encontrar, hahaha.
    Já tinha te aceitado no skoob :)
    E: leia Reparação. Sério! Nem que você compre em português para ler, mas leia, porque é um prato cheio para análises!!!!
    Beijo

    ResponderExcluir