quinta-feira, 13 de março de 2014

Peixe grande, Daniel Wallace

Peixe grande

Olhei para aquele velho, o meu velho com seus pés brancos mergulhados naquele riacho de águas cristalinas, naquele momento tão próximo ao fim de sua vida, e pensei nele, de repente, simplesmente, como um menino, uma criança, um jovem, com a vida toda a sua frente, assim como eu tinha a minha à minha frente. Eu nunca tinha feito isso antes. E aquelas imagens — o hoje e o ontem de meu pai — convergiram, e, naquele momento, ele se transformou numa criatura estranha, selvagem, ao mesmo tempo jovem e velha, moribunda e recém-nascida.

Meu pai se tornou um mito.

                                                                                                         (Peixe grande, p. 10)

Não sou do tipo de pessoa que acha que o livro sempre é melhor que o filme ou coisa do tipo. É fato que raramente prefiro o filme quando leio o livro antes, mas é bem comum que eu goste mais do filme quando vejo o filme antes, porque já vejo as coisas no universo do filme e sobra pouco espaço para imaginação funcionar. Com Peixe grande eu não sei dizer qual eu prefiro. Mas gostei muito dos dois.

Peixe grande conta a história (ou as histórias?) de Edward Bloom, um homem extraordinário. Amado por todos, não havia nada que ele não conseguisse fazer. É isso que ele conta ao filho, William. Mas William acha que não conhece bem o pai, e quando este está prestes a morrer, ele sente que precisa conhecê-lo de verdade, e assim percebe que as histórias são uma maneira de entendê-lo.

O livro reúne as histórias de Edward, contadas pelo filho em ordem cronológica, com algumas pausas para relatar várias versões do presente, a última conversa entre pai e filho. As histórias são curtas, divertidas e fáceis de ler, mas tem também muita coisa por baixo delas, e a relação entre pai e filho é interessante. É bonito ver as mudanças que William vai sofrendo ao entender melhor o seu pai, e ele não chega a endeusá-lo, o que seria problemático. Ele nos deixa livres para pensarmos o que quisermos de Edward. Eu não lembro tão bem do filme, mas tenho a impressão que o William era mais agressivo do que no livro, em que ele se sente mais frustrado do que bravo com o pai. Além disso, a vida do William parece ser menos explorada no livro, a gente sabe pouquíssimo dele. Este foco no pai está até no subtítulo original do livro: a novel of mythic proportions, que em português virou uma fábula do amor entre pai e filho. Meio brega, mas compreensível.

O fato de eu ter visto o filme me fez gostar mais do livro, porque reencontrar os personagens que eu já conhecia deu um tom de pertencer a história, de rever velhos amigos, algo até nostálgico.

Enfim, Peixe grande é um belo livro que mostra o poder das histórias, e traz reflexões interessantes sobre a construção da memória e também sobre relações entre pai e filho, e vida e morte. Recomendo o livro e o filme.

Avaliação final: 4/5

3 comentários:

  1. Em geral também prefiro o filme quando o vi antes. Mas se houver uma releitura do livro (ex: Castelo Animado) posso passar a preferir o livro. Gostei da sua resenha, e que bom que gostou do livro!

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  2. Eu não sabia que tinha o livro (shame on me!), mas adorei o filme do Tim Burton. Acho uma fábula realmente fascinante sobre a relação pai e filho, sobre confiança e o valor das histórias (independentemente de serem reais ou não).

    Quero ler :D

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  3. Hoje eu fui postar meu link do #DLDoTigre na página da Tati e vi que havia dois posts sobre "Peixe Grande"... eu nem sabia que esse filme era baseado em livro... rs Agora fiquei curiosa com os posts que li, inclusive o seu, que me fez querer rever o filme, inclusive. HIstórias para quem gosta de histórias.

    bjos
    Eliana

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