quinta-feira, 6 de junho de 2013

A Obscena Senhora D, Hilda Hilst

A Obscena Senhora D

Miudez, quentura, gosto. Mover-se pouco. Não dizer. As mãos na parede. Pensar o corpo, tentar nitidez. Hillé menina tateia Ehud menino. Dedos dos pés. Se a gente mastigasse a carne um do outro, que gosto? e uma sopa de tornozelo? E uma sopa de pés? Na comida não se põe pé de porco? Por que tudo deve morrer hen Ehud? Por que matam os animais hen? Pra gente comer. É horrível comer, não? Tudo vai descendo pelo tubo, depois vira massa, depois vira bosta. Fecha os olhos e tenta pensar no teu corpo lá dentro. Sangue, mexeção.

(A obscena senhora D, p. 42)

O tema do Desafio Literário de junho é romance psicológico. Eu acho bem complicada a definição de romance psicológico, mas acredito que esse livro se encaixa no tema.

Li A obscena senhora D porque um professor falou sobre ele em uma palestra e fiquei curiosa com a estranheza do enredo: após a morte de seu amor, uma senhora de sessenta anos passa a viver no vão da escada procurando pelo sentido da vida. Já que o livro é curto, eu queria pegar alguma coisa na biblioteca e ele se encaixa no desafio, decidi lê-lo agora.

Eu tinha medo de ser um livro muito difícil, totalmente maluco e que eu não fosse entender nada. Bom, em parte eu estava certa. O livro não tem o vocabulário mais fácil do mundo e não é exatamente linear, além das falas dos personagens se confundirem. Mas isso faz parte e é o esperado do fluxo de consciência, né?

O livro tem uma linguagem poética e uma densidade psicológica excelentes. Fiquei me imaginando lendo o livro depois de estudar psicologia ou mesmo só ler análises sobre ele.

Como o título já diz, o livro é um pouco pesado e obsceno. Não é um livro para quem quer se distrair com a história, é para refletir junto (e sobre) a senhora D.

2 comentários:

  1. Parece interessante... mas acho que não é para mim. ;)

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  2. Hilda Hilst é demais! Vale a pena conferir outros livros dela.

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