sábado, 30 de março de 2024

Virei k-popeira

É uma verdade universalmente reconhecida que uma mulher que não tem uma obsessão há algum tempo logo ficará obcecada por algo. E mesmo assim fui pega completamente de surpresa quando me vi virando fã de BTS.

Eu sempre soube que parte do apelo de grupos de k-pop é a quantidade de fan service que eles proporcionam, nas definições mais diversas desse termo, e não só a música em si. Eu só não tinha parado para pensar que isso significava a minha coisa favorita da televisão coreana: programas de variedades. Decidi ver Jinny's kitchen um dia porque gosto da ideia de celebridades fazendo trabalhos super normais como ter um restaurante, e estava curiosa para ver se eles seriam reconhecidos e como lidariam com isso. O fato de ter um membro do BTS ajudou na escolha porque é um nível de fama superior ao dos outros participantes, mas eu não sabia muito do grupo em si além de coisas aleatórias que via no Twitter. Apesar de o Taehyung durante o programa não ser particularmente carismático (ele é simpático, mas não tem tanto destaque por ser o novato do grupo), a ideia de ver idols fazendo coisas tão mundanas me abriu os olhos para o potencial de conteúdo de variedades que eles geram. Gosto muito do programa de viagens Where is my friend's home/The homecoming, do elenco de Abnormal Summit, e saber que o BTS tinha um programa de viagens foi importante para me fazer querer conhecer o grupo.

Ironicamente, o primeiro vídeo que me lembro de ter visto deles no Tiktok não era um conteúdo de momento engraçado ou algo assim: era um fancam do Suga dançando Boy with luv, e algo na sua expressão desinteressada quando ele não estava diretamente na coreografia me conquistou. O Tiktok deixou o algoritmo agir, e dias depois já tinha visto a coreografia de todos os membros nessa música e, mais importante, os tais 98957201 vídeos de interação entre eles.
 
Essa obsessão veio de um período em que tenho ouvido mais música, mas não sei mais definir meu gosto musical. A música foi meu primeiro interesse como fã (em um caminho que seria emo/pop punk => indie anos 2000 => indie brasileiro), mas foi deixada de lado após uma crise: sem o iTunes cheio de música baixada ou CDs físicos, já não sabia mais o que ouvir quando abria o Spotify.
 
O processo de redescobrir meu interesse pela música passa por muitas coisas, mas nunca imaginei que passaria pelo k-pop. Mas faz sentido. O que eu precisava para voltar a me interessar mais por música era algum elemento de fora para me conectar emocionalmente, por assim dizer. Na adolescência, isso era preenchido pelo ato de ser fã das bandas, pesquisando a respeito, vendo MTV, comprando revistas e lendo jornais e interagindo com as pessoas pela internet, ou, na época do indie brasileiro, simplesmente ao ato de ir a shows.
 
A maioria das músicas novas que eu ouço bastante depois desse período é atrelada a alguma coisa, como a trilha sonora de Malhação: viva a diferença e de As five, que foi outra obsessão, e trouxe várias músicas da MPB para meu repertório. 
 
E aí chega o k-pop. Passei a ficar mais intrigada com o gênero(?) quando vi pessoas com gostos mais parecidos com o meu obcecadas pelo BTS e até cheguei a ouvir um grupo ou outro quando via elogios, mas não gostei o suficiente para ir atrás. A música sozinha definitivamente não me chamou para o k-pop.
O que me chamou foi todo o resto, e foi todo o resto que me fez começar a apreciar mais a música.
 
Gosto de k-pop como gosto de música pop no geral; algumas músicas grudam na cabeça e fico querendo ouvir com frequência, mas sinto que posso logo enjoar delas. Ainda não encontrei nenhum grupo em que gosto de todas as músicas. No fundo, é algo mais de gostar muito de algumas músicas do que gostar da sonoridade típica (em contraponto com o resto do meu gosto musical, em que costumo apreciar a ~vibe~ da sonoridade e não ligo tanto para músicas específicas). E, claro, o fato de eu não gostar de todas as músicas não me impede de apreciar os grupos pelo resto do conteúdo que eles entregam.
 
É claro que eu tenho questões com a indústria do k-pop, mas fora o óbvio absurdo da exploração do trabalho sem limite dos idols nas mãos das empresas, algumas das contradições me fascinam: a mistura de artificialidade com vulnerabilidade da figura do idol, o jogo entre a extrema exposição e a privacidade, a venda de uma relação parassocial que vai de encontro à  própria ideia de ídolo, etc. E acho fascinante (e absurdo) o nível em que tudo isso é mediado por um consumo exacerbado, em uma relação de fanatismo bem mais associada com dinheiro do que estou acostumada como fã brasileira (e portanto pobre nos olhos do mercado global). O fandom de k-pop é outra coisa que acho interessantíssima de observar, especialmente por sua diversidade, tanto na demografia em si quanto na forma que agem.
 
Mas, voltando ao assunto principal do post, o BTS: como conheci melhor o grupo no chamado "capítulo 2", deles focados na carreira solo, me preocupei mais em acompanhar as coisas novas do que a discografia do grupo. Haverá tempo para o resto, já que temos até junho de 2025 para o retorno. Segue uma lista dos projetos solo lançados após o hiato e antes de todos entrarem no serviço militar (porque comecei a escrever o post há muito tempo e o j-hope já lançou coisa nova desde então) em ordem de preferência:


Ranking
1. V - Layover:
É o primeiro álbum que eu ouvi e o único que eu diria que combina com meu gosto musical esperado. Já sabia que meu gosto batia mais com o do Taehyung por ele ser fã de música brasileira e de jazz (enquanto a playlist dos outros membros do BTS no Spotify é cheia de pop, hip hop e coisas mainstream atuais, a dele tem várias músicas instrumentais compridas de jazz — que eu nem necessariamente gosto, mas prefiro a, sei lá, Justin Bieber e Drake). O álbum não vai 100% para esse lado, mas dá para ver as influências em som pop/RnB mais lofi com foco no instrumental, especialmente nas versões ao vivo com banda. Favoritas: Slow dancing e Love me again.

2. j-hope - Jack in the box:
Como uma pessoa que nunca gostou muito de rap (demorei para me acostumar com o fato das músicas do BTS terem mais de uma parte de rap, por exemplo), fiquei surpresa em gostar do álbum do j-hope de primeira. O estilo das músicas é diferente do esperado para a figura ensolarada de j-hope, mas casa perfeitamente com a sua performance. As músicas são bem curtinhas, e isso ajuda o álbum a não ficar cansativo. Favoritas: Pandora's box, MORE = (Equal Sign).

3. RM - Indigo:
Cheio de colaborações, o álbum do Namjoon é agradável de ouvir e só está embaixo do j-hope porque acho a segunda metade mais cansativa. Estou curiosa com o que ele vai lançar a seguir, porque parece que ele deixou bastante coisa pronta e a estética da sua carreira solo está puxando para um tom nostálgico e de conforto, que eu aprecio talvez um pouco mais mais do que as músicas em si. Favoritas: Still life

4: Jin - The astronaut: É estranho comparar álbuns com apenas uma música, mas é o que Jin nos deixou antes de ser o primeiro para ir para o exército (ela diz, como se estivesse acompanhando o grupo quando isso aconteceu). É uma música legal, feita junto com o Coldplay, e tenho certeza que deve ter emocionado e confortado muita gente na época do lançamento. Não é algo que eu tenha muita vontade de ouvir, mas também não é uma música que eu vou reclamar se tocar. Fico curiosa para ver o que o Jin vai fazer musicalmente no futuro, porque ainda não sei bem qual é o estilo dele e sinto que ele é o membro menos aproveitado do BTS nas canções em si, sem compor tanto quanto a rapline e com menos versos que os outros vocalistas. E ele vai ter bastante tempo para desenvolver sua carreira enquanto os outros não voltam.

5: Jimin - Face: O pop do Jimin nesse álbum é mais focado no eletrônico. Não é meu tipo de música favorita, mas gosto da ideia do álbum; dá para ver que ele tem um conceito por trás. Favoritas: Face-off e Interlude: Dive

6. Agust D - D-DAY: O Yoongi é o meu bias pela personalidade dele que vejo nos vídeos, então fui ouvir o álbum dele logo depois de ouvir o Layover, quando ainda não estava acostumada com a sonoridade de k-pop e ainda me incomodava com o ~excesso de rap~ no BTS. O resultado? Não gostei. Ouvi novamente depois, gostei um pouco mais, mas ainda não me conquistou, e acho que o meu estranhamento com o álbum pode ser resumido no fato de que a voz do Yoongi cantando me causa certa estranheza. Eu não sei o quanto é por causa dos efeitos na voz/autotune (que é usado claramente por escolha estética), porque a voz dele não me incomoda falando ou nas partes de rap, ou se é só questão de costume. O fato é que ironicamente a pessoa que se incomodava com ~excesso de rap~ hoje prefere as músicas que têm mais rap, pelo menos no caso dele. Favoritas: Haegeum, Polar night e Snooze

7. Jung Kook - Golden: Entendo o interesse do Jung Kook em se tornar um popstar global e sair do nicho do k-pop. Só não é algo que me atraia musicalmente. As músicas são bem chicletes e fáceis de grudar na cabeça. Não é insuportável de escutar, mas boa parte das músicas eu não faço questão de ouvir novamente. O lado bom é que o Jung Kook é bem versátil e diz querer lançar coisas diferentes no futuro: esse não é um álbum muito pessoal, parece ser o que ofereceram para ele. Favorita: Standing next to you

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Lendo a estante: LGBTQIA+

São leituras que eu fiz em junho de 2020, mês que dei preferências para autores LGBTQIA+.

A menina submersa, Caitlín R. Kiernan  
Por que tenho: Foi um dos primeiros lançamentos da Darkside que me chamou a atenção, com uma sinopse complexa e cheia de elementos fantásticos (e elogios de Neil Gaiman). Eu e minha irmã demoramos um pouco para comprar porque não é algo exatamente dentro da nossa zona de conforto literária, mas logo alguns livros da Darkside começaram a entrar em promoção e esse foi comprado por R$9,90.  
Por que li agora: Demorei para ler porque, apesar de ter lido muitas resenhas elogiando, as pessoas com um gosto mais próximo ao meu e que leram depois do hype detestaram o livro. Aí eu peguei bode dele, e só fui ler agora porque queria que a letra T aparecesse nas minhas leituras LGBTQIA+.
O que achei: É muita pretensão para um livro só e muita preguiça para uma leitora só. O livro tem partes que até me pegaram (as partes mais cotidianas), mas o fantástico da obra me confundiu horrores. Não tenho coragem de dizer que é um livro ruim, mas tenho certeza de que não é um livro para mim.
Avaliação: 2/5
 
Quinze dias
, Vitor Martins

Por que tenho: Vi muita gente elogiando o livro na época do lançamento, e gosto dos continhos do Vitor que já li por aí. E acho a capa bem bonitinha. 
Por que li agora: Eu precisava de um representante YA no meu mês temático.
O que achei: É uma gracinha! Devorei o livro em um dia e terminei com um sorrisinho bobo no rosto. Apesar da premissa um pouco forçada, o desenvolvimento da relação entre o Felipe e o Caio é crível e gostoso de ler, e a voz do Felipe, com todas suas inseguranças, é bem realista.
Avaliação: 4/5

 
Você é minha mãe?, Alison Bechdel
Por que tenho: Minha irmã comprou em uma Festa do Livro da USP há uns anos.
Por que li agora: Por causa do mês temático, basicamente. Queria incluir um quadrinho na lista.
O que achei: O livro é considerado uma continuação de Fun home, que eu não li, ou seja: já começamos bem. E faz muitas referências a coisas que não conheço direito (tipo a psicanálise de Donald Winnicott). Do que deu para entender, eu gostei, mas sinto que perdi muita coisa e prefiro um estilo de graphic novel com menos textões.
Avaliação: 3/5

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Maratona asiática de maio

Chegou maio e com ele vem mais uma maratona asiática! Gostei da minha experiência ano passado e decidi participar de novo. As tarefas oficiais são:

1. Ler um livro escrito por uma pessoa asiática
2. Ler um livro com um protagonista asiático
3. Ler um livro do seu gênero favorito escrito por uma pessoa asiática
4. Ler um livro de não ficção escrito por uma pessoa asiática
5. Ler um livro escrito por uma pessoa asiática que não foca nos Estados Unidos

E não se devem repetir etnias/nacionalidades, mas como meu objetivo é também diminuir a pilha de livros não lidos na estante não vou focar nisso após ler os cinco livros principais.

As ideias de leitura são:
1. Roundabout of death, Faysal Khartash (Síria)
2. The ones we're meant to find, Joan He (americana de ascendência chinesa)
3. Não tenho gênero favorito exatamente, mas vou considerar ~ficção literária~, seja lá o que defina isso, para o desafio. O livro escolhido é O museu do silêncio, Yoko Ogawa (Japão)
4. How to do nothing, Jenny Odell (americana de ascendência filipina)
5. Todas as cores do céu, Amita Trasi (Índia)

E tenho outras opções também que pretendo ler se sobrar tempo. Conheci esse site ano passado e ele tem opções de YAs para ler de graça durante o mês, e o Spotify também tem audiolivros interessantes disponíveis (The subtweet, I love you so mochi e There's no such thing as an easy job se encaixam no tema da maratona). Isso fora outros livros da estante...

Também vou continuar com a maratona de filmes e de séries, mas vou decidindo o que ver conforme der vontade, porque não adianta nada escrever uma lista enorme e depois assistir só coisas completamente diferentes. Em junho conto como foi a experiência.

terça-feira, 20 de abril de 2021

Retrospectiva de filmes e tv de 2020

Faz um tempo que não sou uma pessoa que costuma ir ao cinema, então a pandemia não mudou minha forma de de ver filmes. Senti falta de olhar a programação de mostras no CCSP ou no Cinusp, marcar o que queria ver e depois ficar com preguiça de sair de casa, mas troquei esse hábito pelo de olhar a programação de mostras online e ficar com preguiça de ver os filmes na internet mesmo.

Estatísticas
Mantive a minha planilha, mas só a atualizei no final do ano. O resultado: quase igual ao de 2019. Quase metade dos filmes vistos é dos Estados Unidos, setenta e cinco por cento dos filmes dirigidos por homens e mais ou menos a mesma porcentagem para diretores brancos. Acho que vou parar com a planilha, porque é um trabalho que não traz muita recompensa. Não tenho metas específicas para esses dados, então eles só me deixam meio triste mas sem me dar forças para mudar meus hábitos.

Meses temáticos
Aproveitei minhas maratonas de livros para fazer o mesmo com filmes e foi divertido pensar nas minhas escolhas. Serviu bem para ter esse olhar consciente do que ia assistir, e tirou alguns filmes que estavam na minha lista há tempos.

Metas mensais
Continuei firme na meta mensal de ver um filme da lista do 1001 e uma animação e introduzi com sucesso o objetivo de ver um filme dirigido por mulher por mês. Fracassei no objetivo de ver um filme por mês da lista do Top 250 do Letterboxd, que é uma meta ridícula, criada porque acompanhar a rinha de cinéfilos nos comentários da lista é um guilty pleasure meu. Não pretendo completar a lista, mas queria chegar pelo menos nos 100 vistos de 250, então vou manter a meta mesmo que seja um objetivo um tanto besta (no momento, estou com 76/250).

Journal
Provavelmente meu maior feito de 2020 foi ter começado um journal de filmes e séries, um ótimo meio de usar meu material de papelaria e exercer um pouco de criatividade. Isso criou uma rotina nova, de ouvir podcasts sobre os filmes antes de formular minha opinião e de ouvir a trilha sonora do filme durante o processo de escrita para torná-lo mais divertido e imersivo. Como sempre, estou atrasada no journal, escrevendo sobre coisas que vi em maio de 2020 em abril de 2021, mas colocar coisas no papel tem me feito bem: fazia tempo que não tinha um hábito mais criativo/artístico, e é legal ver um resultado concreto (e bonitinho às vezes) saindo disso.

Por fim, os grandes favoritos vistos em 2020:
Parasita (Bong Joon-Ho, 2019)
Dor e glória (Pedro Almodóvar, 2019)
Desculpe te incomodar (Boots Riley, 2018)
E então nós dançamos (Levan Akin, 2019)
Retrato de uma jovem em chamas (Céline Sciamma, 2019)

No mundinho das séries, não tenho muito a falar de hábitos e mudanças, a não ser que em 2020 decidi ver Malhação: viva a diferença do início ao fim, em preparação para a estreia de As five, e não esperava o nível de obsessão que criei por esse universo. MVAD era a novela que eu gostava de ver quando estava na casa do meu avô, na época da exibição original, mas como eu tinha preconceito com novelas, ficava meio com preguiça de ir atrás para assistir tudo certinho. Um baita erro, porque acabei devorando a novela em poucos meses e gostei tanto a ponto de entrar no fandom. Viver a experiência comunal de aguardar a estreia de As five foi muito bom para fazer o tempo passar em 2020, e se a série trouxe um cadinho de decepção com ela, isso só foi possível porque as expectativas estavam lá no alto. Fico no aguardo do início da gravação da segunda temporada para entrar nessa loucura de novo.

Outras favoritas:
Euphoria
The good place
BoJack Horseman
(ainda estou na terceira temporada, saboreando os episódios aos pouquinhos)
Eu nunca...
Top Chef (as primeiras temporadas estão na Netflix! É meu reality culinário favorito, de longe)

No mundinho do Youtube, conheci o canal dos Try Guys, quatro rapazes que... tentam fazer coisas. O tom do canal é de comédia, às vezes até demais, já que cada um deles tem sua personalidade e às vezes eles exageram esses traços pelo humor, mas os vídeos têm temas variados e dá para gastar um bom tempo lá.
Voltei a me interessar pelo booktube depois de ver um vídeo da Noelle Gallagher na minha página de recomendados. Acho bem difícil definir o que eu gosto em um booktuber, porque é uma mistura de gosto literário em comum com o modo de falar sobre livros e personalidade. Minhas booktubers favoritas provavelmente são a própria Noelle e a Cindy (não só pelo humor, mas os wrap ups dela são meus favoritos: ela consegue explicar bem o que gostou e o que não gostou em cada livro. E ela é crítica pra caramba, mas de um jeito genuíno).

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Retrospectiva de leituras de 2020

Não preciso nem dizer que 2020 foi um lixo. Mas como sempre fui uma pessoa que usa entretenimento como escapismo, em termos de livros, séries e filmes, até que o ano foi bom. Me envolvi em projetos pessoais, descobri novos autores interessantes, voltei a acompanhar conteúdo literário no Youtube e até descobri novos blogs. Seguem alguns comentários sobre o ano:

Estatísticas

Novamente usei uma planilha para marcar as leituras e foi uma experiência interessante, mas que vou abandonar em 2021. Ficar abrindo a planilha me cansava, e eu preenchia coisas que não necessariamente eram minha prioridade só porque uso um modelo pré-pronto (e porque ver os gráficos é bonitinho) e ainda ficava em dúvida de como classificar as leituras dentro das categorias. Em 2021, vou registrar os dados que me interessam em um caderno: formato, origem (da estante, Kindle, emprestado, etc.), nacionalidade, raça e gênero de quem escreveu. Em relação a 2019, meus dados de 2020 não mudaram muito: continuo lendo cerca de um terço de autores americanos, seguidos por brasileiros; leio um pouco mais de mulheres do que de homens; boa parte das minhas leituras LGBT+ vem de contos de autores nacionais.

É divertido ver? É. É inútil? Também.

Lendo a estante
Dizer que o projeto foi bem-sucedido é exagero, visto que estou bem atrasada nas postagens, e também não bati a meta de ler 50 livros da estante (li quase 40. Dos 84 livros que li no ano, é menos de cinquenta por cento, o que é ridículo), mas tem sido divertido pensar em como os livros chegaram na minha estante e como meu consumo de livros tem mudado. Seguiremos em frente em 2021.

Around the year
Completei mais um ano do desafio. Gosto de ler o que der vontade e ir encaixando nas propostas depois, e adoro a variedade de tipos de propostas, mas confesso que sinto falta de um desafio literário mais raiz, daqueles que a gente acompanha as leituras e resenhas dos outros. Como o desafio vem de um grupo gringo do Goodreads, não me sinto muito à vontade lá, porque tenho preguiça de escrever em inglês e sinto que meus gostos não batem com o das pessoas.

Meses temáticos
Em maio, participei da maratona asiática e adorei a experiência, tanto que decidi focar em autores LGBT+ em junho e em autores negros em julho. Como leio mais autores brancos héteros, minhas escolhas de leitura acabam priorizando algo de um branco hétero, e esses meses foram essenciais para olhar minha estante e explorar outras opções. Percebi, por exemplo, que os asiáticos dominam minhas leituras não brancas, que quase não tenho livros de autores negros que não sejam africanos e tenho poucos livros LGBT+ fora do Kindle.

Audiolivros
Me parece que os audiolivros estão cada vez mais populares, especialmente fora do Brasil, e ver tantos booktubers lendo mais em áudio me deixou com uma pulga atrás da orelha. Não sou uma pessoa muito auditiva, mas experimentei o período de teste do Scribd e um tempo depois eles me deram mais uma mensalidade grátis. Vou ser sincera: não acho que me adaptei cem por cento ao método. O que mais funcionou para mim foi ler no Kindle e ouvir ao mesmo tempo, o que aumenta a velocidade de leitura, mas não faz do áudio algo indispensável. Existem audiolivros com uma produção maravilhosa (Beauty queens provavelmente só esta na lista de melhores do ano por causa do áudio: tinha musiquinhas, efeitos sonoros e a autora narrava com sotaques e muita personalidade), mas em outros casos fiquei até perdida sem ter o texto escrito. No futuro, provavelmente vou continuar ouvindo audiolivros somente quando for a forma legal mais prática de obter um livro.

Por fim, as melhores leituras do ano...

As garotas, Emma Cline
As águas-vivas não sabem de si, Aline Valek

Diga aos lobos que estou em casa, Carol Rifka Brunt
And then there were none, Agatha Christie
Beauty queens, Libba Bray
Quinze dias, Vitor Martins
História de quem foge e de quem fica, Elena Ferrante
As coisas que perdemos no fogo, Mariana Enríquez
Smoke gets in your eyes, Caitlin Doughty
A head full of ghosts, Paul Tremblay


...e o grande favorito
A little life, da Hanya Yanagihara, foi definitivamente a leitura que mais me marcou em 2020. Em um ano tão trágico, acompanhar o sofrimento de Jude e amigos foi a catarse que eu precisava. Não é um livro que eu recomendaria para todo mundo, mas A little life me deixou obcecada como há tempos não ficava com um livro.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Os (realmente não tão) últimos filmes que eu vi #26

Terminamos esse ano interminável que foi 2020 e eu termino aqui também com os filmes vistos em 2016. Como me parece meio ridículo continuar postando minhas opiniões de quatro anos atrás, como se nada tivesse mudado, vou tentar modificar a forma desses posts, talvez deixar por temas em vez de cronologicamente? Veremos. Por enquanto, feliz ano novo! E ano que vem posto os melhores de 2020. 

1. Short cuts - cenas da vida (Robert Altman, 1993)
Segundo filme do Robert Altman que eu vejo, Short cuts tem a mesma estrutura estilo mosaico de personagens que Nashville. O foco aqui é em Los Angeles, mas não como a cidade do glamour e das estrelas, e sim nas partes mais afastadas e nas pessoas de classe média. Sinceramente, achei bem cansativo e pouco impactante. Como os personagens são gente como a gente, é mais difícil de entender o que o filme está tentando passar. Ou pelo menos foi o que eu achei. Avaliação: 3/5

2. Uma viagem ao mundo das fábulas (Tomm Moore, 2009)
Esse é um dos filmes que não faço ideia do motivo de não ter visto até agora. Vi até A canção do oceano antes, só por ter saído em um ano que estava vendo as animações do Oscar. Na verdade, o enredo de Uma viagem ao mundo das fábulas não me atraía muito — o monastério, a questão religiosa e a mitologia celta. Mas eu adorei o filme. O mérito maior é da animação, que é linda demais e me deixou praticamente de queixo caído o filme inteiro. Mas a história não é ruim, e conseguiu me prender durante o filme todo também. Avaliação: 4/5 
 
3. Mesmo se nada der certo (John Carney, 2013)
Esse filme foi bem hypado pela trilha sonora, todo o sucesso de Lost stars e tal. Demorei para ver por motivos de preguiça — e porque queria ver Apenas uma vez primeiro, já que sempre comparam os dois. Mesmo se nada der certo é um filme bonitinho, as músicas são gostosas de ouvir e tal, mas para ser sincera não achei tudo isso não. É um filme esquecível. E ainda achei que o roteiro trata mal a filha do personagem do Mark Ruffalo. Avaliação: 3,5/5
 
4. Imagine eu & você (Ol Parker, 2005)

Imagine uma comédia romântica clichê. Ela pode conter um casamento — no começo ou no final —, encontros por acidente entre o casal, momentos constrangedores, uma piada interna do casal que pode ser replicada no gesto final de convencimento do "eles viverão felizes para sempre", entre outros. Imagine eu & você tem tudo isso, mas também tem um casal formado por mulheres como protagonista, o que faz toda a diferença. Ou nem toda, mas dá uma simpatia a mais para o filme. Avaliação: 3/5
 
5. De olhos bem fechados (Stanley Kubrick, 1999)
Tudo que eu sabia sobre esse filme era que tinha o Tom Cruise e a Nicole Kidman no elenco, que era famoso pelas cenas de sexo e que tinha uma atmosfera onírica. O que descobri assistindo é que esses conhecimentos estavam corretos. E que o filme tem o baile de máscaras mais assustador da minha vida. Eu não sei descrever o gênero do filme, porque ele começa com um drama de casal e vira um thriller psicológico? Que ao mesmo tempo pode ser visto com tons cômicos? Eu não entendi bem o filme, e tudo bem, a experiência foi valiosa mesmo assim, algo bem diferente do que eu estava acostumada a ver. Avaliação: 3,5/5

6. Anticristo (Lars von Trier, 2009)
Outro visto para a faculdade e diferente do que costumo ver. Ou nem tanto, para falar a verdade, mas a fama da violência do filme me fez evitá-lo. Anticristo é explícito, mas menos do que eu esperava, e sei que Lars von Trier é uma persona non grata por vários motivos, mas por enquanto gostei dos filmes dele (esse e Melancolia, e pretendo ver Dançando no escuro um dia). No entanto, Anticristo não é um filme que eu teria vontade de ver novamente. Avaliação: 3,5/5

7. Ponto Final: Match Point (Woody Allen, 2005)
Eu sinceramente não sei bem o que pensar do filme. A história me prendeu, mas não me conquistou completamente. Os personagens são interessantes, mas é difícil de se identificar com eles (que bom!). Não é o melhor filme do Woody Allen e nem o pior. Acho que tenho dificuldade de gostar bastante dele fora do lado cômico. Avaliação: 3,5/5

8. Caindo na real (Ben Stiller, 1994)
Dirigido pelo Ben Stiller(!), o filme fala sobre os jovens de vinte e poucos dos anos 90. Apesar das diferenças óbvias — a tecnologia, a moda, algumas referências culturais —, dá para perceber que os dilemas da juventude não mudaram tanto, e muito do discurso aplicado à minha geração se encaixa perfeitamente nos jovens dos anos 90. Então foi bom ver Winona Ryder e cia. interpretando personagens que não fazem a menor ideia do que vão fazer da vida, que têm sonhos grandes e não sabem se devem correr atrás deles ou se manter nos empregos ruins, etc. Infelizmente ele foca um pouco mais no romance do que eu gostaria, mas faz parte. Avaliação: 3,5/5

9. Perdidos na noite (John Schlesinger, 1969)
Eu perdi o que tinha escrito sobre esse filme, outro que vi para a faculdade, mas me lembro de ter gostado bastante. A relação entre os dois protagonistas é bem interessante de se ver. Avaliação: 4/5

10. O rapaz e o monstro (Mamoru Hosoda, 2015)
A animação de Mamoru Hosoda, diretor de A garota que conquistou o tempo e Summer wars, traz a história de um garoto que se sente perdido após a morte da mãe, foge de casa e encontra uma fera que vê no humano uma possibilidade de discípulo. Como o rapaz e o monstro são esquentadinhos, eles não se dão bem no início, mas aos poucos o garoto aprende a lutar e se torna um bom aprendiz. A primeira metade do filme é bem divertida, e é interessante observar as diferenças entre o mundo humano e o mundo dos monstros. O final, no entanto, insiste em uma trama desnecessária para dar um tom mais épico. Avaliação: 3,5/5

11. Ela é o cara (Andy Fickman, 2006)
Eu adoro enredos forçados, então como não gostar de um filme em que uma menina se finge de menino, mais especificamente o irmão dela, e todos na escola acreditam, mesmo que o disfarce dela seja péssimo? Como se fosse só engrossar a voz, usar gírias de ~brothers~, cortar o cabelo e usar roupas masculinas para parecer homem... É claro que todas as confusões vindas do disfarce são ótimas, e a previsibilidade do enredo funciona em seu favor: a gente recebe exatamente o que estava esperando. Avaliação: 3,5/5

12. Bonnie e Clyde: uma rajada de balas (Arthur Penn, 1967)
E mais um para a aula. Embora a dupla de ladrões seja bem conhecida e sejam ícones da cultura pop, eu nunca teria pensado em ver o filme se não fosse pela faculdade. Bonnie e Clyde é um filme divertido, que nos faz torcer pelos ladrões graças às seus roubos. Avaliação: 4/5

13. Renegados até a última rajada (Robert Altman, 1974)
Para comparar com Bonnie e Clyde, a opção era esse filme. Os ladrões daqui são muito mais pobres e desglamourizados que a dupla famosa. É um filme interessante também, mas menos palatável aos meus gostos simples. Avaliação: 3,5/5

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Lendo a estante: A pessoa amada e Coisa de louco

A pessoa amada, CLAMP
Por que tenho: Minha irmã comprou há uns anos, junto com outro mangá, eu acho. Fiquei curiosa para ler algo mais cotidiano do CLAMP, sem elementos mágicos,
Por que li agora: A verdade é que logo que ela comprou eu já li várias histórias, mas porque não li de cabo a rabo os textinhos que vêm depois delas não marquei a leitura. Então só quis terminar oficialmente essa questão e riscar o livro da lista.
O que achei: O mangá é uma coleção de histórias curtinhas sobre amor que dão margem para as autoras refletirem sobre os temas abordados em seguida, em um textinho informal. É gostoso de ler, mas vale a pena mais pela arte do que pelas histórias e embora a história sobre a diferença de idade não seja tão absurda, eu ainda fico desconfiada com o CLAMP falando desse assunto, considerando a pedofilia que rola solta em Sakura Card Captors.
Avaliação: 3/5
 
Coisa de louco, John O'Farrell
Por que tenho: Conheci o livro no Skoob: vi a capa, achei que combinava com o estilo de livro que costumo ler e coloquei na lista. Acabei comprando na Bienal, naqueles estandes de livros a dez reais.
Por que li agora: O livro se encaixa naquela categoria "leve e fácil de ler", sempre desejada por mim.
O que achei: No início, achei toda essa história da Alice como mãe neurótica exagerada demais, sem ser engraçada, só patética. Com o desenrolar do enredo, as coisas ganham outro tom, mas a defesa da escola pública também é feita de modo forçado. Não sei, até entendo o que o autor queria fazer, mas é um público muito específico que ele está retratando e no início eu estava esperando algo um pouco mais realista e pé no chão, então esse conflito de expectativa x realidade acabou prejudicando minha leitura.
Avaliação: 3/5